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António Ribeiro dos Reis |
Podemos
dizer que esta competição serviu de molde para a atual Taça da Liga, tendo sido
organizada pela Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e integrado o calendário
do futebol luso entre as temporadas de 1961/62 e 1970/71. A competição foi
criada para as equipas de Honra e de Reservas dos clubes que participavam nas
1.ª e 2.ª divisões nacionais. Pese embora, muitos emblemas que saíam mais cedo
da Taça de Portugal, quando esta última prova era desenrolada no términus do
campeonato, utilizassem alguns dos seus principais craques nesta extinta prova,
com a finalidade de lhes dar ritmo competitivo. E é nesse sentido que hoje
vemos que jogadores como Eusébio, Coluna ou José Torres tenham no seu currículo
esta prova, pois vestiram a camisola da equipa de reservas do Benfica - que aos
dias de hoje seria uma espécie de Benfica B - que por três ocasiões venceu esta
competição. Falamos da Taça Ribeiro dos Reis, que se constituiu como uma
homenagem a uma figura de vulto do futebol português: António Ribeiro dos Reis
(1896-1961). Este militar (tenente-coronel) de profissão foi uma espécie de homem dos 7 ofícios dentro do futebol,
uma personalidade multifacetada, tendo sido um dos grandes dinamizadores das
primeiras décadas de vida da
modalidade no nosso país. Enquanto futebolista desenvolveu a sua carreira primeiro
no Casa Pia, passando depois pela equipa do Liceu Pedro Nunes, e posteriormente pelo Benfica, cuja camisola passou a defender a partir da temporada de
1913/14 e que envergou até final da sua carreira, em 1925. Foi treinador e
dirigente do clube encarnado, sendo que neste último papel desempenhou, entre
outras, funções de vice-presidente da Direção, e de presidente da Assembleia
Geral, tendo tido, por exemplo, um papel importante no processo de construção
do antigo Estádio da Luz. Foi ainda figura de proa na criação da seleção
nacional, já que esteve presente na orientação do primeiro jogo da equipa das
quinas em 1921, ante a Espanha. Foi selecionador nacional entre março de 1925 e
abril de 1926, regressando em março de 1934 ao comando da equipa de todos nós
para a dirigir na eliminatória (perdida) com a Espanha com vista ao
Mundial que nesse ano decorreu em Itália. Ribeiro dos Reis foi ainda árbitro
de futebol, e um exímio mestre da escrita, vulgo jornalista. Nos jornais
estreou-se em 1914 no semanário O Sport
Lisboa, colaborando ainda com Os
Sports. Mas a sua obra de arte, passe a expressão, mais conhecida seria a
fundação do jornal A Bola, em 1945,
juntamente com Cândido de Oliveira e Vicente de Melo, tendo no jornal da
Travessa da Queimada exercido funções de redator principal e de diretor (entre
1951 e 1961). Foi agraciado com a Comenda da Ordem Militar de Avis, a Medalha
de Mérito Desportivo, a Medalha de Mérito Internacional da Federação Portuguesa
de Futebol, a Medalha de Ouro da Comissão Central de Árbitro, e a Medalha de
Mérito da Associação de Futebol de Lisboa. Em 1995 foi agraciado a título
póstumo com a Grã-Cruz da Ordem do Mérito.
Foi
pois em homenagem a esta figura incontornável do futebol português que na
temporada de 1961/62 a FPF coloca em ação a Taça Ribeiro dos Reis. Um troféu que,
como iremos constatar nas linhas que se seguem, viajou mais vezes para o sul do
país do que para o norte, sendo que só na margem sul (do Tejo) moram cinco
títulos!
Margem sul
alcança a glória (parte I)
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O bonito troféu |
Vinte
e dois clubes participaram na 1.ª edição da Taça Ribeiro dos Reis, que a julgar
pelos factos não parece ter cativado as reservas dos três principais emblemas
nacionais, FC Porto, Benfica e Sporting, que estiveram ausentes deste arranque.
