terça-feira, fevereiro 23, 2010

Estrelas cintilantes (20)... Martins

Os “violinos” do Sporting foram 5, mas podiam bem ter sido 6, pois na célebre equipa leonina onde pontificava o mais brilhante quinteto de sempre do futebol português, os “Cinco Violinos”, composto por Travassos, Peyroteo, Vasques, Albano, e Jesus Correia, sobressaia, e de que maneira, outro talento da bola da década de 50, de sua graça João Martins. O seu nome ficou gravado a “letras de ouro” não só na história do clube lisboeta como do próprio futebol europeu como mais à frente iremos ver.
João Baptista Martins nasceu em Sines no dia 3 de Setembro de 1927 e começou a despontar para o futebol aos 16 anos no clube da sua terra, o Sport Lisboa e Sines. Ainda como júnior o chefe da fábrica de conservas onde travalhava fez-lhe um convite para viajar até Olhão, para ingressar na equipa local, o Olhanense. Clube este que na altura (anos 40) actuava na 1ª Divisão Nacional. De comboio deslocou-se sozinho até ao Algarve onde aí permaneceu um mês. Mas as saudades falaram mais alto e acabaria por regressar a casa. Contudo, a grande oportunidade da sua vida estava ainda por acontecer, e o destino havia-lhe reservado uma grande surpresa. Tudo começou quando certo dia uma equipa do Barreiro foi jogar ao Alentejo contra a equipa do Sines, tendo esta última vencido o encontro por 6-1. Três dos golos alentejanos foram da autoria de Martins, e mais do que isso assinala uma exibição portentosa.
Facto que não passou despecebido à CUF do Barreiro, que lhe oferecia emprego caso ele assinasse com o clube. Ele aceita, mas a ligação é curta, pois meia hora antes do jogo de estreia pela CUF, e já nos balneários, Martins descobre que o emprego na fábrica da CUF afinal não ia ser seu. Recusa-se então alinhar pelos barreirenses, e é posteriormente levado por um massagista da própria CUF para Alvalade onde ai se apresenta em 1946. Os treinadores do Sporting da época, Abrantes Mendes e Buchelli, testam-no junto às lendas Vasques e Travassos, e ainda que sem o calibre destes dois craques Martins agrada aos responsáveis leoninos e assina contrato. A sua aquisição custou ao Sporting apenas 100 escudos! Uma pechincha por um jovem talento como Martins.
Sporting que sempre havia sido o emblema do coração do nosso craque de hoje, muito por culpa do ciclista Alfredo Trindade que empolgava as multidões com a rivalidade que ostentou durante anos a fio com o benfiquista Nicolau em inúmeras Voltas a Portugal em Bicicleta.
Ao entrar em Alvalade Martins tem a fazer-lhe frente uma feroz concorrência, como já vimos a famosa linha avançada denominada de “Cinco Violinos”. Para muitos entrar no “11” leonino era tarefa impossível para quem quer que fosse. Mas Martins conseguio-o, a seu tempo, mas conseguio-o. A sua estreia de leão ao peito aconteceu contra o Vitória de Setúbal, tendo actuado no lugar de Jesus Correia. Uma estreia positiva, com o Sporting a fazer 9 golos, sendo um deles do estreante avançado.
Na temporada de 49/50, com a abandono de Peyroteo, Martins teve uma oportunidade para agarrar um lugar na primeira equipa dos leões. Destacando-se pela sua versatilidade ele é o operário da equipa, jogando em todas as posições... inclusive na de guarda-redes, lugar onde actuou num encontro com o Oriental.
Com o passar dos anos tornou-se numa das peças fundamentais da “máquina” Sporting. O seu companheiro Travassos caracterizou-o – numa entrevista ao Jornal “Sporting” - como "o melhor avançado-centro que já existiu no futebol português. Desmarcava-se muito bem, isolava-se com facilidade, fugindo à marcação dos adversários, e tinha excelente aptidão para o jogo de cabeça, o que causava o pânico entre as equipas que defrontávamos"
Na época de 1953/54 vence a “Bola de Prata”, prémio atribuido ao melhor marcador do Campeonato Nacional da 1ª Divisão, após ter apontado 31 golos.
Em termos de currículo vence os célebres quatro campeonatos seguidos (50-51, 51-52, 52-53 e 53-54) pelo Sporting, e ainda o título nacional de 57-58 e a Taça de Portugal (53-54).
Ao serviço da Selecção Nacional actuou por 12 vezes, tendo a primeira ocorrido a 23 de Novembro de 1952.


O autor do primeiro golo de uma competição europeia

Mas o grande momento pelo qual este homem é ainda hoje recordado prende-se com o facto de ter sido dele o primeiro golo apontado nas competições europeias. Decorria o ano de 1955, e o Sporting teve a honra de disputar o primeiro jogo da recém criada Taça dos Campeões Europeus. O Sporting e o Estádio Nacional, palco que acolheu o encontro com os jugoslavos do Partizam de Belgrado a 4 de Setembro do citado ano. Aos 14 minutos desse jogo Martins faz o primeiro golo, o primeiro de sempre numa prova europeia. Naquele momento entrou para a história do futebol... Mundial. Marcaria ainda um segundo golo de uma partida que terminaria empatada a três bolas, sendo que na 2ª mão o Sporting perderia por 2-5 e consequentemente eliminado. Mas a João Martins ninguém lhe tira o mérito de ter sido ele o autor do primeiro golo de uma competição europeia.
Abandou o futebol em 1959 depois de 13 temporadas de leão ao peito, tendo apontado pelo emblema de Lisboa 258 golos. Viria a falecer em 16 de Novembro 1993, com 66 anos de idade, devido a insuficiência cardíaca. Foi sepultado na sua terra natal, Sines, tendo a autarquia local nesse mesmo ano agraciado-o com a Medalha Ouro de Mérito Desportivo Municipal. A 25 de Abril de 2008, passa a dar nome ao Parque Desportivo Municipal João Martins nesta localidade alentejana.

Legenda das fotografias:
1- João Martins
2- O "11" do Sporting que "inaugurou" as competições europeias diante do Partizan

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