Na entrada para o novo milénio a UEFA voltou a produzir inovações na sua competição rainha ao nível de seleções. No ano em que completava 40 anos de vida a fase final do Campeonato da Europa era pela primeira vez organizada por dois países em simultâneo. Os vizinhos Bélgica e Holanda receberam no verão de 2000 a grande festa do futebol continental que iria consagrar definitivamente - se é que ainda existiam dúvidas - a geração de Zidane e companhia como a mais cintilante do planeta da bola por aqueles dias...
Em termos de prémio final, digamos assim, este pode ter sido o Euro da França liderada pela lenda franco-argelina, mas foi igualmente o campeonato que catapultou definitivamente a geração de ouro do futebol português, a geração de Figo, Fernando Couto, Vítor Baía, Rui Costa, João Vieira Pinto, Jorge Costa, Paulo Sousa, entre outros, para o topo do futebol internacional. E por falar em gerações douradas não nos podemos esquercer de uma das seleções anfitriãs, a Holanda, que neste torneio confirmou a genialidade de uma equipa notável composta por astros - formados na mítica escola do Ajax - como os irmãos De Boer (Frank e Ronald), Edgar Davids, Marc Overmars, Edwin Van der Sar, Clarence Seedorf, ou Patrick Kluivert. Estas foram algumas das memórias do primeiro Europeu do século XXI, que hoje iremos recordar em mais uma visita ao passado.
Co-anfitriões belgas desiludem no regresso à ribalta europeia
Com uma fase de qualificação bastante tranquila, isto é, sem grandes surpresas, onde as seleções de maior renome alcançaram o bilhete para a Bélgica e a Holanda sem grandes dificuldades - fosse por via direta, ou recorrendo ao play-off - a etapa final do Euro 2000 arrancou na noite de 10 de junho, num local mítico para o futebol mundial, o Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas, outrora popularmente conhecido como... Heysel Park, local onde em 1985 ocorreu uma das maiores tragédias do futebol, antes da final da Taça dos Campeões Europeus desse ano entre a Juventus e o Liverpool, que trouxe a morte até quase quatro dezenas de adeptos. 15 anos volvidos, e totalmente remodelado, o Heysel voltava a ser palco de uma grande competição internacional, cabendo à Bélgica e à Suécia dar o pontapé de saída do Campeonato da Europa. Belgas que reapariçam num Euro pela primeira vez desde 1984, altura que marcaram presença em França, quatro anos depois de terem estado na final de Roma ante a Alemanha. A década de 80 foi sem dúvida a década de ouro do futebol belga, e às boas prestações nos Euros 80 e 84 seguiu-se a cereja no topo do bolo: um fantástico 4º lugar no Mundial do México em 1986! Depois desses inolvidáveis anos protagonizados por um talentoso conjunto de jogadores que ficaram eternizados como os diabos vermelhos, os belgas poucos motivos de orgulho voltariam a ter na sua seleção, pese embora ainda tenha marcado presença nas três fases finais dos Campeonatos do Mundo da década de 90 (90, 94, e 98), no entanto sem o brilho exibido na década anterior. Pois bem, na condição de co-organizadores do Euro 2000 os belgas estavam de regresso à ribalta europeia, com a ambição de pelo menos chegar à segunda fase da competição, caso contrário a desilusão voltaria a fazer parte do vocabulário belga, como se viria a verificar.
Integrada no Grupo B a Bélgica orientada pelo experiente treinador Robert Waseige desde cedo mostrou que alcançar os quartos-de-final do seu Euro iria ser uma tarefa para lá de complicada. A curta vitória inaugural ante a Suécia, por 2-1, assim o confirmou. Apresentando um combinado algo veterano, onde sobressaiam nomes como Luc Nilis, De Wilde, ou Lorenzo Staelens, a Bélgica teve de suar para vencer os suecos, beneficiando ainda de uma pequena ajuda do árbitro alemão Markus Merk, que validou um golo - irregular - ao jovem - dos poucos naquela seleção - Emile Mpenza, curiosamente o tento da vitória belga.
No outro jogo do grupo, disputado na cidade holandesa de Arnhem, pela Itália e pela Turquia, voltou a assistir-se a mais uma arbitragem polémica. Desta feita o visado foi o escocês Hugh Dallas que a 20 minutos do final oferece uma grande penalidade à Squadra Azzurra, numa altura em que o resultado era de uma igualdade a uma bola. Filippo Inzaghi não desperdiçou o brinde e selou o resultado final em 2-1, perante os - inconsequentes - protestos turcos. Na 2ª jornada, em Eindhoven (Holanda), ocorreu um empate sem golos entre Suécia e Turquia. E em Bruxelas a Itália comandada pelo antigo campeão do Mundo Dino Zoff garantia o apuramento para os quartos-de-final, após uma vitória tranquila sobre uma - mais uma vez - paupérrima Bélgica por 2-0, com golos de Totti e Fiore. Desta vez a sorte nada quis com os co-anfitriões. Bélgica que mesmo não praticando um futebol de encanto - nem pouco mais ao menos - partia para a derradeira ronda com possibilidade de apuramento, para isso bastando um empate com uma Turquia que aparecia na fase final de um Europeu pela segunda vez consecutiva. No entanto, se as duas exibições anteriores dos pupilos de Waseige não tinham convencido, o jogo ante os turcos foi terrível! Ficaria na história como um dos piores momentos do futebol belga, e muito concretamente do experiente guarda-redes Filip de Wilde. Com dois autênticos frangos oferecidos ao mortífero avançado Hakan Sukur - aos minutos 45 e 70 - de Wilde liquidou de vez a sua seleção, e como se não bastasse os erros fatais ainda foi expulso nos minutos finais de um encontro que ditou o afastamento precoce de um dos anfitriões da prova.
A Bélgica fazia história, já que pela primeira vez uma seleção anfitriã ficava de fora da segunda fase do Europeu! Curiosidade neste jogo de Bruxelas o facto de o árbitro dinamarquês Kim Nielsen ter sido... substituído durante a contenda, por motivos de lesão! Também acontecem nos senhores do apito. Gunter Benko entrou em campo para susbituir o seu colega.
Mesmo já qualificada a Itália não brincou em serviço no encontro ante os suecos, disputado em Eindhoven. Com golos de Del Piero e Di Biagio a azzurra derrotou os escandinavos por 2-1, e terminava assim a fase inicial só com vitórias, algo que só tinha acontecido com a França, em 1984.
Quanto aos suecos, que faziam a sua segunda aparição num Europeu (a primeira surgiu em 1992, altura em que organizaram o certame), deceção foi a palavra que mais se adequou ao desempenho do combinado às ordens de Tommy Soderberg.
Um ponto em três jogos disputados foi muito pouco para uma seleção que num passado não muito distante (1994) surpreendia o globo ao conquistar um impensável 3º lugar no Mundial dos Estados Unidos da América.
Geração de Ouro de Portugal manda para casa os tubarões Alemanha e Inglaterra
Surpresa foi a palavra de ordem no Grupo A.Contra todas as previsões Portugal venceu aquele que era chamado de grupo de morte, que para além dos lusitanos era composto pelas potências mundiais Alemanha e Inglaterra, e pela sempre temida Roménia. Os portugueses foram de facto a surpresa deste grupo, e uma das surpresas de todo o Euro 2000, ou melhor, surpresa para uns, mas confirmação para outros. Confirmação internacional da geração de ouro do futebol luso, um grupo de notáveis jogadores que havia conquistado os Mundiais de Sub-20 de 1989 e 1991 e que havia tido a sua primeira prova de fogo no futebol sénior precisamente quatro anos antes no Europeu disputado em solo inglês, e que tão boas impressões causou na altura. Agora, mais experientes e com a sua veia artística reconhecida a nível planetário os portugueses apresentavam-se na Holanda e na Bélgica dispostos a ir mais além do que os quartos-de-final do Euro 96. Argumentos para isso era coisa que abundava no grupo orientado por Humberto Coelho, como eram os exemplos dos artistas João Vieira Pinto, Paulo Bento, Dimas, Vítor Baía, Rui Costa, Paulo Sousa, Sá Pinto, Sérgio Conceição, Capucho, Jorge Costa, Fernando Couto, Pauleta, ou a estrela-mor da companhia Luís Figo, por aqueles dias considerado um dos melhores jogadores do Mundo.
