segunda-feira, janeiro 13, 2014

Histórias do Planeta da Bola (1)... A primeira traição numa relação com mais de um século de existência

Alfonso Albéniz (com a camisola do Barça) é o primeiro na fila de cima
a contar da esquerda para a direita
Desconhece-se por completo se foi um bom, médio, ou mau intérprete do belo jogo, já que os ecos da sua perfomance com uma bola nos pés são uma autêntica raridade. A única certeza em relação à sua figura é de que ele foi o primeiro traidor de uma centenária e apaixonante relação que hoje em dia centra em si os olhares de todo o planeta da bola. O nome do traidor? Alfonso Albéniz, o homem que em 1902 leva a cabo o então banal ato de se transferir de um clube para outro, mas que hoje seria encarado como um pecado mortal: trocou o FC Barcelona pelo Madrid FC, último emblema este que mais tarde seria rebatizado com Real Madrid. 
Alfonso Albéniz Jordana, de seu nome completo, nasceu precisamente em Barcelona, a 1 de janeiro de 1886, sendo o mais velhos dos três filhos do famoso compositor catalão Isaac Albéniz. Ainda com a tenra idade de 16 anos o jovem Albéniz é convidado a integrar o team do não menos jovem FC Barcelona, emblema da cidade que havia visto a luz do dia em 1899 pela mão do suíço Hans Gamper. Estávamos em 1901, uma época onde a esmagadora maioria dos países do globo dava ainda os primeiros pontapés na bola que há mais de três décadas deixava os britânicos loucos de entusiasmo.
Começavam pois a nascer as primeiras competições entre clubes no plano interno, despoletavam rivalidades que iriam perdurar até aos dias de hoje, e os primeiros génios da bola mostravam-se ao Mundo. Não se sabe - e voltamos a sublinhá-lo - se terá sido o caso de Alfonso Albéniz, certo é que ele foi preponderante numa das primeiras conquistas daquele que é hoje um colosso do futebol planetário, o Barça, que a 6 de janeiro de 1902 vencia a Copa Macaya após um triunfo por 4-2 ante o Hispania. Albéniz fez a sua estreia pelos blue grana nesse encontro, tendo da sua autoria sido o primeiro golo catalão nessa tarde de glória. Que estreia!
Cerca de quatro meses depois dessa epopeia dá-se o primeiro encontro entre aqueles que com o passar dos anos se converteram em inimigos de morte, protagonistas de uma relação que apaixona adeptos não de Espanha como da restante aldeia global. FC Barcelona e Madrid FC enfrentam-se pela primeira vez num jogo oficial, referente às meias-finais da primeira edição da Copa de la Coronación - mais tarde rebatizada como Copa del Rey - e que terminaria com a vitória catalã por 3-1. O Barça viria a perder a final ante os bascos do Club Viscaya por 1-2, tendo sido esse o derradeiro encontro de Albéniz com a camisola blue grana. Uma semana depois faz as malas e parte para a capital, para ai continuar a sua vida académica, e consigo levou a paixão pelo jovem football, não sendo de estranhar que assim que chega a Madrid um dos seus primeiros atos é vestir o manto sagrado do Madrid Foot Ball Club. A notícia é dada da seguinte forma em breves linhas:  

«Hemos sabido que ha ingresado en la Sociedad Madrid Foot Ball Club el notable y entusiasta jugador señor Albéniz, que perteneció al Barcelona y, además, otros buenos jugadores cuyos nombres sentimos no recordar, pero ya los citaremos en las reseñas de los partidos en que tomen parte.»

Contudo, Albéniz nunca chegou a vestir de branco em termos oficiais, sabendo-se apenas que não muito mais tarde passaria a integrar a direção do clube merengue. Como dirigente distinguiu-se ainda na qualidade de presidente do Colégio Nacional de Árbitros, cargo que ocupava aquando da realização da primeira edição do Campeonato Nacional de Espanha, na temporada de 1928/29, cerca de uma década antes de vir a falecer em solo português, mais concretamente no Estoril. 
Depois de Albéniz largas dezenas de outros jogadores fizeram a arriscada viagem entre Barcelona e Madrid, e vice-versa, algumas dessas viagens mais mediáticas do que outras, casos da de Michael Laudrup, Bernd Schuster, Luís Enrique, ou de Luís Figo, quiçá a mais atribulada da história.

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