terça-feira, março 10, 2015

Histórias do Planeta da Bola (6)... Os anos dourados (1927-1939) da Taça Mitropa - A primeira montra de estrelas do futebol europeu (parte I)

A Taça Mitropa
Atualmente, a Champions League (da UEFA) é sem margem de dúvida o palco de sonho que qualquer futebolista deseja pisar. É a grande montra do futebol planetário, onde se passeiam com glamour os maiores artistas do belo jogo. Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar, Ibrahimovic, Suárez, Pirlo, Bale, Casillas, Benzema, Gotze, Neuer, ou Hazard são apenas algumas das mega estrelas que hoje desfilam na passerelle da prova rainha da UEFA. Antes deles muitas outras lendas do jogo exibiram a sua classe numa prova que em 2016 irá cumprir 60 anos de vida, e onde na qual estão escritos centenas de capítulos dourados da história da modalidade. Como alguém diz: o melhor futebol do Mundo está ali, na Champions League (ou Liga dos Campeões, na língua de Camões). Está, e arriscamos dizer que... dificilmente algum dia irá deixar de estar. O sonho teve início nos anos 50, coincidente com o nascimento da UEFA (1954), altura em que um leque de personalidades ligadas ao futebol de então idealizaram, ou sonharam, esta será mesmo a melhor definição para o que então se passou, reunir os melhores clubes - e consequentemente os melhores futebolistas - do Velho Continente em torno de uma competição. Entre esses sonhadores encontravam-se os ilustres Don Santiago Bernabéu - então presidente do Real Madrid - e Henri Delaunay, jornalista francês por muitos considerado o verdadeiro pai das competições europeias, quer de clubes, quer de seleções. Assim, na época de 1955/56 arrancava oficialmente aquela que com o passar dos anos se tornou na prova mais importante de clubes do planeta da bola, a Taça dos Clubes Campeões Europeus, hoje denominada de Liga dos Campeões Europeus. 
Este foi contudo um sonho recalcado (!), um sonho inspirado num outro sonho tornado realidade um par de décadas antes quando no leste da Europa se disputou a primeira competição europeia de clubes da história, que agregou a si algumas das melhores equipas e atletas daquele tempo. Eis a Taça Mitropa, a precursora das competições europeias chanceladas pela UEFA. Numa (longa) viagem ao passado vamos (tentar) desfiar as memórias daquela que foi - sem dúvida - a primeira (grande) Liga dos Campeões da história. 

Hugo Meisl: O pai das competições europeias de clubes e de seleções?


Hugo Meisl, mais do que um dos melhores
mestres da tática de todos os tempos,
ele foi o mentor das competições continentais
As opiniões dividem-se quando se discute sobre qual a grande potência do futebol europeu dos anos 20 e 30 do século passado. Para muitos - sobretudo para os britânicos - os melhores intérpretes dos desporto rei eram os ingleses, eles foram os (re)criadores do futebol moderno, criaram as leis, as (primeiras) táticas, e também as primeiras lendas. Contudo, como em tudo na vida, por vezes o aprendiz supera o mestre, e na voz de muitos historiadores do belo jogo o melhor futebol daquelas décadas era jogado na região do (rio) Danúbio. Três nações interpretavam a modalidade com elegância e mestria ímpares. Áustria, Checoslováquia, e Hungria, eram na época encaradas como as nações onde o jogo tocava o céu em termos de perfeição. Mas qual delas o fazia melhor? Qual dos nobres emblemas destes três países era capaz de se sentar no trono do futebol continental? Poderá, eventualmente, ter sido esta a questão que passou pela cabeça de Hugo Meisl,  um cidadão nascido em 1881 na antiga região da Boêmia - hoje território pertencente à República Checa - que nos inícios do século passado se destacou como um dos mais prestigiados estudiosos do jogo. Oriundo de uma família de comerciantes judeus, Meisl cedo deixou o seu lar para prosseguir os seus estudos em Viena, a capital austríaca, onde a sua paixão pelo futebol cedo começou a ganhar vincados contornos. A sua ligação ao jogo começou pela prática do mesmo, envergando - desde que em finais do século XIX assentou arraiais na capital da Áustria - a camisola do Vienna Cricket and Football Club. Fê-lo até 1905, altura em que se tornou árbitro, e posteriormente dirigente da Federação Austríaca de Futebol. Era pois uma figura multifacetada dentro do meio futebolístico daquele país. Mas seria na qualidade de treinador que o seu nome iria atingir o Olimpo dos Deuses. Corria o ano de 1912 quando Meisl assumiu as funções de selecionador da equipa nacional da Áustria, começando a edificar a partir de então não só a melhor seleção de todos os tempos daquele país, como uma das mais brilhantes da história centenária da modalidade. Seleção essa que encantou o Mundo nos anos 20 e 30, e que ficou eternizada como o Wunderteam (a equipa maravilha). Além de um notável estudioso e revolucionário - no bom sentido - mestre da tática, vulgo, treinador, Hugo Meisl era um visionário, característica que aplicou com mestria quer na evolução tática que implementou na sua seleção, quer na criação de provas que fomentassem a competição entre seleções e clubes. 


