segunda-feira, março 07, 2016

Histórias do Planeta da Bola (16)... "Il Grande Bologna" solta o primeiro grito de vitória do futebol italiano além fronteiras

Il Grande Bologna entra em campo para fazer história
Durante décadas o futebol italiano viu refletidos sobre si os holofotes da fama e do prestígio do Planeta da Bola. As suas equipas encantaram e dominaram o Mundo com dezenas conquistas e feitos inesquecíveis que fizeram - e fazem - desta uma das nações mais fortes da história do belo jogo. Sobretudo durante as décadas de 80 e 90 do século passado, em que o calcio comandou o pelotão futebolístico internacional. A Serie A - o principal escalão do futebol italiano - foi durante mais de 20 anos uma verdadeira passerelle de estrelas. Alguns dos maiores vultos da história do jogo passearam classe pelos relvados de Itália nas décadas de ouro do calcio, casos de Diego Maradona, Michel Platini, Zico, Roberto Mancini, Gianluca Vialli, Roberto Baggio, Paolo Rossi, Sócrates, Falcão, Lottar Matthaus, Ruud Gullit, Marco Van Basten, entre tantos outros. Jogar em Itália, no melhor campeonato nacional do globo, era a cereja no topo do bolo para qualquer futebolista. O poderio e mediatismo das squadras transalpinas no decorrer das duas referidas décadas refletia-se igualmente nas eurotaças da UEFA com a conquista de quase duas dezenas de títulos continentais e cerca de trinta presenças em finais.


O poderio do futebol italiano na Europa
durante as décadas de 80 e 90 é evidente nesta imagem
Para quem gosta de estatística estes factos podem ser facilmente atestados com números que impressionam à primeira vista. Vejamos. Na Taça dos Clubes Campeões Europeus a nação da bota arrecadou cinco títulos, três por intermédio do Milan (1989, 1990 e 1994) e dois pela Juventus (1985 e 1996), para além de ter marcado presença em mais sete finais (perdidas), três pela Juve (1983, 1997 e 1998), duas pelos milanistas (1993 e 1995), e uma por Roma e Sampdoria (respetivamente em 1984 e 1992). Naquela que foi durante anos a fio a segunda competição mais importante da UEFA, a Taça dos Vencedores das Taças, o futebol italiano subiu por quatro ocasiões ao lugar mais alto do pódio: Juventus (1984), Sampdoria (1990), Parma (1993) e Lázio (1999), tendo perdido ainda um par de finais, em 1989 (Sampdoria) e 1995 (Parma). Seria no entanto na terceira competição uefeira - a Taça UEFA - que o calcio exerceu nestes 20 anos um domínio quase absoluto, conforme expressam os oito títulos conquistados (o Nápoles em 1989; a Juventus em 1990 e 1993; o Inter em 1991, 1994 e 1998; e o Parma em 1995 e 1999) em dez finais disputadas. A prova mais evidente de que a Itália era rainha e senhora da Taça UEFA ocorreu nos anos de 1990, 1991, 1995 e 1998, altura em que as finais desta competição foram 100 por cento italianas, ou seja, disputadas por duas equipas do mesmo país. O poderio transalpino é traduzido noutros dados, como por exemplo o facto de a Juventus ter sido a primeira equipa do Velho Continente a conquistar os três troféus da UEFA, quando em 1985 juntou a Taça dos Campeões Europeus (TCE) à Taça dos Vencedores das Taças (TVT) de 1984 e à Taça UEFA de 1977; ou ainda a época de 1989/90, cujas finais europeias foram vencidas por equipas italianas: Milan (TCE), Sampdoria (TVT) e Juventus (Taça UEFA). Sem dúvidas que este foram anos de um domínio avassalador, que a juntar às conquistas das décadas de 60 e 70 (quatro TCE, duas TVT, uma Taça UEFA e uma Taça das Cidades com Feira) fazem da Itália um dos países mais laureados da Europa futebolística no que a clubes concerne, somente suplantado por Espanha e Inglaterra. Hoje em dia, o calcio vive na sombra do seu passado glorioso, quer no plano internacional, onde luta com dificuldades ante os emblemas das nações mais poderosas do continente (Espanha, Inglaterra e Alemanha), quer no aspeto interno, onde o seu campeonato perdeu brilho, emoção, e sobretudo glamour.