Mais de duas dezenas de equipas que foram divididas em quatro séries, tendo
sido agrupadas por região, à semelhança do que já acontecia, por exemplo, com o
Nacional da 3.ª Divisão. E nesta edição inaugural, dois clubes sobressaíram
desde logo pelo seu trajeto invencível na 1.ª fase: na Série 1 o Vila Real, e
na Série 4 o Seixal. Ambos os conjuntos terminaram esta fase sem derrotas,
sendo que os seixalenses o fizeram de forma imaculada, ou seja, obtiveram quatro
vitórias noutros tantos jogos realizados, ao passo que os transmontanos apenas
cederam um empate nos quatro encontros realizados.
Apuravam-se
para as meias finais da competição os primeiros classificados de cada uma das
quatro séries, sendo que Vila Real e Seixal tiveram nesta fase a companhia de
Barreirense (vencedor da Série 3) e Marinhense (que triunfou na Série 2).
Estes
dois últimos clubes seriam afastados do sonho de jogar a final, disputada na
noite de 27 de julho de 1962 no majestoso palco do Estádio do Restelo. Frente a
frente Seixal e Vila Real, representantes de regiões distintas do país, sul e
norte, respetivamente. Ambas os conjuntos competiram nessa temporada na 2.ª
Divisão Nacional, tendo tido prestações distintas. Os seixalenses alcançaram tranquilamente
a manutenção no segundo escalão, ao passo que os vilarealenses caíram na 3.ª
Divisão Nacional. Nada que tirasse o entusiasmo aos nortenhos, que ao jornal A Bola, na antevisão da grande final,
mostravam-se otimistas, conforme as palavras do então presidente da direção,
António Silva. O dirigente lembrava que era com otimismo que o Bila ia a Lisboa. «Estou firmemente
convencido que a nossa equipa há-de exibir-se na final à altura do
acontecimento, que marca a homenagem a todos os títulos justíssima a um grande
(Ribeiro dos Reis) do futebol português. Estou otimista, realmente, quanto à
maneira galharda, correta e briosa como os nossos jogadores vão lutar, dominados
como estão pelo anseio de causar boa impressão ao público de Lisboa e de conquistarem
um bonito troféu que tem, a valorizá-lo, o nome inesquecível de Ribeiro dos
Reis, um Homem e um Dirigente que viverá para sempre na nossa saudade (...) Não
é uma taça qualquer — é um troféu que honrará a vitrina de qualquer clube,
mesmo das que estejam
habituados a conquistas muitos campeonatos», opinava o dirigente máximo do Vila
Real.
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Seixal, o primeiro campeão da Taça Ribeiro dos Reis |
Do outro lado tínhamos o Seixal, que vinha de uma temporada extremamente
positiva, destacando-se o 5.º lugar na Zona Sul da 2.ª Divisão e o facto de na
Taça de Portugal ter obrigado o primodivisionário Lusitano de Évora a trabalhos
redobrados para passar aos quartos-de-final. Também na
antevisão do encontro com o Vila Real, o presidente do emblema da margem sul, clube que então contava já com já quase com quatro décadas de vida, dizia ao
jornalista de A Bola que «podem estar
certos que a equipa do Seixal procurará dar essa enorme alegria aos seus adeptos».
Egas Godinho Pereira acrescentava nessa entrevista que os níveis de confiança
dos seixalenses para esta final estavam em alta, já que «depois de transpormos escolhos difíceis, como foram os jogos com as
equipas algarvias e, por ultimo, com o Barreirense (então na 1.ª Divisão),
seria, para nós, grande satisfação, terminarmos o torneio sem derrotas e
ganharmos tão significativo e valioso troféu. Era, de facto, bonito. Aliás, se
os seixalenses quiserem, a vitória será nossa. Basta o seu apoio caloroso, como
no ultimo desafio. Aos
nossos atletas não falta animo, valor e vontade».
