TONY
BARTON (Inglaterra): A história do futebol está repleta de
treinadores que um dia saíram da sombra dos seus mentores – o
mesmo será dizer outros treinadores que tiveram um papel fundamental
na formação da sua mentalidade enquanto mestres da tática – e
decidiram percorrer sozinhos os caminhos do futebol rumo à glória.
Porém, poucos serão aqueles que o fizeram quase numa operação
relâmpago, isto é, tão depressa abandonaram o papel de atores
secundários para assumir o estatuto de protagonistas num guião de
sucesso, como voltaram ao anonimato logo em seguida. É aqui se que
encaixamos a figura de Tony Barton, um cidadão inglês que em 1982
atingiu quase de forma acidental o Olimpo do Futebol na sequência da
épica conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus ao serviço
do Aston Villa.
Anthony
Edward Barton nasceu a 8 de abril de 1937 nos arredores de Londres –
em Sutton, mais concretamente – e a sua carreira de futebolista foi
quase tão modesta quanto a de treinador. Com apenas 17 anos torna-se
profissional do Fulham, emblema que defende até 1959, altura em que
se mudou para Nottingham no sentido de defender as cores do Forest
por duas temporadas. Defesa-direito de posição, Barton
transferiu-se posteriormente para o Portsmouth, emblema cujas cores
ostentou ao longo de seis temporadas e onde teve a sua primeira
experiência enquanto treinador-jogador. Penduradas as chuteiras
juntou-se em 1980 à equipa técnica do Aston Villa, liderada então
por Ron Saunders, o homem que nos anos 70 havia resgatado os Villans
de um longo e penso inverno – de quase duas décadas – sem
títulos de relevo. A conquista das taças da liga de 1975 e 1977
quebraram o enguiço do mais popular clube da cidade de Birmingham.
Mas a obra de Saunders teria contornos mais vincados no início da
década seguinte. Na temporada de 1980/81, e contra todas as
espectativas, o Villa sagra-se campeão inglês, algo que já não
acontecia desde 1910! Para
este sucesso muito contribuíram as performances de Peter Withe
(goleador que no verão de 1980 chegou de Newcastle e que logo na
primeira temporada com o emblema dos Villans ao peito sagrou-se o
melhor marcador do principal campeonato inglês), Gary Shaw, Dennis
Mortimer, ou Tony Morley. Jogadores que na temporada de 81/82
haveriam de ajudar a equipa a conquistar a... Europa. Exibindo no tabuleiro de jogo um sistema tático de 4-4-2 vincado
através de um futebol direto (tipicamente britânico) e fisicamente
forte, o Villa de Ron Saunders iniciou a caminhada rumo à glória
com a fácil eliminação do frágil campeão da Islândia, o Valor,
por um total (no conjunto das duas mãos) de 7-0. Seguiu-se o
primeiro osso duro de roer no percurso até Roterdão (palco da final
da Taça dos Campeões Europeus dessa temporada), o Dínamo de
Berlim. Na Alemanha de Leste o Villa venceu por 2-1, com um bis de
Morley, mas no jogo de volta, no Villa Park, os ingleses não
ganharam para o susto quando Frank Terletzki colocou ao minuto 15 o
Dínamo na frente do marcador. O Villa teve de suar até ao apito
final para impedir que a baliza de Jimmy Rimmer fosse de novo
violada, e desse modo garantir a passagem aos quartos-de-final pelo
facto de ter marcado mais golos no terreno do adversário.
Contra
todas as previsões o início do ano civil de 1982 trouxe nuvens
negras para os lados de Villa Park. Ron Saunders entrou em litígio
com a Direção do clube – ao que se diz devido a pormenores
relativos ao seu contrato – e bate com a porta!
