Um jogador de fina classe que apesar de não ser tão conhecido, ou badalado, como Ronaldinho, Drogba, Deco ou Cristiano Ronaldo merece uma chamada de atenção pela qualidade do futebol que tem exibido nos relvados portugueses (e não só). Um craque (no verdadeiro significado da palavra) que me fez voltar a idolatrar jogadores de futebol, algo que eu já não fazia desde os meus tempos de infância, altura em que tinha como grandes referências jogadores como Paulo Futre, João Pinto (do FC Porto), Diego El Pibe Maradona, ou o baixinho Romário.
Pois bem, hoje o meu ídolo dá pelo nome de Zé Carlos, o matador que enverga as cores do Sporting de Braga. Um ponta-de-lança como poucos no futebol mundial, inteligente e mortífero, que alia uma elevada qualidade técnica a um apurado instinto de matador (goleador), características que lhe valeram a alcunha de Zé do Gol.
José Carlos Santos Silva, ou Zé Carlos, ou ainda Zé do Gol, como já vimos, nasceu no Brasil a 19 de Março de 1975, na cidade de Duque de Caxias (região do Rio de Janeiro) e desde cedo prendeu a atenção de alguns clubes cariocas. Não foi de estranhar que um dos gigantes do Rio de Janeiro, o Botafogo, o contratasse para os seus quadros. No clube que o revelou para o mundo Zé do Gol cumpriria cinco temporadas (1996, 1997, 1998, 1999 e 2000), tendo feito uma parelha mortífera no ataque do alvi-negro carioca com Túlio Maravilha. Nesta equipa, Zé Carlos foi campeão do Campeonato Carioca de Futebol de 1997 e do Torneio Rio-São Paulo de 1998.
Em 2001 trocou a cidade maravilhosa (Rio) pela pacata cidade de Campinas (arredores de São Paulo) para representar o Guarani, clube onde não seria lá muito feliz, pois inexplicavelmente passaria mais tempo no banco do que no relvado a fazer aquilo que melhor sabe, golos.
Apesar de pouco utilizado no clube de Campinas, as qualidades de Zé do Gol não passaram despercebidas à Europa do futebol, e em 2002 o brasileiro ruma ao Velho Continente para representar os turcos do Malatyaspor. Primeira experiência na Europa que não correria lá muito bem ao goleador brasileiro, já que em seis partidas realizadas apenas apontou um golo.
Uma "falsa partida" no futebol europeu que o faria regressar a casa, para defender as cores daquele que é para muitos o maior emblema do Brasil, o Flamengo. E no rubro-negro carioca poderemos dizer que Zé do Gol viveu as duas melhores épocas (2003 e 2004) da sua carreira, tendo conquistado não só a titularidade como também apontado muitos golos, factos que o tornaram num ídolo da exigente torcida do clube, tal e qual como um dia o foram Zico, Junior, Bebeto ou Romário.
As magníficas temporadas no Flamengo valeram-lhe uma transferência milionária para o futebol asiático, mais em concreto para a Coreia do Sul, onde representou o Steelers, clube onde também conquistou o coração dos adeptos.
Porém, as saudades de casa falariam mais alto e em 2006 regressa novamente ao Brasil para representar o Juventude de Caxias do Sul, onde faria uma soberda época, sendo que em 17 jogos apontou 10 golos pelo clube sulista. "Cartão de visita" que lhe valeria novo salto para a Europa, desta feita para o futebol português, onde chegou a meio da temporada 2005/06 para representar o Marítimo da Madeira. Contratado no chamado "mercado de inverno" fez 16 jogos (14 como títular), apontou 7 golos, e as suas boas prestações não deixaram ninguém indiferente. De tal maneira que no início desta época o Sporting de Braga abriu os cordões à bolsa para o contratar, sendo actualmente um dos jogadores mais valiosos da equipa comandada por Jorge Costa quer no Campeonato Nacional, quer na Taça de Portugal, quer ainda na Taça Uefa, competições onde o Zé do Gol tem dado nas vistas.
O número 77 do Braga é daqueles jogadores que faz levantar plateias, não só na minha modesta opinião como também na de grandes analistas do Desporto Rei, como por exemplo o conceituado Luís Freitas Lobo, que após a brilhante exibição de Zé do Gol no recente confronto europeu entre o Braga e os italianos do Parma (onde o brasileiro apontou o único golo do desafio) escreveu a seguinte crónica:
«O segredo do bom ponta-de-lança
Últimos dez minutos, o 0-0 parecia uma fatalidade, quando Zé Carlos viu cair do céu uma bola perdida no coração da área do Parma. Sentiu a pressão do defesa italiano, resistiu à tentação de rematar logo e com um sublime toque com o peito, tirou o defesa do lance, ganhou espaço, centímetros preciosos, e, frio, bateu Bucci. Um lance perfeito para definir um bom ponta-de-lança. Inteligente e mortífero. Mais do que o remate, o que previamente caracteriza um grande goleador, é a qualidade do primeiro toque quando recebe a bola. Sem esse bem feito, raramente existe o remate. Ou melhor, se existe, não será com a mesma qualidade.
Pensem bem, e reparem como os grandes pontas-de-lança raramente rematam de primeira. Claro, se tiver de ser, rematam de qualquer maneira, mas no geral, a qualidade de recepção-primeiro toque é que é decisiva para libertar-se da marcação apertada, tirar o defesa do caminho, ganhar-lhe o espaço e o timing decisivo para, logo a seguir, num espaço curto, soltar o remate. É este o segredo que faz um grande avançado.
Zé Carlos explicou-o na perfeição, com picardia, técnica e frieza. Há mais exemplos nos nossos relvados, mas este merece uma página inteira num manual de bom futebol».
Pois é, é por tudo isto que hoje trago aqui o retrato deste grande jogador, por quem tenho uma grande admiração, um atleta que é uma raridade no futebol moderno. Viva o Zé do Gol.
Legenda das fotografias:
1- Zé Carlos aquando da sua apresentação no Sp. Braga
2- Envergando as cores do Marítimo
3- Treinando com o seu companheiro de ataque Maciel (no Sp. Braga)
4- O golo narrado por Luís Freitas Lobo (no jogo com o Parma para os 1/16 final da Taça Uefa)
5- Na altura em que jogava no Juventude de Caxias do Sul
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