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Filha de Ribeiro dos Reis entrega a taça ao capitão do Seixal |
O
que é certo é que das sete edições em que os seixalenses participaram na Taça
Ribeiro dos Reis esta foi a mais saborosa,
já que venceram por 4-2 o Vila Real, tornando-se assim nos primeiros campeões
da hoje extinta competição. Para a eternidade ficam os nomes de Nogueira,
Aniceto, Quim; Cecílio, Lenine, Oñoro (que desempenhava as funções de
treinador-jogador), Cambalacho, Garrido, Teodoro, Ferreira e Carvalho,
precisamente o onze seixalense que alinhou na final. Angel Oñoro, jogador,
treinador e capitão do Seixal, recebeu das mãos das mãos de Maria Margarida
Ribeiro dos Reis, filha da ilustre figura que dava nome a esta competição, o
troféu campeão.
Troféu
esse que na temporada seguinte continuaria a morar na margem sul do rio Tejo,
passando em 1963 para as mãos de um histórico do futebol luso: o Vitória de
Setúbal.
Sadinos
que a par do Benfica tornar-se-iam no emblema mais titulado desta competição,
com três títulos conquistados. Em 62/63, arrecadaram o primeiro deles. Nesta segunda
edição a competição teve um considerável aumento de participantes, passando de
22 para 32 emblemas, com a particularidade das equipas de reservas do Benfica e
do Sporting fazerem a sua estreia. Os dois velhos rivais ficaram inseridos na
Série 3, tendo os encarnados levado a melhor, ao classificarem-se em 1.º lugar,
com 12 pontos, os mesmos que o Belenenses, mas com vantagem no goal-average. O mesmo cenário
verificou-se na Série 4, onde Vitória Futebol Clube e Olhanense terminaram
invictos a 1.ª fase da competição e com o mesmo número de pontos (12). Os
sadinos, com melhor diferença entre golos marcados e sofridos avançaram para as
meias-finais, onde iriam medir forças com o Benfica. Neste confronto o triunfo
sorriu ao Vitória, que bateria os encarnados por 2-1 e marcava assim presença na sua
primeira final da Taça Ribeiro dos Reis, onde teria como oponente o Torreense
(vencedor da Série 2), que na outra meia-final havia derrotado o Varzim
(vencedor da Série 1) por 4-3.
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Vitória faz a sua primeira festa nesta competição |
Final
que teve novamente o Restelo como palco, no dia 13 de julho de 1963. Nessa
noite o Vitória derrotou os homens de Torres Vedras por 2-1, erguendo o seu
primeiro troféu no âmbito desta prova. Nomes como Félix Mourinho (pai do
conceituado treinador José Mourinho), Jaime Graça, José Maria, Carriço,
Francisco Polido, ou Júlio Teixeira estiveram nessa histórica final, contribuindo
decisivamente para a conquista da taça - com golos de Mateus, aos 32 minutos, e
de Rodrigues, aos 56 minutos. Nas palavras do conceituado jornalista de A Bola, Carlos Pinhão, «O Vitória de Setúbal ganhou com todo o
brilho a segunda edição da Taça Ribeiro dos Reis - que tal como a primeira,
coube, assim a um clube da A.F. Setúbal, a associação que está na
"moda", com os seus quatro clubes na 1.ª Divisão da próxima época:
Vitória, Barreirense, CUF e Seixal (...) Este êxito do Vitória parece-nos mais
significativo e mais brilhante que o triunfo seixalense de há um ano, porque,
desta feita, disputaram a prova as reservas do supracitado trio, cheias de
internacionais e pelo caminho que as transferências estão a tomar, o Benfica e
o Sporting terão equipas de reservas bem capazes de ganhar até... o campeonato
nacional da próxima época. Por tudo, o êxito setubalense ganhou extraordinário
relevo, pois coube ao Vitória para chegar à final eliminar uma reserva de
primeira do Benfica que por seu turno tinha eliminado o Sporting». Quanto à
final com o Torreense o jornalista analisava que na mesma «a diferença de andamento entre a 1.ª e a 2.ª Divisão notou-se sempre».