Meisl (à direita) posa
com a Mitropa Cup
Nesse sentido, em 1927 Meisl viu não uma, mas duas das suas ideias pioneiras atingirem o patamar da realidade. Assim, era dado o pontapé de saída da Taça Internacional e da Taça Mitropa. A primeira - cuja história já foi evocada pelo Museu Virtual do Futebol numa anterior viagem ao passado - destinava-se às seleções da Europa Central, ao passo que a segunda foi equacionada para os clubes oriundos da citada região continental - sim, porque os mestres ingleses continuavam, teimosamente, fechados na sua concha, orgulhosamente sós, e convencidos de que eram os melhores do Mundo no que a futebol dizia respeito, não precisando de provar essa teórica supremacia no campo de batalha, isto é, nos retângulos de jogo. Como facilmente podemos vislumbrar, quer a Taça Internacional quer a Taça Mitropa foram, respetivamente, as sementes dos atuais Campeonato da Europa e Liga dos Campeões da UEFA. Mas será que Meisl foi mesmo pai das eurotaças? As dúvidas são poucas em torno desta questão, já que grande parte dos historiadores sustenta que ele foi o mentor das competições continentais, tendo a UEFA - assim que nasceu - recriado a(s) ideia(s) da lendária figura que viria a falecer em Viena no ano de 1937, mas... há quem pense o contrário, ou seja, tal como Henri Delaunay plagiou, por assim dizer, a ideia de Meisl, também este se terá inspirado na Chalange Cup, certame criado pelo inglês John Gramlick que entre 1897 e 1911 foi disputado por clubes do Império Austro-Húngaro, para erguer tanto a Mitropa Cup como a Coupe Internationale Européene (o nome de batismo da Taça Internacional). Mentor ou não das provas continentais, o que é certo é que Hugo Meisl teve um papel fundamental na dinamização da ligação competitiva entre clubes e nações do Velho Continente

