O conto
de fadas do futebol da República da Irlanda no plano internacional aconteceu no
âmbito da Taça das Regiões da UEFA. Estávamos em 2015 quando a cidade de Dublin
foi palco da 9.ª edição do certame, a qual coroou uma caminhada inolvidável da
seleção regional da Eastern Region, que começou na fase intermédia (de qualificação
para a fase final) e acabou na final realizada no Estádio Tallaght, na capital
irlandesa. Ao longo deste trajeto a equipa da Irlanda somente conheceu o doce
sabor da vitória, sete triunfos no total – quatro deles na fase final –, apontando 18
golos e sofrendo apenas 3, números que fazem desta uma das epopeias mais
empolgantes destes 25 anos de história da prova uefeira. Após terem perdido a
final de 2011 para a Associação de Futebol de Braga, os irlandeses queriam desta feita chegar
mais longe, de tal modo que a seleção regional irlandesa realizou desde então
um trabalho árduo para erguer o troféu no futuro imediato, como contou o
treinador Gerry Smith no rescaldo desta conquista. E para atingir a grande final
a seleção da Eastern Region levou a melhor sobre os combinados de Ankara
(Turquia), de South Moravia (República Checa) e de Tuzla (Bósnia). No encontro
decisivo o opositor dos pupilos de Smith foi a seleção regional de Zagreb, da
Croácia, que se apresentava no Tallaght
Stadium sem o seu principal jogador, Bozidar Karamatic, que começou a partida no banco, aparentemente por não se
encontrar nas melhores condições físicas. No entanto, os rapazes de verde (os irlandeses)
entraram no relvado cheios de confiança, não só porque jogavam diante do seu
público, mas acima de tudo pelo trajeto imaculado que tinham feito até ali. Só
a vitória estava no seu pensamento.
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Entrada para a final de Dublin |
Porém, foi com algum nervosismo que a turma
de Eastern Region começou o encontro, e logo aos 3 minutos apanhou um valente
susto quando o croata Nikica Brujic disparou um míssil que levou a bola a não passar muito longe da baliza à guarda
de Brendan O'Connell. Com o passar do tempo os irlandeses foram acalmando o seu
jogo, foram tendo a posse de bola, ante uma seleção de Zagreb que apresentava
um futebol muito físico. E foi neste cenário que aos 9 minutos o Estádio
Tallaght explodiu de alegria, quando James Lee fez um cruzamento do lado
direito do seu ataque para o coração da área, onde apareceu David Lacey a
mergulhar de cabeça e a fazer um golo muito vistoso, um golo que fez lembrar o
que o neerlandês Van Persie havia marcado no Mundial de 2014 ante a Espanha. Empolgados
pelo tento, os irlandeses dispuseram de mais chances para marcar nos minutos
seguintes, tendo James Lee desperdiçado uma oportunidade soberana ainda antes
do intervalo. Os croatas vieram com outra atitude para a segunda metade, muito
devido a decisão do selecionador Sreten Cuk em fazer entrar – ao minuto 57 – a principal
estrela da seleção, o organizador de jogo Bozidar Karamatic. A sua influência
no futebol dos croatas fez-se notar de imediato. Porém, Zagreb não conseguia
criar situações de maior perigo junto da baliza de O´Connell, e muito devido à
excelente prestação do setor mais recuado dos anfitriões. Na verdade, foram
estes últimos que dispuseram das melhores ocasiões para marcar nos segundos 45
minutos. Thomas Dunne, James Carr, Lar Dunne foram os irlandeses que tiveram
nos pés claras chances para acabar com as esperanças dos croatas em dar a volta
aos acontecimentos. Apoiada fortemente pelo público, a equipa de Gerry Smith
ganhou ainda mais força à medida que o tempo passava, força e certeza de que dificilmente
aquele título lhe escaparia. E assim foi. Quando apito do helvético Nikolaj Hanni
soou pela última vez naquela tarde 4 de julho em Dublin, estava escrito o
momento de glória do futebol da República da Irlanda no capítulo internacional.