Da parte do conjunto que na época atuava na 2.ª Divisão «nunca houve perigo,
porque o único golo torriense surgiria apenas nos últimos instantes da partida,
assinalando precisamente o termo da mesma, pois Joaquim Campos (o árbitro da
final) nem sequer fez bola-ao-centro», escrevia o jornalista, colocando
ainda a hipótese de que se «o Torreense
tem feito o golo mais cedo, é possível que nele encontrasse um estimulo
poderoso para qualquer cometimento.., improvável, verdade se diga. Bem mais
ocasiões perdeu o Vitória», que foi a equipa dominadora da final.
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Félix Mourinho recebe a taça |
No
final, e numa imagem que seria habitual nas restantes edições da competição, a
filha de Ribeiro dos Reis entregou a taça ao capitão sadino, que nessa noite
foi Félix Mourinho. O conceituada árbitro do encontro, Joaquim Campos,
mostraria à reportagem de A Bola a sua satisfação por ter dirigido a final duma
prova com o nome de Ribeiro dos Reis, «um
grande amigo dos árbitros, infelizmente desaparecido do número dos vivos» mostrando
ainda o seu contentamento por esta final «ter
decorrido num ambiente
condigno e agradecendo aos jogadores e ao público a forma como lhe haviam
facilitado o seu trabalho».´
Benfica, o único
grande a vencer a prova
Dos
chamados 3 grandes do futebol luso,
apenas o Benfica soube o que era vencer a Taça Ribeiro dos Reis. E em três
ocasiões, como já referimos antes. Aliás, ainda no que concerne a estatística,
os encarnados são o clube com mais presenças na prova, se compararmos com os
rivais FC Porto e Sporting. Em termos mais concretos, os benfiquistas têm oito
presenças, os sportinguistas quatro e os portistas com três.
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O onze do Benfica que venceu a primeira das três taças Ribeiro dos Reis arrecadadas pelo clube |
Em
63/64 o Benfica enfeitou a sua sala de troféus com esta bonita taça, isto
depois de um percurso quase imaculado na Série 3 da 1.ª fase, concluída com 13
pontos, fruto de seis vitórias e um empate. Nas meias-finais os encarnados
despacharam o Olhanense (que venceu a Série 4) com uma vitória por 2-1,
marcando encontro com o também, à época, primodivisionário Leixões (vencedor da
Série 1) para o dia 12 de julho, tendo como cenário o Estádio da Tapadinha, em
Lisboa. Contando na equipa com reforços de peso, onde sobressaía Santana,
campeão europeu em 1961, os lisboetas venceram por 1-0, graças a um golo de
Pedras, logo aos dois minutos da final. Seria outro reforço de peso nessa
partida, de seu nome Ângelo, este bi-campeão da Europa pelos encarnados, o homem que ergueu a primeira Taça Ribeiro dos Reis conquistada pelas águias. |
Final entre Alhandra e Beira-Mar |
Após
três temporadas a morar no sul do país, eis que na 4.ª edição a taça viaja mais
para norte, para Aveiro, mais concretamente. Em 64/65 dá-se a particularidade
de pela primeira os 3 grandes do
futebol português disputaram na mesma edição o troféu, pese embora tenham tido
performances distintas. As reservas do FC Porto, emblema que fazia a estreia,
venceu de forma destacada a Série 1, com sete triunfos noutros tantos jogos
disputados, ao passo que Sporting e Benfica, integrados na Série 3, deixaram-se
surpreender pelo Alhandra, que seria uma das sensações desta edição. A turma do
Município de Vila Franca de Xira só não foi a heroína da prova porque na final
foi superada pelo Beira-Mar, clube que viveu a todos os títulos uma temporada
de 64/65 inolvidável. Os aveirenses subiram à 1.ª Divisão nacional, depois de
terem terminado a Zona Norte da 2.ª Divisão em 1.º lugar, com 37 pontos, tendo
ainda sagrado-se campeã nacional do segundo escalão na sequência de um triunfo
sobre o campeão da Zona Sul, o Barreirense, por 2-1. Esta temporada memorável
do Beira-Mar foi concluída em Coimbra, palco da final da Tala Ribeiro dos Reis,
vencida pelos aveirenses por 3-1. A equipa tipo dos beiramarenses nessa época
era a seguinte: Vítor Cabral, João da Costa, Evaristo, Marçal, Pinho, Abdul,
Brandão, Horácio Garcia, Diego, Gaio, e Nartanga. Para colocar as mãos na taça
o Beira-Mar afastou nas meias-finais o FC Porto, com um concludente 3-0, ao
passo que o Alhandra (vencedor da Série 3) superou por 1-0 o Portimonense
(vencedor da Série 4). A comandar esta equipa de Aveiro um nome que ficaria
ligado a esta Taça Ribeiro dos Reis, Artur Quaresma, sendo que mais à frente já
iremos ver porquê.
