quinta-feira, junho 06, 2024

Histórias do Planeta da Bola (31)... UEFA Regions Cup – 25 anos do esplendor inocente do futebol amador europeu (parte II)

Em 2007 a seleção da região Sudoeste-Sofia tornou-se na primeira e única equipa até à data a perder duas finais consecutivas da Taça das Regiões da UEFA. Desta feita, o combinado búlgaro sucumbiu diante do seu público, em Sliven Kolyo Milev, cujo presidente da câmara era uma das maiores lendas do futebol da Bulgária: Yordan Letchkov. Esse mesmo, o médio calvo que integrou aquela que para muitos é a melhor seleção de sempre daquele país, a equipa que espantou o Mundo ao conquistar o 4.º lugar no Campeonato do Mundo de 1994. E em Sliven Kolyo Milev quem faria a festa seria a seleção regional de Dolny Slask, o representante da Polónia nesta 5.ª edição da fase final da UEFA Regions Cup, onde pela segunda vez participava uma equipa portuguesa, no caso a seleção da Associação de Futebol de Aveiro. Integrada no Grupo B a turma lusa só seria batida pelos futuros campeões, o Dolny Slask, que somente perdeu pontos ante os portugueses. E na grande final, realizada no Estádio Hadzhi Dimitar, diante de 3500 espetadores, número recorde até então no que diz respeito a uma final da prova, os búlgaros foram ao delírio quando Plamen Stoyanov colocou a seleção da casa em vantagem aos 66 minutos. 

Esta foi na verdade uma das finais mais dramáticas e ao mesmo tempo emotivas destes 25 anos de história da competição. Quando o público da casa já festejava nas bancadas a vitória da seleção da região Sudoeste-Sofia, eis que um balde de água fria caiu sobre eles a sensivelmente 10 minutos do fim.

Arkadiusz Piech
Altura em que na conversão de um livre apontado a uma distância considerável da baliza, Michal Sudol empata a partida para desespero dos búlgaros. Foi então necessário jogar-se mais 30 minutos de futebol extra, e a 6 minutos dos 120 novo balde de água gelada sobre os anfitriões, quando Szymon Jaskulowski, um estudante de 22 anos, que havia começado o encontro no banco, marcou o tento da vitória e do título.

A fase final desta edição da Taça das Regiões seria então considerada pela UEFA como a melhor de sempre, até então, a julgar pelas palavras de Jim Boyce, o então vice-presidente da UEFA para o futebol juvenil e amador. Já aqui frisamos que esta competição é disputada por futebolistas não profissionais, ou que sejam semi-profissionais, mas isso não quer dizer que muitos deles não alcancem no futuro a profissionalização no futebol. E a seleção regional Dolny Slask é um bom exemplo disso, já que dois dos jogadores que venceram esta Taça das Regiões lograriam chegar à seleção principal do seu país e a jogar na 1.ª divisão da Polónia. Foram os casos de Arkadiusz Piech e Janusz Gol, que também se aventuraram no futebol internacional, ao competirem ao mais alto nível nos campeonatos da Turquia, do Chipre – no caso de Piech – e da Rússia – no que diz respeito a Gol.

Castilla e León resgata a taça para Espanha

Berço de notáveis futebolistas/treinadores espanhóis, casos Paco Llorente, Vicente Del Bosque, Juan Mata, entre outros profissionais de relevo, a região de Castilla e León levou em 2009 para Espanha pela segunda vez o título de campeão da Europa de futebol amador. Feito alcançado debaixo do sol tórrido da Croácia, mais concretamente na região de Zagreb. No entanto, a seleção regional da casa esteve muito longe de colocar a mão na taça, já que não foi além do 3.º lugar do Grupo A da fase final, ficando a 3 pontos do vencedor do grupo, os romenos da região de Oltenia. Em termos mais precisos, a seleção regional da Roménia derrotou a seleção de Privolzhie (Rússia) por 2-0, com golos de Mirel Sârbu e Adrian Marinescu, e a região de Bratislava (Eslováquia) pelo mesmo resultado, com golos de Bogdan Preda e Mirel Sarbu. No último jogo, os romenos empataram com a equipa da casa a uma bola, sendo que o tento da região de Oltenia foi apontado por Alin Vacaru. Por seu turno, a seleção de Castilla e León teve uma fase de grupos imaculada, isto é, só com vitórias, sobre os representantes da Bósnia (Gradiaka), da República da Irlanda (Region I) e da Bélgica (Kempen). Neste trajeto invicto os espanhóis apenas sofreram um golo, apontado pela equipa belga, e marcaram sete tentos. Chegados à final, realizada no Estádio do NK Inter de Zapresic, os dois combinados realizaram uma primeira parte onde imperou o futebol rápido e vertical praticado por ambos os lados. Nota de rodapé para dizer que após uma fase de grupos disputada sob intenso calor, a final foi realizada debaixo de pequenos chuviscos! Mas voltando ao encontro, seria no seguimento de uma bola dividida que aos 18 minutos António Ramirez apontou o primeiro tento dos espanhóis, após boa jogada de entendimento com o seu companheiro Alonso. Empolgada pelo golo, a seleção de Castiila e León assumiu as despesas do jogo e partiu para cima do adversário em busca de mais. Porém, aos 25 minutos, Adrian Sirbu, repôs a igualdade na sequência de um cabeceamento que apanhou desprevenido o guardião Álex. A seleção regional espanhola continuou num registo sólido na segunda metade, período este onde as duas equipas foram em busca de um novo golo de forma persistentes. Neste aspeto, foi mais eficaz a seleção de Castilla e León que aos 80 minutos chegou ao 2-1, na marcação de um livre apontado por Mato, tendo na sequência do lance Mirel Adrian Sirbu rematado com êxito para o fundo das redes de Alexandra Popescu.

