quinta-feira, junho 11, 2015

Flashes Biográficos (1)... Manuel da Fonseca e Castro

Manuel FONSECA E CASTRO (Portugal): Não lograram atingir o estatuto de Deuses da Bola, nem ascenderam ao patamar das lendas, ou tão pouco conseguiram subir aos céus na qualidade de estrelas (cintilantes) do belo jogo, mas os seus nomes fazem igualmente parte da história da modalidade, quanto mais não seja com direito a um parágrafo ou uma mera linha na enciclopédia futebolística. É nesse sentido que inauguramos hoje uma nova vitrina, os Flashes Biográficos, que como o próprio nome indica serão pequenas biografias de figuras da bola que por breves momentos saíram do anonimato para o palco principal do universo futebolístico.
E abrimos este novo espaço com um homem do norte de Portugal, o primeiro jogador oriundo desta região a vestir a camisola da seleção nacional lusitana. Manuel da Fonseca e Castro de sua graça. Nasceu em Santo Tirso – presume-se que nos finais do século XIX ou inícios do século XX – e do pouco que se sabe a seu respeito foi um dos notáveis jogadores do Académico do Porto nos anos 20. Notável não se sabe se devido aos seus dotes enquanto talentoso avançado – a posição que ocupava em campo – ou se somente por ter sido o primeiro futebolista nascido no norte a vestir o manto sagrado da seleção nacional. Tal facto – histórico – aconteceu a 18 de junho de 1925, no Campo do Lumiar, em Lisboa, local onde a equipa das quinas defrontou a Itália naquele que era apenas o quinto jogo oficial da história da nação (futebolística) lusitana. E eis que depois de quatro derrotas nos quatro primeiros jogos diante da Espanha o combinado português obteve a primeira vitória (1-0) da sua história. Fonseca e Castro fez parte desse histórico momento, pese embora não tenha recebido as melhores críticas pelo seu desempenho no relvado do Lumiar. «Muitíssimo infeliz. A julgar pelo que fez nos treinos de Lisboa e das Caldas, deve ser atribuída a uma má tarde, a sua má exibição de quinta-feira. Talvez um tanto de nervosismo, proveniente da estreia», ou «... fraco, pouco estofo para jogos de responsabilidade», foram alguns do mimos que o jogador tirsense recebeu da imprensa desportiva após o célebre encontro internacional.
Críticas à parte o que é certo é que o jogador do Académico do Porto havia entrado para a história, não só porque fez parte do onze que ofereceu a primeira vitória da seleção, mas por ter sido então o primeiro nortenho a atuar pelo grupo nacional. Este duplo facto mereceu da parte do Académico uma atenção muito especial, já que a 5 de julho de 1925 o clube portuense organizou um banquete em homenagem a Fonseca e Castro, evento esse que teve lugar no majestoso Palácio de Cristal, na Cidade Invicta.
O avançado academista atuou em mais duas ocasiões pela seleção nacional: ante a Checoslováquia, numa partida ocorrida a 24 de janeiro no Campo do Ameal (Porto), e que terminou com uma igualdade a uma bola, e diante da França, a 18 de abril de 1926, em Toulouse, duelo que foi concluído com um robusto triunfo francês por 4-2. Desconhecendo se Fonseca e Castro seria um virtuoso da bola – pelas críticas conhecidas parece que não... – o que é certo é que ele era um gentelman dos relvados, um jogador correto e leal para com os seus adversários, e um defensor acérrimo do fair-play. A comprovar este facto está uma história curiosa, também ela de data desconhecida, mas que marca a história do próprio Académico do Porto, clube que sempre se pautou pela honestidade, dignidade, e cavalheirismo no seio do desporto. Reza então a história que em certo jogo – que os academistas precisavam de ganhar – Fonseca e Castro fez um golo, golo esse de pronto protestado pelos adversários que alegavam que a bola tinha estado fora das quatro linhas antes do avançado tirsense a introduzir na baliza. Perante o coro de protestos o árbitro da partida abeira-se de Fonseca e Castro para lhe perguntar se de facto a bola havia estado fora do campo antes deste a ter enviado para o fundo das redes. Com cavalheirismo e fair-play o jogador iria confirmar que de facto o esférico tinha estado fora, o que levou o juiz de imediato a invalidar um golo que acabaria por fazer falta ao Académico, uma vez que o emblema portuense perdeu o encontro em questão. Mas para Fonseca e Castro pior do que a derrota era a falta de honestidade e de caráter...

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