segunda-feira, julho 25, 2022

Jogos Memoráveis (4)... Portimonense - Partizan (Taça UEFA de 1985/86)

Há quem diga que o Algarve é não só a estância balnear de Portugal, mas também da Europa. Com o seu clima quente, as suas praias paradisíacas e a farta animação noturna, esta região tem sido o destino de férias para cidadãos de vários países europeus ao longo de décadas. Deste modo, será uma minoria, por certo, a percentagem de europeus que não conhece esta região do sul do nosso país pelas características naturais que apresenta. Porém, em termos de futebol só na segunda metade dos anos 80 do século passado é que o Algarve se deu a conhecer à Europa. Apresentação que aconteceu na temporada de 1985/86, altura em que um dos filhos futebolísticos mais ilustres da região fez a sua estreia - e única até à data - na alta roda do futebol continental, isto é, nas competições europeias. Emblema esse que dá pelo nome de Portimonense Sport Clube, e que fruto do brilhante 5.º lugar conquistado na época anterior, no Campeonato Nacional da 1.ª Divisão, assegurou o passaporte para a Taça UEFA. Feito alcançado por um treinador algarvio, o que eleva ainda mais os níveis históricos do facto, um homem que é hoje em dia um dos técnicos mais titulados a nível internacional do nosso futebol. O seu nome? Manuel José. Foi ele o maestro de uma orquestra afinada e talentosa que na altura tinha nomes como o experiente defesa-central Simões - que tinha passado com sucesso pelo FC Porto -, o médio Vítor Oliveira - formado no Leixões e que no final desta temporada pendurou as chuteiras -, o promissor avançado Rui Águas, ou o também dianteiro belga Serge Cadorin - quiçá o nome mais sonante daquele Portimonense, pelos muitos golos que marcou durante a sua estadia no Algarve.

No entanto, não seria Manuel José a apresentar o emblema de Portimão à Velha Europa do futebol, uma tarefa que ficou nas mãos de Vítor Oliveira, que como já foi referido encerrou a sua carreira de atleta no Algarve e foi um dos obreiros que em campo garantiu a presença da Taça UEFA de 85/86. Vítor Oliveira que dava assim em Portimão início a uma brilhante carreira de treinador, tendo passado nos 34 anos seguintes por diversos clubes do nosso futebol, alcançando na maior parte deles subidas de divisão, de tal maneira que ainda hoje é conhecido como o "Rei das Subidas". Figura esta que desapareceu do nosso convívio muito recentemente, em 2020, e que deixou, naturalmente, saudades a todos aqueles que consigo trabalharam e conviveram.

Mas voltamos à temporada de 85/86, onde o Portimonense fez alguns reajustes ao seu plantel não só com o intuito de repetir a boa prestação interna da época transata, mas de igual modo para fazer boa figura na estreia internacional. Entre as novas caras encontravam-se o médio brasileiro Nivaldo, vindo do Benfica, e o avançado Pita, que haveria de ficar com o seu nome gravado na história do Portimonense no âmbito desta entrada na Europa do futebol.

O histórico "onze" do Portimonense que bateu o Partizan de Belgrado

O apadrinhamento europeu dos algarvios foi feito por um emblema muito experiente nestas andanças, por um gigante do futebol do leste europeu, o Partizan de Belgrado. Se a inexperiência já de si era um fator que à partida condicionava os homens de Portimão, o facto de terem pela frente um dos maiores clubes da então Jugoslávia tornava esta numa missão praticamente impossível, o que se viria a confirmar no final da eliminatória. Mas o nosso foco é no jogo da primeira mão, em Portimão, cujo estádio se engalanou para o batismo europeu do seu clube. E quando aludimos ao termo engalanou queremos dizer que não era só a atmosfera quente - não só pelo calor típico algarvio, mas sobretudo pela massa adepta presente - que envolveu esse histórico encontro realizado a 18 de setembro de 1985, mas também porque nesse dia, ou melhor, nessa noite, era inaugurada a iluminação elétrica do estádio, que tinha custado a módica quantia de 35.000 contos. Quiçá todos estes condimentos ajudaram o Portimonense a alcançar uma vitória histórica, por 1-0, um resultado que assustou o Partizan, segundo a crónica de A Bola. Pela pena de uma magistral dupla de jornalistas, os Serpa, Homero (o pai) e Vítor (o filho), escreveu-se que na noite morna de Portimão o clube local, sem traquejo internacional, fez a sua estreia europeia ante um experiente Partizan, uma equipa com largo prestígio na Europa, e que talvez tivesse sido esta a razão pela qual a turma algarvia entrou em campo com uma certa inibição. Facto que com o passar do tempo se eclipsou, e o Portimonense começou a mostrar o desejo de dar boa conta do recado. Os portugueses foram para Vítor Serpa uma equipa «combativa, determinada, mas que não teve dúvidas nunca quanto à diferença da qualidade técnica que a separava do adversário. De tal modo assim foi que o Portimonense apenas conseguia equilibrar as operações, ou até, eventualmente, sobrepor-se ao seu adversário, quando adregava imprimir maior velocidade ao jogo, tirando assim partido da rapidez de execução de alguns dos seus jogadores. E sabe-se por um certo saber de experiência feito, o quanto de uma forma geral desagrada às equipas de leste jogar de pressa», assim descrevia o jornalista um jogo que terminou com uma «vitória saborosa na jornada que assinala a estreia - facto que só por si merece ser devidamente assinalado», mas que era um resultado que não garantia um passo decisivo para passar a eliminatória. E como estava certo o jornalista da Travessa da Queimada.

