Penúltima
jornada da Zona Centro do Campeonato Nacional da 2.ª Divisão da temporada de
1981/82. Vivia-se por esta altura um misto de euforia e nervosismo para as
bandas de Alcobaça. Em caso de vitória sobre o Beira-Mar o Ginásio local
carimbava uma histórica subida à 1.ª Divisão. Há que dizer que a acontecer esta
subida era a cereja no topo do bolo
daquela que foi talvez a época de glória do Ginásio Clube de Alcobaça. Ao
trajeto sensacional na Zona Centro do segundo escalão nacional, o emblema da
cidade de Região do Oeste logrou chegar às meias-finais da Taça de Portugal,
onde apenas tombou aos pés do Sporting – do famoso tridente ofensivo composto
por Jordão, Oliveira e Manuel Fernandes –, em pleno Estádio de Alvalade. E se
as gentes de Alcobaça não conseguiam conter o seu entusiasmo nas vésperas do
importante jogo da 29.ª jornada da 2.ª Divisão, os responsáveis e jogadores do
clube azul e branco eram mais contidos na euforia. Isto a julgar pelas palavras
do então Chefe do Departamento de Futebol do Ginásio, José Prateiro, proferidas
à Gazeta dos Desportos. «A expectativa é
grande, mas apesar de não prometermos nada a ninguém, estou confiante na
capacidade da nossa equipa. Não gosto muito de dizer que vamos ganhar ou
perder, não gosto de fazer a festa antes do tempo, e por isso as pessoas podem
notar algumas reservas no que digo, mas isso não significa que não tenha
confiança nas nossas capacidades. Só que o futebol é sempre futebol, e um jogo
só termina ao fim de 90 minutos», frisou o dirigente, que apesar deste
discurso cauteloso resumiu 1981/82 como: «a
nossa época de ouro». Porém, no subconsciente dos dirigentes do clube já
“morava” a 1.ª Divisão, conforme podemos perceber das palavras de Prateiro à
Gazeta, onde vincava que o Ginásio estava preparado para subir ao patamar
máximo do futebol português. E nesse sentido, atendendo à exigência maior da participação
no escalão maior, deixava o aviso de que não iria continuar a chefiar o
Departamento de Futebol do clube, pois entendia, que na 1.ª Divisão era
necessário que as suas funções fossem desempenhadas por um dirigente a tempo
inteiro. «Ao longo deste ano, felizmente,
não tivemos problemas, mas de qualquer forma em muitas situações não pude
acompanhar os jogadores e o técnico como deveria ter sido. (...) Tenho já 10/12
anos disto e tive a sorte de acompanhar o clube na subida da 3.ª à 2ª Divisão,
e agora, espero, da 2.ª à 1.ª», referia José Prateiro em jeito de
despedida, não sem antes aproveitar a presença da Gazeta, através do jornalista
José Carlos Freitas, para agradecer publicamente ao presidente do Ginásio de
Alcobaça, Guerra Madaleno, pelo apoio que sempre deu ao clube ao longo da
época. O mítico plantel do Ginásio em 81/82
Mas
voltando ao jogo decisivo ante os aveirenses, havia crença de que a subida era
possível entre os jogadores do Ginásio. Dedeu e Robério, dois dos quatro
brasileiros que integravam o plantel orientado por Dinis Vital, eram unânimes
em afirmar que a equipa queria e podia subir de divisão. Dedeu, que defendia as
cores do Ginásio pela segunda temporada consecutiva, era por aquela altura o
melhor marcador do conjunto, com 14 golos. Ciente de que o Beira-Mar era um conjunto
difícil, mostrava-se, porém, confiante de que com a ajuda do público o Ginásio
poderia vencer a partida. Dedeu fazia ainda um balanço daquela memorável
temporada da sua equipa, opinando que «o
Ginásio foi a equipa mais regular (da Zona Centro) e a que merece subir de
divisão. Um fator foi muito importante para a nossa boa época, o banco que
estava à disposição do técnico, de longe o melhor de toda a Zona Centro».
Com 11 anos de futebol português nas pernas encontrava-se Robério, ele que
acumulava muita experiência de 2.ª Divisão, já que tinha atuado nas três zonas
do segundo escalão ao serviço de sete emblemas distintos (Mirandela, Paços de
Ferreira, Sanjoanense, Olhanense, Famalicão, Gil Vicente e Vizela). «Vamos mesmo subir, não há duvidas disso. (…)
Temos equipa para subir e ficar na 1.ª Divisão, com estes jogadores e mais dois
ou três reforços vamos estar à vontade». Também Robério nesta troca de
palavra com José Carlos Freitas aproveitou a oportunidade para elogiar o
presidente Guerra Madaleno, «que tem sido
insuperável no apoio que tem dado a toda a equipa». Fase do jogo com os aveirenses
E chegou o dia do grande jogo. As bancadas em redor do pelado do Estádio Municipal de Alcobaça estavam a abarrotar (estima-se que 6000 pessoas terão presenciado o encontro). Nem mais um alfinete ali cabia. Foguetes estalaram antes do apito inicial do lisboeta António Ferreira. A bola começa a rolar e recordemos os incidentes dos 90 minutos à boleia do jornalista Rui Nuno, da Gazeta dos Desportos. «O Ginásio iniciou o encontro de forma a resolver depressa a questão. Caíram em cima dos aveirenses com Dedeu a cruzar sempre bem lá da ponta direita e João Cabral e Marconi a ganharem as bolas de cabeça dentro de área e a tabelarem bem. Aos 20 minutos já duas bolas tinham batido na madeira da baliza dos aveirenses: uma logo no primeiro minuto foi salva por Joca em cima do risco fatal, levando o esférico a bater ainda na barra; a outra sucedeu aos 19 minutos, bola no poste na sequência de um remate em arco feito por Romão» – esse mesmo, o José Romão que viria a fazer carreira como treinador na 1.ª Divisão anos mais tarde.
