terça-feira, outubro 30, 2007
Muitos parabéns Diego...
...Pela magia com que sempre nos brindaste pelos relvados por onde passaste, pelas loucuras que nos divertiram e que fazem de ti uma figura ímpar, mas sobretudo pelos 47 anos de vida que hoje completas. Parabéns Diego.
domingo, outubro 28, 2007
Grandes Mestres do Jornalismo Desportivo (3)... Ribeiro Cristóvão
António Ribeiro Cristóvão, é indiscutivelmente um dos grandes nomes do jornalismo desportivo nacional de todos os tempos. Um verdadeiro craque da rádio, já que é principalmente nesta área que se tem distinguido ao longo da sua brilhante carreira. Nasceu em Proença-a-Nova no dia 7 de Julho de 1939. Mudou-se para Angola em 1958, onde iniciou sua carreira jornalística na Rádio Clube do Moxico. Dois anos mais tarde muda-se para a Rádio Clube do Huambo, onde permaneceu até 1975.
Regressado a Portugal, ingressou na Rádio Renascença (RR),em 1976, onde presentemente desempenha funções de responsável pelo Departamento de Desporto. Na RR, para além do desporto, foi chefe de redacção durante vários anos. Participou em diversas reportagens de grande envergadura, das quais se destacam as visitas Papais, e foi repórter na Assembleia da República durante quatro anos. Na área do desporto, esteve nos Campeonatos da Europa de 1984, em França , 1966 na Inglaterra, e 2000 na Holanda e Bélgica, e ainda nos Mundiais de 1982, em Espanha, e 1986 no México, além de ter acompanhado todas as equipas portuguesas nas competições europeias de futebol. Foi ainda colaborador da RTP, para onde entrou em 1982, a convite de José Eduardo Moniz. Na estação de televisão pública foi responsável pelos programas Troféu, na sua fórmula inicial, Domingo Desportivo, e Remate, durante vários anos. Até final de Dezembro passado editou e apresentou na RTPI e RTPÁfrica o programa Bancada Aberta, que versou temas de desporto, e se destinou especialmente às Comunidades Portuguesas radicadas no estrangeiro. Além de jornalista Ribeiro Cristóvão é também político. De 2001 a 2005 foi presidente da Assembleia Municipal da sua terra, Proença-a-Nova. Foi membro da lista do PSD para a Câmara Municipal de Lisboa nas Eleições Intercalares de 2007, não sendo eleito. Actualmente é deputado dos sociais-democratas na Assembleia da República.
sexta-feira, outubro 19, 2007
Estrelas cintilantes (8)... Frank Borghi
Já aqui falámos daquela que é considerada até hoje como a maior surpresa – ou o maior escândalo – de todos os tempos do futebol Mundial, mais precisamente da vitória dos amadores dos Estados Unidos da América (EUA) sobre a gigante Inglaterra (por 1-0) no Mundial de 1950 (ver post Grandes Clássicos da Bola (1), de Abril de 2007).
Já aqui falámos também do homem que tornou essa surpresa possível (o autor do golo), de seu nome Joe Gaetjens (ver post Estrelas Cintilantes (1), de Abril de 2006).
Hoje iremos visitar outro dos heróis de Belo Horizonte (localidade brasileira onde decorreu esse célebre jogo), mais precisamente Frank Borghi, o homem que brilhantemente defendeu nesse Campeonato do Mundo, e em particular no desafio ante os ingleses, as redes dos EUA.
Descendente de italianos Borghi nasceu a 9 de Abril de 1925, em St. Louis, estado de Missouri, e foi um dos mais brilhantes guarda-redes norte-americanos de todos os tempos apesar de somente ter vestido por nove vezes a camisola da selecção principal dos EUA. Curiosamente começou a sua carreira desportiva como jogador de basebol.