No Philips Stadium de Eindhoven, no dia 12 junho, o talento dos portugueses era posto à prova por uma poderosa seleção inglesa, bem mais forte do que aquela que quatro anos havia chegado às meias-finais do Euro. À veia goleadora do capitão Alan Shearer e à solidez defensiva dos veteranos Tony Adams e Martin Keown, juntava-se a frescura e a arte de Paul Scholes, dos irmãos Neville (Phil e Gary), do rato atómico Michael Owen, e da estrela hollywoodesca David Beckham. Favoritos à vitória? Os ingleses pois claro. E ainda mais favoritos ficaram quando aos 20 minutos de jogo já venciam por... 2-0! Um começo fulgurante ao qual respondeu um genial Portugal, que partiu então para uma noite memorável, para uma exibição fantástica, e para um jogo épico que figura na galeria dos encontros mais sensacionais da histórias dos Europeus. Comandados por Figo os portugueses não baixaram os braços, e aos 21 minutos o jogador português do Barcelona - iria transferir-se nesse verão para o rival Real Madrid - assinou uma verdadeira obra de arte no relvado do estádio do PSV. A 30 metros da baliza desfere um forte remate que só parou no fundo das redes do pasmado David Seaman. Um lance de génio do... genial número 7 luso.
A avalanche lusa continuou e a oito minutos do intervalo foi outro genial atleta que de cabeça faria o empate a duas bolas. João Vieira Pinto, a passe do maestro Rui Costa, batia Seaman pela segunda vez no encontro. Mas Humberto Coelho ainda não tinha tirado todos os seus... coelhos da cartola. Já na segunda parte apareceu o jovem goleador do Benfica, Nuno Gomes, a grande surpresa da convocatória, que dá a melhor sequência a mais um passe magistral de Rui Costa ao fazer o 3-2 final com Portugal venceu a poderosa Inglaterra. O apito final do sueco Anders Frisk soou, e os portugueses haviam conquistado uma vitória épica, comparada à histórica reviravolta protagonizada pelos Magriços de Eusébio no Mundial de 66 ante a Coreia do Norte.
No outro jogo do grupo assistia-se ao primeiro episódio da triste saga dos detentores do título europeu. A Alemanha, recheada de nomes sonantes, como Matthaus, Hassler, Bierhoff, Kahn, Ballack, ou Ziege, não conseguia melhor do que um empate sofrido a uma bola ante a Roménia do veterano Gica Hagi. Os alemães começavam a mostrar o que no final deste Euro seria evidente, que a Mannschaft precisa urgentemente de uma remodelação.
E na ronda seguinte a pequena cidade belga de Charleroi foi palco de um dos maiores clássicos do futebol mundial, um Alemanha - Inglaterra. Dois pesos pesados que como seria de esperar protagonizaram um jogo disputado, mas nem sempre bem jogado! Valeu um lance de génio do goleador Shearer, que aos 53 minutos fez o único golo do encontro e como que apagou a apatia que se vivia no relvado do Stade du Pays. Com esta vitória os britânicos voltavam a entrar na corrida pelo apuramento, ao passo que os alemães passavam a depender de terceiros, isto porque em Arnhem (Holanda) Portugal vencia a Roménia por 1-0 e garantia matematicamente a qualificação para a fase seguinte. O médio Costinha apontou aos 90 minutos o único golo de uma partida marcada pelo equilíbrio, sem grandes oportunidades de golo e com exibições - de parte a parte - muito cautelosas. Voltando ao jogo de Charleroi a alegria inglesa era bem visível, não só porque o apuramente era ainda matematicamente possível, como já vimos, mas porque esta era a primeira vitória da Inglaterra sobre a velha inimiga Alemanha desde a... final do Mundial de 1966!
Alemães que na derradeira e crucial jornada do Grupo A sofreram uma nova humilhação, quiçá a maior desde Euro 2000. Na banheira de Roterdão (a alcunha pelo qual é mundialmente conhecido o Estádio do Feyenoord) a Alemanha era esmagada por 0-3 pelas... reservas de Portugal! Já qualificado para os quartos-de-final o selecionador Humberto Coelho deu descanso aos habituais titulares, e lançou em campo jogadores menos utilizados nas duas partidas anteriores, como o guarda-redes Pedro Espinha, Beto, Rui Jorge, Capucho, Pauleta, ou Sérgio Conceição. E a noite seria histórica para este último jogador, que por três ocasiões bateu o lendário guardião Oliver Kahn! Hattrick para Conceição no adeus ao Euro da campeã da Europa em título! Sérgio Conceição tornava-se assim no quarto jogador da história a alcançar três golos num jogo do Europeu, depois de Allofs (80), Platini (84), e Van Basten (88).
Mas a humilhação não se resumiu aos germânicos. Em Charleroi a Inglaterra a precisar somente de um empate ante a Roménia para se qualificar, foi derrotada por 2-3! O tento da vitória dos romenos surgiu a um minuto do fim por intermédio de Ganea. Roménia e Portugal, os teoricamente mais frágeis conjuntos do grupo seguiam em frente, ao passo que os gigantes e favoritos alemães e ingleses ficavam pelo caminho. Era caso para dizer que David tinha vencido Golias.
Favoritos não ganharam para o susto!
O Grupo C era aquele que teoricamente menos interesse suscitava. Espanha e Jugoslávia eram apontadas como as duas favoritas à passagem aos quartos-de-final, ao passo que as esterantes Eslovénia e Noruega pouco ou mais podiam fazer do que almejar uma vitória no confronto entre si. Porém, o começo não foi bem assim.
No dia 13 de junho Charleroi assistiu a um dos jogos mais emocionantes da história dos campeonatos da Europa, protagonizado por duas seleções que outrora fizeram parte da... mesma nação. Jugoslávia e Eslovénia, empataram a três golos, despois destes últimos terem estado a vencer por 3-0! Zahovic, a estrela eslovena, marcou por duas vezes, mas a menos de meia hora do final um dos goleadores do Euro 2000, Savo Milosevic, reduziu para 1-3, um tento que daria alento ao combinado do velho mestre da tática Vujadin Boskov, que no que restava jogar até final apontou mais dois golos - um deles de novo da autoria de Milosevic -, isto quando desde o minuto 59 jogava com menos uma unidade em campo, depois do árbitro português Vítor Pereira ter dado ordem de expulsão a Mihajlovic, que havia visto dois cartões amarelos no espaço de quatro minutos!
Nesse mesmo dia 13 de junho o escândalo acontecia em Roterdão. A Noruega de Ole Gunnar Solskjaer derrotava a favorita Espanha por 1-0, com um tento de Iversen. Noruegueses que viviam o período dourado do seu praticamente desconhecido - além fronteiras - futebol, já que depois dos Mundiais de 94 e 98 marcavam agora presença no maior certame do Velho Continente, com uma equipa talentosa formada por craques como Eggen, Iversen, Tore Andre Flo, John Carew, ou o já citado Solskjaer, que na época brilhava no colosso inglês Manchester United.
Mas no encontro seguinte os noruegueses desceram à terra. Em Liège, ante a Jugoslávia, Milosevic acabou com a euforia nórdica e colocou os jugoslavos - que neste Euro 2000 competiriam pela última vez sob os desígnios de Jugoslávia - com um pé na fase seguinte. Neste jogo há ainda a registar a expulsão mais rápida de sempre de uma fase final de um Euro. O jugoslavo Mateja Kezman entrou em campo aos 87 minutos, sendo que 44 segundos depois comete uma falta grave sobre Mykland, recebendo de imediato ordem de expulsão! Também a Espanha corrigiu o erro da jornada inaugural deste Grupo C, e no moderno Arena de Amesterdão derrotava uma das sensações dessa 1ª jornada, a Eslovénia, por 2-1, de nada valendo mais uma exibição de gala do esloveno Zlatko Zahovic.
Na ronda decisiva viveram-se momentos dramáticos. Em Arnhem noruegueses e eslovenos empataram a zero, resultado que dava o apuramento aos nórdicos, uma vez que no outro encontro, disputado em Bruges, a Espanha ia empatando a três golos com a já qualificada Jugoslávia. Como que de um golpe de magia se tratasse aos 90 minutos Alfonso faz o 4-3 que colocou os espanhóis na fase seguinte, para desespero dos noruegueses que já com a sua missão cumprida aguardavam com impaciência no relvado do Gelredome de Arnhem o desfecho da partida de Bruges.
Encantador futebol ofensivo da Holanda fez furor
No Grupo D ficaram os campeões do Mundo em título, a França, liderada pelo melhor jogador do Mundo da altura, Zinédine Zidane. Os franceses apresentavam-se em solo belga-holandês como os principais candidatos à vitória final, até porque mantinham a quase totalidade do grupo que dois antes havia vencido - em casa - o Campeonato do Mundo. Zidane, Patrick Vieira, Barthez, Thuran, Blanc, Deschamps, Henry, entre muitos outros, viviam o ponto alto das suas afamadas carreiras, e para muitos o que fosse não erguer o troféu de campeão da Europa seria uma autêntica... catástrofe. Patricando um futebol de alta qualidade, com um toque artístico, os franceses cedo mostraram que dificilmente não chegariam à final, e logo na 1ª jornada golearam a Dinamarca por 3-0, com uma exibição de gala de Thierry Henry.