Porém, quem não marca arrisca-se por norma a sofrer, e o Beira-Mar começou a mostrar que não vinha apenas participar na festa. Os seus homens mais avançados, Américo e José Carlos, davam o melhor seguimento aos lançamentos em profundidade dos seus companheiros dos setores mais recuados. E foi num desses lances que um balde de água gelada se abateu sobre Alcobaça. «José Carlos, aos 25 minutos, pelo meio dos centrais foi mais rápido, beneficiou de um erro do guardião Domingos e atirou para o fundo da baliza». Porém, após o golo o Ginásio foi bafejado pela sorte, já que o Beira-Mar perdeu os seus dois avançados por motivos de lesão (!), sendo que os substitutos não se mostraram à altura de voltar a importunar com perigo a defensiva azule branca. «Estava-se quase a chegar ao intervalo, quando o Ginásio conseguiu o seu golo do empate. Portanto, um golo na hora exata e altamente moralizador para o esforço que se pedia aos atletas para a segunda parte». O tento que ressuscitou a moral dos ginasistas foi da autoria de Marconi, ao minuto 44, na sequência de um cruzamento de José Rui. Faltava um golo para o Ginásio materializar o sonho da subida. E foi com esse objetivo em mente que os pupilos de Dinis Vital entraram na segunda metade. A fome de vencer era tanta que nos primeiros 3 minutos deste período o Ginásio dispôs de outras tantas oportunidades claras para marcar.
No entanto, a bola teimava em não entrar na baliza aveirense, ao passo que do outro lado do campo o último reduto dos azuis e brancos de Alcobaça assistia de cadeirinha à avalanche ofensiva, dado que os avançados do Beira-Mar eram inofensivos. Até que aos 66 minutos o Ginásio seria premiado com o tento que lhe reabriu a porta da 1.ª Divisão. Bom trabalho de Romão no interior da área, remate deste médio para defesa incompleta do aveirense Domingos, e na recarga apareceu oportuno João Cabral a empurrar o esférico para o fundo das malhas. «Golo do Alcobaça. Invasão de campo. A subida já não podia ser adiada, era questão de “mais golo, menos golo”. Foguetes, buzinas, e (gritos de) Ginásio, Ginásio, Ginásio, encheram a vila», assim descreveu o ambiente que ali se vivia o jornalista Rui Nuno. A subida estava cada vez mais perto, e definitivamente consumada ficou quando ao minuto 83, Marconi fez o 3-1 final, levando Alcobaça à loucura. «Marconi ainda provocou mais uma invasão (de campo) antecipada com o terceiro golo. Vários minutos de paragem à espera que as pessoas saíssem do pelado. Apelo pelos altifalantes: “Por favor, saiam do campo, não estraguem a festa”. O Ginásio estava na 1.ª Divisão. Ascensão meteórica de um clube que ainda há cinco épocas atrás estava a disputar os Distritais. Linda prenda de aniversário para um clube que amanhã celebra o seu 36.ºaniversário. A festa continuava lá em baixo através da “cerimónia” de despir os jogadores».
A ficha
deste que foi um dos jogos mais célebres na vida do Ginásio de Alcobaça foi a
seguinte: Ginásio – Domingos, José Rui, Florival (Sabu, 74’), Varela, Quim,
Romão, Alberto, Álvaro, Dedeu (Modas, 66’), Marconi e João Cabral. Treinador:
Dinis Vital.
Beira-Mar
– Domingos, Silva, Joca, Cansado, Marques, Celton, Dias, Nogueira, Toni, José
Carlos (Meireles, 46’), e Américo (Pedro, 32’). Treinador: Vieirinha.
Que relíquia, quem será esta criança?
ResponderExcluirGostaria de saber,Marconi.
ExcluirQue saudades um forte abraço, Marconi.
ResponderExcluirAmei o conteúdo
ResponderExcluirO resultado final foi 1-1 e nao 3-1
ResponderExcluirFoi 3-1, o Ginásio precisava de vencer esse jogo e venceu. Pode confirmar nos jornais da época ou até no zerozero.
Excluir1-1 o resultado final
ExcluirMeu tio Dinis Vital
ResponderExcluirQue memória boa❤️ orgulho do percurso do meu pai..(Zé Rui)
ResponderExcluirUm marco para histórico
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