No entanto, a paixão pelo soccer (futebol) era enorme em St. Louis, localidade onde havia um grande número de jogadores e equipas de futebol, e Frank não tardou em dedicar-se a 100% ao desporto rei. Aliás, na década de 50 St.Louis era considerada o “o grande viveiro do futebol” dos EUA, a localidade onde se encontravam os melhores jogadores do país. Curioso também é o facto de Borghi ter escolhido a posição de guarda-redes pela força do seu lançamento de braços (pela razão de ter actuado na posição de lançador nos tempos em que jogava basebal). Com os braços ele conseguia colocar a bola em qualquer posição do campo, e diz quem o viu jogador que nunca usou o pontapé para colocar a bola em campo.
Como profissional jogou pelos St. Louis Simpkins-Ford onde venceu duas US Open Cup's, em 1948 e 1950. Mas o grande momento da sua carreira foi a chamada à selecção dos EUA que disputou o Mundial de 1950, que decorreu no Brasil.
Uma equipa formada exclusivamente por jogadores amadores, que partiu para o Brasil apenas com o intuito de aprender um pouco mais sobre o futebol com os mestres do Brasil, Inglaterra, Itália, Espanha, Suécia, ou Uruguai, as potências da altura.
A fragilidade da equipa norte-americana era de tal maneira evidente que a Inglaterra encarou o desafio com os soccer boys como um mero treino. Uma decisão que saiu cara aos inventores do futebol já que em Belo Horizonte os EUA, que na noite anterior ao jogo tuinham ficado na farra até altas horas da madrugada, bateram os ingleses por 1-0. A par de Gaetjens (o autor do golo) Borghi foi o herói da tarde ao defender tudo o que havia para defender. Ele defendeu ainda a baliza dos EUA nos outros dois jogos que a equipa disputou nesse Mundial. Em 1976 ele foi incluído no United States National Soccer Hall of Fame (Museu do Futebol dos EUA).
Legenda das fotografias:
1- Frank Borghi envergando a camisola dos EUA
2. O histórico "11" que derrotou a poderosa Inglaterra por 1-0 no Mundial de 1950
3- Envergando as cores do St. Louis Simpkins-Ford
Já aqui falámos também do homem que tornou essa surpresa possível (o autor do golo), de seu nome Joe Gaetjens (ver post Estrelas Cintilantes (1), de Abril de 2006).
Hoje iremos visitar outro dos heróis de Belo Horizonte (localidade brasileira onde decorreu esse célebre jogo), mais precisamente Frank Borghi, o homem que brilhantemente defendeu nesse Campeonato do Mundo, e em particular no desafio ante os ingleses, as redes dos EUA.
Descendente de italianos Borghi nasceu a 9 de Abril de 1925, em St. Louis, estado de Missouri, e foi um dos mais brilhantes guarda-redes norte-americanos de todos os tempos apesar de somente ter vestido por nove vezes a camisola da selecção principal dos EUA. Curiosamente começou a sua carreira desportiva como jogador de basebol.
No entanto, a paixão pelo soccer (futebol) era enorme em St. Louis, localidade onde havia um grande número de jogadores e equipas de futebol, e Frank não tardou em dedicar-se a 100% ao desporto rei. Aliás, na década de 50 St.Louis era considerada o “o grande viveiro do futebol” dos EUA, a localidade onde se encontravam os melhores jogadores do país. Curioso também é o facto de Borghi ter escolhido a posição de guarda-redes pela força do seu lançamento de braços (pela razão de ter actuado na posição de lançador nos tempos em que jogava basebal). Com os braços ele conseguia colocar a bola em qualquer posição do campo, e diz quem o viu jogador que nunca usou o pontapé para colocar a bola em campo.
Como profissional jogou pelos St. Louis Simpkins-Ford onde venceu duas US Open Cup's, em 1948 e 1950. Mas o grande momento da sua carreira foi a chamada à selecção dos EUA que disputou o Mundial de 1950, que decorreu no Brasil.
Uma equipa formada exclusivamente por jogadores amadores, que partiu para o Brasil apenas com o intuito de aprender um pouco mais sobre o futebol com os mestres do Brasil, Inglaterra, Itália, Espanha, Suécia, ou Uruguai, as potências da altura.