No mesmo dia (11 de junho) entrou em campo, em Amesterdão, a seleção da casa, ou uma das seleções da casa, neste caso a Holanda, equipa não menos artística orientada pelo carismático ex-jogador Frank Rijkaard, um dos imortais que em 1988 levou a seleção laranja ao topo da Europa. Patricando um futebol de cariz ofensivo de grande beleza so holandeses venceram os vice-campeões da Europa, a República Checa, por um solitário mas inteiramente merecido 1-0.
Na jornada seguinte confirmou-se a supremacia de França e Holanda, e mais do que isso a qualificação de ambas as seleções para os quartos-de-final. Os gauleses venceram os checos por 2-1 em Bruges. ao passo que os co-anfitrições humilhavam em Roterdão uma veterana Dinamarca - já sem os irmãos Laudrup - por 3-0 na sequência de mais uma bela aula de futebol ofensivo.
A última jornada não mais serviu do que cumprir calendário e definir quem ficava com o 1º lugar. Posição esta disputada por franceses e holandeses, na Arena de Amesterdão, sendo que os primeiros parecem não ter dado grande importância ao que ali se discutia, pois entraram em campo com alguns jogadores reservistas, casos de Lama, Leboeuf, Candela, Micoud, ou Dugarry. Agradeceram os tulipas que ao vencer por 3-2 garantiram o tal 1º posto, permancendo assim no seu território nos quartos-de-final, ao passo que a França mudava-se para a Bélgica para continuar uma tragetória que seria gloriosa.
Muito atlética mas nada técnica a Dinamarca sofria nova derrota, desta feita ante os checos, por 0-2, e ia para casa com oito golos sofridos e zero marcados! No reino da Dinamarca apertavam então as saudades do inolvidável verão de 92!!!
Kluivert show na banheira de Roterdão
Um dos jogos mais aguardados dos quartos-de-final estava agendado para Roterdão, entre a seleção da casa, a Holanda, e a Jugoslávia. Frente a frente estavam igualmente dois dos mais eficazes homens golos do torneio, Patrick Kluivert, e Milosevic. O espetáculo prometia, e assim foi.
50 000 espetadores presenciaram mais uma exibição de gala da equipa laranja, culminada com uma expressiva vitória por 6-1. Por três ocasiões Kluivert fez o gosto ao pé, rubricando a sua melhor performance em todo este Euro 2000, e fazia da sua seleção a mais concretizadora da prova, com 13 remates certeiros, e mais do que isso continuava a fazer sonhar uma nação inteira em voltar a ver a sua equipa nacional erguer a Taça Henri Delaunay. Armas para o conquistar eram mais do que muitas à dispoisção de Rijkaard, não só o citado goleador Kluivert, como também Overmars, Davids, Bergkamp, Cocu, Stam, ou os gémeos De Boer.
Massacrada pelos holandeses a Jugoslávia ainda deu um ar de sua graça por intremédio de Milosevic, que reduzia para 1-6, e assim se tornava, a par de Kluivert, no melhor marcador do Euro 2000, com cinco golos.
Em Amesterdão a Europa - e o Mundo, porque não dizê-lo - encantava-se com mais uma exibição de luxo obtida por Portugal. Com um futebol tecnicamente belo os jogadores de Humberto Coelho venciam a Turquia por 2-0, num encontro marcado pela veia goleadorra de Nuno Gomes - autor dos dois golos - e pela magia de Luís Figo, que deixou os turcos com a cabeça às voltas. As duas seleções voltaram a encontrar-se pela segunda vez consecutiva na fase final de um Euro, sendo que desta vez o triunfo dos portugueses foi bem mais fácil, muito contribuindo para isso a expulsão do defesa Alpay aos 28 minutos. Vítor Baía ainda defendeu uma grande penalidade, e na hora da festa Rui Costa desejou encontrar a França nas meias-finais, «vamos vingar a grande seleção (portuguesa) de 84, Eu lembro-me desse jogo (ante a França, também nas meias-finais), tinha 12 anos, e agora desejo vingar essa seleção que merecia ter passado à final».
Um desejo envenenado...
Sem grandes dificuldades a Itália também carimbou o seu passaporte para as meias-finais, depois de em Bruxelas ter batido por 2-0 a Roménia. Qualificação alcançada ainda na primeira parte, com Totti (aos 33 minutos) e Filippo Inzaghi (aos 43) a desmantelarem uns romenos algo indisciplinados, a começar pelo seu lendário capitão Hagi, que antes do início deste Campeonato da Europa havia anunciado ao Mundo que iria pendurar de vez as chuteiras após o final da competição. E a despedida de Gica Hagi dos relvados não foi de facto a melhor. Aos 59 minutos o número 10 romeno é expulso por Vítor Pereira, na sequência de protestos vários e simulações, e na hora do adeus Hagi não poupou elogios ao árbitro português: «este árbitro é uma vergonha!».
Por fim, em Bruge, sob a arbitragem do conceituado italiano Collina, a França sentia algumas dificuldades para bater a aguerrida Espanha de Camacho, por 2-1. Valeu a arte de Zizou (alcunha de Zidane), e a desinspiração do capitão espanhol Raul, que falhou uma grande penalidade em cima do minuto 90 que poderia ter colocado o marcador em 2-2 e levar assim o encontro para prolongamento. Não converteu e os blues seguiam para Bruxelas para enfrentar os motivados portugueses.
Mão fatal de Abel Xavier
Portugal saia pela primeira vez da Holanda, onde havia realizado todos os jogos até então, viajando para Bruxelas, onde se iria disputar a primeira meia-final do Euro 2000. Sob arbitragem de Gunter Benko os portugueses entraram a todo o gás na partida, e quando o relógio ainda não tinha marcado 20 minutos já Nuno Gomes voltava a faturar na fase final da prova, fazendo o seu quarto golo na competição e mais do que isso colocando mais perto a sua seleção do sonho. Sonho que foi mesmo a definição desta partida, de futebol de grande beleza protagonizado por ambas as equipas, futebol espetáculo que só na segunda parte voltaria a vibrar com golos, e para a França, por intermédio de Henry, após um passe de Anelka... em posição ilegal, que muito irritou os portugueses, cujos protestos de nada valeram.
Prolongamento à vista, e aqui veio a decisão polémica do encontro. Aos 117 minutos Henry cruza a bola para o primeiro poste, onde aparece Abel Xavier a cortar o esférico com a mão! Mão na bola, ou bola na mão? O auxiliar de Benko optou pela primeira opção, e o juíz principal assinalou de imediato grande penalidade contra Portugal. Os jogadores lusitanos cercaram o árbitro, o seu assistente, manifestando em coro o seu descontentamento, empurrões, insultos, com Gunter Benko a exibir alguns cartões aos portugueses, alguns deles de cor encaranada. Sereno e implacável Zidane converteu a grande penalidade e qualificou a França para a final, na sequência de um golo de ouro, visto que o jogo terminou de imediato. Luís Figo foi um dos mais inconformados, dizendo que no futebol não há verdade, uma vez que esta modalidade era já apenas um negócio!
Na outra meia final a sorte bafejou a Squadra Azzura. Os holandeses exibiram novamente o caudal ofensivo dos jogos anteriores, mas na hora H - na concretização - estavam completamente desinspirados. No tempo regulamentar falharam duas grandes penaldiades, duas (!), além de terem estado a jogar durante mais de meia hora com mais um elemento em campo, após expulsão do italiano Zambrotta. O prolongamento chegou, mas os golos não apareciam, pelo que teve de se recorrer às grandes penalidades pela primeira vez nesta fase final. Lotaria onde os holandeses não acertaram, pois dos quatro penaltis que dispuseram falharam três (!), enquanto que os italianos converteram outros tantos e seguiram assim para a final de Roterdão. As duas equipas que apresentaram o futebol mais vistoso, Portugal e Holanda, estavam assim de fora do jogo mais apetecido.
Novo golo de ouro coroou a França como rainha da Europa
Se a sorte esteve com os italianos no Arena de Amesterdão durante a meia final, no encontro decisivo do Euro 2000 ela abandonou a azzurra! Num jogo morno, disputado em Roterdão, as duas equipas ficaram sempre na espetativa, não criando grandes oportunidades de golo, e nem mesmo os génios - dos dois lados - queriam aparecer em campo. Delvecchio fez o primeiro golo do encontro aos 55 minutos, e tal como seria de esperar depois disso a Itália de Zoff jogou... à defesa, como tão bem o faz. O catenaccio italiano no seu estado mais puro! A meio da segunda parte Del Piero teve a oportunidade - flagrante - de matar o jogo, e como quem não mata morre já em cima dos 90 minutos Wiltord empata a final para desespero dos italianos que já festejavam o seu segundo ceptro europeu. E tal como em 1996 a vitória chegou através de um golo de ouro, apontado aos 103 minutos por David Trezeguet, que havia entrado em campo no decorrer da etapa complementar, e que deu o melhor seguimento a uma brilhante jogada individual de Robert Pires.
