quarta-feira, novembro 16, 2022

Figuras do apito (5)... - Gilberto de Almeida Rego: o árbitro que recusou apitar a final de um Mundial

Gilberto de Almeida Rego
Participar num Campeonato do Mundo é o sonho de qualquer futebolista, e se esse sonho acabar na final torna-se num dos pontos altos da existência de um atleta. Quem diz jogadores diz também árbitros, pois atingir a final de um Mundial é o prémio máximo para os homens do apito. É entrar na história do futebol. Não há pois como recusar tamanha honra, e dizer não a dirigir a final do maior evento desportivo do planeta seria coisa de loucos. Mas nem toda a gente pensa assim, ou melhor, até existem loucos na história da arbitragem planetária, alguém que recusou arbitrar a final de um Mundial. E logo o primeiro, em 1930, que teve como sede o Uruguai. Esse homem foi Gilberto de Almeida Rego, nada mais nada menos do que o primeiro árbitro brasileiro a marcar presença no evento mais importante organizado pela FIFA. Nascido em 28 de novembro de 1895, no Rio Grande do Sul, integrou a comissão técnica da seleção brasileira que participou nesse histórico campeonato mundial. E mesmo antes do escrete - que então não era canarinho - entrar em campo, coube a Almeida Rego ser o primeiro brasileiro a entrar em ação num Mundial, facto ocorrido no encontro entre a França e o México, realizado no Campo de Pocitos, em que o juiz brasileiro foi um dos bandeirinhas - ou árbitros auxiliares como agora se designam - do uruguaio Domingo Lombardi. Até aqui tudo bem. O pior aconteceu quando Almeida Rego foi o árbitro principal de um jogo desta Copa, o Argentina - França, uma partida duríssima, segundo rezam as crónicas, em que a polémica estalou aos 39 minutos da segunda parte, altura em que o árbitro brasileiro dá por terminado o encontro! Os argentinos haviam marcado o único golo do jogo segundos antes do inesperado apito final, quando faltam jogar pelo menos mais seis minutos. Como é óbvio, os franceses protestaram, e já quando as equipas estavam nos balneários o árbitro terá percebido o seu erro e convidou os dois combinados nacionais a voltarem ao relvado para disputar os minutos restantes. Insólito, no mínimo. Gilberto de Almeida Rego dirigiu ainda os encontros Uruguai - Roménia e Chile - França, estes ao que tudo indica mais pacíficos, isto é, sem violações às regras do jogo.

Almeida Rego, à direita, no papel de bandeirinha no jogo França - México

Mesmo com erro de palmatória no Argentina - França por parte do árbitro brasileiro, a primeira escolha da FIFA para arbitrar a escaldante final do Mundial de 1930 entre Uruguai e Argentina foi Almeida Rego., o qual de pronto... recusou! Ele era o preferido de Jules Rimet - então presidente da FIFA -, mas declinou o convite alegando que tinha assuntos urgentes a resolver na sua pátria. Terá sido esta a razão para a recusa do convite? Há quem alegue que foi somente uma desculpa para não fazer parte do clima fervoroso - de pura tensão e de alguma violência - que envolveu a final de 1930 entre os dois grandes rivais do Rio da Prata. A FIFA optou então pelo belga John Langenus para dirigir o jogo decisivo da competição. Mais corajoso que o seu colega brasileiro o árbitro europeu aceitou apitar a final, mas exigindo à entidade que dirige o futebol planetária certas condições para garantir a sua segurança. Uma delas era que logo após o apito final lhe fosse facultado um transporte que o tirasse do Estádio Centenário rumo ao porto de Montevideu, e dali embarcar rapidamente rumo à Europa, a salvo da mais do que provável ira de um dos derrotados. Assim foi. Quanto a Almeida Rego viria a falecer a 4 de março de 1970.

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