A fragilidade da equipa norte-americana era de tal maneira evidente que a Inglaterra encarou o desafio com os soccer boys como um mero treino. Uma decisão que saiu cara aos inventores do futebol já que em Belo Horizonte os EUA, que na noite anterior ao jogo tuinham ficado na farra até altas horas da madrugada, bateram os ingleses por 1-0. A par de Gaetjens (o autor do golo) Borghi foi o herói da tarde ao defender tudo o que havia para defender. Ele defendeu ainda a baliza dos EUA nos outros dois jogos que a equipa disputou nesse Mundial. Em 1976 ele foi incluído no United States National Soccer Hall of Fame (Museu do Futebol dos EUA).
Legenda das fotografias:
1- Frank Borghi envergando a camisola dos EUA
2. O histórico "11" que derrotou a poderosa Inglaterra por 1-0 no Mundial de 1950
3- Envergando as cores do St. Louis Simpkins-Ford
sábado, outubro 06, 2007
Grandes lendas do futebol mundial (2)... José Leandro Andrade - No trilho da Maravilha Negra
Estamos hoje de volta a uma das vitrinas mais procuradas do nosso museu, a das Grandes lendas do futebol mundial. Depois do nosso Eusébio a ter inaugurado chegou a altura de lá voltarmos para relembrar outro mago imortal do futebol. Senhoras e senhores visitantes vamos hoje falar do uruguaio José Leandro Andrade.
Considerado o primeiro grande jogador negro da história do futebol, e um dos maiores de sempre (segundo uma recente votação da revista francesa France Football para designar o melhor futebolista de todos os tempos Andrade ficou em sexto lugar), José Leandro Andrade nasceu a 3 de Outubro de 1901 em Salto, começando a dar os primeiros pontapés na bola no bairro de Palermo. Actuava tanto como médio defensivo como defesa (direito ou esquerdo) e cativou o mundo com a sua eficácia, elegância, inteligência e técnica de jogar futebol, o que o tornou num dos futebolistas mais brilhantes da história.
Iniciou a sua carreira no Misiones, passando depois pelo Bella Vista, Nacional, Penharol e Wanderers, todos emblemas uruguaios. Seria no Nacional que viveria alguns dos anos mais felizes da sua carreira, vencendo os campeonatos do seu país de 1922 e 1924. Pelo Nacional participou em várias digressões pela Europa e pelos Estados Unidos da América, e reza a lenda que o famoso intérprete de jazz norte-americano Louis Armstrong ter-se-á inspirado no “Pelé dos anos 20” (como Andrade foi um dia apelidado) para criar o seu estilo artístico.
Além de um fabuloso futebolista Andrade era um não menos fabuloso bailarino, sendo que por diversas vezes integrou cortejos carnavalescos no seu país. Após a sua retirada dos relvados partiu para Paris, onde se tornou um célebre bailarino de cabarets. Adorava a folia e a vida boémia.
O nascimento do mito Maravilha Negra
Seria no entanto ao serviço da selecção do Uruguai que Andrade atingiu a fama planetária que fizeram dele um dos maiores jogadores de futebol da história.
Numa altura (anos 20) em que o Campeonato do Mundo ainda não havia surgido cabia aos jogos olímpicos a tarefa de reunir as melhores selecções do Mundo de quatro em quatro anos para apurar... o campeão do Mundo. É verdade! Naquela época os torneios olímpicos de futebol tinham a dimensão e importância daquilo que é hoje em dia o Campeonato do Mundo da FIFA.
Em 1924 coube à cidade de Paris organizar as olimpíadas de Verão desse ano. O torneio de futebol viria a ser amplamente dominado pela selecção do Uruguai, uma equipa que com a sua beleza e arte futebolística encantou os europeus. Dúvidas não existiam: o Uruguai era a melhor e mais poderosa equipa do Mundo da altura.
