quinta-feira, março 20, 2025

Jogos Memoráveis (9)... Belenenses - Barcelona (Taça UEFA 1987/88)

É gooooloooo do Belenenses!

No futebol existem vitórias que são encaradas como se títulos pomposos se tratassem. Mesmo até que esses triunfos na prática não tenham levado a caminho algum, ou por outras palavras, que não tenham evitado uma eliminação de uma qualquer competição. Mas sempre que o pequeno David vence o gigante Golias é sempre uma história inolvidável e digna de ser recordada vezes sem conta. E na temporada de 1987/88 o Belenenses vestiu a pele de David após vencer no seu estádio um Golias que dava pelo nome de Barcelona, em jogo da 2.ª mão da 1.ª eliminatória da então Taça UEFA. Foi um triunfo histórico, mas que na verdade não foi suficiente para que os azuis do Restelo afastassem os catalães da prova, isto é, na Cidade Condal registou-se um resultado favorável ao Barcelona por 2-0, e em Lisboa o emblema da Cruz de Cristo venceu por 1-0. E é precisamente sobre este célebre triunfo que hoje vamos recordar, o qual resultou de um dos jogos mais épicos realizados pelo grande Belenenses nas provas europeias. Numa nota introdutória a este momento, é de realçar que esta era a terceira vez que os dois clubes se encontram numa eliminatória das competições europeias, sendo que apesar de ultrapassar sempre o Belenenses, o Barça nunca ganhou um jogo disputado no Restelo, contabilizando dois empates e uma derrota. 


Pois bem, em 87/88 o Barcelona não viveu um grande momento desportivo, muito pelo contrário. A equipa ficou num modesto 6.º lugar na LigaEspanhola, caiu nos quartos-de-final da Taça UEFA, e nem a vitória na Copa del Rey apagou uma época tão cinzenta. E isso ficou logo patente no jogo da primeira mão da eliminatória ante do Belenenses, realizado em Camp Nou, em que só um milagre deu o triunfo (2-0) aos catalães no… período de compensação. A vitória sofrida fez-se sentir entre os adeptos blaugrana, que no final se despediram da sua equipa com lenços brancos, sendo que a vítima imediata desta indignação foi o treinador inglês Terry Venables, despedido pouco depois e substituído no cargo pelo espanhol Luis Aragonés. Não era por falta e argumentos que o Barça vivia, ou viveu, naquele ano uma fase negativa, muito pelo contrário. Nomes de craveira mundial como o inglês Gary Lineker, o alemão Bernd Schuster, ou os espanhóis Andoni Zubizarreta, Víctor Muñoz, Migueli, Julio Alberto, Urbano, ou Alexanko faziam daquele Barcelona um dos conjuntos mais bem apetrechados do futebol europeu. Porém, nem sempre fartura (de craques) é sinónimo de qualidade. E qualidade era também o que não faltava a um Belenenses que viveria nesta reta final dos anos 80 um dos melhores períodos da sua história. 

Um "onze" do Belém nessa temporada de 87/88

Orientado pelo brasileiro Marinho Peres – que enquanto futebolista havia passado, curiosamente, pelo Barcelona – os azuis do Restelo fizeram uma temporada soberba, que terminou com um 3.º lugar no campeonato nacional, o que lhes valeria uma nova qualificação para a Taça UEFA da época seguinte onde voltariam a escrever história, ao eliminar o então detentor do título uefeiro, o Bayer Leverkusen. Mas isso é uma outra história. Centremos atenções no jogo de 30 de setembro de 1987, no Estádio do Restelo, que veio a provar que eliminar o Barcelona depois de uma derrota por 2-0 em Camp Nou não era afinal uma missão assim tão impossível de atingir. Não aconteceu, é certo, mas esteve muito perto de ser alcançada como iremos perceber nas próximas linhas. A exibição dos lisboetas no encontro da 1.º mão galvanizou os adeptos belenenses, que acorreram em massa ao Restelo. Quiçá esperançados numa reviravolta épica, mais otimistas ficaram quando logo aos 4 minutos viram o cerebral Schuster perder no seu meio campo uma bola para o búlgaro Mladenov, que sem perder tempo sprintou pelo flanco esquerdo do seu ataque, entrou na área e cruzou para o miolo onde apareceu Mapuata solto de marcação para fazer um golo que fez explodir de alegria as bancadas do Restelo. «Cumpriu-se o primeiro desejo de Marinho Peres: que o Belenenses marcasse cedo», assim rezava o início da crónica do encontro escrita por Jorge Caiágua no jornal oficial do emblema da Cruz de Cristo. 