Il Grande Bologna coloca a Itália no mapa da Europa do futebol (ao nível de clubes)

Esta longa introdução remete-nos para a nossa história de hoje: o ponto de partida da gloriosa caminhada europeia das equipas italianas. Início esse que nos leva até um clube lendário, que hoje deambula entre a Serie A e a Serie B, mas que durante mais de uma década encantou os tiffosi de todo o... Mundo. Bologna Football Club, ou Il Grande Bologna dos anos 30, a primeira equipa transalpina a conhecer a glória internacional. Para muitos dos historiadores do belo jogo o legado desse mítico e longínquo Bologna rivaliza com o do Grande Torino da década de 40, da mágica equipa que se eclipsou tragicamente no desastre aéreo de Superga em 1949. Qual destas duas equipas foi a melhor é uma pergunta difícil de responder, sendo apenas certo que ambas tiveram um papel preponderante na dinamização e popularização do calcio a nível internacional.
No vale do Rio Pó ergue-se Bologna (ou Bolonha no idioma de Camões), cidade que no outono de 1909 vê nascer um dos principais baluartes da sua história, o Bologna Football Club.

A equipa do Bologna que em 1924/25 conquistou, sob a alçada do treinador austríaco Felsner,
o primeiro scudetto da história do clube
Emilio Arnstein, um cidadão oriundo da Boêmia (atual República Checa) é a principal figura que esteve na génese da criação do emblema rossoblú (azul e vermelho, as cores que os bolonheses adotaram desde a sua fundação), contando para isso com a cumplicidade dos italianos Arrigo Gradi e Leone Vicenzi, e do suíço Louis Rauch, sendo que este último seria o primeiro presidente da história do clube. Após uma primeira década de vida a competir ao nível regional, o Bologna entra nos anos 20 com a ambição de galgar os muros da sua região e conquistar a Itália. Os seus dirigentes sonham alto, aspiram ombrear com as melhores equipas do país, onde então se destacavam o Genoa e o Pro Vercelli, nomes que haviam dominado as duas primeiras décadas do calcio no plano nacional. Nesse sentido urge que o clube transponha a fronteira do amadorismo para o profissionalismo que começava a imperar no futebol transalpino, e o primeiro passo é dado na contratação de um homem oriundo da escola do Danúbio, para muitos a região do Velho Continente onde o futebol atingia a sua perfeição no plano técnico e tático. Do triângulo composto por Áustria, Hungria e Boêmia (mais tarde batizada de Checoslováquia) foram extraídos durante grande parte da primeira metade do século XX alguns diamantes raros no que ao desporto rei diz respeito. Jogadores, treinadores, ou simplesmente pensadores do jogo que o levaram para patamares da excelência e da beleza nunca dantes vistos no Velho Continente.



Hermann Felsner, o criador
d' Il Grande Bologna
Os dirigentes do Bologna estavam cientes de que para edificar o clube vencedor que tinham em mente era preciso trazer para a cidade que alberga a universidade mais antiga do Mundo um desses filósofos danubianos da bola. Decidem então colocar um anúncio num jornal de Viena, em busca de um timoneiro para o projeto de sucesso que idealizavam. Receberam várias respostas, e na sequência disso Arrigo Gradi, um dos co-fundadores do clube, decide viajar até à capital da Áustria para analisar in loco os candidatos selecionados. A escola final recaíu num antigo jogador do Wiener Sport Club, Hermann Felsner, de seu nome. Este cidadão austríaco chega a Itália em 1920 e de pronto revoluciona o modo de jogar e de pensar dos rossoblú. Felsner desde logo se revelou um profundo conhecedor do futebol, introduziu novos métodos de treino, ou não fosse ele um especialista no campo da preparação física, aos quais aliou os seus vastos conhecimentos no plano tático. Felsner reconstruiu o clube, criou as bases daquele que viria a ser Il Grande Bologna das décadas seguintes. Sob a sua batuta o Stadio Sterlino - uma das primeiras casas do Bologna - passou a ser palco de magistrais sinfonias futebolísticas interpretadas por uma orquestra formada por notáveis figuras moldadas pelo génio do treinador austríaco. Nomes como Giuseppe della Valle, Augusto Baldini, Gastoni Baldi, ou Cesare Alberti rapidamente se tornaram em futebolistas de renome em Itália, e mais do que isso em homens capazes de conduzir o Bologna à glória sonhada. Em 1920/21 é dado do primeiro sinal ambição dos rossoblú, com a conquista do primeiro lugar do Grupo Regional do Norte do Campeonato Italiano - que até meados dos finais dos anos 20 foi disputado em várias fases, sendo que os vencedores das etapas regionais disputavam mais à frente eliminatórias nacionais que apuravam o campeão. O talento de Felsner para moldar jogadores de inegável talento atinge, quiçá, o seu apogeu em 1923, altura em que descobre num modesto clube amador local, o Fortitudo, um artista que haveria de escrever o seu nome no livro de ouro do futebol italiano: Angelo Schiavio.


