sexta-feira, maio 23, 2014

Figuras do apito (4)... Vieira da Costa - A estreia de Portugal no grande palco do Campeonato do Mundo

Vieira da Costa
no Mundial de 1950
Aproveitando a boleia do Campeonato do Mundo de 2014, que dentro de pouco mais de duas semanas irá ter lugar no Brasil, é hoje curioso verificar que foi precisamente em Terras de Vera Cruz que o nome de Portugal apareceu pela primeira vez no maior dos palcos do futebol internacional, o mesmo será dizer o Mundial. Facto ocorrido em 1950, uma Copa de má memória para os brasileiros - como já é por demais sabido - onde a nação lusa se fez representar por um dos seus mais conceituados árbitros das décadas de 30, 40 e 50, Vieira da Costa a sua graça.
Nascido na cidade do Porto - mais concretamente na freguesia do Bonfim - a 13 de fevereiro de 1908, José Vieira da Costa foi ao longo da sua carreira um exemplo vincado de competência aliada à seriedade no sempre complicado mundo da arbitragem, um cartão de visita que lhe valeu inúmeras distinções, a maior de todas elas o convite da FIFA para que estivesse presente em dois Campeonatos do Mundo consecutivos!
A carreira do primeiro árbitro português a marcar presença em Mundiais começou no início da década de 30, num período em que o panorama futebolístico lusitano se resumia aos campeonatos regionais e ao Campeonato de Portugal, este último que viria a ser transformado no final da citada década na Taça de Portugal dos dias de hoje. Foi pois nestas competições que o árbitro filiado na Associação de Futebol do Porto começou a evidenciar as suas qualidades de prestigiada figura do apito. Com a criação do Campeonato Nacional da 1ª Divisão em 1934/35 Vieira da Costa foi por diversas ocasiões nomeado para dirigir jogos de alto gabarito, popularmente designados como clássicos. Neste campo destacam-se vários dérbis entre Benfica e Sporting, tendo o primeiro deles ocorrido curiosamente na primeira edição do Nacional da 1ª Divisão, quando a 10 de fevereiro de 1935 benfiquistas e sportinguistas empataram a uma bola no Campo das Amoreiras. Também na prova rainha do futebol lusitano, a Taça de Portugal, o juiz portuense deixou marca ao apitar duas finais, a primeira delas em 1942, ano em que o Belenenses se impôs ao Vitória de Guimarães por 2-0 no Campo do Lumiar (Lisboa), ao passo que a segunda ocorreu 13 anos (!) mais tarde, já na reta final do seu trajeto pelos caminhos da arbitragem, ao apitar mais um dérbi lisboeta entre Benfica e Sporting, no qual os encarnados levantaram a taça na sequência de um triunfo por 2-1 sobre o velho rival.

Vieira da Costa (o primeiro da esquerda para a direita)
fez a sua estreia em Mundias como árbitro auxiliar
do brasileiro Mário Gonçalves Vianna, no jogo
Espanha - Estados Unidos da América

Vieira da Costa foi internacional durante sete temporadas, tendo a sua entrada na alta roda internacional ocorrido na temporada de 1949/50. A sua primeira aparição além fronteiras deu-se nos Jogos Desportivos Centro Americanos e do Caribe, nos princípios de 1950, onde as suas boas atuações chamaram de pronto à atenção da FIFA, que na hora de recrutar os juízes para o Mundial que nesse mesmo ano iria decorrer no Brasil não teve dúvidas em incluir o portuense na lista de 27 árbitros selecionados.
No Brasil, Vieira da Costa desempenhou funções de árbitro auxiliar - papel que num passado não muito distante também era denominado de fiscal de linha. Estreou-se no Espanha - Estados Unidos da América, jogo alusivo à 1ª jornada do Grupo B, disputado em Curitiba, e que terminaria com a vitória espanhola por 3-1. Nos dois restantes encontros exibiu os seus conhecimentos na aplicação das regras do futebol no grande templo de futebol brasileiro, o Estádio do Maracanã, primeiro como bandeirinha do galês Benjamim Griffiths durante o Brasil - Jugoslávia (2-0), e por último no Brasil - Espanha (6-1) - referente à segunda fase da Copa - onde auxiliou o inglês Reginald Leafe.

Duelo entre a RFA e a Turquia na fase final
do Mundial de 1954, o qual teve como
árbitro principal o portuense Vieira da Costa
As boas performances de Vieira da Costa no Brasil fizeram com que quatro anos mais tarde fosse de novo convocado pela FIFA para o Mundial que decorreu na Suíça. Ai, com maior protagonismo, já que foi o árbitro principal do encontro entre a República Federal da Alemanha e a Turquia (4-1), integrado no Grupo B da primeira fase. Na qualidade de árbitro auxiliar estaria ainda presente em mais três encontros do Mundial helvético - todos eles referentes à primeira fase do certame - mais concretamente o Brasil - México (5-0), o Inglaterra - Suíça (2-0), e o Suíça - Itália (2-1).
Após deixar a arbitragem José Vieira da Costa - ao que se sabe - tornou-se um cidadão anónimo - no planeta da bola, pelo menos -, vindo a falecer a 6 de agosto de 1981.

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