O lance do golo de Mapuata

O jornalista escrevia mais adiante que o clube português se bateu com empenho e dignidade, confirmando o valor da equipa. De facto, assistiu-se a um jogo quase de sentido único, o da baliza de Zubizarreta, muito por culpa dos pupilos de Marinho Peres, que entraram no relvado impondo um ritmo veloz ao jogo, antecipando-se às jogadas de ataque dos catalães quase sempre, e quando a bola era recuperada não perdiam tempo a lançá-la para os homens da frente. Na realidade, esta partida mostrou uma vez mais que além de o Belenenses estar numa excelente forma, o seu opositor continuava a jogar mal, e no Restelo viu-se um Barça que atuou sempre sobre brasas. Para se resguardar das investidas azuis, os catalães mastigaram sempre muito o jogo no seu meio campo ao longo da primeira parte. Chiquinho Conde e Mladenov, que juntamente com Mapuata formavam o tridente ofensivo do Belenenses nessa célebre noite, não aproveitaram as abertas que o Barcelona por vezes ia dando na sua zona defensiva. Ainda no primeiro tempo, o búlgaro e o moçambicano desperdiçaram flagrantes oportunidades para desfeitear o grande Zubi. Mas não era apenas o setor atacante dos portugueses a dar nas vistas, já que a defesa, comandada pelo capitão e líder do grupo, José António, esteve sublime quer na marcação, quer na antecipação de jogadas ofensivas dos catalães. José António e Sobrinho, a dupla de centrais do Belenenses, foi um verdadeiro muro nessa noite. O próprio José António aventurou-se algumas vezes no ataque da sua equipa, e num desses lances, já perto do fim, chegou um tudo ou nada atrasado a uma recarga após defesa incompleta de Zubizarreta a um cabeceamento de Chiquinho Conde


Não foram poucas as ocasiões em que na segunda metade vimos os jogadores do Barcelona a recorreram às faltas (algumas bem duras) para travar o ímpeto belenense. «Jogou tão bem o Belenenses, foi tão grande o esforço que desenvolveu frente à equipa do clube mais poderoso do Mundo, que Marinho Peres não hesitou em mandar entrar Luís Reina e Chico Faria, acabando o desafio com todos os avançados disponíveis, sempre com o objetivo de alcançar o segundo golo. E se esse risco que o técnico brasileiro correu numa demonstração cabal da sua grande visão estratégica, foi possível, não devemos esquecer desta vez, o acerto da defensiva azul, criticada noutras ocasiões, mas que na quarta-feira atuou com eficácia», assim analisava o jornalista Jorge Caiágua a exibição coletiva do seu clube. Apesar desta exibição categórica, culminada com uma inédita e mais do que merecida vitória sobre o todo poderoso Barcelona, o Belenenses ficava pelo caminho na Taça UEFA, um desfecho algo injusto para o futebol produzido pelos azuis nos dois jogos, sobretudo no do Restelo. «Foi pena. Vencemos mas deixamos a Taça UEFA com uma certa frustração. Caímos de pé», rematou assim a crónica o jornalista do órgão de comunicação oficial do Belenenses. 

Schuster e Lineker, duas das grandes 
estrelas do Barça de 87/88

Anos mais tarde, numa entrevista à RTP em que juntamente com Jaime recordou este jogo, o defesa Sobrinho confessou que antes deste jogo se abeirou da estrela inglesa do Barça, Gary Lineker, no sentido de com este trocar de camisola no final, ao que o inglês terá respondido: “depois vemos isso”. Porém, seria o próprio Lineker que após o apito final do suíço Kurt Rothlisberger foi ter com Sobrinho a pedir para trocarem de camisola, confessando ao jogador português que nunca ninguém lhe tinha feito uma marcação tão cerrada e ao mesmo tempo disciplinada como a que o defesa central belenenses lhe fez naquela noite.

Para a eternidade, aqui fica a ficha deste célebre capítulo da história do Belenenses nas provas da UEFA.

Belenenses: Jorge Martins, Teixeira, José António, Sobrinho, Artur Fonte (Luís Reina, 54), Paulo Monteiro (Chico Faria, 69), Jaime Mercês, Juanico, Mapuata, Mladenov, e Chiquinho Conde. Treinador: Marinho Peres.

Barcelona: Zubizarreta, Gerardo Miranda, Moratalla, Migueli, Julio Alberto, Urbano, Víctor Muñoz, Bernd Schuster, Roberto Fernández, Gary Lineker, e Lobo Carrasco. Treinador: Luis Aragónes.

