domingo, janeiro 16, 2011

História dos Europeus de Futebol (5)... Jugoslávia 1976

A menos de ano e meio do Euro 2012 o Museu Virtual do Futebol regressa hoje à vitrina que guarda as memórias dos Campeonatos da Europa para recordar aquela que foi talvez a primeira grande surpresa da competição: a vitória da Checoslováquia no Euro 76. Esta foi desde o princípio, isto é, desde a fase de qualificação, a equipa sensação da 5ª edição do Europeu de futebol, aquilo a que se pode chamar de um verdadeiro tomba-gigantes.
Na fase qualificação ficaram com o 1º lugar de um grupo que tinha como grande favorita a poderosa Inglaterra, posição essa que lhes permitiu jogar o play-off de acesso à fase final do Euro 1976 com a até então única equipa que havia participado em todas as fases finais da prova, a União Soviética. No duelo com os soviéticos levaram a melhor, triunfando em Bratislava por 2-0 no encontro da 1ª mão e empatando a duas bolas no jogo da 2ª, carimbando desta forma o passaporte para a fase final da competição. Play-off’s que à semelhança da fase grupos decorreram sem grandes surpresas, ou seja, os favoritos levaram a melhor sobre os seus oponentes.
Assim, a Jugoslávia afastou o Pais de Gales (2-0 na primeira mão e 1-1 na segunda), a República Federal da Alemanha (RFA) derrotou a Espanha (1-1 em Madrid e 2-0 em Munique), e por fim a Holanda cilindrou os seus vizinhos da Bélgica (5-0 em Roterdão e 2-1 em Bruxelas).
Estavam encontradas as 4 selecções finalistas do Euro 76, tendo então a UEFA atribuído a organização do evento à Jugoslávia.

“Laranja mecânica” neutralizada pelos checos

Zagreb e Belgrado foram as duas cidades escolhidas para sediar o Europeu. O primeiro encontro decorreu no Estádio Maksimir, em Zagreb, e colocava frente a frente a poderosa Holanda e o menos favorito dos países em prova à vitória final do Euro, a Checoslováquia.
Dois anos antes, no Mundial de 1974, o qual decorreu na Alemanha, a Holanda havia encantado o planeta da bola com o seu futebol mágico… e total.
A “laranja mecânica” como então ficou conhecida partia para este jogo naturalmente como a grande favorita para chegar ao jogo final… quem sabe contra a Alemanha, naquela que seria uma reedição da final do Mundial de dois anos antes, e uma oportunidade de ouro para a vingança das “túlipas”. Só que os planos saíram furados a Cruyff e companhia perante os frios e rigorosos checos. Estes marcaram primeiro por intermédio do seu capitão de equipa Ondrus à passagem do minuto 19.
Sem saber muito bem o que se estava a passar perante aquela quase desconhecida selecção a Holanda ainda conseguiria chegar à igualdade a 13 minutos do final beneficiando da infelicidade de Ondrus que ao contrário do que fizera no primeiro tempo enviou a bola para o fundo da sua própria baliza. Resultado final: 1-1, e a Europa estava espantada com o desempenho dos checos… mas o choque ainda estava para chegar.
No prolongamento de um jogo que teve arbitragem controversa, aliás neste capítulo reside a curiosidade de que as três expulsões (duas para a Holanda e uma para a Checoslováquia) constituem um recorde nos dias de hoje, ou seja, nunca numa fase final um encontro teve tantas expulsões, a frieza dos checos veio ao de cima em contraste com o nervosismo holandês. Nehoda, aos 114, e Vesely, aos 118, dariam a machadada final na laranja e carimbavam o passaporte para a final.

Campeões do Mundo e da Europa não ganharam para o susto

Um dia mais tarde os campeões de Mundo e da Europa em título, a Alemanha Ocidental, também não ganhou para o susto diante da anfitriã Jugoslávia.
Em Belgrado os homens da casa talvez inspirados pela surpresa checa da véspera não se fizeram rogados e desde o apito inicial tomaram as rédeas do jogo. Resultado desse domínio? Uma vantagem de dois golos ao intervalo ( Popivoda, aos 19 minutos, e Dzajic, aos 30).
Os compatriotas do Marechal Tito viviam por esta altura uma euforia desmedida, pois estavam a 45 minutos de atingirem a final do seu Euro. Só que para o alemães o jogo só acaba quando o árbitro manda as equipas para os balneários, sendo que na etapa complementar mostraram o porquê de serem os detentores dos dois títulos mais importantes do futebol ao nível de selecções. Quatro minutos passados da hora de jogo Flohe reduziu a desvantagem para já perto do final (minuto 82) Dieter Muller fazer o empate. A festa jugoslava estava estragada. E mais estragada ficou no prolongamento quando o furacão Muller varreu a nação jugoslava com a obtenção de mais dois golos (aos 115 e 119 minutos) aniquilando assim de vez o sonho da Jugoslávia.