Já o seu pai escrevia que foi num ambiente «misto de euforia e de dúvidas - até porque na sua opinião os algarvios ainda não haviam encontrado naquela época o entrosamento necessário - que a equipa de Vítor Oliveira entrou no relvado do seu estádio, pela primeira vez iluminado, para defrontar, em desafio oficial, uma equipa estrangeira: Partizan de Belgrado, uma turma habituadíssima às competições internacionais; portanto, com muito mais experiência do que o Portimonense que só agora inaugurou esta nova via num percurso que está a fazer, desde a Segunda Divisão, em constante progresso».

Lance do jogo do Algarve
E prosseguindo a sua análise ao jogo, Homero Serpa dizia que «devemos começar por dizer que Partizan começou, logo de início, por transmitir a ideia de que iria realizar um jogo calmo, sem grandes sobressaltos, no intuito de  preparar a decisão da eliminatória para a segunda mão, em Belgrado. O 0-0 seria um bom resultado, o 1-1, excelente, e, por aí adiante . Mas a derrota sofrida, embora por margem escassa, não será assim tão bom, pese o facto de o Portimonense não se encontrar, presentemente, na sua melhor forma. Longe disso, obrigando a que permaneça a dúvida quanto à sua capacidade de resistência para o segundo e decisivo "round". Mas, o futebol é, como uma caixinha de surpresas, e, até pode suceder que a simpática equipa algarvia prossiga em prova. No entanto, e pelo que se conhece do futebol jugoslavo, a tarefa não vai ser nada fácil, bastando, para tanto, recordar os exemplos de outras equipas de maiores pergaminhos no futebol europeu que "morreram" às mãos do Partizan, que continua uma das grandes formações europeias, com um futebol bem entremeado, onde a técnica e a velocidade combinam quase perfeitamente. Mas, aconteça o que acontecer, na segunda mão, o que mais importa agora é que o Portimonense venceu este seu primeiro teste ao nível de provas da UEFA, o que, só por si, chega para elevar a equipa algarvia a uma posição muito simpática no cotejo internacional». E assim foi.

Mais a fundo, Homero Serpa dizia que as equipas jogaram este desafio do Algarve um pouco no escuro, com algum receio uma da outra, tendo sido, no entanto, dos de Portimão os dois primeiros sinais de algum perigo, sendo que na visão do jornalista o primeiro lance é uma clara grande penalidade cometida por Nikodijevic sobre Freire, que o árbitro belga Alphonse Constantin ignorou. Acrescentaria que os primeiros dez minutos da partida foram de domínio algarvio, uma equipa que nas suas palavras «se esqueceu da categoria do adversário que tinha pela frente».

