terça-feira, novembro 10, 2015

Arquivos do Futebol Português (5)

Januário Barreto
O futebol arrebatava cada vez mais corações lusitanos na caminhada para o final do século (XIX). A fundação de novos grupos era um facto por estas alturas, sobretudo entre a classe escolar, que descobriam no jovem football o seu passatempo favorito para ocupar os tempos livres. Depois de o Colégio Vilar ter sido das primeiras instituições escolares lisboetas a praticar o futebol de forma organizada, outros estabelecimentos de ensino se lhe seguiram. Foi o caso da Casa Pia, cujos alunos terão começado a interpretar o belo jogo de forma oficial por volta de 1894, havendo registos da estreia dos casapianos em fevereiro desse ano, quando no Campo das Salésias enfrentaram e empataram a uma bola com o team do Académico Football Club - que representava a Escola Politécnica. Grande impulsionador do futebol na Casa Pia foi Januário Barreto, figura que haveria de ter uma preponderância vincada na evolução do futebol em Portugal nos inícios do século seguinte, quer na qualidade de jogador, de árbitro, ou de dirigente - foi, por exemplo, presidente do Sport Lisboa, da Liga Portuguesa de Futebol, ou do Conselho Fiscal do Sporting Clube de Portugal.
Com a descentralização do futebol dos terrenos do Campo Pequeno para outras zonas da cidade de Lisboa o futebol começa nesta altura a ser abraçado pelas classes mais baixas da sociedade. O que até então era um jogo elitista é agora praticado pelo povo. Há por isso notícias da fundação de vários grupos oriundos de bairros lisboetas - como Alcântara, Campo de Ourique, ou Benfica. Porém, as parcas e deficientes infraestruturas existentes para a prática da modalidade acabam por esfriar o entusiasmo, e até final do século o futebol é jogado de forma... intermitente. O futebol era contudo ainda um mero divertimento, uma brincadeira de rapazes, e talvez isso ajude igualmente a justificar o facto de não haver competições oficiais de forma regular, como foi o caso da Cup d'El Rei - jogada em 1984 entre combinados do Porto e de Lisboa - que teve vida efémera. Quem parece que levava o football a sério era a comunidade britânica instalada em terras lusas, sobretudo a de Carcavelos, onde os trabalhadores do Cabo Submarino davam vida a uma das primeiras potências futebolísticas nacionais, o team do Carcavelos Club. Uma equipa poderosa e durante anos imbatível, sendo que em 1895 há alguns registos de resultados avolumados obtidos pelo Carcavelos, destacando-se na imprensa da época as goleadas aplicadas ao Ginásio Club Português - 4-0 e 6-1, e ao Lisbonense, por 7-0, última equipa esta que no andamento do referido ano parece vir a perder algum fulgor futebolístico... Aliás, esta apatia estende-se ao resto da cidade de Lisboa, de forma inexplicável, pois como referimos no início deste capítulo os primeiros anos da década de 90 foram de expansão, com o surgimento de novos grupos, sobretudo de âmbito escolar. Mas o que é certo é que até final do século a modalidade decresce em termos de prática. São poucos ou quase nenhuns os jogos de que a imprensa faz eco nestes últimos anos de século XIX!!! As exceções continuam a ser o Carcavelos Club, os grupos escolares, e alguns ilustres resistentes - como os irmãos Pinto Basto, por exemplo - que não deixam morrer o jogo na sociedade lisboeta, realizando aqui e acolá um ou outro match. O resto do país estava como Lisboa, ou seja, o jogo encontrava-se em banho maria.

Nenhum comentário:

Postar um comentário