Na final do torneio olímpico os sul-americanos venceram no Stade des Colombes a Suíça por 3-0. O maestro, o craque, dessa equipa era um negro (o primeiro negro a pisar um relvado da Europa) com movimentos felinos de encantar, de seu nome José Leandro Andrade. Cedo, os jornalistas e adeptos franceses trataram de o rebaptizar, chamado-o de A Maravilha Negra. E assim nascia um mito do futebol.
Quatro anos mais tarde seria novamente peça fundamental na revalidação do título olímpico (ou Mundial, como era considerado na altura) da celeste (nome pelo qual é conhecida mundialmente a selecção do Uruguai), desta feita nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, tendo na final derrotado a Argentina por 2-1. Andrade era na altura o melhor jogador do Mundo.
Vencedor do primeiro Mundial da FIFA... em casa
Em 1930, como os senhores visitantes já devem saber, o Uruguai organizou o primeiro Mundial da história. Uma espécie de presente da FIFA ao país que praticava o melhor futebol do planeta. Na qualidade de bi-campeã olímpica a equipa da casa partia assim como favorita a levantar a primeira taça do Mundo da FIFA. Já em final de carreira, e castigo por lesões crónicas, Andrade foi mesmo assim chamado para integrar a equipa uruguaia que disputou esse Mundial. A sua experiência e qualidade eram fundamentais para o triunfo da celeste. Ao lado de jogadores como Cea, Castro, Nazazzi e Scarone, Andrade venceria o Campeonato do Mundo, após a sua selecção ter derrotado na final os grandes rivais da Argentina por 4-2 (ver último post dos Grandes Clássicos da Bola).
Pelo Uruguai alinhou 43 vezes (só perdeu três jogos) e marcou um golo. Morreu só e na miséria em 1957 um homem que é tão grande como Eusébio, Pelé, Garrincha, Maradona ou Di Stéfano.
Um Deus da bola.
Seguidamente apresentamos um texto de Luís Freitas Lobo extraído do seu livro Os Magos do Futebol, um belo texto que descreve o ídolo que visitamos hoje.
No trilho da Maravilha Negra
Entrelaçado pelo cacimbo da noite que caíra sob a Cidade das Luzes, El Loco Romano desembrulhou mais uma vez o papel já amarrotado para confirmar a morada que o seu amigo José Leandro Andrade, companheiro de dribles e tijeras nas canchas de Montevideo , lhe dera tempos atrás para que quando fosse ao Velho Continente não se esquecesse de o visitar. Vivia-se no início da década de 30. Eram tempo de magia na brilhante noite de Paris, ainda levitada pela aura dos loucos anos 20, enebriada pelo esplendor excêntrico, negro e hipnotizante de Jossephine Baker, mito da Bélle Époque, rainha dos cabarets onde dançava e seduzia ao ritmo da Revue Negre. Ninguém imaginava que um outro negro, vindo do outro lado do oceano, nascido no bairro pobre de Cachimba, tornado célebre nos estádios de fútbol, fosse capaz de ofuscar o seu brilho.
Quando chegou à morada que Andrade lhe indicara, Romano abriu os olhos de espanto. Na sua frente estava um sumptuoso apartamento. Pensou: devo ter-me enganado. Mesmo assim, tocou à campainha, surgindo uma bela donzela que só falava francês, e do que Romano lhe disse só percebera a mágica frase: mesié Andrade. E eis que a Maravilha Negra, como lhe chamaram os jornalistas gauleses que o viram nos Jogos Olímpicos de 1924, surge vestindo um longo quimono de seda, por entre uma luxuosa habitação decorada por peles, estatuetas em ouro, cheiro a perfume caro e abat-jours milionários.
Durante a época de futebolista, num tempo em que atravessar o oceano durava meses, nunca quisera sair do Uruguai onde sempre jogou. Depois de abandonar o futebol, rumou à mágica capital francesa, onde alternou uma vida de boémia com a de artista de variedades, no qual era exímio bailarino, dançando e deslumbrando com o seu corpo alto, moreno e musculoso, tornando-se desejado por muitas mulheres, da mais fina sociedade, que o admiravam quase como um amuleto.
