sexta-feira, janeiro 04, 2008

Estrelas cintilantes (11)... Preguinho

Poucos saberão que a estrela que hoje vamos visitar foi um dos pioneiros – senão mesmo o principal – da gloriosa história da selecção do Brasil em fases finais dos Mundiais de futebol. Ele foi nada mais nada menos do que o autor do primeiro golo do combinado brasileiro em Campeonatos do Mundo da FIFA. Falamos de João Coelho Netto, conhecido no planeta da bola como Preguinho.
Nasceu no Rio de Janeiro, a 8 de Fevereiro de 1905 e faleceu na mesma cidade a 1 de Outubro de 1979. Foi um dos 14 filhos do famoso escritor Coelho Netto.
Preguinho foi um dos mais brilhantes e populares avançados do futebol canarinho das décadas de 20 e 30 do século passado. Durante a sua gloriosa carreira actuou unicamente pelo Fluminense, do Rio de Janeiro, numa primeira fase de 1925 a 1935, e numa outra fase de 1937 a 1938.
Dedicou a este clube toda a sua vida, já que a sua família era uma das mais influentes deste emblema carioca, já antes dele nascer, tendo sido inscrito como sócio número 20 do tricolor.
Foi um atleta completo. Disputou oito modalidades desportivas pelo Fluminense, mais concretamente, futebol, voleibol, basquetebol, pólo aquático, saltos ornamentais, natação, hóquei em patins e atletismo.
É um dos maiores artilheiros do Fluminense de todos os tempos, com 184 golos marcados.
Foi o melhor marcador do clube nos campeonatos cariocas de 1928, 1929, 1930, 1931 e 1932, sendo que em 1930 e 1932 foi o artilheiro do Campeonato Carioca.
Recusou sempre receber dinheiro do clube, permanecendo como amador mesmo após a profissionalização do futebol.
Uma (das muitas) história curiosa remonta ao ano de 1925, quando depois de nadar a prova dos 600 metros, e consequentemente ajudar o Fluminense a sagrar-se tricampeão estadual de natação, foi de táxi às Laranjeiras (zona onde fica situado o estádio do clube) a tempo de jogar contra o São Cristóvão e ganhar o título do Torneio Início. Preguinho era assim...
Um dos jogos inesquecíveis de Preguinho foi o Fla-Flu de 1928. O guarda-redes Amado, do Flamengo, desafiou-o na semana do clássico com um telegrama onde dizia: "Amanhã será canja. Não farás nenhum golo". Preguinho entrou em campo enraivecido e aos 2 minutos de partida fez o primeiro, de longa distância. O segundo foi de calcanhar, depois de a bola ter escorregado das mãos de Amado. O Flu venceu por 4-1 e Preguinho saiu de campo de alma lavada.
Mas o golo de sua vida, como ele dizia sempre, foi marcado a 7 de Dezembro de 1930, no dia em que o Botafogo se sagrou campeão da cidade. Preguinho recebeu a bola no seu meio-campo e ao ver o guarda-redes adversário adiantado fez-lhe um chapéu como Pelé tentou fazer no Mundial de 1970 contra a Checoslováquia.
Trouxe para o Fluminense 387 medalhas e 55 títulos nas oito modalidades que praticava. Tais façanhas fizeram dele o mais festejado atleta tricolor e, em 1952, o clube concedeu-lhe o primeiro título de grande benemérito atleta, o facto que mais o orgulhou até a sua morte.
No futebol foi campeão carioca em 1924, 1936, 1937 e 1938.
A paixão de Preguinho pelo futebol começou a diminuir com o aparecimento do profissionalismo em 1933. Ele, que sempre considerou o futebol um divertimento, e jogava apenas por prazer, jamais se profissionalizou e sofreu muito quando foi adoptada a lei que só permitia aos amadores jogarem três vezes numa equipa profissional.

O primeiro golo do Brasil em Mundiais

Em 1930 ele entrou definitivamente, como jogador de futebol, para a galeria dos grandes ídolos do Brasil. Foi o autor do primeiro golo da selecção brasileira num Campeonato do Mundo, num jogo contra a Jugoslávia (derrota do Brasil por 1-2), no Mundial de 1930. No jogo seguinte da competição, ante a Bolívia, marcou dois dos quatro golos da vitória brasileira (4-0). Uma selecção que não era... uma selecção, mas sim um conjunto de jogadores oriundos de equipas do Rio de Janeiro, uma vez que uma zanga interna entre a Confederação Brasileira dos Desportos (CBD) e a Associação Paulista de Desportos Atléticos não permitiu que a selecção que foi ao primeiro Mundial da FIFA contasse com a força máxima.
De São Paulo, apenas o jogador do Santos, Araken Patuska, quis participar. Ficaram de fora grandes craques, como Friendereich, Feitiço, Nestor, Amílcar e outros.
Para além de ter sido o autor do primeiro golo do escrete em fase finais do Mundial, Preguinho ficaria ainda na história por ter sido o melhor marcador do Brasil na competição de 1930 (com 3 golos) e por ter capitaneado essa equipa.
Morreu quase na miséria, em 1979, num pequeno e modesto apartamento nas Laranjeiras, no Rio de Janeiro.


Legenda das fotografias:
1- João Coelho Netto, o popular Preguinho
2- Com as cores do clube do seu coração: o Fluminense
3- Momento histórico para o futebol brasileiro: a selecção do Brasil entra em campo para disputar o seu primeiro jogo na fase final de um Mundial
4- O "onze" que defrontou a Bolívia no Mundial de 1930

Vídeo: DOCUMENTÁRIO SOBRE PREGUINHO (PARTES 1 E 2)


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