terça-feira, março 12, 2024

Histórias do Futebol em Portugal (45)… O último ato do Académico do Porto nos palcos da “Primeira” (Parte II)

Equipa do Vitória de Guimarães que em 41/42
foi a primeira vítima do Académico

Após quatro jornadas negativas, sem qualquer ponto somado e 19 golos encaixados, eis que à 5.ª jornada o Académico do Porto conhece a primeira das seis vitórias conquistados nesta época de 41/42. Uma partida disputada no Estádio do Lima, ante o Vitória de Guimarães, e em que nos primeiros minutos a bola foi muito disputada pelos dois combinados no miolo do terreno, sem que as duas balizas fossem, contudo, alvo de muitas ameaças, sendo a exceção protagonizadas pelos rapazes do Lima. «Academistas e vimaranenses disputam a bola com jogadas rápidas e pertencem aos locais as duas primeiras investidas em que se regista certo perigo, que Machado afasta com duas oportunas intervenções», contava o repórter ao serviço do Norte Desportivo nesse encontro. Marques e Raul Castro foram os homens do Académico que levaram a cabo essas ameaças à baliza do Vitória de Guimarães. Os visitantes só se organizaram após o primeiro quarto de hora, aparecendo mais no ataque. Neste período, uma jogada ofensiva pelo lado direito dos vimaranenses termina com uma atrapalhação do guarda-redes local, Levy de Sousa, valendo a atenção do seu companheiro Eliseu para sacudir a bola da área academista. Este seria, para sorte do Académico, um lance isolado em quase todo o jogo, já que os atacantes do Vitória mostravam «pouca decisão no remate final». Apesar disto o jogo corria de forma equilibrada, com “bola cá, bola lá”, e no derradeiro quarto de hora da primeira metade os dois guarda-redes são chamados a intervir com afinco. «As jogadas, porém, fazem-se com certa confusão, e só por isso as redes de qualquer dos grupos mantêm-se intactas quando o árbitro apita para o final do primeiro tempo», escrevia o jornalista de serviço. E seria na segunda parte que o Académico chegou aos golos. Primeiro, por Julinho, à passagem da hora de jogo. «Machado sai à jogada, a bola gira perto e Julinho acorre ao lance fazendo um tento aos três minutos».

Raul Castro com as 
cores do FC Porto ante 
de rumar ao Académico


O segundo festejo foi protagonizado por Raul Castro, na entrada para os 10 minutos finais. «Aos 36 minutos Julinho corre em direção a Machado, e Lino intervindo incorre em (grande) penalidade que Raul Castro transforma no segundo golo dos locais». Este último jogador apresentava-se como um dos mais reputados do plantel academista desta época. Chegou ao Académico com 29 anos, depois de ter estado durante sete temporadas ao serviço do vizinho FC Porto. Ao serviço dos azuis e brancos, Raul Augusto de Castro (nascido no dia 20 de maio de 1908) disputou 81 jogos oficiais, marcou 22 golos e conquistou nove títulos. Vestiu a camisola dos academistas durante cinco temporadas, entre 1937 e 1942. Com 53 jogos, Raul Castro foi o segundo jogador da história do Académico do Porto com mais partidas disputadas na 1.ª Divisão Nacional ao serviço deste clube.

Mas voltando ao encontro com o Vitória, para dizer que estava assim consumada a primeira vitória dos portuenses, que neste jogo alinharam com: Levy de Sousa, Rafael, Torres, Manau, Eliseu, Guimarães, Raul Castro, Gamboa, Álvaro Pereira, Marques e Julinho.


Alberto Gomes, a lenda do Académico que estava do outro lado da barricada

A euforia dos academistas durou pouco tempo, visto que na ronda seguinte voltaram a conhecer uma pesada derrota. Tal aconteceu na viagem a Coimbra, onde defrontaram a Académica. Estudantes que curiosamente eram orientados pelo jogador/treinador Alberto Gomes, uma antiga lenda do Académico do Porto, clube onde iniciou a sua brilhante carreira, antes de se transferir para a cidade do Mondego, onde fez história com a Briosa. Entre outros capítulos dourados, Alberto Gomes venceu a primeira edição da Taça de Portugal ao serviço da Académica.

Alberto Gomes


E no Campo de Santa Cruz, perante reduzida assistência, desde logo porque, e como escrevia o jornalista do Norte Desportivo presente, na sua última visita a Coimbra o Académico não tinha deixado boa impressão. Foi copiosamente goleado, e daí os adeptos da Académica pensarem que dificilmente os dois pontos fugiriam para o Porto. Porém, os portuenses mostraram outra imagem nesta visita. «No conjunto da partida de hoje, o Académico agradou mais do que na sua anterior visita. Houve mais equilíbrio nos seus setores. Todavia, aquele que mais agradou foi a defesa, pela sua decisão, no que se refere aos defesas e pela atenção ao jogo acusado por Levy (de Sousa), de facto um guarda-redes com personalidade», escrevia o jornalista, acrescentando que «porém, do trio defensivo para diante o grupo caiu bastante (…) No ataque houve toques inteligentes, desmarcações acertadas, mas na maioria do tempo faltou à linha ofensiva dos portuenses poder para lutar e para realizar».

