sexta-feira, maio 23, 2008

História dos Europeus de Futebol (2)... Espanha 1964

O sucesso da primeira edição do Campeonato da Europa (na altura ainda denominado de Taça da Europa das Nações) foi notório na segunda edição da competição com o aumento do número de países participantes. Os 17 do certame inaugural passaram quatro anos depois para 29! Entre os novos aderentes destacavam-se a presença de duas super potências do futebol mundial, a Itália, e a Inglaterra. Dos 33 países filiados então na UEFA apenas quatro continuavam renitentes em aderir ao evento, nomeadamente a República Federal da Alemanha, o Chipre, a Finlândia, e a Escócia. A fase de qualificação não sofreu grandes alterações em relação à edição inaugural com a excepção da inclusão de mais uma eliminatória em virtude do aumento de participantes. Surpresas nas rondas de apuramento para a fase final existiram algumas, desde já a eliminação da Checoslováquia (aos pés da República Democrata da Alemanha) na ronda pré-eliminar. Checoslovacos que quatros anos antes tinham sido 3ºs no Euro 60, realizado como se sabe na França. Franceses que também nesta ronda eliminariam a estreante e poderosa Inglaterra. Nos oitavos-de-final a grande surpresa chamou-se Luxemburgo, equipa amadora e completamente desconhecida que eliminou a favorita Holanda. Os luxemburgueses estiveram às portas da fase final do Euro 1964, perdendo somente com a Dinamarca (na última ronda antes da fase-final) no terceiro jogo (depois de dois empates, um em casa e outro fora). Para além dos dinamarqueses atingiam a tão desejada e sonhada fase final do Euro 64, a Hungria, a campeã europeia em título União Soviética, e a Espanha. Seria este último país que a UEFA responsabilizaria de acolher a fase final do Campeonato da Europa de 1964.


A fase final do Euro 64…


As cidades de Madrid e Barcelona foram as escolhidas para albergar os quatro jogos da fase final. As expectativas na selecção da casa eram enormes, todo um país se uniu em torno da sua equipa, inclusive o ditador Franco que aproveitou o evento para vincar a sua conduta política (o fascismo) com que vinha conduzindo o país. Tal como Mussolini havia feito no Mundial 1934 Franco aproveitou este Euro 1964 para promover a sua… política. Bom, mas passando ao que interessa mesmo, ao futebol, a primeira meia-final ocorreu no dia 17 de Junho num lotadíssimo Estádio Santiago Bernabéu, a casa do maior clube da Europa da época, o Real Madrid, entre a Espanha e a Hungria. 125 mil espectadores, um recorde que prevalece até aos dias de hoje num jogo de uma fase final de um Europeu, assistiram a uma difícil vitória da Espanha sobre a Hungria por 2-1. Os magiares, que sob a orientação técnica de Lajos Baroti (que anos mais tarde treinaria o Benfica) viviam uma fase de renovação. Longe iam os tempos em que a Hungria era tida como a melhor selecção do Mundo, onde pontificavam nomes como Puskas, Kocsis, ou Czibor. Esta Hungria aparecia em Espanha muito renovada, mas com alguns jogadores de grande gabarito como por exemplo Ferenc Bene, e Florian Albert, este último a grande estrela da companhia. Por seu lado a Espanha tinha uma equipa muito aguerrida, o exemplo perfeito daquilo que hoje é conhecido como a "fúria espanhola". A comandar esse grupo de guerreiros estava Luís Suaréz, um homem que ainda hoje é considerado por muitos como o maior jogador espanhol de todos os tempos. A equipa da casa foi quem mais fez pelo triunfo ao longo desta partida, e viu os seus esforços serem recompensados na etapa inicial com um tento de Jesus Pereda, aos 35 minutos. Quando os 125 mil adeptos espanhóis já festejavam a passagem à final, Bene, aos 84 minutos, restabeleceu a igualdade levando o jogo para prolongamento. A luta continuaria no tempo extra e eis que aos 115 minutos o velho estádio do Real Madrid veio abaixo quando um homem da casa, Amancio, colocou a Espanha na final ao fazer o 2-1. Até final o herói espanhol foi o guardião basco Iribar que com um grande naipe de defesas impediu os magiares de chegar a uma nova igualdade.


