|
Seleção portuguesa que marcou presença nos Jogos Olímpicos de Amesterdão 1928 |
Se
hoje em dia Portugal se apresenta perante a aldeia global
futebolística como uma potência temida e respeitada, há quase
um século atrás – 90 anos, para sermos mais precisos – a nação
lusa não passava de uma mera e desconhecida aprendiz nos principais
palcos do belo jogo planetário. Esta introdução faz-nos
viajar precisamente 90 anos na cápsula do tempo, até ao ano
de 1928, altura em que Amesterdão centrava em si os olhos do Mundo
na sequência do acolhimento das Olimpíadas desse ano. Largas
centenas de atletas vindos de vários pontos do globo assentaram
arraiais naquela cidade holandesa em busca do endeusamento olímpico
nas mais variadas modalidades. Entre elas, estava o futebol, que
levou a Amesterdão (alguma da) a nata (de então) da modalidade,
valorosos futebolistas atletas que iriam lutar entre si pelo trono da
então maior competição futebolística do Mundo.
|
Cartaz oficial dos Jogos de 1928 |
Será
importante sublinhar que na altura o torneio olímpico de futebol era
a maior competição do planeta no que ao Desporto Rei concerne,
a qual de quatro em quatro anos juntava as melhores seleções do
globo. Isto porque nem o Campeonato do Mundo nem o Campeonato da
Europa haviam visto a luz do dia. Vencer os Jogos Olímpicos
era o equivalente a vencer um Mundial nos dias de hoje. O mediático
sucesso dos torneios anteriores – Antuérpia 1920 e Paris 1924,
sobretudo este último – elevou a fasquia de interesse em torno da
competição que decorreu na Holanda entre 27 de maio e 10 de junho
de 1928. Em campo iriam estar alguns dos pesos pesados do
futebol planetário de então, casos de uma Itália que viria a
dominar o Mundo na década seguinte – com a conquista de dois
Mundiais consecutivos (1934 e 1938) –; da vice-campeã olímpica de
1920, a Espanha; ou das potências sul-americanas Argentina e
Uruguai, sendo que estes últimos chegavam a Amesterdão como
detentores (em título) do ouro olímpico – conquistado de forma
época quatro anos antes em Paris. Os uruguaios eram por aqueles dias
olhados como a maior potência do futebol global. Nos Jogos Olímpicos
de 1924, esta pequena nação sul-americana (com apenas 3 milhões de
habitantes) havia apresentado do Mundo os seus magistrais intérpretes
do belo jogo, apresentando ao público parisiense um jogo
alegre, solto, e tecnicamente atrativo, mais parecendo que o "onze
charrúa” bailava ao som de um tango de Carlos Gardel.
|
A mítica seleção do Uruguai que iria vencer o torneio olímpico pela segunda vez consecutiva |
Na
retina daqueles que presenciaram o torneio olímpico de 24, ficaram
os bailados futebolísticos de nomes como Pedro Cea, Hector Scarone,
José Nasazzi, Pedro Petrone, e de um tal José Leandro Andrade, um
negro que haveria de sair destes Jogos Olímpicos endeusado pelo povo
da capital francesa. O torneio de futebol das Olimpíadas de
Amesterdão não foi mais do que a confirmação daquilo que se
visionara em Paris 1924, por outras palavras, o Uruguai enquanto a
seleção mais poderosa do Mundo. Amesterdão 1928 foi pois como a
segunda parte de uma das mais belas e poéticas histórias
futebolísticas, a história de uma talentosa equipa que mostrou ao
globo que o futebol poderia ser jogado de uma maneira artística e
atraente, bem diferente do famoso kick and rush inglês
interpretado pela esmagadora das seleções e/ou clubes do então
planeta da bola.
|
Gravura do Espanha - Portugal de 1921 (o primeiro jogo da seleção portuguesa) |
Mas
entre a elite do futebol global que viajou para a Holanda estava uma
nação que dava os primeiros passos a nível internacional e cujo
futebol – em termos de popularidade – crescia significativamente
no plano interno. Portugal! Seleção que contrariamente a potências
como Espanha, Itália, Argentina ou Uruguai apenas havia feito o seu
batismo na alta roda internacional menos de sete anos antes (dezembro
de 1921) num particular com nuestros hermanos, em Madrid,
saldado por uma honrosa derrota – atendendo ao poderio do
adversário – por 3-1.
Desde
então, a seleção nacional fazia um percurso que podemos chamar de
aprendizagem e ao mesmo tempo de afirmação na senda internacional,
colecionando alguns resultados dignos de sublinhar que o futebol
português tinha valor e que com um pouco mais de organização
(interna) e prática (internacional) talvez fosse possível ombrear
com os melhores. Isso, foi possível ver-se, a título de exemplo, em
junho de 1925, quando no Campo do Lumiar (Lisboa) a nossa seleção
derrotou (1-0) a poderosa Itália onde despontavam futuros campeões
mundiais como Giampiero Combi, Gino Rosetti, ou Umberto Caligaris; ou
os valorosos empates com potências como a Checoslováquia – em
1926 –; Hungria – também em 26 –; ou a Espanha liderada pelo
lendário guarda-redes Ricardo Zamora – que em janeiro de 1928 não
conseguiu levar de Lisboa melhor do que uma igualdade a uma bola.
Até
aqui, Portugal disputara somente encontros amigáveis, 15 para sermos
precisos, pelo que em Amesterdão iria ser o primeiro grande teste
oficial no plano internacional para um futebol português que no
plano interno apresentava algumas carências, apesar do crescimento
em termos de popularidade em torno da modalidade.
No
aspeto competitivo, o centro do nosso futebol estava em Lisboa,
Porto, Algarve e Setúbal, onde se disputavam os campeonatos
(regionais) mais importantes e acima de tudo competitivos. Nas outras
regiões do país, a competição tinha ainda pouca expressão, ou
quase nenhuma. Apesar de ainda ser algo limitado, em termos
estruturais, o que é certo é que o futebol não havia envergonhado
o país no plano “além fronteiras”, e mesmo nas derrotas havia
mostrado valentia e valor que deixavam antever um futuro promissor.
(continua)
Nenhum comentário:
Postar um comentário