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Kenneth Hoey |
Para o técnico Gerry Smith esta havia sido a «a melhor semana da minha vida
futebolística. Esta vitória é para todos os envolvidos (nesta caminhada). Os
jogadores, os dirigentes das equipas de todo o país, as pessoas que marcam os
campos e que penduram as redes das balizas, as pessoas que apoiam as suas
equipas locais, isto é para eles, e estou emocionado por todos aqueles que
estiveram envolvidos nesta caminhada e que podem festejar este sucesso». Na
hora de comemorar também o defesa Noel Murray não escondeu a sua emoção por
esta importante conquista: «Inacreditável, simplesmente inacreditável! Foi um trabalho
muito duro realizado durante toda a semana (da fase final), foi um grande
esforço dos jogadores e isso faz com que tudo valha a pena», disse o
futebolista. Também o capitão desta seleção regional viveu um momento ímpar na
sua carreira. Para Kenneth Hoey este foi «um resultado brilhante, o melhor que
já alcancei. É uma honra ser capitão desta equipa, mas há muitos capitães
naquele balneário», disse logo após erguer o primeiro troféu do futebol
irlandês, ele que em 2011 havia sentido em Barcelos o amargo de perder a final
da UEFA Regions Cup.Vingança croata serviu-se na Turquia
Em 2017
Portugal volta a participar na fase final da Taça das Regiões da UEFA, desta
feita pela Associação de Futebol de Lisboa, que assim se torna na terceira associação
a representar a nação lusa na fase decisiva da competição. Depois de um ano
antes se ter sagrado campeã nacional da Taça das Regiões, a seleção lisboeta
superou uma fase intermédia realizada na Polónia, na cidade de Legnica, em
setembro de 2016, garantindo desta forma a qualificação para a fase final, um
feito que não passou despercebido à Câmara Municipal de Lisboa, que homenageou
a comitiva no regresso do leste da Europa. A fase final da UEFA Regions Cup de 2017 aconteceu em Istambul, na Turquia, tendo a
turma lisboeta sentido o profissionalismo que a UEFA aplica nesta competição de
futebol não profissional, e a prova disso é que a comitiva lusa ficou hospedada
no moderno Complexo Desportivo da Federação Turca de Futebol. A competição em
si não correu de feição à seleção regional portuguesa, comandada por Marco
Guerreiro, já que não foi além de um 3.º lugar no Grupo A, fruto de três
empates, um dos quais contra os futuros campeões do torneio, a seleção regional
de Zagreb. As exibições da seleção da Associação de Futebol de Lisboa na fase final
mereceram, porém, alguns elogios por parte da imprensa local e dos seus
adversários diretos. E seria
então no Complexo Desportivo da Federação Turca de Futebol que se realizou a
final da 10.ª edição da competição, um jogo cujo desfecho soube a… vingança. Ou
seja, a seleção de Zagreb vingou a derrota na edição anterior ante a seleção
irlandesa da Eastern Region contra a… seleção irlandesa da Munster/Connacht. O
momento chave da final aconteceu ao minuto 26, quando Toni Adzic fez o único
tento do jogo que assegurou a vitória final à seleção croata. Zagreb tornou-se assim
na primeira equipa da Croácia a vencer esta competição.Polacos do Dolny Slask bisam na final dos cinco
penáltis
Depois de
Veneto, em 2013, foi a vez da seleção regional polaca de Dolny Slask vencer a
competição pela segunda vez na história. Corria o ano de 2019, quando a região
