Cartaz oficial do Campeonato Sul-Americano de 1919 |
Uma imagem da bela cidade do Rio de Janeiro em 1919 |
Lance da expressiva goleada do Brasil diante do Chile, no jogo de abertura da Copa |
Isabelino Gradín, a estrela do futebol sul-americano da segunda década do século XX |
O azarado Roberto Chery |
A sua morte provocou uma onda de solidariedade entre brasileiros e uruguaios para com a família de Chery, sendo que no dia 1 de junho desse ano de 1919 as duas seleções disputaram a Copa Roberto Chery, cuja receita proveniente desse amigável seria não apenas para a família do jogador mas igualmente para custear todas as despesas na trasladação do seu corpo para Montevideo.
Fase do Brasil-Argentina, jogo em que a equipa da casa deu show de bola! |
A seleção da Argentina que marcou presença no Rio de Janeiro |
Lance do primeiro jogo entre brasileiros e uruguaios |
Neco |
Friedenreich atormenta a defesa charrúa no jogo de desempate do campeonato |
A Figura: Arthur Friedenreich
El Tigre Friedenreich |
Como já referimos foi a primeira grande estrela do futebol brasileiro numa época em que o belo jogo era ainda puramente amador. Aprendeu a jogar à bola com uma bexiga de boi, pouco tempo depois de Charles Miller ter chegado ao Brasil (em 1894) com uma bola de futebol na bagagem, uma novidade para um país que com o passar dos anos se haveria de tornar na maior potência do futebol mundial.
Fried (diminutivo pelo qual também era conhecido) começou a jogar futebol na sua cidade natal, São Paulo, mais
precisamente no Germânia, passando depois para clubes como o Mackenzie,
Ipiranga, Paulistano, São Paulo da Floresta, Payssandu, Atlético
Santista, Internacional, Santos, Dois de Julho, Americano e Flamengo.
Começou a destacar-se pela
imaginação, técnica, estilo e pela capacidade de improvisar. Em 1919 foi
apelidado pelos uruguaios de El Tigre por ter encantado as multidões
com o seu futebol arte na Copa América que nesse ano foi conquistada
precisamente pelo Brasil comandado por Friedenreich.
Jogava como avançado-centro,
e foi o inventor de novas e belas jogadas no na altura jovem futebol
brasileiro, como o drible curto e a finta de corpo.
Foi campeão paulista em sete
ocasiões, seis das quais ao serviço do Paulistano, e outra pelo São
Paulo da Floresta (clube que anos mais tarde se viria a chamar São Paulo
FC). Por oito vezes foi o melhor marcador do campeonato paulista, a
maior parte delas envergando as cores do Paulistano.
Era considerado pelos
cronistas da altura como um jogador inteligente dentro de campo, e
talvez tenha sido o jogador mais objetivo da sua época. Parecia
conhecer todos os segredos do futebol e sabia quando e como ia marcar um
golo.
O equipamento usado pela seleção brasileira em 1919 |
No ano de 1925, regressou da
Europa (após uma digressão com o Paulistano) catalogado como um dos
melhores jogadores do Mundo, depois de vencer por este clube nove dos
dez jogos aí disputados.
Um dos seus mais incríveis
feitos ocorreu em 1928, ano em que fez sete golos num único jogo diante
do União da Lapa, batendo o recorde da época. Nesse jogo actuava pelo
Paulistano e o resultado final foi de 9-0. Terminou a sua carreira no
Flamengo, em Julho de 1935, com 43 anos de idade. Depois de abandonar os
relvados, viveu na pobreza um bom tempo até morrer no dia 6 de Setembro
de 1969, numa casa cedida pelo São Paulo.
Friedenreich vestiu pela
primeira vez a camisola da seleção do Brasil em 1912, num jogo amigável
contra uma seleção paulista, realizado no Rio de Janeiro. O escrete brasileiro venceu por 7-0, com dois golos de Fried.
A sua despedida aconteceu em
1935, num jogo contra o River Plate, a 23 de Fevereiro, o qual o Brasil
ganhou por 2-1. Friendenreich fez pela seleção principal 23 jogos e
marcou 12 golos. Já na seleção de veteranos, em 1935, disputou 2 jogos e
marcou 2 golos.
A sua conquista mais importante com a camisola do Brasil foi, como já vimos, a conquista da Copa América de 1919.
Sobre a sua figura há uma dúvida que ainda hoje paira no
ar, ou seja, será ele o maior goleador de
todos os tempos? Há quem diga que sim e há quem diga que não. Uma
dúvida que infelizmente não pode ser desfeita, já que existem poucos, ou
mesmo nenhuns, dados que provem que Fried tem mais golos do que Pelé,
que é, como se sabe, oficialmente considerado pela FIFA como o jogador
que fez mais golos na história do futebol. Reza a lenda que El Tigre terá marcado 1239 golos. Sobre si escreveram-se vários livros, mas há um que retrata na perfeição o momento histórico vivido naquele dia 29 de maio de 1919, o momento em Fried oferece o primeiro título ao seu país. É esse excerto do livro As Origens do Tigre do Futebol (da autoria de Alexandre da Costa) que passamos a transcrever.