De Braga a Barcelos se fez o trajeto da glória portuguesa


O futebol português também guarda boas recordações da Taça das Regiões da UEFA. Corria o ano de 2011 quando a região do Minho acolhe a fase final da 7.ª edição do certame, fruto da qualificação da Associação de Futebol de Braga para a ronda final. E foi a jogar em casa, na sua região, que a seleção distrital bracarense alcançou a glória, o título de campeão, o único até à data do futebol luso no âmbito das Bodas de Prata da competição uefeira. Sobre esta conquista já traçámos noutras viagens ao passado longas linhas, pelo que aqui vamos recordar somente as incidências finais desta caminhada de glória de uma seleção que era orientada sob o ponto de vista técnico pelo malogrado Dito. 
Integrada no Grupo A da fase final a turma bracarense teve um trajeto imaculado, isto é, 100 por cento vitorioso, que começou com um triunfo por 3-1 no Estádio 1.º de Maio (em Braga) sobre os checos do Zlin por 3-1, com golos de Hugo Veiga, Diogo Leite e João Silva.

Imagens da final, em Barcelos
O passo seguinte rumo à desejada final foi dado em Barcelos, altura em que os portugueses derrubaram a muralha ucraniana do Yednyst Plysky. A seleção da Associação de Futebol de Braga ainda apanhou um susto, quando logo aos 10 minutos os homens de leste colocaram-se em vantagem por intermédio de Babor. Contudo, a veia goleadora de José Ferreira (22 minutos) e Daniel Simões (59 minutos) e a inspiração do guarda-redes Simão Barbosa (defendeu uma grande penalidade) operaram a reviravolta no marcador e asseguraram mais um triunfo aos pupilos de Dito. E seria em Vila Verde que a seleção bracarense iria assegurar matematicamente a passagem à final na sequência de uma nova e concludente vitória por 3-1 sobre a seleção distrital de Wurttemberg (Alemanha), com o destaque individual a ir para José Ferreira, autor de dois golos (37 e 88 minutos), cabendo a Pedro Nobre (no período de compensação da primeira parte) apontar o outro tento luso. E assim estava alcançada a final. Jogo decisivo onde os bracarenses iriam ter pela frente o vencedor do Grupo B, os irlandeses da região de Leinster & Munster, que haviam levado a melhor sobre a concorrência composta pelos combinados distritais de Belgrado (Sérvia), Ankara (Turquia) e Região Sul da Rússia. Os dois vencedores da fase de grupos encontraram-se no Estádio Cidade de Barcelos, ao final da tarde de 28 de junho, tendo disputado um jogo intenso que terminou com o triunfo português por 2-1. No entanto, a seleção da Associação de Futebol de Braga teve de sofrer para colocar as mãos na taça. Os irlandeses até criaram o primeiro lance digno de registo na partida, quando logo aos 3 minutos Laurence Dunne enviou uma bola à trave da baliza de Rui Vieira. Após este susto inicial, os portugueses equilibraram um encontro onde o nervosismo (muitos passes errados de parte a parte) imperou na primeira meia hora. A Associação de Futebol de Braga teve a sua primeira oportunidade golo somente ao minuto 33, quando uma bela incursão pelo flanco direito do lateral João Silva só foi travada por uma magnífica defesa do guarda-redes Brendan O'Connell. Este lance animou o combinado luso, que até ao intervalo voltaria a ter uma nova e flagrante oportunidade de golo por intermédio de Luís Ribeiro. Valeram mais uma vez os excelentes reflexos de O'Connell. A segunda parte iniciou-se tal como a primeira, ou seja, com a equipa de Leinster & Munster a levar perigo à baliza bracarense na sequência de um perigoso cabeceamento de