E é aqui que começa verdadeiramente o efémero sucesso de Tony
Barton. Ao invés de procurar no exterior um nome de peso para
assumir a responsabilidade de continuar a conduzir o Aston Villa na
mais importante competição de clubes a nível continental, os
dirigentes do histórico emblema de Birmingham preferem uma solução
interna, isto é, entregar essa mesma responsabilidade ao “número
2” de Saunders. Apesar da sua curta experiência enquanto treinador
principal Barton não se assustou, e mantendo-se fiel ao estilo de
jogo implementado pelo seu mestre superou com classe a primeira barreira
europeia. O poderoso campeão da então União Soviética,
o Dínamo de Kiev, caiu nos quartos-de-final aos pés do elenco agora
comandado por Barton, depois de um nulo na atual capital da Ucrânia
e de um triunfo por 2-0 em Villa Park. O derradeiro obstáculo antes
da final dava pelo nome de Anderlecht, tão só um dos melhores e
mais temidos conjuntos do futebol europeu de então. Um simples golo
de Morley no encontro da primeira mão em solo britânico garantiu o
histórico passaporte para a final de Roterdão, já que um nulo em
Bruxelas, na segunda mão (jogo marcado por violentos confrontos
entre adeptos das duas equipas), assim o ditou.
Apesar de naquele
tempo o futebol inglês, no que diz respeito a clubes, reinar na
Europa – desde 1977 que a Taça dos Campeões Europeus era
propriedade exclusiva dos emblemas britânicos – o
Aston Villa chegava a Roterdão como mero figurante de uma festa que
se antevia destinada aos jogadores do Bayern de Munique, o adversário
dos Villans na grande final. E se o Villa não era favorito no papel,
pior ficou quando nos minutos iniciais da partida viu o seu
guarda-redes, Rimmer, abandonar o terreno por lesão, tendo sido substituído pelo
inexperiente Nigel Spink. Porém, ficaria provado que a inexperiência
era tudo menos um obstáculo para que o Villa pudesse alcançar o
sucesso. E Barton que o diga. Quanto ao encontro de Roterdão o
Bayern até foi mais ofensivo, criou as melhores oportunidades de
golo, mas já no segundo tempo (ao minuto 67) o goleador Peter Withe
passou à condição de imortal ao apontar o único golo daquela
tarde/noite, um remate coroado de êxito que deu origem à página
mais brilhante da centenária história do Aston Villa. Contra todas
as espectativas o inexperiente Tony Barton levava o Villa ao topo da
Europa, e também a partir daquele momento tornava-se imortal,
sentando-se ao lado de outros imortais como Brian Clough, Matt Busby,
Jock Stein, Bob Paisley, Joe Fagan e Alex Ferguson, os únicos
cidadãos de origem britânica que um dia colocaram as mãos na
orelhuda
(alcunha que é dada à Taça/Liga dos Campeões Europeus) no
desempenho do papel de mestres da tática.
Já em 2012, quase três décadas após a morte (1983) de
Tony Barton, devido a um ataque cardíaco, a então viúva
do treinador revelou à imprensa qual teria sido, por ventura, o
segredo do sucesso do seu marido naquela memorável tarde/noite em
Roterdão. Rose Barton disse então que dias antes da final havia
sido procurada por uma cigana que lhe teria dito que se Tony Barton
utilizasse um
pedaço de pano rendado no dia da final a vitória seria inglesa.
Rose aceitou a oferta e contou a história ao seu marido, que pouco
ou nada crente neste género de superstições recusou o “lucky
lace”. Porém, Rose Barton não fez caso da descrença do seu esposo, e secretamente colocou o amuleto num dos bolsos do casaco que
o treinador iria usar no dia do jogo. Bom, o resto é história, e a
história prefere olhar para este capítulo glorioso como um raro
rasgo de génio de Barton, que ao serviço do Villa iria ainda vencer
a Supertaça Europeia – à custa do Barcelona – antes de ser
demitido do cargo em 1984. Depois disso a estrela de Tony Barton quase que
se eclipsou nos céus do futebol, dado o facto de nunca mais ter
abraçado o sucesso.
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