A França juntava assim ao título mundial o de campeão da Europa (o segundo da sua história), e coroava desta forma a genial geração de Zizou e companhia.
Jogos
Grupo A
1ª jornada
12 de junho, em Eindhoven
Inglaterra - Portugal: 2-3
(Scholes, aos 2m, McManaman, aos 18m)
(Figo, aos 21, João Vieira Pinto, aos 37m, Nuno Gomes, aos 58)
12 de junho, em Liège
Alemanha - Roménia: 1-1
(Scholl, aos 28m)
(Moldovan, aos 5m)
2ª jornada
17 de junho, em Arnhem
Roménia - Portugal: 0-1
(Costinha, aos 90m)
17 de junho, em Charleroi
Inglaterra - Alemanha: 1-0
(Shearer, aos 53m)
3ª jornada
20 de junho, em Roterdão
Portugal - Alemanha: 3-0
(Sérgio Concieção, aos 34m, aos 53m, aos 71m)
20 de junho, em Charleroi
Inglaterra - Roménia: 2-3
(Shearer, aos 41m, Owen, aos 45m)
(Chivu, aos 22, Munteanu, aos 48, Ganea, aos 89m)
Classificação
1-Portugal: 9 pontos
2-Roménia: 4 pontos
3-Inglaterra: 3 pontos
4-Alemanha: 1 ponto
Grupo B
1ª jornada
10 de junho, em Bruxelas
Bélgica - Suécia: 2-1
(Goor, aos 43m, Mpenza, aos 46m)
(Mjalby, aos 53m)
11 de junho, em Arnhem
Turquia - Itália: 1-2
(Okan, aos 61m)
(Conte, aos 52m, Inzaghi, aos 70m)
2ª jornada
14 de junho, em Bruxelas
Bélgica - Itália: 0-2
(Totti, aos 6m, Fiore, aos 66m)
15 de junho, em Eindhoven
Turquia - Suécia: 0-0
3ª jornada
19 de junho, em Eindhoven
Itália - Suécia: 2-1
(Di Biagio, aos 39m, del Piero, aos 88m)
(Larsson, aos 77m)
19 de junho, em Bruxelas
Bélgica - Turquia: 0-2
(Sukur, aos 45m, aos 70m)
Classificação
1-Itália: 9 pontos
2-Turquia: 4 pontos
3-Bélgica: 3 pontos
4-Suécia: 1 ponto
Grupo C
1ª jornada
13 de junho, em Charleroi
Jugoslávia - Eslovénia: 3-3
(Milosevic, aos 66m, aos 73m, Drulovic, aos 70m)
(Zahovic, aos 27m, aos 57m, Pavlin, aos 52m)
13 de junho, em Roterdão
Espanha - Noruega: 0-1
(Iversen, aos 66m)
2ª jornada
18 de junho, em Liège
Noruega - Jugoslávia: 0-1
(Milosevic, aos 8m)
18 de junho, em Amesterdão
Eslovénia - Espanha: 1-2
(Zahovic, aos 58m)
(Raul, aos 4m, Etxeberria, aos 60m)
3ª jornada
21 de junho, em Arnhem
Eslovénia - Noruega: 0-0
21 de junho, em Bruges
Jugoslávia - Espanha: 3-4
(Milosevic, aos 31m, Govedarica, aos 51m, Komijanovic, aos 75m)
(Alfonso, aos 39m, aos 90m, Munitis, aos 52m, Mendieta, aos 89m)
Classificação
1-Espanha: 6 pontos
2-Jugoslávia: 4 pontos
3-Noruega: 4 pontos
4-Eslovénia: 2 pontos
Grupo D
1ª jornada
11 de junho, em Amesterdão
Holanda - República Checa: 1-0
(F.de Boer, aos 89m)
11 de junho, em Bruges
França - Dinamarca: 3-0
(Blanc, aos 16m, Henry, aos 64m, Wiltord, aos 90m)
2ª jornada
16 de junho, em Roterdão
Holanda - Dinamarca: 3-0
(Kluivert, aos 57m, R.de Boer, aos 66m, Zenden, aos 77m)
16 de junho, em Bruges
República Checa - França: 1-2
(Poborsky, aos 35m)
(Henry, aos 7m, Djorkaeff, aos 60m)
3ª jornada
21 de junho, em Amesterdão
Holanda - França: 3-2
(Kluivert, aos 14m, F.de Boer, aos 51m, Zenden, aos 59m)
(Dugarry, aos 8m, Trezeguet, aos 30m)
21 de junho, em Liège
Dinamarca - República Checa: 0-2
(Smicer, aos 63m, aos 67m
Classificação
1-Holanda: 9 pontos
2-França: 6 pontos
3-República Checa: 3 pontos
4-Dinamarca: 0 pontos
Quartos-de-final
24 de junho, em Amesterdão
Portugal - Turquia: 2-0
(Nuno Gomes, aos 44m, aos 56m)
24 de junho, em Bruxelas
Itália - Roménia: 2-0
(Totti, aos 53m, Inzaghi, aos 43m)
25 de junho, em Bruge
Espanha - França: 1-2
(Mendieta, aos 38m)
(Zidane, aos 33m, Djorkaeff, aos 44m)
25 de junho, em Roterdão
Holanda - Jugoslávia: 6-1
(Kluivert, aos 24m, aos 38m, aos 54m, Overmars, aos 78m, aos 89m, Goverdarica (p.b.), aos 51m)
(Milosevic, aos 90m)
Meias-finais
28 de junho, em Bruxelas
Portugal - França: 1-2
(Nuno Gomes, aos 17m
(Henry, aos 50m, Zidane, aos 117m)
29 de junho, em Amesterdão
Holanda - Itália: 0-0 (1-3 nas grandes penalidades)
Final
França - Itália: 2-1 (golo de ouro no prolongamento)
Data: 2 de julho de 2000
Estádio: Feyenoord, em Roterdão (Holanda)
Árbitro: Anders Frisk (Suécia)
França: Barthez, Thuran, Desailly, Blanc, Lizarazu (Pires, aos 86m), Vieira, Deschamps, Djorkaeff (Trezeguet, aos 76m), Zidane, Dugarry (Wiltord, aos 57m), e Henry. Treinador: Roger Lemerre
Itália: Toldo, Cannavaro, Nesta, Iuliano, Maldini, Pessotto, Albertino, Di Biagio (Ambrosini, aos 66m), Fiore (Del Piero, aos 53m), Totti, e Delvecchio (Montella, aos 86m). Treinador: Dino Zoff
Golos: 0-1 (Delvecchio, aos 55m), 1-1 (Wiltord, aos 90m), 2-1 (Trezeguet, aos 103m)
Vídeo: FRANÇA - ITÁLIA
Melhores marcadores:
Kluivert (Holanda) e Milosevci (Jugoslávia): 5 golos
Onze ideal:
Toldo (Itália)
Thuran (França)
Cannavaro (Itália)
Blanc (Itália)
Stam (Holanda)
Vieira (França)
Figo (Portugal)
Davids (Holanda)
Zidane (França)
Kluivert (Holanda)
Milosevic (Jugoslávia)
Legenda das fotografias:
1-Logotipo do Euro 2000
2-Fase do jogo entre belgas e turcos, que ditou o afastamento dos co-anfitriões da fase seguinte
3-Turquia e Suécia protagonizaram um dos dois empates a zero bolas da primeira fase
4-Di Biagio festeja um golo ante a Suécia
5-Paul Scholes aponta o primeiro golo da Inglaterra no Euro 2000
6-Alemães não conseguiram vencer os romenos...