Entre os homens, apesar de, no início do século, o football ainda não cativar grandes paixões, nenhum esquecera a sua deslumbrante aparição com a fantástica selecção uruguaia nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1924. Nesse tempo nunca a Europa vira um negro a jogar futebol. Ele fora o primeiro. Poucos dos que o viram jogar estarão hoje vivos, mas para a história fica o registo de um defesa com fôlego e talento infinito, que marcava o avançado e depois, acariciando a bola, subia pelo seu flanco com a elegância de um bailarino, driblando num jogo de cintura que parecia dança. Conta-se que num jogo atravessara meio-campo com a bola dominada na cabeça. Quando na postura defensiva, roubava a bola, pela terra e pelo ar, guardando-a nos labirintos de músculos das suas pernas de dançarino, com um estilo que, naquela época, era algo nunca visto, sobretudo se executado com a beleza plástica de Andrade.
Já nesse tempo era um amante da boémia que sonhava conhecer a bela e provocante Josephine Baker. No carnaval saía bailando com um tamborim, nos relvados, dançava com uma bola presa aos pés, alheio aos conselhos dos seus pais que insistiam em dizer-lhe para estudar, como fizera o seu dedicado irmão Nicasio. Mas Andrade vivia noutro mundo. Sublime, forte como uma árvore centenária, ágil como um felino deslumbrou o mundo com o seu futebol de encantar serpentes.
Anos depois, sob as estrelas de Paris, manteve a mesma personalidade feita de grandezas e tristezas. Apesar de venerado pelos mais finos olhares femininos, nas noites do Pigalle, Andrade era um homem impossível de prender. O amor pelas mulheres, para ele, ia e vinha em cada noite. Anos depois, regressaria à sua Montevideo, a bordo do Valdivia, célebre navio, vestindo uma gabardina cruzada, chapéu de galã, e cachecol de fina seda. Mais do que às essências perfumadas da douce France, Andrade pertencia à maresia rude da costa uruguaia, onde o sol queima e a noite se ilumina nos tangos de Gardel. Com o passar do tempo foi ficando, no entanto, cada vez mais isolado. Os seus olhos foram escurecendo e com o silêncio a sua alegria desvaneceu-se. Acabaria por morrer tuberculoso, só, em 1957, na mais profunda miséria, mas sem nunca pedir nada, nem esperar que o auxiliassem, apesar de desde há tempos a doença o ter começado a minar.
Legandas das fotografias:
1- José Leandro Andrade
2- A equipa do Uruguai que venceu os Jogos Olímpicos de Paris em 1924
3. Os jogadores da Celeste entrando em campo para disputar o jogo decisivo dos Jogos Olímpicos de 1928
4. Uruguai: a equipa que venceu o primeiro Campeonato do Mundo da FIFA
5. O imortal José Leandro Andrade
6. Envergando a camisola do Uruguai
Considerado o primeiro grande jogador negro da história do futebol, e um dos maiores de sempre (segundo uma recente votação da revista francesa France Football para designar o melhor futebolista de todos os tempos Andrade ficou em sexto lugar), José Leandro Andrade nasceu a 3 de Outubro de 1901 em Salto, começando a dar os primeiros pontapés na bola no bairro de Palermo. Actuava tanto como médio defensivo como defesa (direito ou esquerdo) e cativou o mundo com a sua eficácia, elegância, inteligência e técnica de jogar futebol, o que o tornou num dos futebolistas mais brilhantes da história.
Iniciou a sua carreira no Misiones, passando depois pelo Bella Vista, Nacional, Penharol e Wanderers, todos emblemas uruguaios. Seria no Nacional que viveria alguns dos anos mais felizes da sua carreira, vencendo os campeonatos do seu país de 1922 e 1924. Pelo Nacional participou em várias digressões pela Europa e pelos Estados Unidos da América, e reza a lenda que o famoso intérprete de jazz norte-americano Louis Armstrong ter-se-á inspirado no “Pelé dos anos 20” (como Andrade foi um dia apelidado) para criar o seu estilo artístico.