1927: A primeira edição da Taça Mitropa


Johann Horvath, uma das principais
figuras do Rapid Viena e da seleção
austríaca nas décadas de 20 e 30
A ideia de Hugo Meisl era simples: colocar frente a frente as melhores equipas dos campeonatos nacionais (profissionais) da Europa Central, para entre si disputar o título continental, isto é, é Taça Mitropa, cuja designação faz precisamente alusão aos países daquele eixo do continente, por outras palavras, Mitropa é uma contração da expressão alemã Mitteleuropa, que traduzido para português significa Europa Central. As linhas gerais da nova competição foram traçadas numa reunião realizada em Veneza a 17 de julho de 1927. À competição podiam aderir somente os países que tivessem instituído o profissionalismo nos seus respetivos campeonatos. Depois da Inglaterra - que continuava renitente em abraçar os restantes vizinhos continentais no sentido de organizar e participar em provas internacionais oficiais - o ter feito, a Áustria foi o segundo país europeu a criar uma liga profissional, facto ocorrido em 1924. A esta seguiu-se a Hungria (1925), a Checoslováquia (1926) e a Jugoslávia (1927), precisamente os quatro países que participaram do pontapé de saída da primeira edição da Mitropa Cup. Idealizada num sistema de eliminatórias a duas mãos, com um jogo em casa e outro fora, a competição foi integrada pelos campeões e vice-campeões nacionais dos quatro países envolvidos. 14 de agosto de 1927 é pois um dia histórico para a... histórica prova, com a ocorrência dos 1ª eliminatória - equivalente aos quartos-de-final. Viena, Praga, e Belgrado foram as cidades que serviram de palco para os primeiros embates de um certame que desde cedo deixou bem vincado o poderio do futebol praticado por austríacos e checoslovacos. Na capital austríaca um autêntico vendaval de golos varreu desde logo com os jugoslavos do Hajduk Split da prova, vendaval esse protagonizado pelo lendário conjunto do Rapid de Viena, que nas suas fileiras contava com alguns dos mitos que formaram o Wunderteam de Hugo Meisl na década seguinte, casos de Pepi Smistik, Franz Weselik, ou Johann Horvath. 8-1, o resultado da avalanche austríaca, com destaque para o hattrick de Johann Hoffmann. O futebol austríaco vivia por estes dias indiscutivelmente alguns dos seus melhores dias - embora o melhor ainda estava para acontecer, como iriam comprovar os inícios dos anos 30 - pelo que a viagem a Split para disputar a segunda mão mais não foi do que um passeio para os vienenses, que graças a um novo golo de Hoffmann obtiveram uma nova vitória - esta mais magra, por 1-0 - que garantiu a presença nas meias-finais. 


John Dick
Nem todos os ingleses estavam de costas voltadas para o que se passava no resto da Europa no que a futebol dizia respeito. John Dick, um escocês de berço que enquanto futebolista se notabilizou ao serviço do Arsenal (cuja camisola envergou por mais de 250 ocasiões), e que na sequência de uma digressão do clube londrino pela Europa Central se terá - dizem - deixado encantar pelo futebol que se praticava naquela região, era um desses britânicos cuja mente estava aberta para outros futebóis. Após ter pendurado as chuteiras partiu à aventura para aquelas bandas, começando por treinar o Deutscher, da Boêmia, onde foi campeão. Assentou posteriormente arraiais na Checoslováquia, em 1919, tendo desde logo assumido um papel de destaque na dinamização do futebol naquele país. Assumiu o comando do Sparta de Praga, edificando uma equipa lendária, praticamente imbatível, e que ficou conhecida como o Zelezná Sparta, que na tradução para português significa Sparta de Ferro. Um conjunto forte fisicamente cujo futebol ofensivo esmagou adversários atrás de adversários, sobretudo na competição interna, onde os homens da capital venceram cinco campeonatos consecutivos sob as ordens de Dick. Super potência interna o Sparta mostrou-se igualmente sedutor e poderoso na Mitropa Cup, começando por bater em casa nos quartos-de-final, sem apelo nem agrado, o campeão da Áustria, o Admira de Viena, por 5-1. Entre as figuras maiores do conjunto de John Dick destacava-se Josef Silny - que seria um dos principais responsáveis pela chegada da seleção checoslovaca à final do Campeonato do Mundo de 1934. Na viagem à capital austríaca, para disputar o encontro da segunda mão, uma chuva de golos caiu sobre o relvado do Hohe Warte. 5-3 a favor dos vienenses, resultado que mesmo assim não chegou para afastar os homens de John Dick das meias-finais. Do lado dos checoslovacos um homem voltou a evidenciar a sua veia goleadora nesta eliminatória: Evzen Vesely, autor de dois golos, repetindo assim a receita do encontro da primeira mão, onde havia marcado outros dois tentos. Ele que até nem era titular absoluto deste Zelezná Sparta!