Vídeo do histórico golo de Mapuata diante do Barcelona:



segunda-feira, março 03, 2025

Viagem (real) ao passado para (re)viver o primeiro jogo oficial realizado em Portugal

 


O dia 1 de março de 2025 ficou assinalado por uma viagem ao passado para reviver um momento histórico do futebol português. No dia 2 de março de 1894, a cidade do Porto foi palco do primeiro jogo oficial de futebol em Portugal, um acontecimento que teve lugar no campo do Oporto Cricket Club (na zona do Campo Alegre) e que (mais de) 130 anos volvidos foi vivenciado com uma recriação histórica inesquecível. 




O histórico match teve lugar no mesmo local de há 130 anos atrás, e toda a sua envolvência e espírito foram recriados de forma original, desde os peculiares equipamentos da época, as balizas rudimentares, as marcações do campo, as regras do então recém-nascido (em Portugal) football, a chegada de El Rei Dom Carlos e a Rainha Dona Amélia quando o jogo ia já na 2.ª parte, e a própria taça, a original, que fez as delícias de quem presenciou esta recriação daquele que foi o primeiro jogo oficial (e por consequência o primeiro troféu atribuído ao vencedor) da história do futebol em Portugal.

O team de Lisboa


O team do Porto
Foi de facto uma experiência única e fascinante para quem vive apaixonado pelo passado do Belo Jogo. Esta encenação futebolística, digamos assim, contou com a presença de gente ilustre do passado (mais recente) futebol português. Desde logo os futebolistas que no relvado do Oporto Cricket Club (o clube mais antigo da Cidade Invicta) recriaram o jogo de 1894. Do lado da seleção de Lisboa pudemos rever craques como Quim Berto, Fernando Nélson, Gaúcho, ou Rebelo, que se faziam acompanhar por outros nomes (talvez) menos conhecidos do grande público, a saber Brito, Ferreira, André Reis, Fernando Gonçalves, Tiago Henrique, Nuno Teixeira, Pedro Rodrigues, Nuno Horta, Hugo Fonseca, Nuno Miguel Teixeira, Nuno Rosário, Soeiro e Renato Anjos. Do lado da seleção portuense não faltaram lendas do Futebol Clube do Porto, desde logo o eterno capitão João Pinto, que se fez acompanhar por Derlei, Rolando, Ricardo Silva, Bandeirinha, Bruno Vale, Tiago Cintra, Artur Alexandre,  Joca Valente, Costa e Almeida,  Hélder Barbosa, Nuno André Coelho e Marek Cech. 


Contrariamente ao que aconteceu há (mais de) 130 anos, altura em que a seleção lisboeta capitaneada por Guilherme Pinto Basto venceu a sua congénere portuense por 1-0, desta feita o team do Porto bateu o de Lisboa por 4-1 perante o olhar de Suas Majestades El Rei Dom Carlos e a Rainha Dona Amélia, que tal como em 1894 chegaram ao match a meio da segunda parte, na charrete real. A presença da “família real” deu de facto um colorido ainda mais brilhante a esta encenação histórica. Ainda em relação ao match há que dizer que este foi precedido da interpretação do “Hino do Infante D. Henrique”, composto por Alfredo Keil e H. Lopes de Mendonça para as comemorações Henriquinas de 1894.


Fascinante e emocionante (pelo menos para quem escreve estas linhas) foi ver de perto e poder tocar na “Cup D’El Rei”, o troféu mais antigo do futebol português, o primeiro troféu a ser disputado em Portugal, há que sublinhá-lo, e quiçá por esse simples facto o tornam numa relíquia sem par na nossa história.

quinta-feira, fevereiro 06, 2025

Histórias do Planeta da Bola (34)... Há 100 anos a Inglaterra testemunhou o primeiro preconceito racial na sua seleção


