"Há
imagens que valem mais do que mil palavras!". Um cliché para muitos, enquanto que para outros ajuda a caracterizar
os génios da arte de fotografar, os prodígios da arte de captar e eternizar um
momento numa simples imagem.
O
desporto, e o futebol em particular, devem muito aos homens que de máquina
fotográfica na mão eternizaram momentos que ajudaram a escrever a História. E
sem imagens provavelmente essa História não seria tão nítida e bela como é. É
pois de elementar justiça incluir nesta vitrina virtual dedicada aos
jornalistas desportivos aqueles que os ajudaram (aos ilustres homens da pena) a
complementar (através da imagem) as prosas jornalísticas que legaram ao Mundo.
Falamos dos fotojornalistas, neste caso em concreto, nos criadores de
"bonecos da bola". E Portugal ao longo da sua História teve grandes
vultos do fotojornalismo desportivo. Caso de Fernando Marques, um
fotojornalista... Formidável.
Pois,
assim era popularmente conhecido este cidadão nascido em Coimbra a 20 de
setembro de 1911 e cuja objetiva captou não só inúmeros momentos históricos do
nosso futebol como também deixou à cidade que o viu nascer - e morrer, em 1996
- um manancial de fotografias que mostram esta bela localidade ao longo de mais
de meio século.
Em
Coimbra não só nasceu e morreu, mas também trabalhou, como vendedor de lotaria,
profissão que desempenhou a par da atividade que o tornou célebre: a de um
fotojornalista genial.
Em
Coimbra residia uma das suas grandes paixões no que ao desporto dizia respeito,
a Académica. As outras duas eram o Benfica e a seleção Nacional. À boleia
destas duas últimas "instituições" percorreu o Mundo, sempre com a
sua máquina fotográfica na mão para captar o momentos, ou os momentos que
marcaram a História do Benfica e da seleção. Talvez ao "serviço"
desta viveu o momento alto da sua longínqua carreira. Estávamos em 1966 e
Portugal participava pela primeira vez num Campeonato do Mundo. O Formidável
partiu nesta aventura juntamente com os Magriços, sozinho, como tantas vezes o
fez ao longo de décadas por esse Mundo fora. Em Inglaterra captou e eternizou
com a sua objetiva a saga de Eusébio e companhia, e quem não se lembra da
mítica imagem do Pantera Negra a deixar o relvado do Wembley em lágrimas após a
eliminação da Seleção de Todos Nós
aos pés dos ingleses enquanto era confortado pelo admirável Formidável? Essa
fotografia, célebre, foi tirada por outro ícone do fotojornalismo desportivo
nacional, de seu nome Nuno Ferrari. Uma imagem que captou não só a tristeza
profunda daquele que talvez era o jogador mais virtuoso daquela lendária
seleção de 66, mas igualmente o ser humano excecional que era o Formidável.
Com
a seleção esteve ainda noutros dois grandes momentos, o Euro 84 e o Mundial de
86. Os seus trabalhos estão perpetuados nas páginas de jornais como a "A
Bola", "Record", "Diário de Notícias", "Jornal de
Notícias" e "Diário de Coimbra", entre outros com os quais
colaborou. Figura mítica de Coimbra ele é ainda hoje o único cidadão que não
tendo sido nem jogador de futebol, nem treinador, nem dirigente desportivo, é
sócio de mérito da Associação de Futebol de Coimbra. Formidável era a sua
alcunha desde novo pelo facto de rotular qualquer coisa à qual se referia como
"formidável", mas também pelo legado fotográfico que nos deixou e pela
pessoa que era.
A
ele, Manuel Alegre escreveu e dedicou este poema:
Foi visto em Wembley
a consolar Eusébio.
Também a nós muitas
vezes nos consolou
Viu-nos nascer
viu-nos partir viu-nos voltar
Muitas vezes até nos
viu morrer
Marcou connosco os
nossos golos
Chorou connosco as
nossas lágrimas
Meteu o coração
dentro da máquina
Trabalha sem rolo.
Quem sabe o que
retrata?
Há uma cidade que só
ele vê
E é mais certo que só
ele capta
O insondável.
Fotógrafo de Coimbra
ele é
O Formidável.
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