Agradeceu assim a equipa da casa, que venceu por 6-3, com os tentos dos portuenses a pertencerem a Julinho (bisou) e Larsen.

Em Coimbra o Académico do Porto alinhou com o seguinte “onze”: Levy de Sousa, Rafael, António Jorge, Eliseu, Guimarães, Manau, Raul Castro, Larsen, Marques, Julinho e Gamboa.


Cá se fazem, cá se pagam! Que o diga o Barreirense

E na 7.ª jornada foi a vez do Académico do Porto atropelar, o mesmo será dizer, golear, um adversário seu nesta caminhada do Nacional da 1.ª Divisão de 41/42. A vítima foi o Barreirense, que levou do Estádio do Lima um cabaz de seis golos. Foram poucos os espectadores que assistiram a este encontro, desde logo porque a chuva caiu nesse dia sobre a cidade do Porto, afugentando o público do recinto. O Académico não poderia ter melhor entrada na partida, pois logo aos dois minutos «Julinho captou a bola e o defesa do Barreiro ficou pregado à relva. O jogador academista progrediu e sobre a direita desferiu um pontapé de baixo para cima. Baptista ainda abriu os braços, mas a bola levava letreiro», escrevia o jornalista do Norte Desportivo nesse jogo, que assinava como… Bolero! Bola ao centro e… novo golo do Académico. E novamente por intermédio de Julinho, que estava a ser um pesadelo para a defesa barreirense. Escrevia o jornalista Bolero que a relva estava a trair os visitantes! Pois é, há que ter em conta que o Estádio do Lima era a par do Estádio das Salésias o único campo relvado da então 1.ª Divisão Nacional, pelo que a esmagadora maioria dos futebolistas estava habituada a jogar em campos de terra batida. Pelos menos a julgar pela escorregadela do barreirense Pascoal, erro que permitiu a Álvaro Pereira aumentar a vantagem academista para 3-0. Os portuenses dominavam a partida, como deu conta Bolero, e nas raras vezes que o Barreirense subiu à área contrária lá estava Levy de Sousa, atento e seguro, a tapar os caminhos da sua baliza. Do outro lado do campo, o seu companheiro de posto, Baptista, vive em constante sobressalto. A pressão do Académico e constante, e os campeões de Setúbal raramente conseguem passar a linha do seu meio campo. «O engodo pela baliza do Barreirense é notório por parte do Académico», e não foi de estranhar que aos 57 minutos Julinho fizesse o 4-0, após ludibriar três adversários e a cerca da baliza disparar à queima roupa. «O Académico é sempre perigoso quando ataca, porque a defesa dos visitantes continua incerta», dava nota Bolero. E nesse sentido não foi difícil que Marques apontasse o quinto tento daquela tarde chuvosa. Mas o melhor estava reservado para o fim: o golo mais bonito, com uma cabeçada vistosa de Marques após centro de Larsen. 6-0.

Neste encontro o Académico alinhou com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Manau, Guimarães, Eliseu, Larsen, Raul Castro, Julinho, Marques e Álvaro Pereira.


A viagem mais longa terminou em nova derrota

E na 8.ª jornada os portuenses realizam a viagem mais longo desta sua última aventura na 1.ª Divisão. Foram até ao Algarve, mais precisamente até Olhão, onde mediram forças com o conjunto local. Foi um encontro que raramente teve brilho, conforme escreveu o Norte Desportivo, mas ainda assim o Olhanense puxou dos galões e venceu por 5-2. Do lado do Académico, Gamboa e Julinho marcaram, mas o melhor jogador em campo dos portuenses foi mesmo o guardião Levy de Sousa, que teve um naipe de boas intervenções que impediram uma goleada com contornos maiores. A propósito de Levy de Sousa, há que referir que ele foi o grande guarda-redes que defendeu as balizas dos portuenses na passagem destes pelo escalão maior. A par de Álvaro Pereira ele foi o único jogador que esteve nas cinco temporadas em que o Académico competiu na 1.ª Divisão. Esteve no Académico do Porto entre 1934 e 1942, e defendeu a baliza do clube no escalão maior em 33 jogos.

Levy de Sousa, histórico
guarda-redes do Académico

Em Olhão os portuenses alinharam com: Levy de Sousa, António Jorge, Rafael, Eliseu, Manau, Guimarães, Raul Castro, Larsen, Julinho, Marques e Gamboa.

(continua)

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