A caricatura de El Tigre |
Em 26
anos de carreira, a grande alegria de Fried foi aquele campeonato
sul-americano, realizado no Rio de Janeiro, em 1919. Perdoado pela CBD, ele era
a principal esperança da seleção brasileira para a conquista do título inédito.
A equipe passou invicta pela fase de classificação e teria pela frente, na
final, o sempre temido Uruguai, no dia 29 de maio. Mais uma vez, uma
superstição do comandante do ataque brasileiro foi usada. Por baixo da camisa
branca da seleção, ele tinha uma do Flamengo. Nunca me disse o porquê daquela
crença, mas disfarçava dizendo que gostava da combinação do vermelho com o
preto. Vai entender! A partida começa e o estádio das Laranjeiras está
abarrotado. Dia de tempo instável, não parece que vai chover e nem aparecer um
solzinho. No campo, a peleja está animada. Os dois times têm grandes
oportunidades durante os noventa minutos, porém o marcador não sai do 0 x 0.
Fried, marcado por dois uruguaios, às vezes até por três, estava meio escondido
na partida. Duas prorrogações, e o jogo insiste em não mostrar um vencedor. O
extrema-esquerda do Brasil, Neco, faz então uma jogada cinematográfica pela
linha de fundo uruguaia. Num bate-rebate interminável na área, a bola vai parar
caprichosamente no santo pé esquerdo de Fried. Sem muito trabalho, o
centroavante arrematou para o gol, terminando com os 150 minutos de sofrimento.
É o gol do título. Mesmo no alvoroço da vitória, Arthur é humilde e divide os
louros do título com Neco. Diz ele, emocionado: "O gol foi do Neco, que
fez uma jogada belíssima. Eu apenas tive o trabalho de chutá-la. Nada
mais". Ainda no estádio, antes da grande festa nas ruas promovida pelos
cariocas, um fato curioso e inesperado coroa a campanha brasileira e,
principalmente, o seu artilheiro. Das mãos do capitão uruguaio, o comandante do
ataque brasileiro recebe um pergaminho com o título que lhe acompanharia até o
final de seus dias. "Nós, os componentes da seleção uruguaia, concedemos
ao senhor Arthur Friedenreich, o título de El Tigre por ser o mais perfeito
centroavante do campeonato sul-americano." O Tigre, cansado, chora com a
homenagem. Nas ruas do país, a empolgação é generalizada. Com o feito inédito,
o futebol cai no gosto popular. Os campeões são carregados em triunfo e mais uma
vez o inesperado acontece. O jornal A Noite, um dos mais famosos da época,
nunca havia colocado fotografia alguma em sua primeira página, fosse ela de
presidente, rei ou ministro. No entanto, naquele dia, estampou em uma edição
especial, sem nenhum constrangimento e em tamanho natural, o pé esquerdo de
Fried. O singelo título dizia: "Eis o pé da vitória". O jornal vendeu
como água. O Brasil aparecia no futebol pela primeira vez. E Friedenreich...
bom , ele era o Tigre.
Números e nomes:
11 de maio de 1919
Brasil - Chile: 6-0
(Friendenreich, aos 19m, aos 38, aos 76m; Neco, aos 21m, aos 83m; Haroldo, aos 79m)
13 de maio de 1919
Uruguai - Argentina: 3-2
(Carlos Scarone, aos 19m, Héctor Scarone, aos 23m, Gradín, aos 85m)
(Izaguirre, aos 34m, Varela, na p.b. aos 79m)
A equipa do Uruguai que esteve no Rio de Janeiro com Isabelino Gradín na fila de baixo (o segundo a contar da direita para a esquerda) |
17 de maio de 1919
Uruguai - Chile: 2-0
(Carlos Scarone, aos 31m, José Pérez, aos 43m)
18 de maio de 1919
Brasil - Argentina: 3-1
(Heitor, aos 22m, Amilcar, aos 57m, Millon, aos 77m)
(Izaguirre, aos 65m)
22 de maio de 1919
A pobre seleção chilena que esteve na Copa de 1919 |
Argentina - Chile: 4-1
(Clarcke, aos 10m, aos 23m, aos 62m; Izaguirre, aos 13m)
(France, aos 33m)
26 de maio de 1919
Brasil - Uruguai: 0-0
Classificação
1-Brasil: 5 pontos
2-Uruguai: 5 pontos
3-Argentina: 2 pontos
4-Chile: 0 pontos
Vista aérea da Laranjeiras no dia da grande decisão |
Jogo de desempate
29 de maio de 1919
Brasil - Uruguai: 1-0
Uma santa e feliz Páscoa. Com tudo o que de melhor possa trazer a renovação da natureza, própria do tempo pascal.
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