Gyorgy Orth
A outra grande nação futebolística da Europa Central daqueles anos era a Hungria. No entanto, nesta primeira edição da Mitropa Cup os húngaros não se fizeram representar pelo seu melhor conjunto de então, o Ferencvaros, outra máquina de jogar (bom) futebol. O MTK de Budapeste foi o combinado daquele país que melhor desempenho obteve neste arranque da Mitropa, ao alcançar um lugar entre os quatro melhores conjuntos. Na primeira ronda despacharam os vice-campeões da Jugoslávia, o BSK Belgrado, por um total de 8-2 no conjunto da eliminatória (com 4-2 na primeira e 4-0 na segunda), sendo que no plano individual o sublinhado deste embate vai para o húngaro Gyorgy Orth, autor de três dos oito golos do conjunto de Budapeste, figura esta que após ter encerrado a sua brilhante carreira de futebolista (em 1928) enveredou pela vida de treinador, tornando-se então num autêntico globetrotter, saltando de país para país, de continente para continente, acabando os seus dias na cidade do Porto, onde viria a falecer em 1962, numa altura em que orientava a turma do FC Porto.
O derradeiro embate destes quartos-de-final colocou frente a frente os vice-campeões da Hungria e da Checoslováquia, respetivamente o Ujpest e o Slavia de Praga. Neste último emblema despontava aquele que hoje em dia é considerado como um dos melhores guarda-redes de todos os tempos do futebol internacional, de seu nome Frantisek Plánicka. E se este homem fechava - com classe - a sete chaves a baliza, lá na frente Antonin Puc aterrorizava os guardiões contrários com o seu instinto matador. Puc, esse mesmo, o homem que em 1934 assustou o ditador Benito Mussolini após ter colocado a Checoslováquia na frente do marcador na final do Campeonato do Mundo de Itália... ante a Squadra Azzurra. Na edição de estreia da Mitropa Cup Antonin Puc iria brilhar sobretudo no encontro da segunda mão, na Hungria, quando apontou os dois golos da sua equipa que valeram um empate a duas bolas, e o consequente carimbo de acesso às meias-finais.

Equilíbrio foi nota dominante nas meias-finais


Exibição de gala do guardião Plánicka
não chegou para apurar o Slavia de Praga para a final
A rivalidade existente entre austríacos, húngaros, e checoslovacos subiu de tom nas meias-finais da competição, fase esta onde ficou evidente a dificuldade em decifrar qual das três nações era a mais forte no contexto futebolístico da época, tal o equilíbrio que se verificou nas meias-finais. Aqui podemos até falar na estrelinha da sorte, que acabou por se posicionar ao lado dos futuros campeões, o Sparta de Praga, que depois dois empates (2-2 e 0-0) ante o MTK de Budapeste foram dispensados de discutir um terceiro encontro - de desempate - devido a uma inscrição irregular de um atleta húngaro, neste caso o extremo-direito Kálmán Konrad, que pelo facto de nessa temporada ter aliando pelos norte-americanos dos Brooklyn Wanderers estava impedido de representar outro clube nessa época. O jogador e o clube não deram ouvidos à lei, e no terceiro jogo lá estava Konrad do lado do MTK, ato que iria custar caro ao combinado de Budapeste, já que a organização decidiu anular o encontro e qualificar diretamente o Sparta para a final.
No outro jogo o Rapid de Viena teve de suar para ultrapassar uma autêntica fortaleza chamada... Frantisek Plánicka. O célebre guardião nascido em Praga defendeu tudo o que havia para defender nas duas partidas da eliminatória. Ou quase tudo. Sobretudo na primeira mão, na capital da então Checoslováquia, onde as suas espetaculares defesas garantiram um empate a duas bolas. Bem bom, tendo em conta a verdadeira avalanche ofensiva que os austríacos edificaram ao longo do encontro junto da baliza checoslovaca. Na segunda volta uma nova exibição de gala de Plánicka não evitou o adeus do Slavia à competição. 2-1 a favor do Rapid que desta forma se juntava ao Sparta na primeira final da Mitropa Cup.

