Depois de um – longo – período de férias o Museu Virtual de Futebol volta a abrir as suas portas aos apaixonados pelo belo jogo da bola. E regressamos com uma visita a um jogador que fez as minhas delícias de garoto. Um homem que para os mais familiarizados com a história do futebol foi um verdadeiro matreco da bola, um tosco, daqueles jogadores a quem a bola só atrapalha. Sim, até pode ser verdade, de craque da bola ele tinha muito pouco, ou mesmo nada. Mas tinha o que hoje em dia falta a muitas vedetas, ou pseudo-vedetas, do planeta da bola: humildade, companheirismo, trabalhador incansável, e sobretudo... uma alma enorme. Aliadas ao seu aspecto – físico – invulgar para um jogador de futebol estas características fizeram deste nobre cidadão um dos meus ídolos dentro do mundo do futebol. Senhoras e senhores visitantes fiquem nas próximas linhas com Alves Nilo Marcos Lima Fortes, popularmente conhecido no futebol como Vinha.
Nascido em Cabo Verde a 6 de Novembro de 1966 este gigante chegou a Portugal para representar o Atlético Clube de Portugal na temporada de 1988/89. E digo gigante não por ter sido, e volto a frisar a ideia, um mago da bola mas sim pela sua estampa física. O Vinha era – e continua a sê-lo - um rapaz alto, muito alto, alto demais para um jogador de futebol, com 1.93m (!!!) e muito magrinho. Na Tapadinha ficou duas temporadas antes de se mudar para o clube que o haveria de tornar famoso, o Salgueiros. A sua época de estreia pelo velho salgueiral, em 1990/91, coincide com a melhor fase vivida pelo popular clube portuense em toda a sua história, a época em que os encarnados do Norte terminaram o campeonato no 5º lugar, o que daria direito à participação na Taça UEFA da temporada seguinte. A época em que eu me deixei encantar pela Alma Salgueirista, em que me tornei membro da grande e nobre família salgueirista. A história do meu amor (à primeira vista) pelo Salgueiros já a confessei aqui em Janeiro passado, altura em que falei deste muito querido emblema portuense. Recordei também na altura alguns jogadores dessa mágica equipa que alcançou a qualificação para as competições europeias, tais como o Pedro Reis, o Rui França, o Leão, o Madureira, o Milovac ou o Nikolic. Mas houve um que me chamou à atenção, não só pela sua invulgar figura, muito alto, com uma corrida desengonçada, muito trapalhão com a bola nos pés, mas sobretudo pela sua alma, pela sua entrega ao jogo. Sim, era o Vinha, um homem que personificava como ninguém o verdadeiro significado do que era a alma salgueirista. Trabalhador humilde e dedicado ele era um dos jogadores mais queridos da massa associativa do clube. Um verdadeiro cavalheiro do futebol. Na época de estreia pelo Salgueiros fez 26 jogos e apontou 7 golos. Apesar de jogar como avançado esta foi a temporada em que fez mais vezes o gosto ao pé, dando para ver que de facto o Vinha era tudo menos um grande goleador. Ele era o operário daquela grande equipa, o rapaz humilde, envergonhado, que quando a bola lhe chegava aos pés, ou à cabeça, tratava de fazer o melhor que podia com ela para ajudar a sua equipa a atingir os objectivos. Era daqueles jogadores que não queria protagonismo mas sim ajudar a equipa... sempre. Era isso que me fascinava no Vinha, a sua postura em campo.
Na aventura europeia do Salgueiros participou nos dois jogos na eliminatória com os franceses do Cannes, ficando desde logo o seu nome gravado a letras de ouro na história do clube.
De aspecto frágil relembro um dos papéis principais deste homem noutro episódio da história do salgueiral, mais concretamente na última jornada do campeonato da época de 1992/93 no terreno do Espinho onde a poucos minutos do fim o Salgueiros perdia por 0-1 e com aquele resultado estava matematicamente na 2ª Divisão. E eis que no último minuto do encontro o desengonçado Vinha estica a sua perna longa e põe a bola no fundo da baliza espinhense fazendo o 1-1 final que manteve o Salgueiros na 1ª Divisão. E ainda hoje recordo esse momento, em que de rádio ao ouvido pulei de alegria gritando o nome do herói cabo-verdiano.