Além de um fabuloso futebolista Andrade era um não menos fabuloso bailarino, sendo que por diversas vezes integrou cortejos carnavalescos no seu país. Após a sua retirada dos relvados partiu para Paris, onde se tornou um célebre bailarino de cabarets. Adorava a folia e a vida boémia.
O nascimento do mito Maravilha Negra
Seria no entanto ao serviço da selecção do Uruguai que Andrade atingiu a fama planetária que fizeram dele um dos maiores jogadores de futebol da história.
Numa altura (anos 20) em que o Campeonato do Mundo ainda não havia surgido cabia aos jogos olímpicos a tarefa de reunir as melhores selecções do Mundo de quatro em quatro anos para apurar... o campeão do Mundo. É verdade! Naquela época os torneios olímpicos de futebol tinham a dimensão e importância daquilo que é hoje em dia o Campeonato do Mundo da FIFA.
Em 1924 coube à cidade de Paris organizar as olimpíadas de Verão desse ano. O torneio de futebol viria a ser amplamente dominado pela selecção do Uruguai, uma equipa que com a sua beleza e arte futebolística encantou os europeus. Dúvidas não existiam: o Uruguai era a melhor e mais poderosa equipa do Mundo da altura.
Na final do torneio olímpico os sul-americanos venceram no Stade des Colombes a Suíça por 3-0. O maestro, o craque, dessa equipa era um negro (o primeiro negro a pisar um relvado da Europa) com movimentos felinos de encantar, de seu nome José Leandro Andrade. Cedo, os jornalistas e adeptos franceses trataram de o rebaptizar, chamado-o de A Maravilha Negra. E assim nascia um mito do futebol.
Quatro anos mais tarde seria novamente peça fundamental na revalidação do título olímpico (ou Mundial, como era considerado na altura) da celeste (nome pelo qual é conhecida mundialmente a selecção do Uruguai), desta feita nos Jogos Olímpicos de Amesterdão, tendo na final derrotado a Argentina por 2-1. Andrade era na altura o melhor jogador do Mundo.
Vencedor do primeiro Mundial da FIFA... em casa
Em 1930, como os senhores visitantes já devem saber, o Uruguai organizou o primeiro Mundial da história. Uma espécie de presente da FIFA ao país que praticava o melhor futebol do planeta. Na qualidade de bi-campeã olímpica a equipa da casa partia assim como favorita a levantar a primeira taça do Mundo da FIFA. Já em final de carreira, e castigo por lesões crónicas, Andrade foi mesmo assim chamado para integrar a equipa uruguaia que disputou esse Mundial. A sua experiência e qualidade eram fundamentais para o triunfo da celeste. Ao lado de jogadores como Cea, Castro, Nazazzi e Scarone, Andrade venceria o Campeonato do Mundo, após a sua selecção ter derrotado na final os grandes rivais da Argentina por 4-2 (ver último post dos Grandes Clássicos da Bola).
Pelo Uruguai alinhou 43 vezes (só perdeu três jogos) e marcou um golo. Morreu só e na miséria em 1957 um homem que é tão grande como Eusébio, Pelé, Garrincha, Maradona ou Di Stéfano.
Um Deus da bola.
Seguidamente apresentamos um texto de Luís Freitas Lobo extraído do seu livro Os Magos do Futebol, um belo texto que descreve o ídolo que visitamos hoje.
No trilho da Maravilha Negra
Entrelaçado pelo cacimbo da noite que caíra sob a Cidade das Luzes, El Loco Romano desembrulhou mais uma vez o papel já amarrotado para confirmar a morada que o seu amigo José Leandro Andrade, companheiro de dribles e tijeras nas canchas de Montevideo , lhe dera tempos atrás para que quando fosse ao Velho Continente não se esquecesse de o visitar. Vivia-se no início da década de 30. Eram tempo de magia na brilhante noite de Paris, ainda levitada pela aura dos loucos anos 20, enebriada pelo esplendor excêntrico, negro e hipnotizante de Jossephine Baker, mito da Bélle Époque, rainha dos cabarets onde dançava e seduzia ao ritmo da Revue Negre. Ninguém imaginava que um outro negro, vindo do outro lado do oceano, nascido no bairro pobre de Cachimba, tornado célebre nos estádios de fútbol, fosse capaz de ofuscar o seu brilho.