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Penafiel, que jogou a final de 1966 e perdeu por 9-2 com o Benfica. O resultado mais desnivelado numa final da Taça Ribeiro dos Reis |
Foi
renhida a Série 3 da Taça Ribeiro dos Reis de 65/66, época de ouro no futebol
português graças àquela que seria uma brilhante presença da seleção nacional no
Mundial de Inglaterra. E foi renhida porque as reservas do Benfica lutaram taco
a taco com o Atlético pela presença nas meias-finais da competição, acabando
ambas as equipas com o mesmo número de pontos (13), embora no goal-average os encarnados tenham levado
a melhor. A norte, isto é, na Série 1, a sensação chamou-se Penafiel, emblema que
participava pela primeira vez na competição. E melhor estreia não podiam ter
tidos os durienses, já que além de terem vencido a sua série de forma destacada
com 13 pontos, muito à frente dos primodivisionários Vitória de Guimarães,
Leixões, e Braga (cuja equipa principal venceu nessa época a Taça de
Portugal), lograram alcançar a grande final após triunfo nas mais finais sobre
o vencedor da Série 2, o Marinhense. Porém, o conto de fadas penafidelense
teria o seu términus precisamente no jogo decisivo, ganho pelo Benfica
(vencedor da Série 3) por concludentes 9-2. Mesmo sem os seus melhores atletas
em campo, tendo em conta que os habituais titulares estavam ao serviço da seleção
no Mundial, o Benfica não deu tréguas a um Penafiel que nessa temporada tinha
feito a sua estreia igualmente na 2.ª Divisão Nacional. A final disputou-se no
Estádio da Tapadinha, em Lisboa, e há a particularidade nesta história de pela
primeira vez a equipa do Penafiel ter andado de avião! Uma viagem que não foi
de todo memorável, já que a aeronave que transportou os durienses para a
capital saiu atrasada do Aeroporto de Pedras Rubras, chegando em cima da hora do
jogo. Ao fim da primeira parte os benfiquistas já venciam por 4-1, com golos de
Nélson, Yaúca, Serafim e Cavém, ao passo que para os nortenhos marcou Mendonça.
Na etapa complementar o vendaval encarnado continuou, com Guerreiro e Pedras a
bisarem nestes segundos 45 minutos e Serafim, com mais um golo, a selar aquela
que foi a vitória mais folgada de uma equipa numa final da Taça Ribeiro dos
Reis. Dourado ainda marcou mais um golo para os penafidelenses, que antes do
apito inicial do árbitro setubalense Virgílio Batista presentearam os jogadores
do Benfica com caixas de vinho da região. Nascimento, Severino, Raul, Malta da
Silva, Luciano, Cavém, Nélson, Yaúca, Pedras, Guerreiro e Serafim foram os onze
benfiquistas que arrecadaram o segundo troféu desta competição para o seu
clube.