7-... e perderam com a velha inimiga Inglaterra, graças a um golo de Alan Shearer
8-Hagi tenta desenvencilhar-se de Paulo Bento
9-O eletrizante jogo entre eslovenos e jugoslavos
10-Esloveno Zahovic aqui em luta com um norueguês
11-Overmars tenta bater Schmeichel
12-Holandês Davids travado em falta pelo francês Vieira
13-Festejos holandeses na goleada aos jugoslavos
14-Figo e Nuno Gomes, duas das estrelas portuguesas durante o Europeu 2000
15-Zidane, o mago francês passa pelo espanhol Guardiola
16-Mão de Abel Xavier que ditou o afastamento de Portugal da final
17-Mais um penalti falhado pela Holanda na meia-final
18-Fase da grande final de Roterdão
19-Alemanha
20-Inglaterra
21-Bélgica
22-Suécia
23-Turquia
24-Noruega
25-França
26-Holanda
27-Portugal
28-Lance da final
29-França celébra o segundo título europeu da sua história
30-Kluivert
31-Milosevic
32-Trezeguet, o homem de ouro da final
Em termos de prémio final, digamos assim, este pode ter sido o Euro da França liderada pela lenda franco-argelina, mas foi igualmente o campeonato que catapultou definitivamente a geração de ouro do futebol português, a geração de Figo, Fernando Couto, Vítor Baía, Rui Costa, João Vieira Pinto, Jorge Costa, Paulo Sousa, entre outros, para o topo do futebol internacional. E por falar em gerações douradas não nos podemos esquercer de uma das seleções anfitriãs, a Holanda, que neste torneio confirmou a genialidade de uma equipa notável composta por astros - formados na mítica escola do Ajax - como os irmãos De Boer (Frank e Ronald), Edgar Davids, Marc Overmars, Edwin Van der Sar, Clarence Seedorf, ou Patrick Kluivert. Estas foram algumas das memórias do primeiro Europeu do século XXI, que hoje iremos recordar em mais uma visita ao passado.
Co-anfitriões belgas desiludem no regresso à ribalta europeia
Com uma fase de qualificação bastante tranquila, isto é, sem grandes surpresas, onde as seleções de maior renome alcançaram o bilhete para a Bélgica e a Holanda sem grandes dificuldades - fosse por via direta, ou recorrendo ao play-off - a etapa final do Euro 2000 arrancou na noite de 10 de junho, num local mítico para o futebol mundial, o Estádio Rei Balduíno, em Bruxelas, outrora popularmente conhecido como... Heysel Park, local onde em 1985 ocorreu uma das maiores tragédias do futebol, antes da final da Taça dos Campeões Europeus desse ano entre a Juventus e o Liverpool, que trouxe a morte até quase quatro dezenas de adeptos. 15 anos volvidos, e totalmente remodelado, o Heysel voltava a ser palco de uma grande competição internacional, cabendo à Bélgica e à Suécia dar o pontapé de saída do Campeonato da Europa. Belgas que reapariçam num Euro pela primeira vez desde 1984, altura que marcaram presença em França, quatro anos depois de terem estado na final de Roma ante a Alemanha. A década de 80 foi sem dúvida a década de ouro do futebol belga, e às boas prestações nos Euros 80 e 84 seguiu-se a cereja no topo do bolo: um fantástico 4º lugar no Mundial do México em 1986! Depois desses inolvidáveis anos protagonizados por um talentoso conjunto de jogadores que ficaram eternizados como os diabos vermelhos, os belgas poucos motivos de orgulho voltariam a ter na sua seleção, pese embora ainda tenha marcado presença nas três fases finais dos Campeonatos do Mundo da década de 90 (90, 94, e 98), no entanto sem o brilho exibido na década anterior. Pois bem, na condição de co-organizadores do Euro 2000 os belgas estavam de regresso à ribalta europeia, com a ambição de pelo menos chegar à segunda fase da competição, caso contrário a desilusão voltaria a fazer parte do vocabulário belga, como se viria a verificar.
Integrada no Grupo B a Bélgica orientada pelo experiente treinador Robert Waseige desde cedo mostrou que alcançar os quartos-de-final do seu Euro iria ser uma tarefa para lá de complicada. A curta vitória inaugural ante a Suécia, por 2-1, assim o confirmou. Apresentando um combinado algo veterano, onde sobressaiam nomes como Luc Nilis, De Wilde, ou Lorenzo Staelens, a Bélgica teve de suar para vencer os suecos, beneficiando ainda de uma pequena ajuda do árbitro alemão Markus Merk, que validou um golo - irregular - ao jovem - dos poucos naquela seleção - Emile Mpenza, curiosamente o tento da vitória belga.
No outro jogo do grupo, disputado na cidade holandesa de Arnhem, pela Itália e pela Turquia, voltou a assistir-se a mais uma arbitragem polémica. Desta feita o visado foi o escocês Hugh Dallas que a 20 minutos do final oferece uma grande penalidade à Squadra Azzurra, numa altura em que o resultado era de uma igualdade a uma bola. Filippo Inzaghi não desperdiçou o brinde e selou o resultado final em 2-1, perante os - inconsequentes - protestos turcos. Na 2ª jornada, em Eindhoven (Holanda), ocorreu um empate sem golos entre Suécia e Turquia. E em Bruxelas a Itália comandada pelo antigo campeão do Mundo Dino Zoff garantia o apuramento para os quartos-de-final, após uma vitória tranquila sobre uma - mais uma vez - paupérrima Bélgica por 2-0, com golos de Totti e Fiore. Desta vez a sorte nada quis com os co-anfitriões. Bélgica que mesmo não praticando um futebol de encanto - nem pouco mais ao menos - partia para a derradeira ronda com possibilidade de apuramento, para isso bastando um empate com uma Turquia que aparecia na fase final de um Europeu pela segunda vez consecutiva. No entanto, se as duas exibições anteriores dos pupilos de Waseige não tinham convencido, o jogo ante os turcos foi terrível! Ficaria na história como um dos piores momentos do futebol belga, e muito concretamente do experiente guarda-redes Filip de Wilde. Com dois autênticos frangos oferecidos ao mortífero avançado Hakan Sukur - aos minutos 45 e 70 - de Wilde liquidou de vez a sua seleção, e como se não bastasse os erros fatais ainda foi expulso nos minutos finais de um encontro que ditou o afastamento precoce de um dos anfitriões da prova.
A Bélgica fazia história, já que pela primeira vez uma seleção anfitriã ficava de fora da segunda fase do Europeu! Curiosidade neste jogo de Bruxelas o facto de o árbitro dinamarquês Kim Nielsen ter sido... substituído durante a contenda, por motivos de lesão! Também acontecem nos senhores do apito. Gunter Benko entrou em campo para susbituir o seu colega.
Mesmo já qualificada a Itália não brincou em serviço no encontro ante os suecos, disputado em Eindhoven. Com golos de Del Piero e Di Biagio a azzurra derrotou os escandinavos por 2-1, e terminava assim a fase inicial só com vitórias, algo que só tinha acontecido com a França, em 1984.
Quanto aos suecos, que faziam a sua segunda aparição num Europeu (a primeira surgiu em 1992, altura em que organizaram o certame), deceção foi a palavra que mais se adequou ao desempenho do combinado às ordens de Tommy Soderberg.
Um ponto em três jogos disputados foi muito pouco para uma seleção que num passado não muito distante (1994) surpreendia o globo ao conquistar um impensável 3º lugar no Mundial dos Estados Unidos da América.
Geração de Ouro de Portugal manda para casa os tubarões Alemanha e Inglaterra
Surpresa foi a palavra de ordem no Grupo A.Contra todas as previsões Portugal venceu aquele que era chamado de grupo de morte, que para além dos lusitanos era composto pelas potências mundiais Alemanha e Inglaterra, e pela sempre temida Roménia. Os portugueses foram de facto a surpresa deste grupo, e uma das surpresas de todo o Euro 2000, ou melhor, surpresa para uns, mas confirmação para outros. Confirmação internacional da geração de ouro do futebol luso, um grupo de notáveis jogadores que havia conquistado os Mundiais de Sub-20 de 1989 e 1991 e que havia tido a sua primeira prova de fogo no futebol sénior precisamente quatro anos antes no Europeu disputado em solo inglês, e que tão boas impressões causou na altura. Agora, mais experientes e com a sua veia artística reconhecida a nível planetário os portugueses apresentavam-se na Holanda e na Bélgica dispostos a ir mais além do que os quartos-de-final do Euro 96. Argumentos para isso era coisa que abundava no grupo orientado por Humberto Coelho, como eram os exemplos dos artistas João Vieira Pinto, Paulo Bento, Dimas, Vítor Baía, Rui Costa, Paulo Sousa, Sá Pinto, Sérgio Conceição, Capucho, Jorge Costa, Fernando Couto, Pauleta, ou a estrela-mor da companhia Luís Figo, por aqueles dias considerado um dos melhores jogadores do Mundo.
No Philips Stadium de Eindhoven, no dia 12 junho, o talento dos portugueses era posto à prova por uma poderosa seleção inglesa, bem mais forte do que aquela que quatro anos havia chegado às meias-finais do Euro. À veia goleadora do capitão Alan Shearer e à solidez defensiva dos veteranos Tony Adams e Martin Keown, juntava-se a frescura e a arte de Paul Scholes, dos irmãos Neville (Phil e Gary), do rato atómico Michael Owen, e da estrela hollywoodesca David Beckham. Favoritos à vitória? Os ingleses pois claro. E ainda mais favoritos ficaram quando aos 20 minutos de jogo já venciam por... 2-0! Um começo fulgurante ao qual respondeu um genial Portugal, que partiu então para uma noite memorável, para uma exibição fantástica, e para um jogo épico que figura na galeria dos encontros mais sensacionais da histórias dos Europeus. Comandados por Figo os portugueses não baixaram os braços, e aos 21 minutos o jogador português do Barcelona - iria transferir-se nesse verão para o rival Real Madrid - assinou uma verdadeira obra de arte no relvado do estádio do PSV. A 30 metros da baliza desfere um forte remate que só parou no fundo das redes do pasmado David Seaman. Um lance de génio do... genial número 7 luso.
