quinta-feira, julho 22, 2021

Arquivos do Futebol Português (17)...

Edifício/sede da AFL
Em 1911 dá-se a novidade de pela primeira vez em Portugal se cobrarem ingressos para assistir aos jogos de futebol. Mas ainda antes disto a Liga Portuguesa de Futebol (LFP) desaparece, fruto dos sucessivos tumultos que assolavam o futebol lisboeta de então. A indisciplina reinava nas relações entre clubes, causadas por queixas contra árbitros, ou decisões da LPF. Os regulamentos raramente eram cumpridos. Os jogadores mudavam de camisola quando bem lhes apetecesse, os clubes desistiam a meio das provas, além de que a segurança não existia numa época em que as rivalidades levavam os adeptos a ultrapassar a fronteira que separa os bons costumes da selvajaria. Tumulto cujo ponto final foi colocado a 23 de setembro desse longínquo ano de 1910, dia em que nasce a Associação de Futebol de Lisboa (AFL), a entidade que haveria de dinamizar e remodelar o futebol associativo em Portugal dali em diante. AFL que tomou de imediato conta do Campeonato de Lisboa, tendo logo em 1910/11 chamado a si a organização do certame, que iria contar com a participação de sete clubes, nomeadamente o CIF, o Benfica, o Sporting, o Campo de Ourique, o Império, o Lisboa Football Club, e o União Belenense. Notava-se a ausência de alguns clubes históricos dos primeiros anos de futebol em Portugal, desde logo os ingleses do Carcavellos Club, que preferiam agora competir apenas em jogos particulares (!), enquanto que emblemas como o Lisbon Cricket e o Gilman desapareciam, tendo os seus valorosos atletas rumado para outras paragens. O CIF seria coroado campeão de Lisboa na temporada de 1910/11.

A equipa do FC Porto que em 1911
venceu a primeira edição da Taça Monteiro da Costa

A norte, em 1911, dá-se um terrível choque para a nação portista: morre aos 29 anos José Monteiro da Costa, nada mais nada menos do que o refundador do Football Club do Porto. Monteiro da Costa era a alma do FC Porto, tudo o que tivesse a ver com o clube chamava à sua responsabilidade, desde a constituição das equipas para os jogos até aos meros convites endereçados aos associados para assistiram aos empolgantes duelos futebolísticos. Pelo que ele representava para o clube não demorou muito a que um grupo de associados metesse mãos à obra para homenagear o reinventor do FC Porto, ao propor a instituição de um troféu, que seria denominado de Taça Monteiro da Costa, e que dali em diante iria coroar o rei do futebol nortenho. O homenageado não chegou a ver a competição em andamento, já que morreu antes do pontapé de saída. Monteiro da Costa adoece nos primeiros dias de janeiro de 1911, vindo a falecer no dia 30 desse mesmo mês com apenas 29 anos! A nação portista entra em pânico. E agora? Como é que o clube vai sobreviver sem o seu principal impulsionador, sem a sua figura central, sem a sua alma? Foram questões levantadas de imediato por associados e dirigentes do então jovem FC Porto. Temeu-se que pela segunda vez na sua história o clube fosse empurrado para uma morte prematura, medos que no entanto seriam eclipsados na Assembleia Geral de 16 de março desse ano de 1911, altura em que um punhado de seguidores do sonho de Monteiro da Costa decide continuar a aventura em memória do saudoso companheiro. E é pois nesse embalo para o futuro que se edifica a primeira edição da Taça Monteiro da Costa, ou o primeiro Campeonato do Norte, como defendem alguns historiadores desportivos. Convidados para a estreia da citada competição, cujo vencedor teria à sua espera a denominação de campeão do norte (aquém Mondego), seriam os vizinhos do Boavista e do Leixões, para além, claro, do clube anfitrião, o FC Porto, que no final acabaria por fazer a festa.

O certame abriu com um duelo entre matosinhenses e boavisteiros, a 26 de março, com os primeiros a bater sem apelo nem agrado os portuenses por 4-1. A 2 de abril entra em campo o FC Porto, cujos jogadores transportavam consigo a ambição sentimental de vencer aquele troféu tão especial. O oponente foi o Boavista. Resultado final: 3-1 para os portistas. Posteriormente, portistas e leixonenses mediriam forças no derradeiro jogo desta primeira edição da Taça Monteiro da Costa, um duelo que teve contornos de verdadeira final, pois quem vencesse seria coroado como o primeiro campeão do norte. Tal como se esperava foi um desafio muito intenso, e rezam as crónicas que o Leixões esteve várias vezes perto do golo, valendo aos portistas a magnífica exibição do seu guarda-redes, Manuel Valença. E como quem não marca sofre, o FC Porto chegaria ao golo - cujo autor se desconhece - um tento solitário que deu a primeira Taça Monteiro da Costa ao clube da Cidade Invicta, que assim se auto-proclamava o primeiro campeão nortenho do então jovem football.

Para a eternidade ficam pois os nomes dos seguintes campeões: Manuel Valença, Elísio Bessa, Vitorino Pinto, Mário Maçãs, Adelino Costa, Magalhães Bastos, José Bacelar, Camilo Moniz, Carlos Megre, João Cal, e Ivo Lemos. Jogadores treinados pelo mestre francês Adolphe Cassaigne, o homem que haveria de estar nas quatro restantes conquistas do portistas nesta prova.

A seleção nacional da AFL que em 1911 defrontou os franceses do Stade Bordelais

Também em 1991 a recém surgida AFL resolve reunir uma "seleção nacional", para enfrentar os franceses do Stade Bordelais, que a convite da associação lisboeta efetuaram três encontros em território português, um diante do CIF, outro com o Benfica, e por último ante a "seleção" da AFL. Este último desafio decorreu no dia 21 de maio, no Campo da Feiteira, em Lisboa, e a "seleção nacional", equipando de camisola azul e branca (cores da monarquia que então acabara de cair em Portugal), calção branco, e meia preta, alinhou com: Eduardo Luís Pinto Basto (CIF), Merick Barley (CIF), Henrique Costa (Benfica), William Sissener (CIF), Cosme Damião (Benfica), Artur José Pereira (Benfica), António Stromp (Sporting), Francisco Stromp (Sporting), António Rosa Rodrigues (Sporting), Carlos Sobral (CIF), e João Bentes (Sporting). Quanto ao resultado o conjunto luso esmagou o seu congénere gaulês por 5-1.

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