Os Cinco Torpedos |
Defendendo
as cores do Sporting Clube de Portugal, Fernando Peyroteo, Vasques, Albano,
Jesus Correia e José Travassos são os cinco famosos violinistas dessa memorável orquestra
que entre 1946 e 1949 tornou o leão
num animal impossível de domar. Porém, muitos antes deste quinteto dar nas
vistas um outro núcleo de cinco jogadores brilhou com o manto sagrado do Sporting vestido. Um quinteto de despoletou nos
primórdios do clube fundado por José Holtreman Roquette (Alvalade), em 1906, e
que pelo seu talento escreveu uma página digna de registo na extensa e gloriosa
história do emblema leonino. Ainda que pouco conhecido por parte do grande
público afeto ao Belo Jogo se
comparado com os Cinco Violinos, este quinteto marcou os primeiro anos de vida
do Sporting numa época em que as competições futebolísticas a nível nacional
eram ainda muito escassas. Sem mais demoras vamos embarcar na Máquina do Tempo para conhecer os Cinco Torpedos.
E
para isso viajemos até à década de 10 dos século XX, altura em que o epicentro
do futebol em Portugal estava na capital, que vivia então o fervor dos
primeiros campeonatos de Lisboa, que faziam desenvolver a modalidade não só na
região mas também no resto do país. O Sporting era então um jovem clube, rico,
é certo, já que detinha as melhores condições do futebol lisboeta, fazendo assim
jus ao objetivo do seu criador, José de Alvalade, aquando da fundação: fazer do
Sporting Clube de Portugal "um grande clube tão grande como os maiores…”.
O
país de então vivia a febre do futebol, cujo aumento da popularidade era um
facto indesmentível, sendo que os matches
atraíam a si assistências bastante consideráveis. O panorama futebolístico da
capital era dominado então pelos ingleses do Carcavelos, que haviam vencido as
três primeiras edições do Campeonato de Lisboa. Apesar de não lograr alcançar qualquer
título até então, o Sporting era uma das equipas mais fortes e virtuosas do
futebol daqueles anos, um team
muito respeitado pelos adversários,
graças a um conjunto de grandes jogadores. Muitos destes atletas deram início a
uma rivalidade que ainda hoje se mantém com os vizinhos do Sport Lisboa (hoje
Benfica), e que teve início em 1907 quando oito jogadores dos encarnados
resolvem mudar-se para o clube de José de Alvalade, o qual oferecia banhos
quentes e demais privilégios aos atletas, então coisa rara no futebol. Entre
esses desertores estavam os irmãos Catatau, mais precisamente Cândido Rosa
Rodrigues e António Rosa Rodrigues. A estes, já no final da primeira década do
século XX, junta-se no Sporting outra dupla de irmãos, os Stromp, nomeadamente
Francisco Stromp e António Stromp.
As
condições de excelência do Sporting atraíam como já dissemos os melhores
jogadores do futebol lisboeta daquele tempo, sendo que outro dos craques de
então era o virtuoso avançado João Bentes, que rapidamente se tornou num dos
atletas mais importantes do clube, sendo que na passagem para a década de 10
seria eleito o capitão de equipa. Ora, estes cinco nomes que acabamos de
mencionar formaram aquela que foi rotulada na altura como a linha avançada mais
poderosa e virtuosa do futebol lisboeta daqueles anos, e que ficaria conhecida
como os Cinco Torpedos.
Juntos,
é certo, que não arrecadaram nenhum título para o Sporting, embora naquele
tempo a única competição que existia fosse o Campeonato de Lisboa, mas lograram
alcançar exibições fantásticas que ficaram eternizadas nos jornais da época.
Atuaram juntos durante quatro temporadas, mais concretamente em 1909/19,
1910/11, 1911/12 e 1912/13. A melhor classificação obtida pelos Cinco Torpedos foi precisamente na
última época em que jogaram juntos, tendo o Sporting ficado em 2.º lugar no
Campeonato de Lisboa, a quatro pontos do campeão Benfica.