A avalanche lusa continuou e a oito minutos do intervalo foi outro genial atleta que de cabeça faria o empate a duas bolas. João Vieira Pinto, a passe do maestro Rui Costa, batia Seaman pela segunda vez no encontro. Mas Humberto Coelho ainda não tinha tirado todos os seus... coelhos da cartola. Já na segunda parte apareceu o jovem goleador do Benfica, Nuno Gomes, a grande surpresa da convocatória, que dá a melhor sequência a mais um passe magistral de Rui Costa ao fazer o 3-2 final com Portugal venceu a poderosa Inglaterra. O apito final do sueco Anders Frisk soou, e os portugueses haviam conquistado uma vitória épica, comparada à histórica reviravolta protagonizada pelos Magriços de Eusébio no Mundial de 66 ante a Coreia do Norte.
No outro jogo do grupo assistia-se ao primeiro episódio da triste saga dos detentores do título europeu. A Alemanha, recheada de nomes sonantes, como Matthaus, Hassler, Bierhoff, Kahn, Ballack, ou Ziege, não conseguia melhor do que um empate sofrido a uma bola ante a Roménia do veterano Gica Hagi. Os alemães começavam a mostrar o que no final deste Euro seria evidente, que a Mannschaft precisa urgentemente de uma remodelação.
E na ronda seguinte a pequena cidade belga de Charleroi foi palco de um dos maiores clássicos do futebol mundial, um Alemanha - Inglaterra. Dois pesos pesados que como seria de esperar protagonizaram um jogo disputado, mas nem sempre bem jogado! Valeu um lance de génio do goleador Shearer, que aos 53 minutos fez o único golo do encontro e como que apagou a apatia que se vivia no relvado do Stade du Pays. Com esta vitória os britânicos voltavam a entrar na corrida pelo apuramento, ao passo que os alemães passavam a depender de terceiros, isto porque em Arnhem (Holanda) Portugal vencia a Roménia por 1-0 e garantia matematicamente a qualificação para a fase seguinte. O médio Costinha apontou aos 90 minutos o único golo de uma partida marcada pelo equilíbrio, sem grandes oportunidades de golo e com exibições - de parte a parte - muito cautelosas. Voltando ao jogo de Charleroi a alegria inglesa era bem visível, não só porque o apuramente era ainda matematicamente possível, como já vimos, mas porque esta era a primeira vitória da Inglaterra sobre a velha inimiga Alemanha desde a... final do Mundial de 1966!
Alemães que na derradeira e crucial jornada do Grupo A sofreram uma nova humilhação, quiçá a maior desde Euro 2000. Na banheira de Roterdão (a alcunha pelo qual é mundialmente conhecido o Estádio do Feyenoord) a Alemanha era esmagada por 0-3 pelas... reservas de Portugal! Já qualificado para os quartos-de-final o selecionador Humberto Coelho deu descanso aos habituais titulares, e lançou em campo jogadores menos utilizados nas duas partidas anteriores, como o guarda-redes Pedro Espinha, Beto, Rui Jorge, Capucho, Pauleta, ou Sérgio Conceição. E a noite seria histórica para este último jogador, que por três ocasiões bateu o lendário guardião Oliver Kahn! Hattrick para Conceição no adeus ao Euro da campeã da Europa em título! Sérgio Conceição tornava-se assim no quarto jogador da história a alcançar três golos num jogo do Europeu, depois de Allofs (80), Platini (84), e Van Basten (88).
Mas a humilhação não se resumiu aos germânicos. Em Charleroi a Inglaterra a precisar somente de um empate ante a Roménia para se qualificar, foi derrotada por 2-3! O tento da vitória dos romenos surgiu a um minuto do fim por intermédio de Ganea. Roménia e Portugal, os teoricamente mais frágeis conjuntos do grupo seguiam em frente, ao passo que os gigantes e favoritos alemães e ingleses ficavam pelo caminho. Era caso para dizer que David tinha vencido Golias.
Favoritos não ganharam para o susto!
O Grupo C era aquele que teoricamente menos interesse suscitava. Espanha e Jugoslávia eram apontadas como as duas favoritas à passagem aos quartos-de-final, ao passo que as esterantes Eslovénia e Noruega pouco ou mais podiam fazer do que almejar uma vitória no confronto entre si. Porém, o começo não foi bem assim.
No dia 13 de junho Charleroi assistiu a um dos jogos mais emocionantes da história dos campeonatos da Europa, protagonizado por duas seleções que outrora fizeram parte da... mesma nação. Jugoslávia e Eslovénia, empataram a três golos, despois destes últimos terem estado a vencer por 3-0! Zahovic, a estrela eslovena, marcou por duas vezes, mas a menos de meia hora do final um dos goleadores do Euro 2000, Savo Milosevic, reduziu para 1-3, um tento que daria alento ao combinado do velho mestre da tática Vujadin Boskov, que no que restava jogar até final apontou mais dois golos - um deles de novo da autoria de Milosevic -, isto quando desde o minuto 59 jogava com menos uma unidade em campo, depois do árbitro português Vítor Pereira ter dado ordem de expulsão a Mihajlovic, que havia visto dois cartões amarelos no espaço de quatro minutos!
Nesse mesmo dia 13 de junho o escândalo acontecia em Roterdão. A Noruega de Ole Gunnar Solskjaer derrotava a favorita Espanha por 1-0, com um tento de Iversen. Noruegueses que viviam o período dourado do seu praticamente desconhecido - além fronteiras - futebol, já que depois dos Mundiais de 94 e 98 marcavam agora presença no maior certame do Velho Continente, com uma equipa talentosa formada por craques como Eggen, Iversen, Tore Andre Flo, John Carew, ou o já citado Solskjaer, que na época brilhava no colosso inglês Manchester United.
Mas no encontro seguinte os noruegueses desceram à terra. Em Liège, ante a Jugoslávia, Milosevic acabou com a euforia nórdica e colocou os jugoslavos - que neste Euro 2000 competiriam pela última vez sob os desígnios de Jugoslávia - com um pé na fase seguinte. Neste jogo há ainda a registar a expulsão mais rápida de sempre de uma fase final de um Euro. O jugoslavo Mateja Kezman entrou em campo aos 87 minutos, sendo que 44 segundos depois comete uma falta grave sobre Mykland, recebendo de imediato ordem de expulsão! Também a Espanha corrigiu o erro da jornada inaugural deste Grupo C, e no moderno Arena de Amesterdão derrotava uma das sensações dessa 1ª jornada, a Eslovénia, por 2-1, de nada valendo mais uma exibição de gala do esloveno Zlatko Zahovic.
Na ronda decisiva viveram-se momentos dramáticos. Em Arnhem noruegueses e eslovenos empataram a zero, resultado que dava o apuramento aos nórdicos, uma vez que no outro encontro, disputado em Bruges, a Espanha ia empatando a três golos com a já qualificada Jugoslávia. Como que de um golpe de magia se tratasse aos 90 minutos Alfonso faz o 4-3 que colocou os espanhóis na fase seguinte, para desespero dos noruegueses que já com a sua missão cumprida aguardavam com impaciência no relvado do Gelredome de Arnhem o desfecho da partida de Bruges.
Encantador futebol ofensivo da Holanda fez furor
No Grupo D ficaram os campeões do Mundo em título, a França, liderada pelo melhor jogador do Mundo da altura, Zinédine Zidane. Os franceses apresentavam-se em solo belga-holandês como os principais candidatos à vitória final, até porque mantinham a quase totalidade do grupo que dois antes havia vencido - em casa - o Campeonato do Mundo. Zidane, Patrick Vieira, Barthez, Thuran, Blanc, Deschamps, Henry, entre muitos outros, viviam o ponto alto das suas afamadas carreiras, e para muitos o que fosse não erguer o troféu de campeão da Europa seria uma autêntica... catástrofe. Patricando um futebol de alta qualidade, com um toque artístico, os franceses cedo mostraram que dificilmente não chegariam à final, e logo na 1ª jornada golearam a Dinamarca por 3-0, com uma exibição de gala de Thierry Henry.
