Passamos agora para o secção das estrelas cintilantes. São aqueles jogadores que apesar de não terem atingido o olimpo do futebol tal como os deuses Eusébio, Pelé, Maradona, Garrincha, Cruyff, Beckenbauer, Bobby Charlton, Lev Yashin, Zico, Platini, Puskas, entre outros, foram igualmente ídolos dentro das quatro linhas. Os seus golos e as suas jogadas ficaram retidos na memória de todos aqueles que os viram actuar. De tal maneira que os seus nomes fazem parte da grande história do futebol mundial. Começamos esta primeira visita pela secção das estrelas cintilantes por um nome quase desconhecido para o comum adepto do futebol. Mas certamente que os mais atentos e apaixonados pelo fenómeno da bola saberão quem foi Joe Gaetjens. Nascido a 19 de Março de 1924, na cidade de Port-au-Prince, no Haiti, fruto de uma relação entre uma haitiana e um belga, Joe foi não só o melhor jogador haitiano de todos os tempos como também há quem o considere o melhor de sempre... dos Estados Unidos da América. É verdade. Isto porque Joe Gaetjens foi um dos grandes nomes que vestiu a camisola da selecção norte-americana. Joe emigrou para terras do Tio Sam no final da década de 40 do século passado, mais concretamente para Nova Iorque, cidade para onde foi graças ao facto de ter ganho uma Bolsa de Estudo, que lhe foi atribuída pelo Governo do Haiti, para estudar Contabilidade na Big Apple. Para pagar os seus estudos o haitiano trabalhava como lavador de pratos num restaurante de Harlen. Apesar de nos Estados Unidos da América nunca ter havido uma grande tradição ao nível do futebol, (ou do Soccer, nome este pelo qual o futebol é denominado nos EUA), Joe continuou, nos seus tempos livres, a divertir-se com o seu passatempo favorito do Haiti, ou seja, jogar futebol. Os seus dotes futebolísticos fizeram com que fosse recrutado para uma das melhores equipas da Liga Americana da altura, o Brookhattan. E a estreia não podia ter corrido melhor, já que no seu ano de caloiro na Liga Americana, Joe sagrou-se campeão, e foi considerado pelos críticos de então como uma das maiores revelações desse ano. Facto este que não foi indiferente à Federação Norte-Americana de Futebol (U.S. Soccer), que o recrutou de imediato para a sua selecção principal que daí a poucos meses iria disputar o Campeonato do Mundo de 1950, que teria lugar no Brasil.
O herói de Belo Horizonte
Competição esta onde Joe actuou como titular indiscutível pela equipa americana nos três jogos que esta realizou. Mas houve um em que Joe mais se destacou, um jogo que o tornou conhecido um pouco por todo o mundo da bola, um golo que o fez entrar nos anais da história do futebol. Jogo este disputado a 29 de Junho de 1950, na cidade de Belo Horizonte, e que colocou frente a frente as selecções dos Estados Unidos da América e da Inglaterra. Ingleses que participavam pela primeira vez na sua história na fase final de um Campeonato do Mundo, tendo sido apontados, a par do Brasil, como os grandes favoritos à vitória final. Se assim era, para muitos o jogo contra os E.U.A. não passaria de um jogo de treino, eram favas contadas, como se costuma dizer. Tudo porque, os americanos tinham uma das equipas mais fracas desse Mundial, além disso não tinham grandes pregaminhos no Desporto Rei, como ainda hoje acontece. Mas nesse dia tudo saiu ao contrário à poderosa equipa inglesa, que viria a sofrer uma das derrotas mais humilhantes de toda a sua história, que os levou a serem afastados da última fase desse Mundial 50. E quem foi o carrasco dos ingleses em Belo Horizonte, ou melhor, quem foi o herói do dia na bela cidade brasileira? Esse mesmo, Joe Gaetjens, foi ele que aos 39 minutos desse histórico E.U.A. - Inglaterra desferiu um potente remate de fora da área que deixou pregado ao solo o excelente guarda-redes inglês Bert Williams, fazendo assim o golo solitário (pode-se ver na segunda imagem Joe a ser levado em ombros pelos seus colegas de equipa após ter marcado esse golo) de um jogo que muitos dizem ter sido o momento mais mágico de sempre do futebol norte-amaricano. Gaetjens tinha entrado para a história desse Mundial, e não foi de estranhar que após essa fase final o haitiano de nascimento fosse convidado a jogar no futebol europeu, mais concretamente em França, onde actuou entre 1950 e 1954 ao serviço do Troyes. Uma carreira na Europa que não lhe trouxe grande sucesso, pelo que em 1954 Joe regressou ao seu país natal, o Haiti, e ainda jogou algumas vezes pela selecção deste pequeno país, mas sem o brilho alcançado em 1950 ao serviço da equipa dos E.U.A.
Morto pelo regime ditatorial
Apesar de Joe nunca ter sido um activista político, a sua família trabalhou para Louis Dejoie, o grande rival do ditador haitiano da altura François "Papa Doc" Duvalier, facto este que custou caro a Joe, que foi preso pelo ditador em 8 de Julho de 1964 , tendo sido posteriormente executado juntamente com outros presos políticos da altura (não se sabe da data dessa execução ao certo). Apesar de nunca ter obtido a cidadania norte-americana, Joe Gaetjens entrou em 1976 para o Livro de Ouro do futebol dos E.U.A (National Soccer Hall of Fame).
Vídeo: REPORTAGEM SOBRE JOE GAETJENS
Nenhum comentário:
Postar um comentário