Campeão encontrado na... primeira mão


Josef Silný, o melhor marcador
da primeira Mitropa Cup
No dia 30 de outubro de 1927 o Estádio Letna, em Praga, foi pequeno demais para acolher os 25.000 espectadores que ali se deslocaram para assistir ao embate entre Sparta de Praga e Rapid de Viena. A turma da casa não poderia ter tido melhor início de jogo, já que logo na primeira jogada o capitão Karel Pesek, conhecido entre os colegas por Kada, abriu o marcador. Ambas as equipas entraram em campo algo nervosas, desconcentradas na sua zona defensiva, de tal maneira que aos 15 minutos o marcador já tinha funcionado por três vezes, duas para o Sparta e uma para o Rapid. Atuando ambos num peculiar esquema tático de 2-3-5 os dois conjuntos ainda apontariam mais dois golos até ao descanso. 3-2 era o resultado ao intervalo. Na etapa complementar o jogo foi amplamente dominado pelos homens de John Dick, cujo futebol ofensivo e tremendamente eficaz causaria estragos na defensiva austríaca em mais três ocasiões, com destaque para a pontaria letal de Josef Silný, autor de dois golos, ele que se iria consagrar como o melhor marcador desta primeira edição da Mitropa Cup, com cinco golos. 6-2, o score final, e o campeão estava praticamente encontrado, já que o Rapid de Viena precisava de um verdadeiro milagre para inverter o rumo dos acontecimentos no encontro de volta, o qual teria lugar a 13 de novembro. Pressentindo que o grande Sparta dos anos 20 e 30 estava prestes a entrar para a história do futebol continental, os adeptos do clube invadiram o relvado no final da partida para carregar em ombros os... futuros campeões. E de facto confirmou-se que a tarefa do Rapid em dar a volta à eliminatória era uma tarefa muito complicada. A turma vienense até deu alguma esperança aos adeptos presentes no Hohe Warte Stadium, quando ao minuto cinco Franz Weselik colocou a sua equipa em vantagem. Porém, só no segundo tempo é que o Rapid voltaria a balançar as redes dos checoslovacos, graças a um golo de Luef. A esperança voltava assim a renascer para os comandados de Edi Bauer, que neste segundo encontro atuou como jogador-treinador. Porém, o goleador da equipa de Praga, Silný, voltou a fazer das suas, e aos 81 minutos acabou de vez com as dúvidas quanto ao campeão da competição, fazendo o 1-2 final. O Sparta de Ferro era desta forma coroado como o primeiro rei do futebol continental.
A acesa rivalidade entre países - com cenas de violência em grande parte dos jogos - e a falta de fair-play foram aspetos amplamente notados ao longo desta primeira edição. A provar isso o facto de na cerimónia da entrega da taça de campeão o capitão do Sparta, Kada, ter sido apedrejado pelos adeptos do Rapid (!) e não fosse a rápida intervenção dos agentes da autoridade ali presentes e os recém consagrados vencedores da Mitropa Cup dificilmente teriam saído com vida do estádio Hohe Warte.

Números e nomes:

Quartos-de-final (1ª e 2ª mãos) 

MTK Budapeste (Hungria) – BSK Belgrado (Jugoslávia): 4-2/4-0 

Rapid Viena (Áustria) - Hajduk Split (Jugoslávia): 8-1/1-0

Sparta Praga (Checoslováquia) - Admira Viena (Áustria): 5-1/3-5

Slavia Praga (Checoslováquia) – Ujpest (Hungria): 4-0/2-2 

Meias-finais (1ª e 2ª mãos)  