Esse golo terá ajudado, por certo, a que na temporada seguinte o FC Porto tenha ido a casa do vizinho Salgueiros contratar o gigante Vinha. E de azul e branco equipado o cabo-verdiano não podia ter tido melhor estreia, quando no encontro da 2ª mão da Supertaça Cândido de Oliveira, ante o Benfica, disputado nas Antas, entrou em campo já na 2ª parte e aos 84 minutos fez o único golo do jogo, empatando naquele momento a “eliminatória” da supertaça, já que na 1ª mão os benfiquistas haviam vencido também por 1-0. Alguns meses mais tarde o FC Porto venceria a prova que seria decidida numa finalissíma realizada em Coimbra. Alguns dias depois do golo da supertaça Vinha voltaria a ser carrasco do Benfica, quando o FC Porto recebeu na 1ª jornada do campeonato os seus rivais de Lisboa. A girafa cabo-verdiana marcaria de cabeça o primeiro golo desse jogo que terminaria empatado a três golos. Confirmaria alguns meses mais tarde a sua vocação para marcar golos aos grandes de Lisboa quando nas Antas fez um dos dois golos com que o FC Porto bateu o Sporting. Outro grande momento de azul e branco vestido aconteceu no final dessa temporada quando participou na vitória do emblema nortenho na finalissíma da Taça de Portugal também diante do Sporting (a final tinha terminado empatada a zero) que foi concluida com um resultado de 2-1. Vinha foi suplente utilizado nesse dia, vencendo assim o primeiro dos seus dois únicos troféus conquistados ao serviço dos dragões (o outro foi a supertaça).
Depois dessa época seria dispensado pelos portistas, tendo então regressado ao seu Salgueiros onde cumpriu mais quatro temporadas. Na 1ª Divisão fez mais de 150 jogos pelo seu clube de coração. Após a saída do clube de Paranhos, em 1997/98, teria ainda curtas passagens pelos escalões secundários do futebol português, mais concretamente pelo Paços de Ferreira, Lousada, Imortal e Tirsense, clube este que há poucas semanas atrás tinha sido o último em que Vinha havia jogado. Isto porque com o anunciado regresso do futebol sénior do Salgueiros foi anunciado que o gigante cabo-verdiano iria integrar o plantel do clube na 2ª Divisão Distrital da época 2008/09. Este regresso de Vinha ao futebol, aos 41 anos de idade, não tem senão a ver com o facto de querer ajudar o Salgueiros a reconquistar o seu espaço no futebol nacional. Mais uma vez Vinha mostrou que os grandes jogadores não se medem apenas pelas qualidades técnicas mas também pelas qualidades humanas, e neste aspecto este homem é um Senhor.
Legendas das fotografias:
1- O "cromo" de Vinha
2- Integrando um "11" do seu Salgueiros (Vinha é o segundo da fila de cima a contar da esquerda para a direita)
Nascido em Cabo Verde a 6 de Novembro de 1966 este gigante chegou a Portugal para representar o Atlético Clube de Portugal na temporada de 1988/89. E digo gigante não por ter sido, e volto a frisar a ideia, um mago da bola mas sim pela sua estampa física. O Vinha era – e continua a sê-lo - um rapaz alto, muito alto, alto demais para um jogador de futebol, com 1.93m (!!!) e muito magrinho. Na Tapadinha ficou duas temporadas antes de se mudar para o clube que o haveria de tornar famoso, o Salgueiros. A sua época de estreia pelo velho salgueiral, em 1990/91, coincide com a melhor fase vivida pelo popular clube portuense em toda a sua história, a época em que os encarnados do Norte terminaram o campeonato no 5º lugar, o que daria direito à participação na Taça UEFA da temporada seguinte. A época em que eu me deixei encantar pela Alma Salgueirista, em que me tornei membro da grande e nobre família salgueirista. A história do meu amor (à primeira vista) pelo Salgueiros já a confessei aqui em Janeiro passado, altura em que falei deste muito querido emblema portuense. Recordei também na altura alguns jogadores dessa mágica equipa que alcançou a qualificação para as competições europeias, tais como o Pedro Reis, o Rui França, o Leão, o Madureira, o Milovac ou o Nikolic. Mas houve um que me chamou à atenção, não só pela sua invulgar figura, muito alto, com uma corrida desengonçada, muito trapalhão com a bola nos pés, mas sobretudo pela sua alma, pela sua entrega ao jogo. Sim, era o Vinha, um homem que personificava como ninguém o verdadeiro significado do que era a alma salgueirista. Trabalhador humilde e dedicado ele era um dos jogadores mais queridos da massa associativa do clube. Um verdadeiro cavalheiro do futebol. Na época de estreia pelo Salgueiros fez 26 jogos e apontou 7 golos. Apesar de jogar como avançado esta foi a temporada em que fez mais vezes o gosto ao pé, dando para ver que de facto o Vinha era tudo menos um grande goleador. Ele era o operário daquela grande equipa, o rapaz humilde, envergonhado, que quando a bola lhe chegava aos pés, ou à cabeça, tratava de fazer o melhor que podia com ela para ajudar a sua equipa a atingir os objectivos. Era daqueles jogadores que não queria protagonismo mas sim ajudar a equipa... sempre. Era isso que me fascinava no Vinha, a sua postura em campo.
