terça-feira, maio 29, 2007

Estrelas cintilantes (7)... René Higuita - O louco rei escorpião

Como qualquer outra criança que adorava o futebol eu sonhei ser um dia um Deus da Bola. É verdade. No recreio da escola, na rua, dava largas ao meu sonho, participando em alegres e bem disputados, por vezes, jogos de futebol com a malta amiga da altura. Com o passar dos anos esse sonho foi ficando cada vez mais distante, e foi substituído entretanto por outro sonho, o jornalismo desportivo. No entanto, a paixão pelo belo jogo não morreu, muito pelo contrário, foi crescendo cada vez mais e mais.
Bem, mas voltando novamente até aos meus dias de catraio, e como dizia, sonhei ser um jogador de futebol. Mas um jogador que dentro de campo assume sempre uma função especial, aquele a quem os experts da matéria apelidam de homem solitário. Já devem saber de quem estou a falar. Isso mesmo o guarda-redes. Sonhava em ser o número 1 de uma grande equipa. Primeiramente, e por influência do meu velho, que é um ferrenho deste clube, sonhei em ser guarda-redes de um dos meus clubes do coração, o clube da minha cidade, o Ermesinde Sport Clube. Depois "auto-transferi-me" para o gigante FC Porto, "cheguei" à selecção nacional, e "atingi" o ponto máximo quando "joguei" pelo Nápoles, clube que na época era só uma das superpotências do futebol europeu. Um clube que era comandado por um dos meus heróis, Diego Armando Maradona. Que belo sonho este, não acham? eheheheheheh. Pois, mas estes eram os meus sonhos com 10, 11, 12, ou 13 anos. Mas como aspirante a guarda-redes também tinha Ídolos. Em Portugal, gostava do Mlynarczyck, que na altura jogava no FC Porto, do Damas, que dava as "últimas" enquanto redes do Portimonense, do Jorge Martins, guardião das redes do Belenenses, e claro do número 1 do meu querido Ermesinde Sport Clube, o brasileiro Omar. A nível internacional admirava sobretudo um homem, um louco dizem ainda hoje muitos, mas talvez tenha sido essa loucura que me fez idolatra-lo anos a fio. René Higuita, era assim o nome do homem que eu imitava nas jogatanas de rua com os meus compinchas. polémico, astuto, louco, drogado, este homem faz inevitavelmente parte da história mundial do futebol. Está para o seu país, a Colômbia, como Eusébio está para Portugal ou Pélé para o Brasil.
José René Higuita Zapata, nasceu em Medellín, a 17 de Agosto de 1966. O seu particular estilo de jogo, os triunfos obtidos nos seus primeiros anos como profissional, e a sua peculiar personalidade, converteram-no no maior Ídolo do seu país durante os anos 90.
Posteriormente Higuita viu-se envolvido em numerosos escândalos que paulatinamente o levaram ao declínio da sua brilhante carreira desportiva.
Apesar de todo, Higuita é reconhecido como um dos melhores guarda-redes da história do futebol sul-americano e uma figura chave na ascensão da Colômbia dentro do panorama futebolístico internacional.
Nasceu em Castilla, um bairro pobre da cidade de Medellín. Foi filho de uma mãe solteira, Maria Dioselina Higuita, de quem tomou o apelido. Esta morreria vários anos depois, o que fez com que René permanecera ao lado da sua avó Ana Felisa. A sua infância foi atravessada por grandes dificuldades económicas, e como tal teve de trabalhar como vendedor de jornais.
A sua carreira desportiva teve início no Atlético Nacional, e em 1981 fez parte da selecção Antioquia de sub-16 dirigida por Luis Alfonso Marroquín, que seria campeã da Colômbia. Foi convocado então para a selecção nacional juvenil da Colômbia, com a qual se qualificaria para o Campeonato do Mundo Juvenil, na Russia, em 1985. Nesse ano o Nacional cedeu-o por empréstimo ao Millionarios, onde teve uma temporada notável.
Em 1986 regressaria ao Nacional, que começou a ser treinado por Francisco Maturana e sob a sua batuta Higuita conquistaria vários títulos. No dia 31 de Maio de 1989, com Higuita na baliza, o Atlético Nacional proclamou-se campeão da Copa Libertadores da América, o primeiro triunfo neste torneio para uma equipa colombiana. A final, jogada contra o Olimpia de Paraguay, em Bogotá, foi decidida após a marcação de grandes penalidades, com Higuita a defender vários e a dar assim a vitória à sua equipa.
Em 1992 viajou até Espanha para jogar no Real Valladolid, mas não teve sorte, pois passou mais jogos no banco do que no relvado. Regressou outra vez ao Nacional, com o qual se sagrou campeão da Colômbia em 1994. Em 1995 alcança de novo a final da Copa Libertadores da América, a qual o Atlético Nacional perdeu com o Grémio de Portoalegre. Nesse torneio recorde-se que nas meias-finais contra o River Plate, num jogo disputado em Medellín, um livre directo apontado por si acabou no fundo das redes dos argentinos, um golo que empatava assim a eliminatória, a qual seria mais tarde desempatada através do recurso às grandes penalidades onde Higuita brilhou mais uma vez.
Higuita jogaria depois no Club Veracruz do México, e mais tarde no Aucas do Equador.
Em Novembro de 2004 participou no jogo de despedida do seu colega paraguaio José Luis Chilavert. Também esteve presente na despedida de Diego Armando Maradona.
Higuita também é hoje recordado por ser um dos pioneiros dos guarda-redes goleadores, durante a sua carreira profissional marcou 41 golos (37 de penaltie e 4 na conversão de livres directos) em jogos oficiais.
René Higuita foi convocado pela primeira vez à selecção principal da Colômbia em 1987, para disputar a Copa América de 1987.