Barrar a convocatória de um futebolista para uma qualquer equipa devido à cor da sua pele é aos olhos da atualidade um ato criminoso e acima de tudo vergonhoso. Mas há precisamente 100 anos atrás nem toda a gente pensava desta forma, ou pelo menos julga-se que assim era quando recordamos o caso de Jack Leslie, o primeiro negro a ser convocado e ao mesmo tempo desconvocado para a seleção inglesa. Nascido no bairro londrino de Canning Town, no dia 17 de agosto de 1901, Jack era filho de pai jamaicano e mãe inglesa. Ao serviço do Barking Town, modesto emblema de outro bairro da capital inglesa, Leslie cedo começou a dar nas vistas pela sua veia goleadora. Conta-se que terá marcado ao serviço deste emblema mais de 250 golos nos primeiros anos de carreira, tendo tido um contributo preponderante para a conquistas da Taça Sénior Essex, em 1920; da London League Premier Division, no ano seguinte. Os feitos de Leslie começaram a ultrapassar as fronteiras de Londres, e em 1921 é contratado pelo Plymouth Argyle, clube do sudeste de Inglaterra, onde se tornaria uma verdadeira lenda nos 14 anos seguintes. Nos 400 encontros realizados com o clube apontou um total de 137 golos, fazendo uma dupla mortífera com outro ícone do clube, Sammy Black, uma parceria que ao longo de todos estes anos rendeu mais de 300 golos aos Pilgrims, a alcunha pelo qual é conhecido este emblema. E seria precisamente no auge da sua carreira, que em 1925 Leslie recebe da boca do seu treinador, Bob Jack, a notícia de que estava convocado para jogar pela seleção inglesa num jogo contra a Irlanda. A boa nova, para Leslie, foi divulgada pela imprensa, tendo o Birmingham Gazette e o Liverpool Echo feito eco da notícia. Porém, e para espanto de todos, quando a convocatória oficial saiu o nome de Jack Leslie não estava mencionado (!), sem qualquer explicação posterior dada pela Football Association (FA). De pronto, surgiram teorias de que Leslie tinha sido riscado da convocatória final devido à cor da sua pele, já que quando os responsáveis pela seleção se aperceberam que o jogador era negro simplesmente voltaram atrás na decisão de o convocar. Anos mais tarde, a FA admitiu que os seus dirigentes não sabiam inicialmente que Leslie era negro, e quando descobriram… já se sabe o resto da história. Em 1978, Leslie deu uma entrevista ao jornal Daily Mail em que disse que quando a FA descobriu que ele era negro julgaram que seria estrangeiro e como tal foi descartado da convocatória. Em 2022, ano em que Jack Leslie havia já deixado o mundo dos vivos (faleceu em 1988), a FA admitiu o erro que cometeu em 1925 e chamou os descendentes do jogador ao Estádio de Wembley, tendo-lhes entregue um boné! Sim, um boné que simbolizava a internacionalização que deveria ter acontecido quase (e então) 100 anos antes. Uma espécie de pedido de desculpas que, quiçá, terá chegado tarde demais, e que veio fazer justiça a um jogador que após pendurar as chuteiras  passou o restos dos seus dias a limpar… chuteiras. Sim, nas décadas de 60 e 70 Leslie seria funcionário do West Ham United, onde se ocupava de tratar/limpar das botas/chuteiras dos futebolistas dos Hammers, entre outros de lendas como Bobby Moore, Geoff Hurst, e Martin Peters, três campeões do Mundo ao serviço da Inglaterra, em 1966. Seleção inglesa que apenas em 1978 veria um jogador negro vestir a sua camisola: Viv Anderson, o seu nome.

 