A outra meia-final…


No mesmo dia jogavam em Nou Camp, de Barcelona, a União Soviética e a Dinamarca. Os campeões da Europa em título chegavam a Espanha como o alvo a abater, e com uma equipa totalmente renovada em relação àquela que quatro anos havia conquistado em França a primeira edição do Europeu. Yashin, Ivanov, e Ponedelnik eram os únicos sobreviventes da equipa de 60. E para chegar à sua segunda final os soviéticos tiveram pela frente uma equipa esforçada da Dinamarca, mas que no fundo não passavam de um grupo de bons rapazes semi-profissionais que vinham a Espanha aprender com os melhores e… fazer turismo. A diferença entre as duas equipas foi nitidamente sentida em campo, e a União Soviética aplicou a chapa três ao conjunto nórdico sem grande dificuldade. No entanto, os dinamarqueses ainda fizeram duas ou três gracinhas neste jogo, pondo à prova aquele que era considerado o melhor guarda-redes do Mundo, Lev Yashin.


Os 3º e 4º lugares…


Também em Nou Camp, no dia 20 de Junho, foi disputada a partida para a apurar os 3º e 4º classificados. Um jogo que foi disputado quase sem público, somente 4 000 espectadores deslocaram-se ao anfi-teatro da Catalunha para verem jogar Hungria e Dinamarca. Era caso para se dizer que os catalães estavam mais interessados no que se passaria no dia seguinte onde a Espanha poderia obter a sua primeira grande vitória internacional do que neste jogo. Tal como na meia-final a Dinamarca fazia o papel de equipa mais fraca, não sendo de estranhar que desde muito cedo os húngaros confirmassem o seu favoritismo com um golo obtido aos 11 minutos por Bene. Mas de repente os dinamarqueses vão buscar forças onde ninguém imaginava e aos 82 minutos Bertelsen empata a partida obrigando a um prolongamento. A surpresa estava feita. Mas a maior qualidade técnica dos magiares viria ao de cima no tempo extra com a obtenção de dois golos (da autoria de Novak) que selariam em 3-1 o resultado final, dando assim a medalha de bronze à Hungria.


Espanha conquista o seu maior feito no futebol


O fascismo de Franco contra o comunismo dos soviéticos, era assim que era visto o duelo da final do Euro 64. Franco que num camarote do Santiago Bernabéu fez parte de uma multidão de 105 00 espectadores que ansiavam por uma vitória da "fúria espanhola" sobre uma das melhores equipas da época. A Espanha entrou à Espanha, cheia de motivação e com vontade de resolver bem cedo a questão. E logo aos 6 minutos Pereda pôs os seus compatriotas em delírio ao apontar o primeiro golo do jogo. Solicitado por Amancio o extremo-direito Luis Suaréz centrou de primeira para a área com a bola depois de tocar nos pés de um defesa soviético a ir para aos pés de Pereda que abriu o marcador. A festa da casa duraria apenas dois minutos, pois após um lançamento de Mudrik para Khusainov, que beneficia de um erro clamoroso de Revilla, este último jogador soviético bate o guarda-redes Iribar e faz o 1-1. A partir daí o jogo passou a ser disputado essencialmente a meio-campo com os guarda-redes Iribar e Yashin a serem meros espectadores. Os soviéticos apostavam no rigor, os espanhóis na sua grande estrela Suaréz. E quando já todos esperavam por um novo prolongamento o milagre aconteceu. Ao minuto 84 Pereda desmarca-se pela direita, cruza a meia altura para a entrada fulgurante de Marcelino que bateu sem apelo nem agrado o desamparado Yashin. Era a loucura em Madrid. A Espanha acabava de vencer o seu primeiro, e único até ao momento, grande título internacional de futebol.