Artur Quaresma
lava o Espinho à glória
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Os Tigres da Costa Verde que venceram a prova em 1967 |
Enquanto
jogador fez parte da famosa equipa do Belenenses que em 45/46 venceu o título
de campeã nacional da 1.ª Divisão, Artur Quaresma é um homem que na pele de
treinador fica para sempre ligado a esta Taça Ribeiro dos Reis. Ele é o técnico
com mais títulos na competição, dois, superando consagrados nomes como Bela
Guttman, Jimmy Hagan, Fernando Vaz, ou José Maria Pedroto, que também ostentam
no seu currículo esta taça. Depois de em 1965 ter conduzido o Beira-Mar à
conquista do título, Quaresma mudou-se dois anos mais tarde para a bonita cidade
costeira de Espinho, um pouco acima de Aveiro, onde conheceu pela primeira vez
a glória na Taça Ribeiro dos Reis. Ao comando dos Tigres da Costa Verde, o mesmo será dizer do Sporting de Espinho, que
nessa temporada havia terminado a Zona Norte da 2.ª Divisão num tranquilo 6.º lugar. Para vencer esta taça o Espinho triunfou com distinção na Série 2, somando 16
pontos e sem nenhuma derrota. Na meia final, disputada no Estádio do Mar, em
Matosinhos, vitória sobre o vencedor da Série 1, o Salgueiros, e na grande
final os espinhenses tinham um clube que estava em estado de graça pela recente
conquista da Taça de Portugal dessa temporada, o Vitória de Setúbal.
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Espinho recebido em festa na Câmara Municipal da cidade |
Nada
que fizesse temer os nortenhos, a julgar pelas palavras do presidente da
Assembleia Geral do clube sensação desta edição, Joaquim Moreira da Costa Júnior,
ao jornal A Bola. Para o dirigente «receber na nova sede a taça que tem por
patrono um dos nossos sócios beneméritos; figura extraordinária do nosso
futebol, nome inesquecível para todos nós», era o grande anseio dos Tigres nas vésperas da viagem para
Lisboa. Nessa longa entrevista ao jornal da Travessa da Queimada, onde contou
um pouco da história de 53 anos de vida do clube, este histórico dirigente do
emblema da Costa Verde anunciava que em caso de vitória cada jogador do Espinho
iria receber 1000 escudos, acrescidos, fosse qual fosse o resultado da final, de um jantar oferecido pela Direção aos jogadores que tão bem se haviam portado ao
longo da época que estava prestes a findar. Pois é, houve direito a jantar e a
prémio monetário, já que na final o Espinho bateu o Vitória sadino por 1-0, no
Estádio da Tapadinha. Ainda antes da partida para Lisboa, Artur Quaresmas
deixava nas páginas de A Bola o aviso
de que «não há equipa que tema o Vitória». Mais à frente o timoneiro espinhense
explicava que encarava o jogo com
sincero otimismo. «Sabemos que todo o favoritismo vai para o
Vitória de Setúbal que, no papel, tem oito hipóteses a favor e uma contra. Mas
do que ninguém, ou pouca, gente se lembra, é que essa nossa única hipótese pode
mais depressa concretizar-se
que as outras oito. (...) No futebol tudo é possível (...) De resto, um jogador
que vai para uma final — e para se chegar a uma final sabe-se bem quantos
obstáculos se têm de derrubar — está suficientemente mentalizado para encarar
esse jogo sem complexos de espécie alguma, qualquer que seja o adversário.
Posso dizê-lo que em relação aos nossos jogadores não há quem tema o Vitória de
Setúbal». Artur Quaresma que criticava ainda o local da final, e o facto de o
Sporting de Espinho ter de fazer mais de 300 quilómetros para disputar a final,
enquanto que o adversário faria cerca de 25. «E toda a gente sabe que uma longa
viagem representa mais que um jogo, pelo desgaste
físico que isso provoca. Vamos, naturalmente inferiorizados, mas nem por isso
perdemos a esperança da vitória, que, aliás, me parece estar ao nosso alcance.
Se, todavia, formos derrotados, resta-nos a consolação de termos ido à final de
uma prova que me merece desde a sua criação o maior respeito, por prestar
homenagem à memória dum nome que foi grande no futebol português», dizia o
técnico espinhense.
