quinta-feira, julho 28, 2022

Arquivos do Futebol Português (27)...

A equipa do Casa Pia que em 20/21 venceu 
o Campeonato de Lisboa, a Taça da AFL, 
e a Taça 27 de Julho
O recém-fundado Casa Pia Atlético Clube não podia pedir melhor estreia oficial do que aquela que teve na temporada de 1920/21. Com uma equipa de respeito, formada por antigos alunos da instituição que dava nome ao clube, entre eles muitos ex-benfiquistas, como por exemplo, António Pinho, José Maria Gralha, Silvestre Rosmaninho, ou Cândido de Oliveira, mas também com o ex-sportinguista Alberto Loureiro, os casapianos venceram o Campeonato de Lisboa dessa época sem derrotas. A invencibilidade do jovem clube estendeu-se, ademais, à segunda prova lisboeta, a Taça da Associação de Futebol de Lisboa (AFL), facto que faz do Casa Pia a única equipa da capital que até hoje venceu as duas competições de forma invicta. É verdade, nem Benfica, nem Sporting, nem Belenenses, os outros três grandes de Lisboa, o conseguiram fazer.

O Campeonato de Lisboa de 1920/21 foi disputado pela primeira vez por oito clubes, que divididos em duas séries de quatro discutiram a 1.ª fase da prova. Os gansos, como são conhecidos os casapianos, ficariam alojados na Série 1, juntamente com o Belenenses, o Vitória de Setúbal, e o Clube Internacional de Football (CIF). Abra-se aqui um parênteses para explicar a alcunha que caracteriza até hoje o Casa Pia, os gansos. Tudo porque num desfile do início do século XX dos alunos da instituição casapiana em frente ao Mosteiro dos Jerónimos, alguém atirou ao ar a seguinte frase: "Oh, p’ra eles, todos elegantes! Parecem uns gansos!", e assim a alcunha ficou para toda a vida.

Mas voltando ao Regional lisboeta, a 1.ª fase da competição foi um passeio para os casapianos, que em seis encontros somaram quatro vitórias e cederam apenas dois empates, terminando a série no primeiro lugar com 10 pontos, qualificando-se desta forma para a fase seguinte, que iria juntar o segundo colocado da Série 1, o Belenenses, e os dois primeiros posicionados da Série 2, o Sporting, e o Benfica.

Nesta fase decisiva os gansos começaram por defrontar o Benfica, um jogo que suscitava uma enorme expectativa, já que muitos dos elementos do Casa Pia eram antigos jogadores dos encarnados, esperando-se alguma picardia derivada da traição dos agora craques casapianos. Tal não aconteceu, o jogo decorreu de forma cordial, e o Casa Pia venceu por 2-1. Na 2.ª jornada, a turma capitaneada por Cândido de Oliveira obteve novo triunfo, desta feita sobre o Belenenses, e na derradeira ronda goleou o Sporting por 5-2, garantindo desde logo a presença na final do campeonato. O adversário seriam os leões, que ficaram em segundo lugar nesta fase. Final que foi disputada a duas mãos, dois encontros equilibrados, conforme rezam as crónicas de então. No primeiro duelo, os casapianos praticamente selaram a vitória no campeonato, após um concludente triunfo por 4-1, com dois tentos de Cândido de Oliveira, um de Alberto Nunes, e outro de Alberto Loureiro. Na segunda mão houve empate a uma bola, o que confirmou o Casa Pia como o novo campeão de Lisboa... e com apenas 10 meses de vida! Foi obra!

Cândido 
de Oliveira
A dobradinha, isto é, a vitória na Taça da AFL, surgiu com uma vitória na final sobre o Belenenses, por 3-2, isto depois de bater na 1.ª eliminatória o Sporting por 4-1, e o Carcavelinhos nas meias-finais por 3-1. Mas não foram só as grandes potências do futebol lisboeta a sofrer às mãos dos surpreendentes gansos, já que também o eterno campeão do Norte, o FC Porto, foi vergado pelo Casa Pia, por 2-0, na Taça 27 de Julho, prova esta que correspondeu a um ensaio para o Campeonato de Portugal que se iria iniciar na época seguinte. Porventura, esta foi a melhor época da hoje história centenária dos casapianos, que em finais de 1920 se tornaram na primeira equipa lusa a visitar a capital francesa, Paris, para a disputa de um torneio de Natal, tendo ali defrontado conjuntos de renome, casos do Cercle Athlétic de Paris, do Cercle Athlétic de Vitry, dos suíços do FC Cantonal, e do FC Espanya de Barcelona. Em outubro de 1921 o Casa Pia visitou Sevilha, com o objetivo de apadrinhar o campo dos sevilhanos. Factos que enalteciam ainda mais o prestígio que os gansos tinham já conquistado com poucos meses de existência. Para a história do Casa Pia, e do próprio futebol luso, aqui ficam os nomes dos heróis que defenderam o mando sagrado casapiano na temporada de 20/21 e que conquistaram tudo o que havia para ganhar em termos oficiais: Clemente Guerra, António Pinho, Alberto Nunes, José Gomes dos Santos, Cândido de Oliveira, Gouveia, Álvaro Gralha, António Lopes, Silvestre Rosmaninho, José Almeida, Alberto Loureiro, José Maria Gralha, Ângelo de Araújo, e Lopes Loureiro. Cândido de Oliveira  e Silvestre Rosmaninho foram os melhores marcadores da equipa nesta temporada, com sete tentos cada um deles.  

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