Slavia Praha (Checoslováquia) - Rapid Viena (Áustria): 2-2/1-2

MTK Budapeste (Hungria) - Sparta Praga (Checoslováquia): 2-2/0-0 (Sparta avança para a final pelo facto de o MTK ter sido castigado por ter alinhado com um jogador impedido de atuar no terceiro jogo) 
Goleado em Praga na primeira mão da final o Rapid de Viena praticamente disse adeus
à possibilidade de colocar a mão num troféu que haveria de conquistar em 1930
Final (1ª mão)
Sparta Praga (Checoslováquia) - Rapid Viena (Áustria). 6-2
Data: 30 de outubro de 1927
Estádio: Letna, em Praga (Checoslováquia)
Árbitro: Raphaël Van Praag (Bélgica)
Sparta Praga: František Hochmann, Jaroslav Burgr, Antonín Perner, František Kolenatý, Káda (c), Ferdinand Hajný, Adolf Patek, Josef Šíma, Josef Miclík, Josef Silný, e Josef Horejs.Treinador: John Dick.
Rapid Viena: Walter Feigl, Otto Jellinek, Leopold Czejka, Josef Madlmayer, Josef Smistik, Leopold Nitsch (c), Karl Wondrak, Franz Weselik, Richard Kuthan, Johann Horvath, e Ferdinand Wesely. Treinador: Edi Bauer.
Golos: 1-0 (Kada, ao 1m), 2-0 (Šíma, aos 14m) 2-1 (Weselik, aos 15m), 3-1 (Silný, aos 33m), 3-2 (Wesely, aos 34m), 4-2 (Patek, aos 62m), 5-2 (Silný, aos 76m) 6-2 (Patek, aos 78m).
Final (2ª mão)
Rapid Viena (Áustria) - Sparta Praga (Checoslováquia): 2-1
Data: 13 de novembro de 1927
Estádio: Hohe Warte, em Viena (Áustria)
Árbitro: Willem Eymers (Holanda).
Rapid Viena: Walter Feigl, Roman Schramseis, Leopold Nitsch (c), Johann Richter, Josef Smistik, Josef Madlmayer, Edi Bauer, Johann Horvath, Franz Weselik, Johann Luef, e Ferdinand Wesely. Treinador: Edi Bauer.
Sparta: Praga: František Hochmann, Jaroslav Burgr, Antonín Perner, František Kolenatý, Káda (c), Ferdinand Hajný, Adolf Patek, Josef Šíma, Josef Miclík, Josef Silný, e Josef Horejs. Treinador: John Dick. 
Golos: 1-0 (Weselik, aos 5m), 2-0 (Luef, aos 55m), 2-1 (Silný, aos 81m).
O temível Sparta de Ferro, equipa construída pelo mestre da tática escocês John Dick, que em 1927
venceu a primeira edição da Mitropa Cup

1928: Judeus de Budapeste entram na história do futebol 
Ferencvaros em ação durante a sua caminhada
rumo à glória na segunda edição da Taça Mitropa
O sucesso da primeira edição da Mitropa Cup confirmou-se no ano seguinte, quando num formato idêntico oito equipas lutaram pelo ceptro. No entanto, algumas supresas saltaram à vista no quadro dos quartos-de-final. Desde logo, a ausência do campeão em título, o Sparta de Praga, conjunto que devido à má campanha interna - ficou em terceiro lugar do seu campeonato nacional - viu-se impedido de defender a taça. Outra novidade foi a estreia - na competição - dos húngaros do Ferencvaros, equipa de Budapeste apoiada pela comunidade judaíca daquele país. Ferencvaros das décadas de 20 e 30 que se pode considerar como a semente do que o futebol húngaro viria a colher (sobretudo) na década de 50, um estilo de fina classe, encantador, revolucionário sob o ponto de vista tático, e que teria o seu ponto alto na citada década de 50, através dos eternos Mágicos Magiares (alcunha dada à seleção húngara desses anos). Ferencvaros cujo plantel era composto por algumas das primeiras lendas do futebol magiar, casos do implacável defesa Márton Bukovi, e do demolidor avançado-centro József Takács, sendo que este último haveria de se sagrar o máximo goleador desta segunda edição graças aos seus 10 golos. A veia goleadora de Takács e do Ferencvaros fez-se notar logo na primeira eliminatória, quando os jugoslavos do BSK Belgrado foram esmagados por um total - no conjunto das duas mãos - de 13-1. Takács e Turay, repartiram entre si o papel de carrascos do combinado da Jugoslávia, ao apontarem, cada um deles, seis golos. 