da Baviera, na Alemanha, acolheu a fase final da prova. A seleção da casa
chegou à final, o que desde logo se constituiu como um feito histórico, já que
até então nenhuma seleção regional germânica o havia conseguido, mas os polacos
estragaram a festa numa final insólita. E porquê assim o foi? Porque todos os
cinco golos do jogo que iria definir o campeão da 11.ª edição da competição
foram apontados da marca de grande penalidade! Não há memória de uma final
europeia assim, de facto. O primeiro golo foi para a turma da casa, por
intermédio de Ugur Turk, aos 35 minutos. A seleção de Dolny Slask correu então
atrás do prejuízo, e o empate chegou em cima do intervalo, novamente na
cobrança de um castigo máximo. O primeiro remate de Mateusz Jaros foi defendido
pelo guardião da casa, mas na recarga o polaco atirou a contar. Ainda antes do
intervalo o guarda-redes da casa fez uma defesa espetacular que evitou novo
tento dos forasteiros, mas aos 47 minutos da segunda metade nada pôde fazer
quando o árbitro romeno Sebastian Coltescu assinalou o terceiro penálti da
tarde no relvado da Wacker-Arena, em Burghausen. Kornel Traczyk não perdoou e
fez o 2-1 para a seleção polaca, de nada valendo a estirada do guardião alemão,
que adivinhou o lado para onde foi a bola. A tarefa dos alemães, que até
começaram esta final por cima, fruto de uma maior iniciativa ofensiva, ficou
mais complicada à passagem do minuto 70, quando Michael Kraus viu o segundo
cartão amarelo e foi expulso. Com mais um jogador em campo, os polacos deram a
machadada final aos 80 minutos, altura em que Bohdanowicz fez o 3-1. Os donos da casa
lutaram com todas as suas armas para chegar de novo ao golo, tendo sido
premiados em cima dos 90 minutos com um novo penálti, o qual seria convertido
por Lukas Igrund. De nada valeu este golo, já que pela segunda vez na história
a seleção de Dolny Slask levava para casa a taça.
Euforia nas Rias Baixas galegas
2020 fica
para a história como o ano em que o Mundo foi assombrado por uma pandemia:
a Covid-19. Em poucos meses, o vírus espalhou-se por todo o planeta, infetou
mais de 75 milhões de pessoas e causou impactos negativos em todos os setores. Naturalmente
que o desporto também foi e muito afetado pelo efeito da Covid-19. Foram vários
os grandes eventos desportivos cancelados, ou adiados, um pouco por todo o
Mundo devido ao surto do
novo coronavírus. Também a Taça das Regiões da UEFA foi vítima do novo
coronavírus, tendo a sua edição de 2021 sido cancelada por força da pandemia.
Desta forma, só em 2023 o certame voltou à ribalta, desta feita na região da
Galiza, em Espanha. E pela sexta ocasião em 25 anos de história da competição,
a taça voltava a ficar em casa, isto é, conquistada pela seleção anfitriã. O título coroou uma seleção que irá, por certo, ficar na história do
futebol desta região do norte de Espanha, já que a equipa orientada por Iván
Cancela concluiu em Vilagarcía de Arousa, localidade que acolheu a final, um
trajeto 100 por centro vitorioso de… quatro anos. Por outras palavras, a turma
galega não conheceu a derrota ao longo de quatro anos consecutivos. A fase
final da 12.ª edição do certame foi a todos os níveis espetacular, desde o
futebol desenvolvido pelas oito seleções presentes, como de igual modo pela excelente
organização.