Nivaldo prepara-se para mais um ataque
à baliza do Partizan 
Encostado às cordas, o técnico do Partizan abdica de um defesa e dá ordem ao seu lateral direito para subir no terreno, uma mudança que atordoou os pupilos de Vítor Oliveira, que com mais um homem pela frente no meio campo contrário. Um «embaraço» que «naturalmente, acabaria por ser bem aproveitado pelos jugoslavos que começam, tecnicamente, a mandar na partida. As sua jogadas, no entanto, nunca foram demasiado perigosas. Via-se que detinham o comando, mas pouco apoquentavam o guarda-redes português, que tinha à sua frente dez companheiros humildes e uma defesa que, quando era preciso aliviava de qualquer maneira, mesmo de forma arcaica. (...) O Portimonense não fazia flores, e não se envergonhava de ser humilde. Soube, antes do mais, ser realista, actuando com a frieza necessária. O tempo ia correndo e, aquilo que a princípio mais se temia, continuava por não suceder. As balizas da turma portuguesa permaneciam invioláveis. A seu favor, os jugoslavos apenas podiam contabilizar dois, lances que, muito no condicional, poderiam ter ocasionado dois golos». Isto na primeira parte. O reatamento não poderia ter começado melhor para os portugueses, já que aos 47 minutos surge o ponto alto deste encontro, o golo! O tento da autoria do cabo-verdiano Pita, um golaço que levantou o estádio e que foi desenhado da seguinte maneira: «Cadorin foi rápido a fazer um lançamento no lado direito, já perto da bandeirola de canto, Freire centrou também rapidamente e Pita, entrando fulgurantemente de cabeça, atirou à baliza. A bola, antes de entrar, tabelou no poste direito, sem hipóteses para o guarda-redes».

Pita, um jogador que Homero Serpa considerava o melhor ponta-de-lança do futebol português a atuar de cabeça! O Partizan ficou perplexo com este golo, em contraposto com os adeptos algarvios, que entusiasmados por este festejo empolgaram ainda mais o seu conjunto. «Toda a equipa sobe de rendimento (...) Os jugoslavos perturbam-se. O Portimonense, galvanizado, arranca para uma exibição memorável, com um futebol de nível internacional. Sem grande técnica, mas, veloz, e com o aproveitamento milimétrico de todo o terreno. Agora, a equipa portuguesa torna se num bico-de-obra para o seu adversário», lia-se na reportagem de A Bola.

Vítor Oliveira passou de jogador
a treinador dos algarvios
Foi uma meia hora empolgante do Portimonense, que atirou ao tapete o experiente Partizan, que apesar de nos últimos 15 minutos alargar a sua frente da ataque não levou perigo para os pupilos de Vítor Oliveira. «Esta equipa do Partizan não nos pareceu muito rápida. Acreditamos, no entanto, que não terá mostrado frente aos portugueses o muito de que é capaz de progredir neste aspecto. E, meus amigos, se conseguir combinar a velocidade com a excelente técnica de que é detentora; vai ser, não tenhamos dúvidas, um osso muito duro de roer em Belgrado», escrevia o jornalista de A Bola numa antevisão daquilo o que seria o inferno na Jugoslávia, onde os portugueses viriam a cair por expressivos 4-0, dizendo adeus à UEFA.

Mas ninguém tira aos algarvios o prazer de ter assustado os poderosos jugoslavos e de se terem estreado nas competições europeias com uma surpreendente, mas justa, vitória. Surpresa era pois o estado de alma que reinava no balneário do Partizan no final do encontro, a começar pelo treinador Nenad Bjekovic. «Os portugueses estiveram muito bem e confesso que me surpreenderam. Estava à espera que jogassem em passes curtos e a trocarem a bola e apareceu-me um estilo de jogo totalmente, ao contrário. O Portimonense surgiu a jogar em passes longos e a actuar muito bem de cabeça. (...) No meu entender, os portugueses sobressaíram pelo seu jogo colectivo, se bem que tenha de distinguir a exibição de Nivaldo, muito boa, um elemento que faz jogar a equipa e demonstra bastante experiência», disse o técnico jugoslavo que fez ainda uma antevisão do encontro da segunda mão, opinando que este seria decisivo, e que a sua equipa tinha boas hipóteses de seguir em frente.