No mesmo dia (11 de junho) entrou em campo, em Amesterdão, a seleção da casa, ou uma das seleções da casa, neste caso a Holanda, equipa não menos artística orientada pelo carismático ex-jogador Frank Rijkaard, um dos imortais que em 1988 levou a seleção laranja ao topo da Europa. Patricando um futebol de cariz ofensivo de grande beleza so holandeses venceram os vice-campeões da Europa, a República Checa, por um solitário mas inteiramente merecido 1-0.
Na jornada seguinte confirmou-se a supremacia de França e Holanda, e mais do que isso a qualificação de ambas as seleções para os quartos-de-final. Os gauleses venceram os checos por 2-1 em Bruges. ao passo que os co-anfitrições humilhavam em Roterdão uma veterana Dinamarca - já sem os irmãos Laudrup - por 3-0 na sequência de mais uma bela aula de futebol ofensivo.
A última jornada não mais serviu do que cumprir calendário e definir quem ficava com o 1º lugar. Posição esta disputada por franceses e holandeses, na Arena de Amesterdão, sendo que os primeiros parecem não ter dado grande importância ao que ali se discutia, pois entraram em campo com alguns jogadores reservistas, casos de Lama, Leboeuf, Candela, Micoud, ou Dugarry. Agradeceram os tulipas que ao vencer por 3-2 garantiram o tal 1º posto, permancendo assim no seu território nos quartos-de-final, ao passo que a França mudava-se para a Bélgica para continuar uma tragetória que seria gloriosa.
Muito atlética mas nada técnica a Dinamarca sofria nova derrota, desta feita ante os checos, por 0-2, e ia para casa com oito golos sofridos e zero marcados! No reino da Dinamarca apertavam então as saudades do inolvidável verão de 92!!!
Kluivert show na banheira de Roterdão
Um dos jogos mais aguardados dos quartos-de-final estava agendado para Roterdão, entre a seleção da casa, a Holanda, e a Jugoslávia. Frente a frente estavam igualmente dois dos mais eficazes homens golos do torneio, Patrick Kluivert, e Milosevic. O espetáculo prometia, e assim foi.
50 000 espetadores presenciaram mais uma exibição de gala da equipa laranja, culminada com uma expressiva vitória por 6-1. Por três ocasiões Kluivert fez o gosto ao pé, rubricando a sua melhor performance em todo este Euro 2000, e fazia da sua seleção a mais concretizadora da prova, com 13 remates certeiros, e mais do que isso continuava a fazer sonhar uma nação inteira em voltar a ver a sua equipa nacional erguer a Taça Henri Delaunay. Armas para o conquistar eram mais do que muitas à dispoisção de Rijkaard, não só o citado goleador Kluivert, como também Overmars, Davids, Bergkamp, Cocu, Stam, ou os gémeos De Boer.
Massacrada pelos holandeses a Jugoslávia ainda deu um ar de sua graça por intremédio de Milosevic, que reduzia para 1-6, e assim se tornava, a par de Kluivert, no melhor marcador do Euro 2000, com cinco golos.
Em Amesterdão a Europa - e o Mundo, porque não dizê-lo - encantava-se com mais uma exibição de luxo obtida por Portugal. Com um futebol tecnicamente belo os jogadores de Humberto Coelho venciam a Turquia por 2-0, num encontro marcado pela veia goleadorra de Nuno Gomes - autor dos dois golos - e pela magia de Luís Figo, que deixou os turcos com a cabeça às voltas. As duas seleções voltaram a encontrar-se pela segunda vez consecutiva na fase final de um Euro, sendo que desta vez o triunfo dos portugueses foi bem mais fácil, muito contribuindo para isso a expulsão do defesa Alpay aos 28 minutos. Vítor Baía ainda defendeu uma grande penalidade, e na hora da festa Rui Costa desejou encontrar a França nas meias-finais, «vamos vingar a grande seleção (portuguesa) de 84, Eu lembro-me desse jogo (ante a França, também nas meias-finais), tinha 12 anos, e agora desejo vingar essa seleção que merecia ter passado à final».
Um desejo envenenado...
Sem grandes dificuldades a Itália também carimbou o seu passaporte para as meias-finais, depois de em Bruxelas ter batido por 2-0 a Roménia. Qualificação alcançada ainda na primeira parte, com Totti (aos 33 minutos) e Filippo Inzaghi (aos 43) a desmantelarem uns romenos algo indisciplinados, a começar pelo seu lendário capitão Hagi, que antes do início deste Campeonato da Europa havia anunciado ao Mundo que iria pendurar de vez as chuteiras após o final da competição. E a despedida de Gica Hagi dos relvados não foi de facto a melhor. Aos 59 minutos o número 10 romeno é expulso por Vítor Pereira, na sequência de protestos vários e simulações, e na hora do adeus Hagi não poupou elogios ao árbitro português: «este árbitro é uma vergonha!».
Por fim, em Bruge, sob a arbitragem do conceituado italiano Collina, a França sentia algumas dificuldades para bater a aguerrida Espanha de Camacho, por 2-1. Valeu a arte de Zizou (alcunha de Zidane), e a desinspiração do capitão espanhol Raul, que falhou uma grande penalidade em cima do minuto 90 que poderia ter colocado o marcador em 2-2 e levar assim o encontro para prolongamento. Não converteu e os blues seguiam para Bruxelas para enfrentar os motivados portugueses.
Mão fatal de Abel Xavier
Portugal saia pela primeira vez da Holanda, onde havia realizado todos os jogos até então, viajando para Bruxelas, onde se iria disputar a primeira meia-final do Euro 2000. Sob arbitragem de Gunter Benko os portugueses entraram a todo o gás na partida, e quando o relógio ainda não tinha marcado 20 minutos já Nuno Gomes voltava a faturar na fase final da prova, fazendo o seu quarto golo na competição e mais do que isso colocando mais perto a sua seleção do sonho. Sonho que foi mesmo a definição desta partida, de futebol de grande beleza protagonizado por ambas as equipas, futebol espetáculo que só na segunda parte voltaria a vibrar com golos, e para a França, por intermédio de Henry, após um passe de Anelka... em posição ilegal, que muito irritou os portugueses, cujos protestos de nada valeram.
Prolongamento à vista, e aqui veio a decisão polémica do encontro. Aos 117 minutos Henry cruza a bola para o primeiro poste, onde aparece Abel Xavier a cortar o esférico com a mão! Mão na bola, ou bola na mão? O auxiliar de Benko optou pela primeira opção, e o juíz principal assinalou de imediato grande penalidade contra Portugal. Os jogadores lusitanos cercaram o árbitro, o seu assistente, manifestando em coro o seu descontentamento, empurrões, insultos, com Gunter Benko a exibir alguns cartões aos portugueses, alguns deles de cor encaranada. Sereno e implacável Zidane converteu a grande penalidade e qualificou a França para a final, na sequência de um golo de ouro, visto que o jogo terminou de imediato. Luís Figo foi um dos mais inconformados, dizendo que no futebol não há verdade, uma vez que esta modalidade era já apenas um negócio!
Na outra meia final a sorte bafejou a Squadra Azzura. Os holandeses exibiram novamente o caudal ofensivo dos jogos anteriores, mas na hora H - na concretização - estavam completamente desinspirados. No tempo regulamentar falharam duas grandes penaldiades, duas (!), além de terem estado a jogar durante mais de meia hora com mais um elemento em campo, após expulsão do italiano Zambrotta. O prolongamento chegou, mas os golos não apareciam, pelo que teve de se recorrer às grandes penalidades pela primeira vez nesta fase final. Lotaria onde os holandeses não acertaram, pois dos quatro penaltis que dispuseram falharam três (!), enquanto que os italianos converteram outros tantos e seguiram assim para a final de Roterdão. As duas equipas que apresentaram o futebol mais vistoso, Portugal e Holanda, estavam assim de fora do jogo mais apetecido.
Novo golo de ouro coroou a França como rainha da Europa
Se a sorte esteve com os italianos no Arena de Amesterdão durante a meia final, no encontro decisivo do Euro 2000 ela abandonou a azzurra! Num jogo morno, disputado em Roterdão, as duas equipas ficaram sempre na espetativa, não criando grandes oportunidades de golo, e nem mesmo os génios - dos dois lados - queriam aparecer em campo. Delvecchio fez o primeiro golo do encontro aos 55 minutos, e tal como seria de esperar depois disso a Itália de Zoff jogou... à defesa, como tão bem o faz. O catenaccio italiano no seu estado mais puro! A meio da segunda parte Del Piero teve a oportunidade - flagrante - de matar o jogo, e como quem não mata morre já em cima dos 90 minutos Wiltord empata a final para desespero dos italianos que já festejavam o seu segundo ceptro europeu. E tal como em 1996 a vitória chegou através de um golo de ouro, apontado aos 103 minutos por David Trezeguet, que havia entrado em campo no decorrer da etapa complementar, e que deu o melhor seguimento a uma brilhante jogada individual de Robert Pires.