quarta-feira, fevereiro 05, 2025

Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (26)... Nuno Ferrari


Hoje é dia de lembrar Nuno Ferrari, o poeta da imagem. Falar desta figura nascida a 6 de março de 1935 é simplesmente falar do maior repórter fotográfico do desporto (muito em particular do futebol) português. E assim o é, não apenas pelo seu dom na arte de fotografar, mas de igual modo, e sobretudo, porque foi ele o grande operário da revolução – no bom sentido da palavra – no jornalismo desportivo nacional no que à imagem diz respeito. Nuno José da Fonseca Ferreira, o seu nome de batismo, e que adotou o nome de Ferrari devido a um dos pioneiros da fotografia desportiva em Portugal; apesar de não usar caneta nem a máquina de escrever criou centenas, se não mesmo milhares, de obras de arte jornalísticas na história da imprensa desportiva portuguesa. E tudo através da fotografia, imagens que só de olhar para elas erámos capazes de conhecer uma história sem precisar de ler o título ou a crónica que a acompanhava. Aliás, muitas das suas fotografias inspiraram grandes vultos da escrita desportiva a escrever as suas prosas, tendo ele mesmo, Nuno Ferrari, rivalizado, no sentido positivo, com esses monstros sagrados da escrita desportiva em termos de preponderância. Nuno Ferrari era um artista, um criativo, um fotojornalista que não se limitava a tirar simples bonecos (vulgo, fotografias) de um jogo de futebol, ou de outro qualquer evento desportivo. Ele captava o sentimento da pessoa que fotografava, a título de exemplo, sendo que este seu talento mudaria até aos dias de hoje a forma como vemos o futebol, e o desporto em geral, quando este é impresso num qualquer jornal desportivo. Combinava talento e qualidade com o saber esperar pelo momento certo para tirar a fotografia. Olhar para as fotografias de Nuno Ferrari era (e é) como se estivéssemos a viver o momento in loco. Existe um “antes” e um “depois” de Nuno Ferrari no jornalismo desportivo português. Antes da sua chegada ao jornal A Bola, a 7 de março de 1953, as primeiras páginas dos jornais desportivos praticamente só tinham texto, e mesmo o interior era composto apenas pelas prosas jornalísticas, sem o colorido (mesmo que a preto e branco) da imagem. Com a chegada de Ferrari ao jornal da Travessa da Queimada, isso mudou, e a suas fotos começaram a acompanhar não só as crónicas publicadas no interior do jornal, como também as manchetes da primeira página. A Bola, o jornal que Nuno Ferrari dedicou toda a sua vida profissional, pode considerar-se como uma publicação pioneira no que toca à espécie de nova linguagem jornalística criada, onde a imagem passou a fazer parte da história que era contada. Aliás, e como já fizemos alusão, as fotografias deste vulto do jornalismo desportivo só por si contavam muitas vezes as histórias que A Bola publicou. Carlos Pinhão, um dos muitos nomes míticos deste jornal, quando um dia foi desafio a definir Nuno Ferrari numa só palavra de pronto o rotulou como «insubstituível». Também Vítor Serpa, outro ícone de A Bola, disse certa vez que «se costuma dizer que não há ninguém insubstituível. Bom… talvez com exceção do Nuno Ferrari». Ao longo dos seus 43 anos de carreira, o célebre fotojornalista esteve presente em dezenas de momentos importantes do desporto nacional, com destaque, se calhar, para o Campeonato do Mundo de 1966, onde captou a lendária imagem de Eusébio a deixar o relvado de Wembley em lágrimas, após Portugal ter sido eliminado pela Inglaterra. Nuno Ferrari morreu em serviço, no Estádio da Luz, quando fazia a cobertura de um jogo do Benfica.

quinta-feira, dezembro 19, 2024

Flashes da Taça Intercontinental da FIFA de 2024 (5)

Final

Real Madrid (Espanha) - Pachuca (México): 3-0

Golos: Mbappé, Vinícius Júnior, Rodrygo

Sua Alteza Real (Madrid) sobe com naturalidade ao trono do Mundo... 

terça-feira, dezembro 17, 2024

Flashes da Taça Intercontinental da FIFA de 2024 (4)


Play-off de acesso à final

Pachuca (México) - Al-Ahly (Egito): 0-0 (6-5 nas grandes penalidades)

Campeões da CONCACAF mais certeiros na hora de marcar encontro com o poderoso Real Madrid... 

quinta-feira, dezembro 12, 2024

Flashes da Taça Intercontinental da FIFA de 2024 (3)

2.ª eliminatória

Botafogo (Brasil) - Pachuca (México): 0-3

Golos: Oussama Idrissi, Nelson Deossa, Salomón Rondón

Pachuca provoca enorme surpresa ao afastar um Botafogo em estado de graça... 

segunda-feira, dezembro 09, 2024

Flashes da Taça Intercontinental da FIFA de 2024 (2)

2.ª eliminatória

Al-Ahly (Egito) - Al Ain (Emirados Arábes Unidos): 3-0

Golos: Wessam Abou, Eman Ashour, Afsha

Campeões de África dão um passo em frente ao derrotar o campeão da Ásia... 

Flashes da Taça Intercontinental da FIFA de 2024 (1)

1.ª eliminatória

Al Ain (Emirados Árabes Unidos) - Auckland City (Nova Zelândia): 6-2

Golos: Soufiane Rahimi (2), Fábio Cardoso, Sékou Gassama, Matias Palacios, Kaku Gamarra / Jerson Lagos, Myer Bevan

Veia goleadora do marroquino Rahimi abre caminho a uma vitória fácil do Al Ain na estreia da nova competição da FIFA... 

segunda-feira, dezembro 02, 2024

Efemérides do Futebol (53)... Marítimo, o primeiro emblema forasteiro a atracar nas Ilhas Canárias