O melhor momento da carreira que o haveria de crucificar para sempre

Em 1989 com a selecção colombiana conseguiu qualificar-se para o Campeonato do Mundo de futebol, que um ano mais tarde iria decorrer em Itália. Nesse Mundial defendeu uma grande penalidade contra a Jugoslávia. A Colômbia qualificou-se para os oitavos-de-final, onde iria jogar com a surpresa da prova, os Camarões, de Roger Milla. Esse jogo vai ficar eternamente gravado na memória de Higuita, e de todos os fãs do futebol. Durante o prolongamento a bola chega tranquilamente até Higuita que resolve fazer uma das suas jogadas habituais, ou seja, sair a jogar como se fosse um qualquer Garrincha ou Cristiano Ronaldo, a fintar tudo e todos os que lhe aparecessem pela frente. Teve azar, perdeu a bola para Roger Milla que não desperdiçaria a oportunidade de marcar golo e colocar a sua equipa nos quartos-de-final. A Colômbia estava eliminada por um erro mortal de Higuita. O outro grande momento da sua carreira foi vivido a l 7 de Setembro de 1995 na catedral do futebol mundial, o Estádio de Wembley. Durante uma partida amigável entre a Colômbia e a Inglaterra, Higuita defendeu um remate de Jamie Redknapp com uma acrobática defesa à escorpião, uma manobra que ficou imortalizada na história do futebol.
Defendeu as cores da Colômbia em 68 vezes. A sua última convocatória foi para a Copa América de 1999.
Os seus escândalos públicos começaram em 1991 quando foi visitar à prisão o barão da droga Pablo Escobar, de quem se declarou publicamente amigo do peito. Mas o mais grave de todos ocorreu em 4 de Junho de 1993 quando foi preso por estar implicado num rapto da filha de uma figura pública colombiana importante. Esteve seis meses preso, e chegou a iniciar uma greve de fome como forma de protesto.
Mais tarde viu-se envolvido numa zaragata (socos e pontapés) com o jornalista desportivo Cesar Augusto.
A 23 de Novembro de 2004 acusou cocaína num teste realizado depois de um jogo da sua equipa da altura, o Aucas. Como consequência a Federação Equatoriana de Futebol suspende-o por seis meses.
No primeiro semestre de 2005, Higuita participou no "reality show ""La isla de los famosos". Participaria ainda noutros programas deste género, devido à sua originalidade e... loucura. O futebol era já nesta altura uma mera recordação para si.
Recentemente chocou a Colômbia inteira quando apareceu com uma nova cara. Fez uma operação plástica ao rosto que chocou o país, já que parecia-se mais com um travesti do que com o verdadeiro René Higuita.
O "homem escorpião" no seu melhor e no seu pior!

Vídeo: A DEFESA ESCORPIÃO...

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