A França juntava assim ao título mundial o de campeão da Europa (o segundo da sua história), e coroava desta forma a genial geração de Zizou e companhia.
Jogos
Grupo A
1ª jornada
12 de junho, em Eindhoven
Inglaterra - Portugal: 2-3
(Scholes, aos 2m, McManaman, aos 18m)
(Figo, aos 21, João Vieira Pinto, aos 37m, Nuno Gomes, aos 58)
12 de junho, em Liège
Alemanha - Roménia: 1-1
(Scholl, aos 28m)
(Moldovan, aos 5m)
2ª jornada
17 de junho, em Arnhem
Roménia - Portugal: 0-1
(Costinha, aos 90m)
17 de junho, em Charleroi
Inglaterra - Alemanha: 1-0
(Shearer, aos 53m)
3ª jornada
20 de junho, em Roterdão
Portugal - Alemanha: 3-0
(Sérgio Concieção, aos 34m, aos 53m, aos 71m)
20 de junho, em Charleroi
Inglaterra - Roménia: 2-3
(Shearer, aos 41m, Owen, aos 45m)
(Chivu, aos 22, Munteanu, aos 48, Ganea, aos 89m)
Classificação
1-Portugal: 9 pontos
2-Roménia: 4 pontos
3-Inglaterra: 3 pontos
4-Alemanha: 1 ponto
Grupo B
1ª jornada
10 de junho, em Bruxelas
Bélgica - Suécia: 2-1
(Goor, aos 43m, Mpenza, aos 46m)
(Mjalby, aos 53m)
11 de junho, em Arnhem
Turquia - Itália: 1-2
(Okan, aos 61m)
(Conte, aos 52m, Inzaghi, aos 70m)
2ª jornada
14 de junho, em Bruxelas
Bélgica - Itália: 0-2
(Totti, aos 6m, Fiore, aos 66m)
15 de junho, em Eindhoven
Turquia - Suécia: 0-0
3ª jornada
19 de junho, em Eindhoven
Itália - Suécia: 2-1
(Di Biagio, aos 39m, del Piero, aos 88m)
(Larsson, aos 77m)
19 de junho, em Bruxelas
Bélgica - Turquia: 0-2
(Sukur, aos 45m, aos 70m)
Classificação
1-Itália: 9 pontos
2-Turquia: 4 pontos
3-Bélgica: 3 pontos
4-Suécia: 1 ponto
Grupo C
1ª jornada
13 de junho, em Charleroi
Jugoslávia - Eslovénia: 3-3
(Milosevic, aos 66m, aos 73m, Drulovic, aos 70m)
(Zahovic, aos 27m, aos 57m, Pavlin, aos 52m)
13 de junho, em Roterdão
Espanha - Noruega: 0-1
(Iversen, aos 66m)
2ª jornada
18 de junho, em Liège
Noruega - Jugoslávia: 0-1
(Milosevic, aos 8m)
18 de junho, em Amesterdão
Eslovénia - Espanha: 1-2
(Zahovic, aos 58m)
(Raul, aos 4m, Etxeberria, aos 60m)
3ª jornada
21 de junho, em Arnhem
Eslovénia - Noruega: 0-0
21 de junho, em Bruges
Jugoslávia - Espanha: 3-4
(Milosevic, aos 31m, Govedarica, aos 51m, Komijanovic, aos 75m)
(Alfonso, aos 39m, aos 90m, Munitis, aos 52m, Mendieta, aos 89m)
Classificação
1-Espanha: 6 pontos
2-Jugoslávia: 4 pontos
3-Noruega: 4 pontos
4-Eslovénia: 2 pontos
Grupo D
1ª jornada
11 de junho, em Amesterdão
Holanda - República Checa: 1-0
(F.de Boer, aos 89m)
11 de junho, em Bruges
França - Dinamarca: 3-0
(Blanc, aos 16m, Henry, aos 64m, Wiltord, aos 90m)
2ª jornada
16 de junho, em Roterdão
Holanda - Dinamarca: 3-0
(Kluivert, aos 57m, R.de Boer, aos 66m, Zenden, aos 77m)
16 de junho, em Bruges
República Checa - França: 1-2
(Poborsky, aos 35m)
(Henry, aos 7m, Djorkaeff, aos 60m)
3ª jornada
21 de junho, em Amesterdão
Holanda - França: 3-2
(Kluivert, aos 14m, F.de Boer, aos 51m, Zenden, aos 59m)
(Dugarry, aos 8m, Trezeguet, aos 30m)
21 de junho, em Liège
Dinamarca - República Checa: 0-2
(Smicer, aos 63m, aos 67m
Classificação
1-Holanda: 9 pontos
2-França: 6 pontos
3-República Checa: 3 pontos
4-Dinamarca: 0 pontos
Quartos-de-final
24 de junho, em Amesterdão
Portugal - Turquia: 2-0
(Nuno Gomes, aos 44m, aos 56m)
24 de junho, em Bruxelas
Itália - Roménia: 2-0
(Totti, aos 53m, Inzaghi, aos 43m)
25 de junho, em Bruge
Espanha - França: 1-2
(Mendieta, aos 38m)
(Zidane, aos 33m, Djorkaeff, aos 44m)
25 de junho, em Roterdão
Holanda - Jugoslávia: 6-1
(Kluivert, aos 24m, aos 38m, aos 54m, Overmars, aos 78m, aos 89m, Goverdarica (p.b.), aos 51m)
(Milosevic, aos 90m)
Meias-finais
28 de junho, em Bruxelas
Portugal - França: 1-2
(Nuno Gomes, aos 17m
(Henry, aos 50m, Zidane, aos 117m)
29 de junho, em Amesterdão
Holanda - Itália: 0-0 (1-3 nas grandes penalidades)
Final
França - Itália: 2-1 (golo de ouro no prolongamento)
Data: 2 de julho de 2000
Estádio: Feyenoord, em Roterdão (Holanda)
Árbitro: Anders Frisk (Suécia)
França: Barthez, Thuran, Desailly, Blanc, Lizarazu (Pires, aos 86m), Vieira, Deschamps, Djorkaeff (Trezeguet, aos 76m), Zidane, Dugarry (Wiltord, aos 57m), e Henry. Treinador: Roger Lemerre
Itália: Toldo, Cannavaro, Nesta, Iuliano, Maldini, Pessotto, Albertino, Di Biagio (Ambrosini, aos 66m), Fiore (Del Piero, aos 53m), Totti, e Delvecchio (Montella, aos 86m). Treinador: Dino Zoff
Golos: 0-1 (Delvecchio, aos 55m), 1-1 (Wiltord, aos 90m), 2-1 (Trezeguet, aos 103m)
Vídeo: FRANÇA - ITÁLIA
Melhores marcadores:
Kluivert (Holanda) e Milosevci (Jugoslávia): 5 golos
Onze ideal:
Toldo (Itália)
Thuran (França)
Cannavaro (Itália)
Blanc (Itália)
Stam (Holanda)
Vieira (França)
Figo (Portugal)
Davids (Holanda)
Zidane (França)
Kluivert (Holanda)
Milosevic (Jugoslávia)
Legenda das fotografias:
1-Logotipo do Euro 2000
2-Fase do jogo entre belgas e turcos, que ditou o afastamento dos co-anfitriões da fase seguinte
3-Turquia e Suécia protagonizaram um dos dois empates a zero bolas da primeira fase
4-Di Biagio festeja um golo ante a Suécia
5-Paul Scholes aponta o primeiro golo da Inglaterra no Euro 2000
6-Alemães não conseguiram vencer os romenos...
7-... e perderam com a velha inimiga Inglaterra, graças a um golo de Alan Shearer
8-Hagi tenta desenvencilhar-se de Paulo Bento
9-O eletrizante jogo entre eslovenos e jugoslavos
10-Esloveno Zahovic aqui em luta com um norueguês
11-Overmars tenta bater Schmeichel
12-Holandês Davids travado em falta pelo francês Vieira
13-Festejos holandeses na goleada aos jugoslavos
14-Figo e Nuno Gomes, duas das estrelas portuguesas durante o Europeu 2000
15-Zidane, o mago francês passa pelo espanhol Guardiola
16-Mão de Abel Xavier que ditou o afastamento de Portugal da final
17-Mais um penalti falhado pela Holanda na meia-final
18-Fase da grande final de Roterdão
19-Alemanha
20-Inglaterra
21-Bélgica
22-Suécia
23-Turquia
24-Noruega
25-França
26-Holanda
27-Portugal
28-Lance da final
29-França celébra o segundo título europeu da sua história
30-Kluivert
31-Milosevic
32-Trezeguet, o homem de ouro da final
Um comentário:
fichas completas dos jogos com fotos
2000 U.E.F.A. European Championship
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