Imagem rara do primeiro FC Porto - Benfica |
A
convite dos portistas, os lisboetas, que então ostentavam o título de campeão
regional, conquistado com uma vantagem de seis pontos sobre o anterior campeão,
o CIF, deslocaram-se à Cidade Invicta com dois teams, o principal e o das segundas categorias, com vista à realização
de dois jogos, um da parte da manhã e outro à tarde, tendo como palco o Campo
da Rainha, recinto dos azuis-e-brancos. Ambos os jogos tiveram entradas pagas,
aos preços de 220 réis por cada jogo e 320 réis para os dois, e ao que conta a
história venderam-se cerca de mil bilhetes, cuja receita permitiu aos portistas
pagar as viagens (em 2.ª classe) de comboio dos benfiquistas, os quais haviam
chegado ao Porto na véspera por volta da meia-noite.
Na
“História do FC Porto” escrita por Rodrigues Teles, diz-se que a direção do FC Porto
solicitou à Companhia dos Caminhos de Ferro um desconto de 50 por cento para a
viagem dos benfiquista, solicitação essa que seria aceite.
Ambos
os encontros foram ganhos pelo Benfica, e conforme o Primeiro de Janeiro noticiou então "o jogo da manhã foi bastante prejudicado pelo vento forte, que
carregou com intensidade sobre a baliza do FC Porto, o que levou a que fizesse
grandes defesas o seu keeper, o senhor Valença, a alma do seu team", tendo
os benfiquistas vencido o encontro por 2-1, sem no entanto haver referências
aos marcadores dos golos ou à constituição das equipas, sabendo-se somente que o
golo do FC Porto foi marcado de grande penalidade e o empate "foi primoroso", conseguido "com uma boa avançada da ponta direita",
assim escrevia o referido diário portuense.
À
tarde entraram em campo as primeiras categorias, "perante uma grande assistência", conforme descreveu o Primeiro de Janeiro. O Benfica voltou a
levar a melhor sobre os portistas, mas desta feita por um score bem mais avolumado: 8-2! O FC Porto até começou a ganhar, num
golo "marcado de forma maviosa
[harmoniosa] pelo senhor Camilo Moniz", mas ao intervalo já perdia por
3-1, conforme descrevia outro jornal da Cidade Invicta, no caso O Comércio do Porto, que até elogiou o
bom começo dos azuis e brancos: "Jogaram
com toda a perícia, e foi tão brilhante a sua forma de actuar que deu a
impressão que o Benfica, sendo o campeão do Sul, não levaria a melhor".
No
Benfica, segundo rezam as crónicas, há ainda a salientar as atuações do
médio-ofensivo Artur José Pereira, “um
jogador extraordinário e, sem dúvida, o melhor da equipa” e ainda Cosme Damião,
“o médio-centro, muito correto e trabalhador”.
As equipas alinharam da seguinte forma:
FC
Porto – Manuel Valença; Luís Barreto e Vitorino Pinto; Mário Maçãs, Charles
Allwood e Camilo de Figueiredo; Camilo Moniz, H. Webber, Douglas Grant, João
Cal e Ivo Lemos.
Benfica
–Paiva Simões, Henrique Costa e Francisco Belas; Carlos Homem de Figueiredo,
Cosme Damião e Artur José Pereira; João Martins dos Reis, Francisco Ferreira,
Luís Vieira, José Domingues Fernandes e Virgílio Paula.
Fundação da Associação de Futebol do Porto
Primeira ata da AF Porto |
Este
organismo foi fundado a 10 de agosto de 1912, mas antes, no dia 3 de agosto
de1912 «reuniram na secretaria do Futebol
Clube do Porto, à Rua Antero de Quental, número 358, dois delegados do Leixões
Sport Club, os senhores José António Afonso Barbosa e Hernâni Soares da Rocha e
dois do Futebol Clube do Porto, senhores João António Gonçalves da Cal e
Joaquim Pereira da Silva, a convite deste último clube, a fim de discutirem as
vantagens que adviriam para o desenvolvimento do jogo de futebol no norte de
Portugal, da federação de todos os clubes, formando-se uma Associação que
procurasse, não só a confraternização interclubes que é um dos melhores fatores
do progresso do desporto, mas também elaborasse todos os regulamentos
necessários a dar autoridade moral e oficial aos concursos ou jogos que de
futuro venham a realizar-se. Todos foram unânimes em que a Associação se
formasse e lamentavam que os outros clubes se não fizessem representar para
desde já se tomarem resoluções definitivas sobre o assunto. Ficou resolvido por
isso que se oficiasse novamente aos clubes não representados a convidá-los de
novo a comparecerem a uma nova reunião que foi firmada para o dia dez do mês
corrente», assim conta a história da associação.
A
primeira ata da Associação de Futebol do Porto data de 10 de agosto de 1912, e
reza o seguinta: «reuniram na secretaria
do Futebol Clube do Porto, à Rua Antero de Quental, os senhores Hernâni Soares
da Rocha e Guilherme Rodrigues Costa; Joaquim Pereira da Silva e João António
Gonçalves da Cal, respetivamente representantes do Leixões Sport Club e do Futebol
Clube do Porto, a fim de prosseguirem nos trabalhos encetados na sessão
anterior para a fundação, nesta cidade, de uma Associação de Futebol. Foram
lidas as cópias dos ofícios enviados ao Oporto Cricket Club e ao Boavista
Futebol Clube insistindo para que se fizessem representar em futuras reuniões,
conforme com o que fora resolvido em sessão anterior. Foi resolvido abrir desde
já a inscrição para clubes e sócios que desejem filiar-se na Associação. Foram
considerados como filiados desde logo os clubes que mandaram a esta reunião os
seus delegados, Leixões Sport Clube Futebol Clube do Porto. Foram recebidas as
inscrições dos senhores Eduardo Coquet, Camilo Moniz de Matos, António Manuel
Rodrigues de Oliveira».
Com
a fundação da Associação de Futebol do Porto - por iniciativa de dois clubes:
Futebol Clube do Porto e Leixões Sport Club - foi dado um passo decisivo para
que o futebol se viesse a transformar na grande modalidade desportiva da região
nos anos que se seguiram.
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