Quando chegou à morada que Andrade lhe indicara, Romano abriu os olhos de espanto. Na sua frente estava um sumptuoso apartamento. Pensou: devo ter-me enganado. Mesmo assim, tocou à campainha, surgindo uma bela donzela que só falava francês, e do que Romano lhe disse só percebera a mágica frase: mesié Andrade. E eis que a Maravilha Negra, como lhe chamaram os jornalistas gauleses que o viram nos Jogos Olímpicos de 1924, surge vestindo um longo quimono de seda, por entre uma luxuosa habitação decorada por peles, estatuetas em ouro, cheiro a perfume caro e abat-jours milionários.
Durante a época de futebolista, num tempo em que atravessar o oceano durava meses, nunca quisera sair do Uruguai onde sempre jogou. Depois de abandonar o futebol, rumou à mágica capital francesa, onde alternou uma vida de boémia com a de artista de variedades, no qual era exímio bailarino, dançando e deslumbrando com o seu corpo alto, moreno e musculoso, tornando-se desejado por muitas mulheres, da mais fina sociedade, que o admiravam quase como um amuleto.
Entre os homens, apesar de, no início do século, o football ainda não cativar grandes paixões, nenhum esquecera a sua deslumbrante aparição com a fantástica selecção uruguaia nos Jogos Olímpicos de Paris, em 1924. Nesse tempo nunca a Europa vira um negro a jogar futebol. Ele fora o primeiro. Poucos dos que o viram jogar estarão hoje vivos, mas para a história fica o registo de um defesa com fôlego e talento infinito, que marcava o avançado e depois, acariciando a bola, subia pelo seu flanco com a elegância de um bailarino, driblando num jogo de cintura que parecia dança. Conta-se que num jogo atravessara meio-campo com a bola dominada na cabeça. Quando na postura defensiva, roubava a bola, pela terra e pelo ar, guardando-a nos labirintos de músculos das suas pernas de dançarino, com um estilo que, naquela época, era algo nunca visto, sobretudo se executado com a beleza plástica de Andrade.
Já nesse tempo era um amante da boémia que sonhava conhecer a bela e provocante Josephine Baker. No carnaval saía bailando com um tamborim, nos relvados, dançava com uma bola presa aos pés, alheio aos conselhos dos seus pais que insistiam em dizer-lhe para estudar, como fizera o seu dedicado irmão Nicasio. Mas Andrade vivia noutro mundo. Sublime, forte como uma árvore centenária, ágil como um felino deslumbrou o mundo com o seu futebol de encantar serpentes.
Anos depois, sob as estrelas de Paris, manteve a mesma personalidade feita de grandezas e tristezas. Apesar de venerado pelos mais finos olhares femininos, nas noites do Pigalle, Andrade era um homem impossível de prender. O amor pelas mulheres, para ele, ia e vinha em cada noite. Anos depois, regressaria à sua Montevideo, a bordo do Valdivia, célebre navio, vestindo uma gabardina cruzada, chapéu de galã, e cachecol de fina seda. Mais do que às essências perfumadas da douce France, Andrade pertencia à maresia rude da costa uruguaia, onde o sol queima e a noite se ilumina nos tangos de Gardel. Com o passar do tempo foi ficando, no entanto, cada vez mais isolado. Os seus olhos foram escurecendo e com o silêncio a sua alegria desvaneceu-se. Acabaria por morrer tuberculoso, só, em 1957, na mais profunda miséria, mas sem nunca pedir nada, nem esperar que o auxiliassem, apesar de desde há tempos a doença o ter começado a minar.