Angelo Schiavio, a estrela maior
d' Il Grande Bologna
Este astro atuou durante 16 temporadas (1922-1938) no Bologna, tendo apontado 242 golos em 348 encontros disputados. 109 desses golos foram apontados no principal escalão italiano, onde vestiu a maglia rossoblú em 179 ocasiões. Foi o melhor marcador do campeonato em 31/32, altura em que apontou 25 golos. Schiavio foi o nome sonante de um Bologna que tornou reais as aspirações de glória dos seus dirigentes em 1928/29, época em que venceu o primeiro dos seus sete scudettos - título nacional - que detém até hoje. A equipa do vale do Rio Pó venceu numa primeira fase a Liga do Norte, com 34 pontos, superando a então potência do calcio Pro Vercelli, e uma Juventus que dava os primeiros sinais do gigante internacional que viria a tornar-se nas décadas seguintes. Esta classificação permitiu ao Bologna disputar a final do campeonato com o vencedor do Grupo do Sul, o Alba Roma, tendo vencido os dois jogos do play-off de apuramento do campeão nacional. Estava dado o primeiro passo no caminho da glória. Nos anos seguintes os rossoblú ocuparam sempre a carruagem da frente do futebol transalpino, lutando taco a taco com os melhores pela reconquista do ceptro. Algo que viria a surgir no final da década (1929) quando o doutor Felsner - assim chamado pelos tiffosi bolonheses não só pelo facto de ser licenciado em Direito mas sobretudo pelos seus amplos conhecimentos futebolísticos - conduz o clube a um novo título nacional, depois de levar a melhor numa épica final ante o Torino - decidida apenas num terceiro jogo e quase em cima do apito final (minuto 82) por intermédio de Giuseppe Muzzioli. A Itália curvava-se diante do futebol tecnicamente e taticamente refinado do Bologna - assente na filosofia da escola danubiana com alguns traços do futebol inglês - idealizado por Felsner, um homem de personalidade forte, que tinha bebido grande parte da sua sabedoria na pátria do futebol, Inglaterra, onde havia aprendido com os melhores antes de deixar a sua marca no Planeta da Bola através da criação d' Il Grande Bologna. O austríaco abandonaria a sua obra de arte em 1931, abrindo caminho para que outros elevassem o clube a patamares mais altos e mais pomposos. Por esta altura não só a Itália fazia vénias ao emblema rossoblú, cuja lenda atravessava o (Oceano) Atlântico conforme ficou comprovado pelos convites que surgiram da Argentina e do Brasil no final da década, para que as duas equipas finalistas do campeonato transalpino de 28/29 enfrentassem as melhores equipas daqueles dois países.