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Golo da Galiza contra a equipa bósnia |
A seleção da Galiza integrou o Grupo A, tendo no primeiro
encontro, realizado em Cambados, derrotado os seus congéneres dos Irlandeses
Amadores por 2-0. Aos 9 minutos Iñaki Martínez marcou o primeiro golo da tarde,
sendo que em cima do minuto 90 Joni Magisano selou o marcador. Na 2.ª jornada
da fase de grupos apareceu aquele que foi um dos grandes destaques da seleção
galega na competição, Álex Rey. Ante os bósnios da região de Zenica-Doboj, num
encontro ocorrido no Campo de Baltar, em Sanxenxo, Rey fez o primeiro golo da
sua seleção aos 24 minutos, após um cruzamento vindo do lado direito dos pés de Félix
Rial. Na segunda metade, ao minuto 50, foi a vez de Rey devolver a gentileza, e
também ele efetuar uma assistência para o seu colega de equipa, Adrián Otero,
de cabeça, fazer o 2-0. Aos 69 minutos, Subasic reduziu desvantagens no
marcador, na sequência de um golo olímpico (!) que fechava o marcador em 2-1 a
favor dos galegos. E na derradeira ronda da fase de grupos assistiu-se no Campo
Municipal de A Lomba, em Vilagarcía de Arousa, a uma autêntica final entre
Galiza e os alemães da Baviera, que também haviam triunfado nas duas primeiras
jornadas. Quem vencesse passaria à final. Assistiu-se a um jogo de nervos,
angustiante, entre duas equipas que provaram que mereciam estar no encontro
decisivo. Foi mais feliz, ou eficaz, a equipa da casa, que embalada pela
pressão inicial que fez sobre o combinado germânico chegou ao golo. E por
intermédio de quem? Álex Rey, pois claro. Uma falta no interior da área da
seleção da Baviera não deixou dúvidas ao árbitro finlandês, Antti Munukka, que
de pronto assinalou o castigo máximo. Estavam apenas decorridos 7 minutos, e na
conversão Rey atirou forte e rasteiro , fazendo um golo que seria decisivo nas contas finais do
grupo. Tudo porque os galegos seguraram a magra vantagem até final, e
asseguraram dessa forma a passagem ao encontro final da competição, onde
iriam ter pela frente a surpreendente seleção de Belgrado. O conjunto sérvio
não era tido como favorito à passagem à final, já que esteve integrado num
grupo (B) que tinha as fortes seleções da Associação de Futebol de Lisboa e os
campeões em título, os polacos do Dolny Slask. O próprio selecionador sérvio, Goran
Jankovic, afirmou na antecâmara da final que «se antes do torneio alguém nos
dissesse que iríamos jogar a final ficaríamos satisfeitos. Mas… agora queremos mais».
Pois é, já que contra os prognósticos iniciais ali estavam, porque não levar o
troféu para casa? Porém, os sérvios estavam conscientes das dificuldades que
iriam encontrar, a julgar pelas palavras do seu treinador: «Sabemos que os
galegos são muito bons. Jogaram o melhor futebol da fase de grupos, pelo que a
final vai ser um jogo muito duro para nós».
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Álex Rey festeja com os adeptos na final |
E no dia 17 de junho o Campo
Municipal de A Lomba registou uma boa afluência para presenciar um capítulo histórico
para o futebol galego. Aliás, desde logo a assistência da final entrou para a
história da UEFA Regions Cup, já que
com 4085 espetadores nas bancadas esta foi a final com maior número de público
presente. Público que do princípio ao fim não se poupou a esforços no apoio à
seleção galega. Assistiu-se a uma final intensa, com a Galiza a entrar a todo o
gás e logo ao minuto 9 um passe longo desde o meio campo efetuado por Iñaki
Martínez foi parar aos pés de Félix Rial, que solto de marcação só teve de
contornar o guarda-redes sérvio e fazer o primeiro tento da tarde. Aos 40
minutos, Álex Rey dispara um forte remate de fora de área, tendo a bola sido
travada por Krstovic com a mão. Grande penalidade assinalada e cartão vermelho
para o jogador sérvio. Na conversão, Rey, que então representava o Rápido de Bouzas,
atirou a bola para o lado contrário do guarda-redes, ampliando a vantagem com
que se atingiu o intervalo. Belgrado
esteve longe de se dar por vencido, e a prova disso foi a forma astuta com que
entrou na segunda metade da final. Aos 57 minutos, uma jogada iniciada no
guarda-redes forasteiro foi concluída por Kolarevic, que no interior da área
tirou dois defesas galegos do caminho para fazer o 2-1 que relançou a partida. Até
que aos 74 minutos uma bela jogada de combinação do ataque galego permitiu a
Lorenzo tirar um cruzamento tenso do lado direito do seu ataque para o poste
mais distante da baliza sérvia. Ali, estava solto de marcação Iñaki Martínez, que
com um remate cruzado fez o 3-1 final e assegurou a conquista da terceira Taça
das Regiões da UEFA para o futebol espanhol.E assim chega ao fim esta nossa viagem pela história desta competição.
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