sexta-feira, junho 03, 2016

Flashes Biográficos (9)... Tony Barton

TONY BARTON (Inglaterra): A história do futebol está repleta de treinadores que um dia saíram da sombra dos seus mentores – o mesmo será dizer outros treinadores que tiveram um papel fundamental na formação da sua mentalidade enquanto mestres da tática – e decidiram percorrer sozinhos os caminhos do futebol rumo à glória. Porém, poucos serão aqueles que o fizeram quase numa operação relâmpago, isto é, tão depressa abandonaram o papel de atores secundários para assumir o estatuto de protagonistas num guião de sucesso, como voltaram ao anonimato logo em seguida. É aqui se que encaixamos a figura de Tony Barton, um cidadão inglês que em 1982 atingiu quase de forma acidental o Olimpo do Futebol na sequência da épica conquista da Taça dos Clubes Campeões Europeus ao serviço do Aston Villa.

Anthony Edward Barton nasceu a 8 de abril de 1937 nos arredores de Londres – em Sutton, mais concretamente – e a sua carreira de futebolista foi quase tão modesta quanto a de treinador. Com apenas 17 anos torna-se profissional do Fulham, emblema que defende até 1959, altura em que se mudou para Nottingham no sentido de defender as cores do Forest por duas temporadas. Defesa-direito de posição, Barton transferiu-se posteriormente para o Portsmouth, emblema cujas cores ostentou ao longo de seis temporadas e onde teve a sua primeira experiência enquanto treinador-jogador. Penduradas as chuteiras juntou-se em 1980 à equipa técnica do Aston Villa, liderada então por Ron Saunders, o homem que nos anos 70 havia resgatado os Villans de um longo e penso inverno – de quase duas décadas – sem títulos de relevo. A conquista das taças da liga de 1975 e 1977 quebraram o enguiço do mais popular clube da cidade de Birmingham. Mas a obra de Saunders teria contornos mais vincados no início da década seguinte. Na temporada de 1980/81, e contra todas as espectativas, o Villa sagra-se campeão inglês, algo que já não acontecia desde 1910! Para este sucesso muito contribuíram as performances de Peter Withe (goleador que no verão de 1980 chegou de Newcastle e que logo na primeira temporada com o emblema dos Villans ao peito sagrou-se o melhor marcador do principal campeonato inglês), Gary Shaw, Dennis Mortimer, ou Tony Morley. Jogadores que na temporada de 81/82 haveriam de ajudar a equipa a conquistar a... Europa. Exibindo no tabuleiro de jogo um sistema tático de 4-4-2 vincado através de um futebol direto (tipicamente britânico) e fisicamente forte, o Villa de Ron Saunders iniciou a caminhada rumo à glória com a fácil eliminação do frágil campeão da Islândia, o Valor, por um total (no conjunto das duas mãos) de 7-0. Seguiu-se o primeiro osso duro de roer no percurso até Roterdão (palco da final da Taça dos Campeões Europeus dessa temporada), o Dínamo de Berlim. Na Alemanha de Leste o Villa venceu por 2-1, com um bis de Morley, mas no jogo de volta, no Villa Park, os ingleses não ganharam para o susto quando Frank Terletzki colocou ao minuto 15 o Dínamo na frente do marcador. O Villa teve de suar até ao apito final para impedir que a baliza de Jimmy Rimmer fosse de novo violada, e desse modo garantir a passagem aos quartos-de-final pelo facto de ter marcado mais golos no terreno do adversário.

Contra todas as previsões o início do ano civil de 1982 trouxe nuvens negras para os lados de Villa Park. Ron Saunders entrou em litígio com a Direção do clube – ao que se diz devido a pormenores relativos ao seu contrato – e bate com a porta! E é aqui que começa verdadeiramente o efémero sucesso de Tony Barton. Ao invés de procurar no exterior um nome de peso para assumir a responsabilidade de continuar a conduzir o Aston Villa na mais importante competição de clubes a nível continental, os dirigentes do histórico emblema de Birmingham preferem uma solução interna, isto é, entregar essa mesma responsabilidade ao “número 2” de Saunders. Apesar da sua curta experiência enquanto treinador principal Barton não se assustou, e mantendo-se fiel ao estilo de jogo implementado pelo seu mestre superou com classe a primeira barreira europeia. O poderoso campeão da então União Soviética, o Dínamo de Kiev, caiu nos quartos-de-final aos pés do elenco agora comandado por Barton, depois de um nulo na atual capital da Ucrânia e de um triunfo por 2-0 em Villa Park. O derradeiro obstáculo antes da final dava pelo nome de Anderlecht, tão só um dos melhores e mais temidos conjuntos do futebol europeu de então. Um simples golo de Morley no encontro da primeira mão em solo britânico garantiu o histórico passaporte para a final de Roterdão, já que um nulo em Bruxelas, na segunda mão (jogo marcado por violentos confrontos entre adeptos das duas equipas), assim o ditou. 
Apesar de naquele tempo o futebol inglês, no que diz respeito a clubes, reinar na Europa – desde 1977 que a Taça dos Campeões Europeus era propriedade exclusiva dos emblemas britânicos – o Aston Villa chegava a Roterdão como mero figurante de uma festa que se antevia destinada aos jogadores do Bayern de Munique, o adversário dos Villans na grande final. E se o Villa não era favorito no papel, pior ficou quando nos minutos iniciais da partida viu o seu guarda-redes, Rimmer, abandonar o terreno por lesão, tendo sido substituído pelo inexperiente Nigel Spink. Porém, ficaria provado que a inexperiência era tudo menos um obstáculo para que o Villa pudesse alcançar o sucesso. E Barton que o diga. Quanto ao encontro de Roterdão o Bayern até foi mais ofensivo, criou as melhores oportunidades de golo, mas já no segundo tempo (ao minuto 67) o goleador Peter Withe passou à condição de imortal ao apontar o único golo daquela tarde/noite, um remate coroado de êxito que deu origem à página mais brilhante da centenária história do Aston Villa. Contra todas as espectativas o inexperiente Tony Barton levava o Villa ao topo da Europa, e também a partir daquele momento tornava-se imortal, sentando-se ao lado de outros imortais como Brian Clough, Matt Busby, Jock Stein, Bob Paisley, Joe Fagan e Alex Ferguson, os únicos cidadãos de origem britânica que um dia colocaram as mãos na orelhuda (alcunha que é dada à Taça/Liga dos Campeões Europeus) no desempenho do papel de mestres da tática
Já em 2012, quase três décadas após a morte (1983) de Tony Barton, devido a um ataque cardíaco, a então viúva do treinador revelou à imprensa qual teria sido, por ventura, o segredo do sucesso do seu marido naquela memorável tarde/noite em Roterdão. Rose Barton disse então que dias antes da final havia sido procurada por uma cigana que lhe teria dito que se Tony Barton utilizasse um pedaço de pano rendado no dia da final a vitória seria inglesa. Rose aceitou a oferta e contou a história ao seu marido, que pouco ou nada crente neste género de superstições recusou o “lucky lace”. Porém, Rose Barton não fez caso da descrença do seu esposo, e secretamente colocou o amuleto num dos bolsos do casaco que o treinador iria usar no dia do jogo. Bom, o resto é história, e a história prefere olhar para este capítulo glorioso como um raro rasgo de génio de Barton, que ao serviço do Villa iria ainda vencer a Supertaça Europeia – à custa do Barcelona – antes de ser demitido do cargo em 1984. Depois disso a estrela de Tony Barton quase que se eclipsou nos céus do futebol, dado o facto de nunca mais ter abraçado o sucesso.

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