O 11 da seleção de Lisboa vestindo à Sporting que foi a Huelva bater o Recreativo |
Quatro dos Cinco Torpedos entraram em 1910 para a história não só do Sporting como do próprio futebol luso pelo facto de terem participado no primeiro jogo internacional daquela que pode ser considerada a primeira seleção portuguesa a atuar no estrangeiro. Foi a 27 de agosto de 1910, data que um misto de jogadores de três equipas de Lisboa, nomeadamente o Sporting, o Benfica e o Sport União Belenese, se deslocou a Espanha para jogar com o Recreativo de Huelva. Atuando com o equipamento do Sporting a seleção lisboeta, ou o Sporting reforçado com três jogadores do Benfica - entre os quais pontificava Cosme Damião - e um do Sport União Belenese - segundo muitos historiadores, venceu por 4-0 os espanhóis. Como já vimos, este misto foi integrado por quatro dos Cinco Torpedos, nomeadamente António Stromp, António Rosa Rodrigues, Francisco Stromp e João Bentes, sendo que este último foi o capitão desta equipa que fez a longa viagem desde Lisboa até Huelva de comboio, isto é, os jogadores apanharam o comboio no Barreiro, no dia 25 às 18H30 e chegaram à cidade espanhola no dia seguinte quando já passava das 20H00. Os golos foram marcados pelo benfiquista Luís Vieira e pelos torpedos António Rosa Rodrigues e Francisco Stromp, sendo que este último fez o gosto ao pé em duas ocasiões. De acordo com os jornais da época terão assistido ao encontro cerca de oito mil espectadores e a Banda Municipal de Huelva tocou os hinos português e espanhol, sendo que à noite houve um banquete de confraternização.
Quem eram os Cinco Torpedos?
João Bentes |
Os irmãos Catatau, Cândido e António Rosa Rodrigues |
António
Rosa Rodrigues, também conhecido por Neco, era outro dos irmãos Catatau que em
1907 trocou o Sport Lisboa pelo Sporting. Considerado um dos melhores avançados
da sua época esteve 10 temporadas no Sporting, tendo feito parte da equipa que
ganhou o primeiro Campeonato de Lisboa da história do clube. Foi um dos sete
jogadores do Sporting que integraram a seleção de Lisboa que em 1910 se
deslocou a Huelva para defrontar e vencer o Recreativo. Atuando como
extremo-direito, na maior parte da sua carreira, viveu outros momentos de
grande glamour com a camisola
verde-e-branca, sendo de recordar entre muitos exemplos o facto de em 1914 ter
vencido o primeiro título de âmbito mais nacional pelo Sporting, os Jogos
Olímpicos Nacionais, após ter vencido na final o Império por 5-1. Atuou durante
9 temporadas no Sporting, tendo realizado mais de 60 jogos de leão ao peito.
Francisco Stromp |
António Stromp |
Mas seria no atletismo que a estrela de António iria brilhar mais alto. Em 1910 participou nos Jogos Olímpicos Nacionais, tendo sido um dos grandes destaques da competição ao vencer a prova de salto à vara. Um ano mais tarde venceu a prova dos 100m com um impressionante registo de 12 segundos, registando desta forma um novo recorde nacional naquela categoria. Mas 1912 seria um ano memorável para António no âmbito do atletismo. Para além de ter vencido os 100m e os 200m metros a nível nacional, foi um dos seis atletas que integrou a primeira comitiva portuguesa a marcar presença nos Jogos Olímpicos. Em Estocolmo, porém, António não fez jus às suas qualidades de velocista, não passando das eliminatórias da prova dos 100m. No ano seguinte voltaria a triunfar nas pistas, sagrando-se campeão nacional dos 100m. Tal como seu irmão Francisco teve o infortúnio de lhe ser diagnosticada sífilis, terrível doença que o fez deixar o desporto e o levaria à morte a 6 de julho de 1921.
Nenhum comentário:
Postar um comentário