Troca de galhardetes para eternizar um momento histórico

Estão prestes a cumprir-se 110 anos desde que uma equipa estrangeira atracou nas Ilhas Canárias (Espanha) para ali disputar uma partida de futebol. E coube aos portugueses do Marítimo a honra de realizar em julho de 1915 uma minidigressão pelo arquipélago espanhol e tornar-se não só o primeiro conjunto oriundo de outro país a jogar ali, mas de igual modo a primeira equipa fora das Canárias a atuar naquele território. Marítimo, que já era então o “maior” das ilhas portugueses, como então apelidavam o clube do Funchal, nascido sensivelmente 5 anos antes desta curta visita às Canárias. O emblema madeirense mantinha-se, desde sua fundação, invicto no seu território, isto é, ninguém na ilha da Madeira havia ainda batido os verde-rubros. As derrotas que até então o jovem Marítimo havia averbado ocorreram nas visitas realizadas à capital de Portugal (Lisboa) ante alguns conjuntos locais nos anos de 1913 e de 1914. A fama dos maritimistas fez então com que em 1915 um grupo de madeirenses radicados nas Canárias angariasse fundos para trazer o “maior das ilhas” até ao arquipélago espanhol para disputar um conjunto de desafios com algumas equipas locais. 


A seleção regional de Gran Canaria e o Marítimo posam juntos para a posterioridade

A curta viagem marítima entre a Madeira e a ilha de Gran Canaria deu-se então no referido mês de julho, tendo os portugueses entrado em ação contra uma seleção regional composta por jogadores do Victoria e do Porteño, dois emblemas canários. Um nulo no marcador foi o resultado verificado num encontro que não chegou ao fim devido a uma grave lesão do avançado maritimista Silva. As duas equipas voltariam a medir forças alguns dias depois, e mais uma vez o teimoso nulo não saiu do marcador final. Posto isto, o Marítimo zarpou para outra ilha canária, Tenerife, mais concretamente, onde defrontou o Tenerife Sporting Club, e cujo resultado se desconhece. Esta não seria, contudo, a única viagem que não só o Marítimo, como outros emblemas madeirenses, como o Nacional e o União, efetuariam às vizinhas Canárias nos anos seguintes. Mas para a história fica mesmo o facto de os maritimistas terem sido a primeira equipa forasteira a pisar território canário, já que o primeiro emblema do continente espanhol a deslocar-se às Ilhas Canárias foi o Bétis de Sevilha, em 1919.  

sexta-feira, novembro 08, 2024

Exposição "Américo" - no Museu do Futebol Clube do Porto



O Museu do Futebol Clube do Porto ofereceu-nos (desde o dia 26 de outubro até ao próximo 28 de fevereiro) uma estupenda viagem ao passado para conhecer (ou recordar) a carreira de um dos melhores guarda-redes de sempre do futebol português: Américo. 







Após o falecimento do antigo futebolista, em 2023, a família deste doou um conjunto de relíquias que ajudam a explicar um pouco da carreira de Américo. Camisolas suas e doutros guarda-redes com que se cruzou a nível internacional, luvas de guarda-redes por si usadas, bolas de jogos especiais da sua carreira, galhardetes, fotografias, recortes de jornais, prémios com que foi distinguido, entre muitos outros objetos preenchem esta magnífica mostra. 


São muitos os objetos que nos fazem arregalar os olhos, mas há um, que pelo seu significado para os solitários homens que guardam as balizas, vulgo, os guarda-redes, nos agrada em especial: a baliza de prata, um prémio que durante anos distinguiu o guarda-redes menos batido do campeonato nacional da 1.ª Divisão portuguesa, e que Américo teve a honra de ter sido o primeiro guardião a conquistá-lo.  







A crítica chegou a aclamá-lo com um dos melhores guarda-redes da Península Ibérica, a par de Iribar, guardião do Athletic de Bilbao. o próprio Alfredo di Stéfano ficou rendido às qualidade de Américo, que por 15 ocasiões vestiu a camisola de Portugal, tendo sido um dos três guarda-redes que esteve no Mundial de 66 ao serviço da nação lusa. 

terça-feira, outubro 15, 2024

Histórias do Planeta da Bola (33)... A (única) aventura de uma equipa B no palco da Europa do futebol