Com 10 golos apontados, o húngaro
József Takács foi o melhor marcador
da segunda edição da prova
Estreia igualmente auspiciosa teve o campeão da Checoslováquia de 1928, o Viktoria Zizkov, que na ronda inaugural despachou o Gradanski de Zagreb por um total de 8-4, vitória que foi consumada na segunda mão, graças a uma robusta vitória por 6-1 que apagou a má imagem deixada no encontro de ida na Jugoslávia - derrota por 2-3. Igualmente poderoso e talentoso apresentou-se o campeão austríaco, o Admira de Viena, que nas suas fileiras com um jovem e fino avançado de nome Anton Schall, o qual haveria de ser uma das peças fundamentais do Wunderteam de Hugo Meisl. Schall ajudou a eliminar o Slavia de Praga da fortaleza Frantisek Plánicka, com um resultado total de 6-4. E no derradeiro encontro alusivo aos quartos-de-final o finalista vencido da edição de estreia, o Rapid de Viena necessitou de fazer horas extras para garantir um lugar entre os quatro semi-finalistas. Depois de um triunfo na primeira mão em Viena por 6-4, o Rapid caiu em Budapeste diante do MTK por 3-1, facto que obrigou a organização a agendar um terceiro jogo para desempatar a contenda. Numa partida de desempate onde cautelas e caldos de galinha ditaram leis - ambas as equipas arriscaram pouco - foi o defesa Anton Sitschel a ir lá à frente fazer o único golo do duelo e dar assim a passagem da eliminatória à sua equipa. 

Rapid Viena volta a fazer horas extras para alcançar de novo a final

Contrariamente ao que era esperado, a julgar pela força ofensiva que ambas as equipas patenteavam, o embate entre o Admira de Viena e o Ferencvaros ficou um pouco aquém do esperado em termos de golos. Somente por quatros ocasiões, no conjunto das duas mãos, a bola beijou as malhas das duas balizas, numa eliminatória demasiado... defensiva. Na primeira mão, em Viena, o Ferencvaros dominou por completo o jogo, com Takács a selar tardiamente um curto mas justo triunfo por 2-1. Na partida de volta, em Budapeste, uma exibição magnífica do guardião do Admira fez com que os húngaros apenas por uma ocasião chegassem ao golo, mais do que suficiente para garantir um lugar na final. 
No outro encontro das meias-finais o Rapid de Viena voltou a necessitar de fazer horas extras para lograr alcançar a sua segunda final consecutiva. A primeira mão do embate com os checoslovacos do Viktoria Zizkov - realizada em Praga - foi um jogo de loucos! O defesa Karl Steiner colocou a turma da casa em vantagem, mas pouco depois o inspirado Franz Weselik fez um hattrick num abrir e fechar de olhos que colocou os vienenses a vencer por 3-1. Sol de pouca dura, já que Jan Dvoracek não quis ficar atrás de Weselik e também ele fez três golos de rajada que deram a vitória ao... Viktoria. No encontro da segunda mão, Karel Podrazil estragou a festa aos vienenses, que ao minuto 64 desse embate venciam por 3-1, resultado que lhes dava a qualificação para a final. Porém, esse seria um minuto fatídico para os planos do rapid, já que Podrazil fez o resultado final (3-2) e obrigou a que um terceiro jogo - de desempate - fosse necessário. No play-off o Rapid de Viena realizou uma exibição de gala, sobretudo Johann Horvath que com dois golos na conta pessoal ajudou a sua equipa a construir um triunfo por 3-1 e assegurar assim a presença numa nova final. 

Ferencvaros demolidor resolve questão na 1ª mão

Fase da grande final de 1928, entre o Rapid de Viena
e o Ferencvaros
A primeira mão da grande final foi jogada a 28 de outubro de 1928, em Budapeste, perante 25.000 pessoas. O italiano Albino Carraro foi o árbitro de um encontro... sem história. Ou melhor, um jogo cuja história resume-se quase exclusivamente ao festival de golos apontados pela equipa da casa, que praticamente naquele dia assegurou o título. 7-1, foi o resultado final, e tal como na edição anterior o Rapid de Viena morria na praia logo no rescaldo do primeiro jogo da final. No plano individual o sublinhado vai para os três golos do artilheiro da segunda edição da Mitropa Cup, József Takács, que assim chegava à dezena de remates certeiros. 
Em Viena, no Hohe Warte Stadium unicamente cumpriu-se calendário, até porque se na época anterior a reviravolta do Rapid diante do Sparta de Praga foi uma tarefa para lá de complicada, em 1928 afigurava-se como uma missão impossível. Mesmo assim os vienenses lutaram por um resultado positivo, que os fizesse sair da competição de cabeça erguida. Venceram por 5-3, resultado insuficiente para impedir que o Ferencvaros fizesse a festa. Este triunfo marca aliás o início de uma era dourada para a equipa de Budapeste, que até ao estalar da II Guerra Mundial iria vencer ainda mais cinco títulos de campeão da Checoslováquia, outras tantas taças daquele país, e uma segunda Taça Mitropa (1937). 

