terça-feira, julho 26, 2022

Arquivos do Futebol Português (25)...

Uma das primeira equipas do Belenenses

23 de setembro de 1919 é uma data história para o desporto português. Não só para o futebol, mas para todo o nosso desporto de uma forma geral. Foi nesse dia, ou melhor nessa noite de verão, que o sonho daquele que foi considerado como o primeiro grande futebolista português se tornou em realidade, e dessa realidade nasceu um dos emblemas mais ilustres do nosso desporto: o Clube de Futebol "Os Belenenses".

Como já foi referido, estávamos no verão, estávamos num período de ressaca da I Guerra Mundial, e para os lados de Belém um grupo de futebolistas oriundos daquelas paragens, e que defendiam as cores de outros emblemas lisboetas, sonharam em fundar um clube do seu bairro, do seu berço, um clube de Belém. Entre esses futebolistas encontrava-se Artur José Pereira, o tal astro do então futebol luso, o nosso primeiro grande artista da bola, dizem muitos historiadores. Ele que nasceu ali, em Belém, e que enquanto futebolista brilhou ao serviço do União Belenense, na temporada de 1907/08, do Benfica entre as épocas de 1908/09 a 1913/14 (vencendo 3 campeonatos de Lisboa), e do Sporting, entre as temporadas de 1914/15 a 1918/19 (vencendo 2 campeonatos de Lisboa e 3 Taças de Honra). Foi num banco do jardim da Praça Afonso de Albuquerque que o sonho foi tornado em realidade, tendo Artur José Pereira, então com 30 anos de idade, juntamente com o seu irmão Francisco Pereira, aos quais se juntaram nomes como Carlos Sobral, Henrique Costa, Júlio Teixeira, Joaquim Dias, Júlio Teixeira Gomes, e Manuel Veloso, idealizado o tal clube com raízes em Belém. Até que em 23 de setembro de 1919 dá-se a fundação do clube, que com o passar dos anos, das décadas, se tornou num dos (4) grandes de Portugal, conquistado títulos e prestígio a nível nacional e internacional. As primeiras coroas de glória surgiram nas décadas de 20 e 30, quando os azuis - como ficaram conhecidos devido às suas cores - venceram por três vezes o Campeonato de Lisboa (1925/26, 1928/29 e 1931/1932) e o Campeonato de Portugal (1927, 1929 e 1933). Em 1946 o clube alcança aquele que é porventura o seu maior título, o Campeonato Nacional da 1.ª Divisão. O Belenenses tem ainda uma boa tradição na Taça de Portugal, troféu que conquistou em três ocasiões, nas temporadas de 1941/42, 1959/60 e 1988/89. Mas isto só no futebol, porque se alargarmos o leque para outras modalidades a palmarés do clube é abismal.

O primeiro jogo da história do (futebol do) Belenenses acontece a 9 de novembro de 1919, no Campo Grande, frente ao Vitória de Setúbal. Na foto que podemos ver acima está uma das primeiras equipas do clube, podendo ver-se, da esquerda para a direita, os seguintes nomes: Joaquim Rio, Carlos Sobral, Francisco Pereira, Aníbal dos Santos, Manoel Veloso, Mário Duarte, Arnaldo Cruz, Alberto Rio, Edmundo Campos, Romualdo Bogalho e Artur José Pereira. Este último jogador representou o clube que ajudou a fundar de 1919 a 1922.    

A equipa do Sporting, campeão de Lisboa em 1918/19

A época de 1918/19 fica ainda marcada, no que diz respeito ao futebol da capital, por um braço de ferro entre os dois outros grandes da capital, Benfica e Sporting, pela conquista do título regional. Este Campeonato de Lisboa foi um dos mais disputados de sempre, segundo reza a história, facto que pela primeira vez obrigou a que fosse realizada uma finalíssima para se encontrar o campeão. A prova foi discutida por cinco clubes, a saber, o Sporting, o Benfica, o CIF, o Império, e o Vitória de Setúbal, último emblema este que fazia a sua estreia nas 1.ª categorias ao nível do regional lisboeta. A competição foi disputada taco a taco entre os dois rivais - que cada vez mais o eram - Benfica e Sporting, embora na primeira volta a que juntar a esta dupla o Vitória sadino, que em época de estreia não perdeu um único encontro na primeira etapa do campeonato. O setubalenses perderam gás na segunda volta, deixando o caminho aberto para que benfiquistas e sportinguistas lutassem entre si sem qualquer oposição. Os dois clubes terminaram o campeonato empatados pontualmente, tendo a Associação de Futebol de Lisboa decidido desempatar a contenda com uma finalíssima, a qual acontecia pela primeira vez na história. A 14 de julho de 1919 teve lugar a primeira mão dessa finalíssima, disputada em casa dos encarnados, tendo o Sporting vencido por 1-0, com golo de Alfredo Perdigão, tendo a curiosa particularidade de neste encontro os leões terem alinhado durante 45 minutos com 10 elementos, pois Artur José Pereira atrasou-se e só jogou a etapa complementar! A segunda mão jogou-se no dia 20, do mesmo mês, sendo que o Spoting venceu novamente, deste feita por 2–1, num encontro marcado pela violência e com três expulsões, dizendo-nos a história que este jogo terminou com agressões por parte dos adeptos do Benfica a jogadores e dirigentes do Sporting após uma invasão de campo. Os leões eram assim campeões de Lisboa pela segunda vez na sua história, e Artur José Pereira despedia-se da melhor forma do emblema verde-e-branco, pois dali partira para fundar o Belenenses. Para a eternidade ficam os nomes dos sportinguistas campeões: Francisco Quintela, Carlos Fernando Silva, Amadeu Cruz, Jorge Vieira, João Francisco, Boaventura da Silva, Artur José Pereira, Joaquim Caetano, Torres Pereira, Francisco Stromp, Jaime Gonçalves, Jusa, Alfredo Perdigão, Alberto Loureiro, Marcelino Pereira, Alberto Rio, e John Armour.

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