O
que é certo é que Jardim contrariou o favoritismo do Vitória e o desgaste
provocado pela longa viagem até Lisboa, marcando o único golo do encontro. Para
a história do Espinho ficam os nomes de Jardim, Arnaldo, Alcobia, Massas,
Bouçon, Capitão-Mor, Luciano, Ribeiro, Momade, Manuel Gomes, Daniel, Quim,
Gonçalves, Amorim, Rebelo, Valdemar, Casal Ribeiro, Sousa, Dias, Acácio, e
Meireles, os heróis que defenderam o manto sagrado dos Tigres da Costa Verde e que foram recebidos como... heróis no
regresso a Espinho.
Margem sul
alcança a glória (parte II)
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Manuel Oliveira |
Seria
outro mestre da tática do futebol
português a vencer a edição de 67/68 da Taça Ribeiros dos Reis, que a esta
altura já era disputada por 40 equipas distribuídas por quatro séries. O seu nome
é Manuel Oliveira, que resgatou a taça para a margem sul, fazendo-o ao serviço
do mítico Barreirense. No campeonato da 1.ª Divisão o emblema do Barreiro não
havia sido feliz, já que tinha descido de divisão nessa temporada, mas na Taça Ribeiro
dos Reis a esperança reinava na margem sul, na boca de um treinador que tinha
recuperado a alegria de trabalhar depois de uma passagem menos feliz pelo
Belenenses, segundo disso então numa entrevista ao jornal A Bola na antevisão desta final. «Para mim o Barreirense na final
da Taça Ribeiro dos Reis é motivo de grande satisfação. Primeiro porque no
Belenenses eu nunca tinha tido, propriamente, uma alegria verdadeira, nem mesmo
quando ganhava, e agora o Barreirense só me tem proporcionado grandes, enormes, alegrias», dizia o técnico que havia substituído no comando dos barreirenses Vieirinha.
Manuel Oliveira surgia no Barreiro como uma lufada de ar fresco e mesmo não
evitando a descida de divisão obteve bons resultados, sendo que em doze jogos, ganhou
sete, empatou três e só perdeu um contra
o Benfica na Luz. «Vim para o Barreirense, por diversos motivos. Primeiro
porque sou de
opinião que um treinador deve estar em atividade, pelo menos onze meses por
época. Depois, porque me ligam ao Barreirense laços de grande amizade, que vêm
já do tempo em que era juvenil do meu atual clube. Depois, e este não é o
motivo menos
importante, porque achei que não devia deixar morrer o trabalho que Vieirinha
realizou no Barreiro. O Barreirense desceu não por culpa do seu treinador mas
sim pelo facto
de o clube nunca ter podido contar com o seu atual plantel. Com estes
jogadores que têm alinhado agora o Barreirense nunca teria descido de divisão»,
opinava Manuel Oliveira. Para chegar à final da Taça Ribeiro dos Reis o
Barreirense havia vencido a Série 4 da prova, com 15 pontos, tendo na
meia-final derrotado o Beira-Mar por 1-0. Agora, na grande final ir defrontar o
clube das finais perdidas nesta extinta competição do futebol luso, o Leixões,
que por duas vezes atingiu o jogo decisivo mas nunca levou o troféu para casa.
Na baliza do Barreirense estava um jovem e promissor guarda-redes chamado
Manuel Bento, que ao lado de nomes como Candeias, Redol, Bandeira, Patrício,
Garrido, Mira, Testas, José Carlos, Eusébio e José João venceram os nortenhos
por 2-0 e conquistaram o troféu pela única vez no seu historial.