Rossoblú fazem tremer a Europa do futebol


Bologna em ação contra o velho rival
Juventus, na luta pelo trono do futebol
  transalpino
Os finais da década de 20 conheceram aquela que é considerada como a progenitora das atuais competições europeias: a Taça Mitropa. Sobre esta hoje desaparecida prova já traçámos longas linhas em recentes viagens ao passado, e nela evoluíram algumas das primeiras lendas do futebol continental como Mathias Sindelar, Rudolf Hiden, Raymond Braine, Giuseppe Meazza, ou Frantisek Plánicka. Disputada pelos melhores conjuntos da Áustria, Hungria, Checoslováquia e Itália - no fundo as maiores potências futebolísticas da Europa de então - a Mitropa Cup era já a competição mais popular do Velho Continente no início da década de 30. Vencê-la era o equivalente a subir ao trono da Europa no que a clubes dizia respeito. Por esta altura Hermann Felsner havia dado o seu lugar ao húngaro Gyula Lelovics, outro profundo conhecedor da mítica escola danubiana que mais não fez do que seguir o trabalho deixado pelo austríaco. Entretanto, o grupo rossoblú era reforçado com nomes que haveriam de deixar a sua marca na história do clube e do próprio jogo, tais como o defesa uruguaio Francisco Fedullo, o guarda-redes Mario Gianni, ou o extremo Carlo Reguzzoni. Em 1932 o Bologna participa pela primeira vez na famosa competição continental, na qualidade de vice-campeão italiano - atrás do campeão Juventus - facto que entraria para a história, ou melhor, uma presença que haveria de iniciar a gloriosa história do futebol italiano nas competições europeias.
O principal campeonato italiano havia somente terminado somente há uma semana quando a squadra orientada por Gyula Lelovics entrou em campo para defrontar os campeões da Checoslováquia, o Sparta de Praga, em partida dos quartos-de-final. Checos que na primeira mão viajaram até Itália sem o patrão da sua defesa, Kada Pesek, para enfrentar Il Grande Bologna. Na baliza surgia Mario Gianni, a quem chamavam de gato mágico, assim apelidado pelas espetaculares e acrobáticas estiradas que marcavam a sua imagem de futebolista, enquanto no setor recuado brilhavam o futuro bi-campeão do Mundo Eraldo Monzeglio, Felice Gasperi, e o uruguaio Francisco Fedullo. No meio campo, dois jogadores comandavam majestosamente as operações: Gastoni Baldi, e Gastone Martelli. Estes dois jogadores serviam de forma sublime a linha avançada daquele memorável conjunto, linha essa formada por nomes como Bruno Maini, o uruguaio Raffaele Sansone, Carlo Reguzzoni e Angelo Schiavio, a estrela mais brilhante daquela lendária equipa. Este último jogador foi um dos destaques no embate ante o Sparta, que o Bologna venceu por claros e expressivos 5-0. Reguzzoni abriu o marcador nos minutos iniciais, seguido de dois golos de Maini e um de Schiavio, tendo a nota artística final sido assinada por Baldi na etapa complementar. 

A medalha que simboliza a conquista
da Mitropa Cup em 32
No encontro da segunda mão os checoslovacos ainda tentaram o impossível, e aos 30 minutos do primeiro tempo já haviam marcado dois golos - por Nejedly e por Donati, este último um auto-golo - que traziam esperança ao combinado orientado pelo lendário John Dick. Aos 15 minutos da segunda parte Podrazil fez o 3-0 final, resultado insuficiente para afastar o vice-campeão de Itália. Nas meias-finais, a squadra de Lelovics enfrentou o First Viena, conjunto que na primeira mão visitou o Stadio Littorale - a nova casa do Bologna, que hoje em dia é denominada de Estádio Renato Dall' Ara - tendo ali perdido por 2-0, com golos de Maini e Sansone, num jogo que fica marcado pelo facto de Schiavio ter atuado fisicamente limitado. Ele que havia sido o melhor marcador do campeonato italiano em 1931/32, com um total de 25 remates certeiros.
Uma semana mais tarde, no Hohe Warte Stadium, em Viena, os austríacos fizeram uma exibição de gala, um jogo perfeito, que mesmo assim não chegou para ir além de uma magra e insuficiente vitória por 1-0.

A edição de 1932 da Taça Mitropa ficou marcada pela polémica meia-final entre a Juventus e o Slavia de Praga, uma autêntica batalha campal que levou a organização da prova a afastar estes dois clubes e a entregar o título de campeão ao Bologna que assim soltava o primeiro grito de vitória além do futebol italiano no plano internacional. O Bologna tornava-se assim na primeira squadra transalpina a vencer uma competição europeia sob o signo da magia e criatividade técnico-tática que caracterizava o seu estilo de jogo.
Fotografia histórica: A equipa do Bologna que em 1932
conquistou o primeiro título europeu de clubes para Itália
Dois anos mais tarde, e sob a orientação do húngaro Lajos Kovács, Il Grande Bologna volta a mostrar a sua... grandeza no plano internacional. A equipa volta a conquistar a Europa na sequência de um novo triunfo na Mitropa Cup. Contudo, a campanha não começou de maneira fácil, já que na primeira ronda os húngaros do Bocskai foram um osso duro de roer. No jogo da primeira mão, no Stadio del Litorialle, o combinado magiar surgiu no relvado com uma defesa de ferro, só derrubada pela arte e força de Carlo Reguzzoni e da grande estrela da equipa, Angelo Schiavio. Na segunda mão foi a vez do setor defensivo dos italianos brilhar, segurando a avalanche ofensiva dos húngaros que tiveram em Jeno Vincze a sua maior figura, sendo dele um dos golos com que o Bocskai derrotou o Bologna, por 2-1. Resultado, contudo, insuficiente para passar aos quartos-de-final, já que o tento de Reguzzoni fez estalar a festa entre a comitiva transaplina.
Tranquila foi a passagem do Bologna às meias-finais, já que na primeira mão dos quartos-de-final, diante do seu público, o clube transalpino humilhou por completo o Rapid de Viena. 6-1 foi o resultado de uma partida onde os atacantes Reguzzoni e Schiavio estiveram em claro destaque ao apontarem os golos da sua equipa. Em Viena, o Rapid adiantou-se cedo no marcador, por intermédio de Binder, logo aos dois minutos, dando ideia de que o milagre poderia acontecer, mas Reguzzoni logo tratou de arrefecer o ímpeto dos locais com o golo do empate, de nada valendo os três golos de Binder no segundo tempo.