Na aventura europeia do Salgueiros participou nos dois jogos na eliminatória com os franceses do Cannes, ficando desde logo o seu nome gravado a letras de ouro na história do clube.
De aspecto frágil relembro um dos papéis principais deste homem noutro episódio da história do salgueiral, mais concretamente na última jornada do campeonato da época de 1992/93 no terreno do Espinho onde a poucos minutos do fim o Salgueiros perdia por 0-1 e com aquele resultado estava matematicamente na 2ª Divisão. E eis que no último minuto do encontro o desengonçado Vinha estica a sua perna longa e põe a bola no fundo da baliza espinhense fazendo o 1-1 final que manteve o Salgueiros na 1ª Divisão. E ainda hoje recordo esse momento, em que de rádio ao ouvido pulei de alegria gritando o nome do herói cabo-verdiano.
Esse golo terá ajudado, por certo, a que na temporada seguinte o FC Porto tenha ido a casa do vizinho Salgueiros contratar o gigante Vinha. E de azul e branco equipado o cabo-verdiano não podia ter tido melhor estreia, quando no encontro da 2ª mão da Supertaça Cândido de Oliveira, ante o Benfica, disputado nas Antas, entrou em campo já na 2ª parte e aos 84 minutos fez o único golo do jogo, empatando naquele momento a “eliminatória” da supertaça, já que na 1ª mão os benfiquistas haviam vencido também por 1-0. Alguns meses mais tarde o FC Porto venceria a prova que seria decidida numa finalissíma realizada em Coimbra. Alguns dias depois do golo da supertaça Vinha voltaria a ser carrasco do Benfica, quando o FC Porto recebeu na 1ª jornada do campeonato os seus rivais de Lisboa. A girafa cabo-verdiana marcaria de cabeça o primeiro golo desse jogo que terminaria empatado a três golos. Confirmaria alguns meses mais tarde a sua vocação para marcar golos aos grandes de Lisboa quando nas Antas fez um dos dois golos com que o FC Porto bateu o Sporting. Outro grande momento de azul e branco vestido aconteceu no final dessa temporada quando participou na vitória do emblema nortenho na finalissíma da Taça de Portugal também diante do Sporting (a final tinha terminado empatada a zero) que foi concluida com um resultado de 2-1. Vinha foi suplente utilizado nesse dia, vencendo assim o primeiro dos seus dois únicos troféus conquistados ao serviço dos dragões (o outro foi a supertaça).
Depois dessa época seria dispensado pelos portistas, tendo então regressado ao seu Salgueiros onde cumpriu mais quatro temporadas. Na 1ª Divisão fez mais de 150 jogos pelo seu clube de coração. Após a saída do clube de Paranhos, em 1997/98, teria ainda curtas passagens pelos escalões secundários do futebol português, mais concretamente pelo Paços de Ferreira, Lousada, Imortal e Tirsense, clube este que há poucas semanas atrás tinha sido o último em que Vinha havia jogado. Isto porque com o anunciado regresso do futebol sénior do Salgueiros foi anunciado que o gigante cabo-verdiano iria integrar o plantel do clube na 2ª Divisão Distrital da época 2008/09. Este regresso de Vinha ao futebol, aos 41 anos de idade, não tem senão a ver com o facto de querer ajudar o Salgueiros a reconquistar o seu espaço no futebol nacional. Mais uma vez Vinha mostrou que os grandes jogadores não se medem apenas pelas qualidades técnicas mas também pelas qualidades humanas, e neste aspecto este homem é um Senhor.
Legendas das fotografias:
1- O "cromo" de Vinha
2- Integrando um "11" do seu Salgueiros (Vinha é o segundo da fila de cima a contar da esquerda para a direita)
Um comentário:
Era tão mas tão matreco este gajo...
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