Curiosidades do Euro 64…


-A ausência de fair-play: No golo decisivo da Espanha ante a Hungria, na meia-final, o árbitro bela Bavier deveria ter parado o jogo para dar assistência ao médio húngaro Nagy, que estava deitado no relvado. Não o fez, e Lapetra marcou o canto, Marcelino cruzou e Amancio rematou para o fundo das redes.


-Se a final tivesse terminada empatada nos 120 minutos teria sido necessário uma finalíssima, marcada para o dia 23 de Junho, no Estádio Mestalla, de Valência. E se nessa finalíssima a igualdade durasse após o prolongamento a decisão da questão seria resolvida por… moeda ao ar!
-Num domingo de chuva em Madrid, a Espanha nem sentiu a falta de um dos seus jogadores mais talentosos, Del Sol, que foi convocado pelo seleccionador Villalonga mas só apareceu em Espanha no dia 15 por imposição do seu clube de então a Juventus. Na meia-final foi suplente, mas na final nem ao banco foi.



Jogos:


Meias-finais


17 de Junho, em Madrid

Espanha – Hungria: 2-1 (Pereda, aos 35’; Amancio, aos 115’) (Bene, aos 84’)


17 de Junho, em Barcelona

Dinamarca – União Soviética: 0-3 (Voronin, aos 19’; Ponedelnik, aos 40’; Ivanov, aos 87’)


Jogos dos 3º e 4º lugares


20 de Junho, em Barcelona

Hungria – Dinamarca: 3-1 (Bene, aos 11’; Novak, aos 107’, e 110’) (Bertelsen, aos 82’)



Final


21 de Junho, no Estádio Santiago Bernabéu, em Madrid


Espanha - União Soviética: 2-1


Árbitro: Arthur Holland (Inglaterra)


Espanha: José Iribar, Feliciano Revilla, Fernando Olivella, Isacio Calleja, Ignacio Zoco, José Fuste, Amancio, Jesus Pereda, Marcelino Martinez, Luís Suaréz, e Carlos Lapetra. Treinador: José Villalonga


União Soviética: Lev Yashin, Victor Chusitkov, Albert Schesternev, Edouard Mudrik, Valeri Voronin, Victor Anickine, Igor Chislenko, Valentin Ivanov, Victor Pondedelnik, Alexei Korneev, e Galimzian Khusainov. Treinador: Gavril Kachalin


Marcadores: Pereda, aos 6’, Khusainov, aos 8’, e Marcelino, aos 84’.
Onze ideal do Europeu:



Yashin (União Soviética) Rivilla (Espanha) Olivella (Espanha) Amancio (Espanha) Novak (Hungria) Zoco (Espanha) Suaréz (Espanha) Bene (Hungria) Albert (Hungria) Ivanov (União Soviética) Pereda (Espanha)
Melhores marcadores:*


Pereda (Espanha) Bene (Hungria) Novak (Hungria)


*todos com dois golos
Legendas das fotografias:


1- Logotipo oficial do Espanha 1964


2- O "onze" da Espanha que fez história na final ante a poderosa União Soviética


3- Um momento do empolgante jogo das meias-finais entre espanhóis e magiares


4- Espanha celébra um golo na final contra os soviéticos


5. A estrela da selecção húngara: Florian Albert


6- Espanhóis posam para a fotografia já com a taça na mão


7- O treinador espanhol Villalonga é levado em ombros após a vitória final


8- Um dos muitos duelos da grande final


9- O palco da final: o majestoso Santiago Bernabéu, em Madrid


10- Primeira página do diário desportivo espanhol Marca noticiando a grande conquista


11- O espanhol Pereda, um dos melhores marcadores do Euro 64


12- Mais um momento de grande perigo protagonizado pela Espanha na grande final
Vídeo: ESPANHA - URSS



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