quarta-feira, março 19, 2008

Grandes Clássicos da Bola (4)... Itália-Brasil (3-2)

Apesar de belo e apaixonante o futebol é tudo menos um jogo onde o conceito de justiça nem sempre tem lugar reservado. Ou seja, muitas das vezes nem sempre vence quem fez por o merecer, quem lutou mais para alcançar o triunfo, o que leva muita gente a proferir o chavão de que "o futebol é por vezes muito injusto".
E hoje vamos recordar uma das maiores injustiças futebolísticas de que há memória. Vamos por isso fazer uma viagem até 1982, mais precisamente ao Campeonato do Mundo da FIFA, que nesse ano decorreu em Espanha. Um Mundial que desde o seu começo estava destinado a ser conquistado por uma selecção, uma mágica equipa que dava pelo nome de Brasil, o conjunto que encantou o Mundo com o seu belo futebol. Dizem os experts da bola que a par da selecção canarinha campeã do Mundo em 1970, a qual era integrada por lendas como Pelé, Jairzinho, Tostão, Rivelino, ou Carlos Alberto, a equipa de 1982 é a melhor de sempre do país do samba. Uma equipa orientada pelo mestre Telê Santana, um dos técnicos mais carismáticos de todos os tempos no Brasil, a qual tinha jogadores como Falcão, Júnior, Cerezo, Éder, Sócrates, Luizinho, e o mago Zico. Poucos eram aqueles que duvidavam que esta equipa seria a campeã do Mundo de 1982, não só pelo seu poderio e charme futebolístico como também pelo facto de que os grandes opositores dos brasileiros ao título mundial estavam a desiludir em terras castelhanas.
No entanto, nesse ano ficou provado que no futebol nada é certo por antecipação, ou seja, que é preciso esperar pelo apito final do árbitro para se ter certezas do que quer que seja. E exemplo disso foi o que se passou na tarde escaldante de 5 de Julho de 1982, tendo como cenário o já demolido Estádio de Sarriá, em Barcelona, palco onde se defrontavam Brasil e Itália, um jogo a contar para a 3ª e última jornada do Grupo C da 2ª fase da competição. Aos brasileiros bastava um empate para se qualificarem para as meias-finais, ao passo que os transalpinos teriam forçosamente de vencer para seguirem em frente. A tarefa da Itália não era nada fácil, muito pelo contrário, não só porque defrontava a melhor equipa desse Mundial, e quiçá do Mundo inteiro daquela época, mas também porque havia realizado uma primeira fase miserável, cedendo três empates escandalosos contra equipas de pequena/média dimensão internacional, casos do Perú, Camarões e Polónia.
O Sarriá apresentava-se cheio como um ovo, na espectativa de ver mais um recital de bola protagonizado pelos canarinhos. As equipas entram em campo, a bola começa a rolar e para surpresa geral os italianos adiantam-se no marcador quando estavam decorridos apenas cinco minutos por intermédio de um avançado que até então tinha praticamente passado despercebido nos relvados espanhóis, de seu nome Paolo Rossi.
O Brasil puxa então dos seus galões e aos 12 minutos iguala o marcador, através do genial Sócrates. A partida estava animada, jogada a um ritmo diabólico. Ao minuto 23 Rossi silencia de novo o Sarriá, fazendo o 2-1 para a Itália, resultado com que se atingiu o intervalo.
Com um futebol jogado ao ritmo do samba o Brasil empata de novo aos 23 minutos da etapa complementar, por intermédio de Falcão, e poucos julgavam que os canarinhos não estivessem nas meias-finais. Contudo, um endiabrado Paolo Rossi tratou de protagonizar umas das maiores surpresas, e porque não dizê-lo injustiças, da história do futebol, quando aos 76 minutos bateu pela terceira vez naquela tarde o guadião Wladir Peres e carimbou o passaporte da azzurra para as semi-finais do Mundial ao fazer o 3-2 final. Italianos que viriam a sagrar-se mais tarde campeões do Mundo, após vencerem em Madrid a Alemenha Ocidental por 3-1. Nos escritos históricos da FIFA quando se fala nesse célebre jogo entre brasileiros e transalpinos pode lêr-se a seguinte frase: "Brasil brilha, mas Rossi ganha o ouro para a Itália". A melhor selecção do Mundo perdia com aquela que iria ficar com o troféu na final contra todas as previsões. A partida, é ainda hoje uma das mais vivas na memória desportiva brasileira, ficando conhecida como a "Tragédia do Sarriá".

Ficha do Jogo
Jogo disputado no Estádio Sarriá, em Barcelona, em 5/7/1982
Assistência: 44 000 espectadores
Árbitro: Abraham Klein (Israel)
Itália: Zoff, Gentile, Cabrini, Collovati (Bergomi), Scirea, Tardelli (Marini), Antognoni, Oriali, Conti, Paolo Rossi, Graziani. Treinador: Enzo Bearzot.
Brasil: Waldir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho, Júnior, Cerezo, Falcão, Zico, Serginho (Paulo Isidoro), Sócrates, Éder. Treinador: Telê Santana.
Golos: Paolo Rossi (5', 25', 74'), Sócrates (12') e Falcão (68').
Legenda das fotografias:
1- Paolo Rossi na condição da bola perseguido por Júnior
2- A mágica selecção do Brasil
3- A equipa italiana
4- Zico é marcado por Gentile

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