O Castilla europeu

Os regulamentos – ditados por quem tutela o futebol a nível interno e externo – definem que qualquer equipa B de um clube não pode competir oficialmente com a “casa mãe”, ou seja, a equipa A, nem tão pouco jogar uma competição europeia, mas… houve em tempos uma exceção. E para conhecer esta curiosa história recuámos até à temporada de 1980/81, quando o Real Madrid B, ou Castilla, como era denominada essa célebre equipa secundária merengue, disputou a Taça das Taças. E como é que lá chegou? Sobre esta epopeia curiosa dos putos merengues já traçámos umas linhas numa outra viagem ao passado, relembrando apenas que tal aconteceu pelo facto do Real Madrid B/Castilla ter chegado na época de 1979/80 à final da Copa del Rey, onde perdeu com… o Real Madrid (A)! A brincadeira dos meninos da cantera madrilista, o mesmo será dizer da equipa B, na taça de Espanha fez vítimas como o Atlético de Bilbao, o Hércules, a Real Sociedad, ou o Sporting de Gijón, equipas que nessa temporada militavam no principal escalão espanhol. Claro, que o pagode dos miúdos do Castilla acabou na final – disputada em pleno Santiago Bernabéu – ante os graúdos da equipa principal do Real Madrid. Doutra forma não podia (?) ser, claro. Mas na retina ficou essa façanha inédita no Planeta da Bola protagonizada por miúdos como Agustín, Chendo, Gordillo. Pineda, entre outros que fariam carreira no plano internacional com as cores quer do Real Madrid (A), quer com o manto sagrado da seleção espanhola.

Ora, e voltando ao início da nossa história, esse feito assegurou-lhes o bilhete para a edição da época seguinte da Taça das Taças, pelo facto de a “casa mãe”, isto é, o Real Madrid A, ter sido também campeão nacional e como consequência tido o direito de disputar a Taça dos Campeões Europeus (TCE).

O adversário? Um cavaleiro inglês que vivia dias de penúria!

E quis o destino que na sua aventura europeia o Castilla se cruzasse com um cavaleiro do futebol inglês a viver então na penumbra, o West Ham United. O popular emblema londrino atuava há três temporadas consecutivas na 2.ª Divisão inglesa, e esta sua aparição nas provas uefeiras devia-se ao facto de contra todas as previsões ter vencido em 79/80 a Taça de Inglaterra às custas do vizinho Arsenal. Apesar de militarem no segundo escalão inglês, os Hammers tinham um plantel recheado de bons valores e com vasta experiência nos retângulos de jogo, casos do histórico capitão Billy Bonds, de Frank Lampard (pai), ou de Trevor Brooking. Do outro lado estava um Castilla muito jovem, ou não fossem as equipas B o espaço ideal para os jovens que saem da formação dos clubes darem os primeiros passos no futebol sénior. Mesmo assim havia muita qualidade num plantel treinador por Juanjo Garcia, o homem que tinha encabeçado na época anterior o feito de atingir a final da Copa del Rey. Mas este foi apenas um dos méritos deste treinador, como veremos mais adiante. E a prova de que o Real Madrid/Castilla tinha de facto qualidade ficou bem patente na 1.ª mão da 1.ª eliminatória com o West Ham, disputada no Santiago Bernabéu perante 40.000 pessoas. Números impensáveis hoje em dia quando falamos de um jogo de uma equipa B. 3-1, venceu o Castilla, com golos de Paco, Balín e Cidón, num jogo de dupla má memória para os ingleses. Por outras palavras, não só perderam este primeiro encontro, como viram os seus adeptos que viajaram para Madrid fazerem uma figura triste na sequência de violentos confrontos com a polícia e adeptos locais (dentro e fora do estádio), entre outras cenas lamentáveis, como arrancar e arremessar as cadeiras das bancadas, ou urinar em praça pública. Era esta a pobre imagem que o futebol inglês dava no exterior no que a adeptos dizia respeito, e que viria a ter consequências mais graves quatro anos volvidos numa fatídica tarde em Bruxelas – na célebre final da TCE de 85. 