Cadorin, uma das principais
figuras dos algarvios
Uma das estrelas do Partizan era então Ljubomir Radanovic, defesa que representou a Jugoslávia no Europeu de 1984, e nos Jogos Olímpicos do mesmo ano, que opinaria que «o Portimonense mostrou-se mais lutador, pelo que mereceu ganhar. O Partizan não mostrou em Portimão o seu verdadeiro valor, mas irá faze-lo em Belgrado, dentro de duas semanas. O Portimonense, apesar de boa equipa não chegará para superar esta eliminatória», como estava certo o capitão da equipa Balcã. Curiosidade é que também o árbitro do encontro foi ouvido pelos jornalistas de A Bola, tecendo uma opinião sobre o jogo! Coisa impensável nos dias de hoje. Alphonse Constantin disse então que este havia sido um encontro interessante de arbitrar, «com os portugueses, muito bons tecnicamente, a desfrutarem de grandes hipóteses para ultrapassar a eliminatória. É verdade que os portugueses demonstraram uma falta de maturidade competitiva, mas estou convencido que a irão adquirir, pois dispõem de muitos jogadores novos e muito futuro na sua combinação». E o penalti reclamado pelo Portimonense na primeira parte, o que tinha o senhor Constantin a dizer em sua defesa? «O Portimonense reclamou, de facto, grande penalidade, mas o jogador atirou-se voluntariamente para o chão sem ninguém lhe ter tocado. Aliás, esse jogador procedeu de forma muito inteligente. Pois levantou-se e não me disse uma palavra».

Na cabine de Portimonense reinava a alegria, mas ao mesmo tempo um sentimento de que o resultado era curto para a viagem à Jugoslávia quinze dias depois. Vítor Oliveira estava satisfeito com a exibição da sua equipa e com o resultado, «embora reconheça que se tivéssemos marcado mais um ou dois golos seria mais justo para a minha equipa. (...) Apesar de escasso (o resultado), vamos tentar passar a eliminatória, a fim de prestigiar a cidade de Portimão e o nome de Portugal», disse então o técnico.

Também o experiente defesa Simões era de opinião que o score era curto em relação à exibição dos de Portimão,  endereçando ainda uma palavra ao público afeto à sua equipa: «não quero deixar de enaltecer o apoio entusiástico que o público de Portimão nos dispensou e bom seria que assim se mantivesse durante as jornadas do campeonato. Esse calor humano à nossa volta só engrandece a equipa».

Para a história do Portimonense e do futebol português aqui fica a ficha deste jogo:

Estádio do Portimonense. Árbitro: Alphonse Constantin (Bélgica)

Portimonense: Vital; Dinis, Balacó, Simões, Teixeirinha, Freire, Carvalho, Nivaldo, Luís Reina, Pita e Cadorin. Substituições: Nivaldo por João Reina, Freire por Barão, aos 40 e 44 minutos respetivamente. Treinador: Vítor Oliveira.

Partizan: Omeovic; Radovic, Vermezovic, Capljic, Rojevic, Zivkovic, Stevanovic, Radanovic, Nikodijevic, Varga e Vucievic. Substituições: Varga por Djukic, Stevanovic por Diermai, aos 21 e 27 minutos, respetivamente. Treinador: Nenad Bjekovic.

Golo: Pita, aos 47 minutos.

ENTREVISTA COM JOÃO REINA

«DIGNIFICÁMOS O FUTEBOL PORTUGUÊS E PRINCIPALMENTE O FUTEBOL ALGARVIO»

Algarvio de gema (nasceu em Olhão), João Reina era uma das figuras do plantel do Portimonense que viveu na pele a aventura europeia de 85/86. Ele participou no célebre jogo com o Partizan, entrando para o lugar de Nivaldo. Chegou a Portimão precisamente na histórica temporada em que o emblema algarvio alcançou o 5.º lugar que deu acesso à Taça UEFA, e nesta entrevista ao Museu Virtual do Futebol o antigo defesa recordou não só a épica vitória ante o conjunto oriundo da ex-Jugoslávia, como também falou dos timoneiros (Vítor Oliveira e Manuel José) que conduziram a nau algarvia naqueles anos dourados, bem como o significado que este triunfo teve para toda a região do Algarve.

João Reina com 
a camisola do Portimonense
Museu Virtual do Futebol (MVF): O João Reina cumpria na altura a segunda época em Portimão, sendo um dos obreiros desta qualificação para a Taça UEFA. Como explica esta rápida ascensão à Europa do futebol de um clube que só se tinha estreado na 1.ª Divisão em 1979?

João Reina (JR): O Portimonense já vinha fazendo boas épocas na 1.ª Divisão Nacional, e com a entrada de vários jogadores e do treinador  Manuel José, que tinha um grande conhecimento do futebol português, a pré época correu muito bem e começámos nos lugares acima do meio da tabela. Depois, fomos cimentando a nossa posição, conseguido a qualificação (europeia) com muito mérito.

MVF: Recorda-se como é que Portimão, e o Algarve em geral, viveram esta qualificação para uma competição europeia?