Números e nomes:

Quartos-de-final (1ª e 2ª mãos)
Admira Viena (Áustria) - Slavia Praga (Áustria): 3-1/3-3

BSK Belgrado (Jugoslávia) – Ferencvaros (Hungria): 0-7/1-6

Gradanski Zagreb (Jugoslávia) - Viktoria Zizkov (Checoslováquia): 3-2/1-6

Rapid Viena (Áustria) – MTK Budapeste (Hungria): 6-4/1-3(1-0 (desempate) 

Meias-finais (1ª e 2ª mãos) 

Admira Viena (Áustria) – Ferencvaros (Hungria): 1-2/0-1

Viktoria Zizkov (Checoslováquia) - Rapid Viena (Áustria): 4-3/2-3/1-3 (desempate)  

Final (1ª mão)

Ferencvaros (Hungria) - Rapid Viena (Áustria): 7-1 

Data: 28 de outubro de 1928 
Estádio: Ulloi Uti, em Budapeste (Hungria) 
Árbitro: Albino Carraro (Itália)

Ferencvaros: Ignác Amsel, Géza Takács, János Hungler (c), Károly Furmann, Márton BukoviElemér Berkessy, Imre Koszta, József Takács, József Turay, Ferenc Szedlacsik, e Vilmos Kohut. Treinador: Istvan Tóth 

Rapid Viena: Franz Hribar, Roman Schramseis, Franz Kral, Josef Frühwirth, Josef Smistik, Josef Madlmayer, Willibald Kirbes, Franz Weselik, Johann Hoffmann,Johann Horvath, e Ferdinand Wesely (c). Treinador: Edi Bauer. 

Golos: 1-0 (Szedlacsik, aos 15m), 2-0 (Takács, aos 18m), 3-0 (Szedlacsik, aos 20m), 4-0 (Kohut, aos 56m), 5-0 (Kohut, aos 58m), 6-0 (Takács, aos 64m), 7-0 (Takácks, aos 76m), 7-1 (Horvath, aos 85m) 

Final (2ª mão)

Rapid Viena (Áustria) - Ferencvaros (Hungria): 5-3

Data: 11 de novembro de 1928
Estádio: Hohe Warte, em Viena (Áustria)
Árbitro: Albino Carraro (Itália)

Rapid Viena: Franz Hribar, Roman Schramseis, Anton Witschel, Johann Hoffmann, Josef Madlmayer, Josef Fruhwirth, Willibald Kirbes, Franz Weselikm Richard Kuthan, Johann Horvath, e Ferdinand Wesely (c). Treinador: Edi Bauer.

Ferencvaros: Ignác Amsel, Géza Takács, János Hungler (c), Károly Furmann, Márton Bukovi, Elemér Bersessy, Imre Koszta, József Takács, József Turay, Ferenc Szedlacsik, e Vilmos Kohut. Treinador: István Tóth.

Golos: 1-0 (Kirbes, aos 5m), 2-0 (Kirbes, aos 22m), 2-1 (Kohut, aos 33m), 2-2 (Turay, aos 36m), 3-2 (Wesely, aos 37m), 4-2 (Weselik, aos 50m), 5-2 (Wesely, aos 53m(, 5-3 (Szedlacsik, aos 79m).
O demolidor Ferencvaros (26 golos marcados em seis encontros disputados) que em 1928
venceu a sua primeira Mitropa Cup

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