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O bonito troféu nas vitrinas do Vitória FC |
Sob
a batuta do lendário José Maria Pedroto o Vitória sadino alcançou o seu segundo
título na história da competição na época seguinte. Por esta altura os sadinos
eram não só uma potência do futebol nacional, como davam cartas no futebol internacional, ao fazer vergar vários colossos
continentais nas provas da UEFA. O Vitória chegava à final depois de vencer a
Série 4, com 16 pontos, e de derrotar nas meias finais o vencedor da Série 3, o
Benfica, por... sorteio, depois de um empate a uma bola. E na final os
setubalenses teriam pela frente o Peniche (vencedor da Série 2), que nessa
temporada esteve prestes a subir à 1.ª Divisão. Ambos os conjuntos tinham
chegado à final com alguma surpresa, isto nas palavras do jornalista Carlos
Pinhão em A Bola: «Peniche e Setúbal não era efetivamente a final mais
esperada. Cem efeito, a equipa do Benfica parecia à priori favorita no encontro
com os setubalenses, mas o desfecho do desafio
deu assim oportunidade à equipa de Pedroto de lutar pela tal
"taçazinha" que os setubalenses costumam ganhar no final das épocas,
mas que este ano, não pôde ser a de
Portugal. Também o Peniche não parecia com muitas possibilidades de derrotar o
Salgueiros, tendo em vista as classificações de ambos nos Nacionais da II Divisão».
Sairia
vencedor, por 1-0, o onze sadino que alinhou na final com: Torres, Eduardo,
José Mendes, Artur, Rangel, Octávio, Rebelo; Armando, Amâncio, Arnaldo e Mateus.
Na
época seguinte, 1969-70, o Vitória alcançou o único bis da história da Taça Ribeiro dos Reis, ou seja, a única equipa
que conseguiu vencer a prova de forma consecutiva.
Nesta
que seria a penúltima edição do certame deu-se uma inovação, ou seja, ao invés
das habituais quatro séries, a competição foi dividida em sete séries, na sua
maioria composta por seis equipas, sendo que os vencedores de cada grupo/série
passariam para a fase dos quartos-de-final, instituída também pela primeira
vez. E para colocar de novo as mãos na taça o Setúbal venceu a Série 7,
eliminando nos quartos-de-final o Benfica, por 3-0, e na meia-final o Famalicão
(que havia ficado isento nos quartos-de-final) por 1-0. E na final, de novo
realizada no Estádio da Tapadinha, os sadinos que nessa temporada de 69/70
tiveram uma má prestação tanto no campeonato da 1.ª Divisão (10.º lugar) como na
Taça de Portugal (foram afastados na 2.ª eliminatória) salvaram a época ao vencerem
a Taça Ribeiro dos Reis depois de baterem no dia 22 de julho a Académica de
Coimbra por 2-1.
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A equipa do Benfica que venceu a última edição da Taça Ribeiro dos Reis |
O
derradeiro ato da Taça Ribeiro dos Reis aconteceu em 1970/71 com o Benfica,
vencedor da Série 5, a vencer no Estádio do Restelo o Braga por 3-1. Bracarenses
(vencedores da Série 1) que deram luta aos encarnados na época treinados pelo
inglês Jimmy Hagan, que havia conquistado o título de campeão nacional. Houve a
necessidade de um prolongamento de 30 minutos, após uma igualdade a uma bola no
tempo regulamentar. O Benfica, que nessa final foi treinador pela sua antiga
glória dos relvados, José Augusto, levaria a melhor sobre os arsenalistas, que
na época disputavam a 2.ª Divisão, por 3-1. No final, a taça foi entregue ao
capitão José Torres, esse mesmo, o Bom Gigante, que neste encontro vestiu pela
última vez a camisola encarnada, partindo depois para Setúbal onde iria
continuar a sua brilhante carreira. Nomes como Humberto Coelho, Jaime Graça,
Matine, Toni, ou Raul Águas defenderam as cores do Benfica neste último
capítulo da história da Taça Ribeiro dos Reis.
Fontes
utilizadas para a realização deste trabalho: A Bola, blog Alberto Hélder, site
do Benfica, blog Memoria do Beira-Mar, blog Futebol Clube de Penafiel, Museu
Municipal de Espinho, livro "Vitória - Do nascimento à Glória, blog Em
Defesa do Benfica, blog Arquivos da Bola.
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