O desaparecimento recente de Marlene Matheus (24 de
setembro de 1936 - 2 de julho de 2019) abre caminho para esta nossa viagem ao
passado. Uma incursão ao Mundo das mulheres que ousaram pisar um terreno
dominado pelo sexo masculino. Não no campo de batalha, isto é, no terreno de
jogo, onde de há (largos) anos a esta parte o sexo feminino dá cartas, quer na
condição de atletas, quer enquanto treinadoras ou árbitras, mas sim na condução
dos destinos de um clube de futebol, enquanto proprietárias, presidentes, ou
até mesmo diretoras desportivas. Olhando para o mapa futebolístico global
verificamos que são (ou foram) ainda poucas as senhoras que vestem, ou vestiram,
o fato de big boss, ou chairman, neste caso, de chairwoman, ou como agora está em voga,
CEO, de um clube de futebol.
Abrindo o Atlas do
Futebol Mundial encontrámos alguns nomes que fizeram história, caso da já
referida Marlene Matheus, a brasileira que ficou mundialmente conhecida por ter
sido a primeira e única mulher que foi presidente do Corinthians. Um cargo que
ocupou entre 1991 e 1993, tendo sucedido ao seu marido, o folclórico Vicente
Matheus, que presidiu o clube paulista em mandatos não consecutivos entre os
anos 50 e 90.
Porém, o nome mais sonante à frente de um clube é talvez
o da espanhola Teresa Rivero, conhecida como a Dama
de Ferro do futebol espanhol. A empresária que nada sabia de futebol, ou
pelo menos assim pensava, quando em 1994 assumiu a presidência do Rayo
Vallecano, o clube ió-ió como era
conhecido antes da sua chegada à liderança, pelo sobe e desce constante entre
as divisões secundárias de Espanha, revolucionou o pequeno emblema de Vallecas.
Um clube financeiramente débil e sem perspetivas de futuro. Teresa Rivero
alterou por completo este cenário, e fez do Rayo um clube estável e saudável
sob o ponto de vista financeiro, e acima de tudo um emblema de primeira
divisão, e que em finais do século passado atingiu as competições europeias. Com
Teresa Rivero ao leme o Rayo Vallecano viveu os melhores anos da sua
existência. A Dama de Ferro
aposentou-se das lides futebolísticas em 2011.
Ainda no ativo está Ann Budge, the Queen of Hearts, traduzido na língua de Camões: a rainha do
Hearts. Esta escocesa, nascida em Edimburgo, em 1948, é além de uma notável e
reconhecida mulher de negócios e dona de uma das maiores fortunas da Escócia, a
proprietária do Hearts of Midlothian Football Club. Budge comprou o clube em
2014 e desde logo procedeu a várias mudanças no seio do emblema de Edimburgo,
tornando-o na terceira potência do futebol escocês, logo a seguir aos gigantes
de Glasgow: Celtic e Rangers. Pela forma como tem administrado o Hearts, Budge
recebeu em novembro de 2016 o prémio "CEO do Ano", no âmbito do Football Business Awards.
Plantel dos Strikers em 1977, onde pontificava o campeão mundial Gondon Banks (Elizabeth Robbie encontra-se em segundo lugar na fila do meio, a contar da esquerda para a direita) |
Estas três mulheres podem ter em comum o facto de terem
transformado para melhor os seus clubes do coração, mas nenhuma delas foi
pioneira na condução dos destinos de um clube. Esse estatuto pertence a Elizabeth
Robbie. Esta cidadã norte-americana tornou-se no início da década de 70 na
primeira mulher a presidir um clube de futebol. Ela e o seu marido fundaram em
1972 os Miami Toros, guiando, um ano mais tarde, este emblema até à principal
liga do soccer norte-americano, a
NASL. Em 1977 rebatizou o clube da Florida, passando este a denominar-se de
Fort Lauderdale Strikers. Foi sob esta designação que o emblema atingiu a fama
no futebol estado-unidense, numa liga que durante mais de uma década atraiu
algumas das principais estrelas planetárias, como Pelé, Cruyff, Eusébio,
Beckenbauer, entre muitos outros.
Elizabeth Robbie, na fila de baixo ao meio, comanda os Strikers em 1981, com Cubillas e Gerd Muller como estrelas da companhia |
Os Strikers liderados por Robbie contribuíram para que a
NASL (North American Soccer League) se tornasse talvez na competição mais
galática do futebol mundial nos anos 70 e 80, pelo menos no que concerne à
agregação na mesma liga de nomes tão sonantes. Sob a sua presidência o emblema
de Miami falhou por muito pouco a glória - em 1974, ainda como Miami Toros,
foram derrotados na final pelos Los Angeles Aztecs e em 1980 foram vergados na
final do campeonato pelo galático Cosmos de Nova Iorque, que tinha nas suas
fileiras nomes como Carlos Alberto, Seninho, Romerito, Frankie Van Der Elst, ou
Neeskens. Contudo, construiu ao longo da sua presidência (até 1984) alguns dos
melhores plantéis da velha NASL. Nomes como Gordon Banks, Gerd Muller, ou
Teófilo Cubillas vestiram a camisola dos Strikers nesse período dourado do soccer dos Estados Unidos da América.
A sua preponderância não só no clube de Miami como no
próprio futebol daquele país foi de tal forma importante que em 2003 ela passou
a fazer parte do National Soccer Hall of
Fame.
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