JR: Sendo o primeiro clube algarvio a conseguir esse feito Portimão e o Algarve estavam naturalmente ansiosos à espera desses jogos (europeus).

MVF: E quando no sorteio uefeiro vos colocou pela frente o Partizan, um clube poderoso, oriundo de uma escola de futebol muito forte, o que vos passou pela cabeça nessa altura?

JR: Toda a gente conhecia o Partizan, que na altura era uma das boas equipas da Europa. Mas nós tínhamos o sonho de fazer uma boa prova.

MVF: O que vos disse Vítor Oliveira nos dias que antecederam este jogo, como é que ele trabalhou a vossa mente no sentido de ultrapassar este obstáculo?

JR: O mister Vítor Oliveira sempre se mostrou tranquilo, sempre a motivar-nos não só nestes jogos (europeus), como também para os do campeonato. Mas sempre acreditando que poderíamos seguir em frente nesta eliminatória.

MVF: Por falar em Vítor Oliveira, o João Reina partilhou o balneário com ele nos anos de Portimonense, quer enquanto colega de equipa, quer na qualidade de pupilo. O que lhe diz Vítor Oliveira ainda hoje, o que se lembra dele?

JR: Como colega foi um orgulho fazer parte da equipa dele. Sempre foi amigo do seu amigo, e como seu pupilo (mais tarde) dele sempre foi um treinador a pensar em prol da equipa, sem olhar a nomes, fazendo  jogar quem estava seu melhor momento de forma. Com ele aprendi muito de futebol, e já na altura o Portimonense jogava com três centrais e dois alas e eu fui um dos que fui adaptado à posição de ala, onde penso que me saí bem. O Vítor Oliveira é uma pessoa que nunca vou esquecer.

MVF: Não podemos esquecer que esta qualificação europeia foi obra de outro nome consagrado da tática em Portugal, Manuel José...

JR: Foi o mister Manuel José que me levou para o Portimonense, tendo ele conseguido o feito de nos apurarmos para uma competição da UEFA. Foi dos bons treinadores que tive ao longo da minha carreira, e dele guardo boas recordações, tal como do mister Vítor Oliveira.

MVF: Veio o dia do jogo, ou melhor, a noite, porque se estreava a iluminação artificial, e o que sentiu quando a bola começou a rolar no ambiente quente - no duplo sentido - algarvio. Como foram os primeiros minutos de jogo, estavam nervosos, acreditavam que podiam ganhar, em suma como estava a equipa?

JR: Naturalmente estávamos todos nervosos, mas com o decorrer dos minutos fomos acreditando que poderíamos fazer um bom resultado. Acho até que o 1-0 foi pouco pelo que produzimos, principalmente na 2.ª parte. Tínhamos um excelente grupo. com alguns jogadores mais experiente que encaravam o jogo de outra forma.

MVF: Rezam as crónicas que na segunda parte o Portimonense soltou-se mais, dominou o jogo, e veio o golaço de Pita. O que se lembra destes momentos da etapa complementar, do golo, e de que vos disse Vítor Oliveira ao intervalo e que mudou a atitude dos jogadores de Portimão (?)

JR: O Portimonense, como já disse, fez uma grande 2.ª parte, tendo o golo do Pita reposto alguma verdade no marcador. O Vítor Oliveira só nos fez acreditar que poderíamos sair com uma vitória nesse jogo.

MVF: Esta é uma pergunta clássica, mas impõe-se: qual foi o segredo para vencer o Partizan naquela noite?

JR: O segredo foi acreditarmos no grupo que tínhamos, e que fazendo um jogo sem erros poderíamos ganhar. E foi o que aconteceu.

MVF: Tem ideia do que significou esta vitória para o clube e em particular para a região do Algarve, que até então internacionalmente era só conhecida pelo sol e pelas belas praias?

JR: Para o clube foi o encarar o campeonato com mais tranquilidade, sabendo que os nossos adversários iriam olhar pata nós de outra forma, respeitando-nos mais. Para a região foi o dar a saber que no Algarve também existia futebol.

MVF: E depois, o que aconteceu em Belgrado para justificar a pesada derrota e a consequente eliminação da Taça UEFA?

JR: Em Belgrado sofremos logo nos primeiros minutos um golo, e contra estas equipas quando se sofre cedo dificilmente se consegue contrariar a sua maior experiência, como era o caso do Partizan. Mas penso que dignificámos o futebol português e principalmente o futebol algarvio.

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