Bracarenses fazem a festa
David Lacey, tendo o golo sido evitado graças a uma magnífica intervenção de Rui Vieira. Era agora a vez do guardião luso mostrar os seus atributos. Entretanto, Dito mexe no seu xadrez, colocando em campo Renato Reis (no lugar de Luís Ribeiro) e eis que à passagem do minuto 62 a (maior) qualidade técnica dos portugueses veio ao de cima com um grande golo de Pedro Nobre. O avançado captou a bola na entrada da área irlandesa, dominou-a com arte e engenho e dali mesmo, de fora de área, encheu o pé (direito) para enviar o esférico direitinho para o fundo das redes de O'Connell, que mais não fez do que assistir impotente ao grande golo bracarense. Por norma, os irlandeses são um povo que dificilmente atiram a toalha ao chão perante o primeiro obstáculo encontrado e em Barcelos a garra irlandesa veio ao de cima praticamente logo a seguir ao golo português. Uma defesa incompleta de Rui Vieira (a remate de Ray Whelehan) permitiu a David O'Sullivan fazer a recarga vitoriosa e restabelecer assim a igualdade. A partida estava frenética. As equipas aumentaram a intensidade do seu futebol em busca do golo da vitória. E eis que numa altura em que já cheirava a prolongamento (corria o minuto 84) um golpe de sorte (ou não) protagonizado por José Fortunato deu a vitória e o inédito título à seleção de Braga... e ao futebol português. Fortunato cruzou a bola na direita do seu ataque... diretamente para o fundo da baliza, fazendo o 2-1 final. A festa, naturalmente, que invadiu o relvado do Estádio Cidade de Barcelos assim que o norueguês Ken Henry Johnson apitou pela última vez naquela tarde de glória do futebol nacional.

Veneto bisa na casa de partida

Em 2013 a Taça das Regiões da UEFA voltou à sua casa de partida: a região de Veneto. E tal como em 1999, aquando da primeira edição, tudo terminou da mesma forma, isto é, com a seleção regional de Veneto a ficar com a taça na sua posse, entrando desde logo para a história da competição pelo facto de pela primeira vez uma seleção distrital ter-se sagrado campeã da Europa de futebol amador pela segunda ocasião. Depois de vencer o Grupo A da fase final de forma invicta, a seleção regional transalpina avançou para a final, onde tal como em 99 a esperava uma equipa vinda de Espanha, neste caso a seleção da Catalunha. Disputada tal como na primeira edição no Stadio Comunale delle Terme, em Abano, a final, com arbitragem portuguesa, a cargo de Artur Soares Dias, seria decidida nas grandes penalidades, após um nulo no final dos 120 minutos. Em termos mais precisos, assistiu-se a uma primeira parte marcada pelo equilíbrio entre duas seleções que apresentaram em campo o mesmo esquema tático: 4-3-3. A jogar em casa o conjunto italiano entrou melhor no que toca à ambição de chegar ao golo, já que logo no primeiro minuto Gasparato errou o alvo por pouco. Aos 7 minutos os catalães apareceram pela primeira vez com algum perigo junto da baliza à guarda de De Carli, com Cornella a falhar o golo na cobrança de uma falta. À passagem do quarto de hora os donos da casa fazem uma nova incursão perigosa no ataque, mas o remate de Meda é travado com atenção pelo guarda-redes Carlos Miguel. A seleção catalã só consegue colocar em sentido a defesa transalpina através de lances de bola parada, sendo que numa dessas ocasiões Cornella volta a colocar à prova De Carli, corria o minuto 29. O equilíbrio foi de novo a nota dominante na maioria da segunda parte. Aos 48 minutos, De Carli foi o primeiro guarda-redes chamado a intervir, após um belo remate do catalão Garros. Pouco depois, o Veneto cria aquela que pode ser considerada a primeira grande oportunidade do encontro, quando Furlan rematou à trave da baliza catalã. A equipa orientada pelo técnico Toniutto cresceu no jogo, e aos 53 minutos uma nova tentativa de Furlan é travada desta feita pelo guardião Carlos Miguel. Três minutos volvidos é a vez da Catalunha responder, com Pol a obrigar De Carli a defesa apertada. O jogo entrou num ritmo de parada e resposta, com mais um par oportunidades claras até final dos 90 minutos a surgirem de um lado e do outro. No prolongamento assiste-se a um jogo morno, um pouco desinteressante, sem lances de maior emoção. A única nota de relevo deu-se aos 106 minutos, altura em que o italiano Mantovani recebe ordem de expulsão de Artur Soares Dias. E com 0-0 no marcador a decisão foi para penaltis. E na marca dos 11 metros a seleção de Veneto foi mais competente e venceu por 5-4 - Lorenzatti, Vettoretto, Polonese, Gasparato e Gagno marcaram para os italianos, e Vivo falhou a grande penalidade decisiva para os catalães, depois dos seus colegas de equipa, Gallego, Puerto, Puigoriol e Munta, terem convertido com êxito os seus remates.

(continua)

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