Final da Taça Mitropa de 1934
As meias-finais comprovaram que o Bologna era de facto uma das grandes equipas da Europa dos anos 30. Que o diga o (então) poderoso Ferencvaros, que na primeira mão não foi além de um empate caseiro antes os italianos, que por sua vez no jogo de volta esmagaram por completo os húngaros na sequência de um robusto triunfo por 5-1, com relevo para as exibições de Fedullo e Schiavio, este último autor de dois golos. Assim chegávamos a mais uma final, onde surgiu pela segunda vez - no espaço de três anos - Il Grande Bologna, que no entanto se viu a braços com o azar na partida da primeira mão da final da edição de 1934, já que por motivos de lesão a sua maior estrela, Angelo Schiavio, não pôde viajar para Viena. No entanto, e em contrário ao que se esperava, os italianos não ficariam fragilizados por esse facto, já que ao intervalo venciam o seu oponente por duas bolas a zero. No segundo tempo, e no curto espaço de seis minutos, o Admira - adversário da final - deu a volta ao marcador, o qual não mais viria a ser alterado até final, graças a uma magnífica exibição do gato mágico Mario Gianni. Na segunda mão, e já com o seu capitão e estrela-mor Schiavio em campo, o Bologna dominou por completo os acontecimentos. Jogada de baixo de um calor infernal a partida foi de sentido único, o da baliza forasteira, com sucessivos lances de perigo a ocorreram junto da baliza à guarda de Platzer. O perigo número um na área vienense dava pelo nome de Carlo Reguzzoni - jogador que o lendário mestre da tática Hugo Meisl classificou, na época, como o melhor extremo do futebol continental -, que neste encontro esteve verdadeiramente endiabrado. Apontou três dos cinco golos com que o Bologna venceu o seu oponente, mas poderia ter marcado muitos mais, tais foram as ocasiões em que assustou Platzer. Com este hattrick Reguzzoni elevaria para 10 o número de golos marcados na competição, facto que fez dele o melhor da edição de 1934 da Mitropa. Quando o árbitro inglês Arthur James Jewell apitou para o final do encontro os 25 000 espectadores presentes no Stadio del Littoriale explodiram de alegria: Il Grande Bologna era de novo campeão da Europa.
1934 foi de facto um ano inolvidável para o futebol italiano, pois à conquista do Campeonato do Mundo pela seleção nacional seguiu-se mais um capítulo da história triunfal d' Il Grande Bologna. Curioso é que nestes dois factos um homem esteve em destaque, Angelo Schiavio. Foi dele o golo da vitória da Squadra Azzurra na final de Roma ante a Checoslováquia e por sua influência o Bologna subia de novo ao trono do futebol continental.
O grupo que em 1934 voltou a subir ao trono do futebol europeu
A supremacia dos bolonheses continuou a fazer-se sentir no restantes anos da década de 30, sobretudo no plano interno onde sob a orientação de outro nome que ficou na história do clube, o húngaro Árpád Weisz, interromperam uma série de cinco títulos nacionais consecutivos da Juventus vencendo os scudettos de 1936 e 1937. A era dourada deste emblema estava longe de terminar, pois até 1941 Il Grande Bologna voltou a rugir bem alto no panorama nacional. Conduzido pelo homem que construi a lenda, Hermann Felsner, a equipa venceu os campeonatos de 39 e 41, antes de passar o testemunho artístico no que à interpretação do jogo alude a outro grande squadrone: Il Grande Torino.

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