Holanda minimiza má campanha com a medalha de bronze

Enganaram-se aqueles que pensavam que o encontro de apuramento dos 3º e 4º lugares iria ser um velório entre as duas equipas derrotadas das meias-finais. Holanda e Jugoslávia encararam o jogo como se de uma final se tratasse, com os primeiros a dar a provar um pouco do sumo da “laranja mecânica” que dois anos antes havia deliciado o Mundo. Geels (27 minutos) e Van de Kerkhof (minuto 39) davam um avanço de dois golos aos holandeses.
A turma da casa não baixou os braços e já em cima da saída para o intervalo (43 minutos) reduziria a desvantagem por intermédio de Katalinski.
Na etapa complementar os balcânicos tomariam conta das operações não sendo pois de estranhar que aos 82 minutos o goleador e estrela-mor da equipa, Dzajic, restabelecesse a igualdade. E como não há duas sem três um jogo do Euro 76 teria de ser decidido no prolongamento. E na 2ª parte do período extra a Holanda voltou a marcar, novamente por Geels, ao minuto 107.
Até final, a “laranja mecânica” susteria com mestria a avalanche jugoslava garantindo assim o 3º lugar na prova.

Um louco chamado Panenka vira herói nacional

Os olhos do Mundo estavam no dia 20 de Junho de 1976 focados em Belgrado, onde mediam forças a surpreendente Checoslováquia e o poderoso exército alemão. Em jogo estava o título europeu e mais uma vez os germânicos partiam como favoritos. Mas da teoria à prática o caminho é longo e os checos voltaram a fazer aquilo que haviam feito ante a Holanda, ou seja, sem nada a perder colocaram as cartas na mesa, por outras palavras o seu futebol frio, rigoroso, e atrevido, foram armas suficientes para que o marcador fosse aberto aos 8 minutos por intermédio de Svehlik.
Não obstante a reacção alemã ao tento madrugador a Checoslováquia aumentava o grau da surpresa aos 25 minutos quando Dobias fez o 2-0. Contudo, uma das grandes estrelas deste Euro 76 não atiraria a toalha ao chão e relançava o jogo ainda antes do intervalo ao fazer o 1-2. Dieter Muller, o nome deste guerreiro germânico.
Os que pensavam que a Alemanha iria na 2ª parte aplicar aos checos o mesmo antídoto aplicado dias antes aos jugoslavos para dar a volta ao marcador enganaram-se profundamente. A Checoslováquia resistiu de uma forma heróica às várias tentativas de chegar ao golo dos alemães, como querendo demonstrar que a sua presença naquela final não era um mero acaso da sorte. No entanto, a um minuto do fim a máquina alemã fez estragos com a obtenção do tento do empate por Holzenbein.
Parecia sina, mas para não fugir à regra mais uma vez teria de se recorrer a um prolongamento para apurar o vencedor. Ambas as equipas seriam muito cautelosas no período suplementar, não sendo de admirar que pela primeira vez na história – e única até à data – o título fosse decidido na marcação de grandes penalidades. Na lotaria os primeiros sete remates seriam convertidos, sendo que na segunda série o lendário Uli Hoeness seria o primeiro a falhar. O título estava nos pés de Antonin Panenka, o qual com uma tranquilidade anormal picou a bola sobre o guarda-redes Sepp Maier fazendo um magistral chapéu que terminou no fundo da baliza. Um acto de loucura com um final feliz que dava o título de campeão da Europa à surpreendente Checoslováquia.

Jogos:

Meias-finais


16 de Junho, em Zagreb
Checoslováquia – Holanda: 3-1
(Ondrus, aos 19’, Nehoda, aos 114’, e Vesely, aos 118’)
(Ondrus, aos 77’ na p.b.)

17 de Junho, em Belgrado
Jugoslávia – RFA: 2-4
(Popivoda, aos 19’, e Dzajic, aos 30’)
(Flohe, aos 64’, e Muller, aos 82’, 115, e 119’)

Jogo dos 3º e 4º lugares

Holanda – Jugoslávia: 3-2
(Geels, aos 27’ e 107’, e Van de Kerkhof, aos 39’)
(Katalinski, aos 43’, e Dzajic, aos 82’)

Final
Checoslováquia – RFA: 2-2 (5-3 nas grandes penalidades)


20 de Junho, no Estádio do Estrela Vermelha, em Belgrado
Árbitro: Sérgio Gonella (Itália)

Checoslováquia: Ivo Viktor, Karol Dobias (Vesely, aos 109’), Jozef Capkovic, Anton Ondrus, Jan Pivarnik, Antonin Panenka, Jozef Moder, Marian Masny, Zdenek Nehoda (Biros, aos 80’), Koloman Gogh, e Jan Svehlik. Treinador: Vaclav Jezek

RFA: Sepp Maier, Berti Vogts, Bernhard Dietz, Hans Georg, Franz Beckenbauer, Herbert Wimmer (Flohe, aos 41’), Rainer Bonhof, Uli Hoeness, Dieter Muller, Erich Beer (Bongartz, aos 80’), e Bernd Holzenbein. Treinador: Helmut Schon

Onze Ideal do Euro 76:
Viktor (Checoslováquia)
Pivarnik (Checoslováquia)
Ondrus (Checoslováquia)
Beckenbauer (RFA)
Krol (Holanda)
Bonhof (RFA)
Pollak (Checoslováquia)
Panenka (Checoslováquia)
Dzajic (Jugoslávia)
Nehoda (Checoslováquia)
Muller (RFA)


Melhor marcador:
Dieter Muller (RFA): 4 golos

Legenda das fotografias:
1- Logotipo oficialdo Euro 1976
2- Checoslovacos festejam título com as camisolas...da Alemanha!
3- Saudação entre os capitães de Checoslováquia e Holanda
4- Fase da final, com Berti Vogts e Ondrus a disputar o lance
5- O invulgar e decisivo pénalti marcado por Panenka
6- O "onze" checoslovaco no dia da final
7- O melhor marcador do Euro 76: Dieter Muller

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