Epopeia dos jovens merengues acaba no Ghost Match

Como consequência destes atos de vandalismo, a UEFA decretou que o jogo da 2.ª mão em Londres seria disputado à porta fechada. Foi a primeira vez na história que o organismo que tutela o futebol europeu castigou desta forma um clube em face do comportamento dos seus adeptos. Ora, com uma vantagem de dois golos na bagagem, e sem os sempre frenéticos e ruidosos adeptos ingleses contra, a tarefa do Castilla em passar a eliminatória parecia assim facilitada. Mas não foi bem assim. Num Upton Park às moscas – onde apenas se ouviam as instruções dos treinadores e o barulho da bola a ser pontapeada pelos jogadores –, o West Ham United foi muito superior no primeiro tempo, e como consequência saiu para o intervalo a vencer por 3-0 e com a eliminatória na mão perante um Castilla muito nervoso no futebol jogado. No descanso, Juanjo puxou as orelhas aos seus meninos, que no segundo tempo melhoraram a sua performance e reduziram para 1-3, obrigando a que se disputassem mais 30 minutos de futebol suplementar. O nervosismo voltou a tomar conta dos jovens merengues neste que seria rotulado para sempre como o Ghost Match (jogo fantasma) por toda a situação envolvente atrás descrita. Nervosismo que seria aproveitado pelo emblema londrino para fazer mais dois golos, de nada valendo o facto de o Castilla a determinada altura do prolongamento ter arriscado jogar com três avançados em cunha, de modo a tentar desmoronar a veterana defesa inglesa. A juntar ao nervosismo, alguma falta de sorte também se apoderou dos jovens madrilenos, que construíram diversas oportunidades para sair do Upton Park com outro resultado que não a derrota por 5-1 e a consequente eliminação.

Uma imagem do Ghost Match

Valeu, contudo, esta experiência inédita no futebol global. Quanto ao futuro do Castilla, este continuou a deslumbrar internamente os adeptos do Belo Jogo, tendo pouco tempo depois o técnico Juanjo formado outra notável geração de futebolistas que viria a servir com êxito o Real Madrid nos finais da década de 80 e toda a década de 90. Uma geração que ficaria eternamente conhecida como a Quinta del Buitre, e que era composta por lendas como Butragueño, Michel, Martín Vásquez, e Pardeza.

segunda-feira, outubro 07, 2024

Museus REAIS do Futebol - Museu CR7 / Cristiano Ronaldo

 



É provavelmente o museu mais rico em termos de conteúdo sobre um jogador de futebol que existe no Mundo. Mas não se trata de um futebolista qualquer, mas sim de um dos melhores de sempre do Belo Jogo: Cristiano Ronaldo. Na sequência da nossa estadia na Madeira foi quase que obrigatório visitar o museu do jogador nascido naquela ilha. Um espaço onde viajámos pelo incrível e rico percurso do futebolista desde os primeiros pontapés na bola nas ruas do Funchal até ao estrelato planetário.


Situado no Funchal, o Museu CR7 oferece-nos uma experiência única, combinando um misto de tecnologia de ponta - com inúmeros vídeos sobre a carreira do jogo, ou ainda a possibilidade de os fãs através da realidade aumentada interagir com o craque e tirar uma fotografia ao seu lado - mas de igual modo dezenas de vistosas vitrinas carregadas de todos os troféus e prémios que o jogador ganhou ao longo da carreira. 


A viagem começa pelo Andorinha, o primeiro clube da vida de CR7, sendo possível ver a histórica camisola do modesto clube que projetou o craque madeirense, bem como o primeiro troféu que conquistou ainda com tenra idade (8 anos). 






Sobejamente conhecida a nível mundial, a história de Cristiano Ronaldo está repleta de dezenas de pomposos títulos nacionais e internacionais ao serviço de clubes como o Manchester United, Real Madrid ou Juventus, destacando-se, naturalmente, as réplicas dos troféus das 5 Ligas dos Campeões Europeus, os 4 Campeonatos do Mundo de Clubes, a 2 Supertaças Europeias, as 2 Ligas Espanholas, as 3 Premier League, as 2 Ligas Italianas, entre muitas, muitas outras grandiosas conquistas ao serviço dos emblemas que defendeu.


Na zona central do Museu CR7, guardadas religiosamente em pequenas vitrinas adornadas com alta tecnologia, estão as medalhas que o futebolista arrecadou ao longo de mais de 20 anos de uma brilhante carreira internacional.




Destaque ainda para as camisolas que Cristiano Ronaldo envergou durante o seu percurso de futebolista, com realce para a camisola da seleção nacional...

... ao serviço da qual venceu os dois maiores títulos da sua carreira: o Campeonato da Europa e a Liga das Nações, cujos troféus nos deparamos em lugar de destaque logo no início desta deslumbrante viagem. 


















Falar de Cristiano Ronaldo é falar de prémios e recordes individuais. E, naturalmente, que neste espaço estão guardadas as mutas conquistas pessoais que foi conquistando ao longo da carreira, como as 5 Bolas de Ouro, os 5 troféus The Best (da FIFA), as 4 Botas de Ouro, entre muitas outras largas dezenas de prémios individuais. Realce ainda para a coleção de bolas, as quais têm, cada uma delas um significado especial, ora porque significou um golo histórico, ora porque foi utilizada em algum jogo também ele histórico.