Legandas das fotografias:
1- José Leandro Andrade
2- A equipa do Uruguai que venceu os Jogos Olímpicos de Paris em 1924
3. Os jogadores da Celeste entrando em campo para disputar o jogo decisivo dos Jogos Olímpicos de 1928
4. Uruguai: a equipa que venceu o primeiro Campeonato do Mundo da FIFA
5. O imortal José Leandro Andrade
6. Envergando a camisola do Uruguai
quinta-feira, outubro 04, 2007
Grandes Clássicos da Bola (2)... Uruguai - Argentina (4-2)
Entrem senhores visitantes. Fiquem à vontade e disfrutem ao máximo de mais uma deliciosa memória do não menos delicioso mundo da bola. Hoje vamos fazer uma viagem até ao saudoso ano de 1930. Ano este em que teve lugar no Uruguai o primeiro Campeonato do Mundo de Futebol da FIFA, como se devem recordar.
A final desta competição foi decididida em Montevidéu entre os vizinhos, e eternos rivais, Uruguai e Argentina. Duas equipas que dois anos antes se haviam defrontado na final dos Jogos Olímpicos de Amesterdão, tendo a vitória sorrido aos primeiros por 2-1.
A Argentina procurava por isso uma desforra. Mas a tarefa não era fácil, já que pela frente tinha a melhor selecção do Mundo daquela época. Para chegar à grande final argentinos e uruguaios derrotaram por igual score (6-1) os Estados Unidos da América e a Jugoslávia, respectivamente. Nos dias que antecederam a final as cidades de Montevidéu e Buenos Aires viviam, pensavam e respiravam futebol. Na capital argentina milhares de adeptos levaram a cabo um autêntico motim exigindo mais barcos para atravessar o Rio da Prata (river plate) até Montevidéu para assistir à decisão das decisões. E nesta última cidade a confusão era ainda maior. Hotéis lotados, bilhetes na mão de candongueiros, discussões e até cenas de pancadaria surgiam aqui e ali. Tudo por um lugar nas bancadas do então recém construído Estádio Centenário. Recinto que no dia da final teve as suas bancadas completamente esgotadas. 80 mil pessoas presenciaram o nascimento da história dos Mundiais.
As equipas entram em campo recheadas das grandes estrelas do futebol mundial da altura. Nasazzi, Andrade, Scarone, Castro e Cea pelo lado uruguaio, Monti, Peucelle e Stabile do lado argentino eram nomes falados mundialmente pelas suas enormes qualidades futebolísticas.
O espectáculo estava garantido. Na escolha de campo os dois capitães discutiam. O uruguaio queria jogar com uma bola feita em seu país. O argentino, com uma bola feita Argentina. O árbitro belga, Langenus, decidiu: no 1º tempo joga-se com a bola argentina e no 2º com a bola uruguaia.
Com a bola argentina, os uruguaios conseguiram o primeiro golo, aos 12 minutos, marcado por Dorado. Oito minutos depois, Peucelle empatou. Aos 37 minutos, Stabile, o artilheiro do campeonato, marcou o segundo tento argentino. E a 1ª parte chegou ao fim com os argentinos a vencer por 2-1. Foi espantosa a reacção uruguaia na etapa complementar, jogando com a bola feita em casa. Aos 12 minutos, Cea empatou. Aos 23, num remate de fora da área, Iriarte pôs o Uruguai em vantagem. O país vivia momentos de sofrida espera quando, num contra-ataque. Dorado centrou da direita, pelo alto, e Castro com uma cabeçada fulminante mandou a bola para o fundo das redes. Era o quarto golo. Um minuto depois, o jogo acabava.
Legendas das fotografias:
1- Capitães das duas equipas cumprimenta-se sob o olhar do árbitro belga Langenus
A final desta competição foi decididida em Montevidéu entre os vizinhos, e eternos rivais, Uruguai e Argentina. Duas equipas que dois anos antes se haviam defrontado na final dos Jogos Olímpicos de Amesterdão, tendo a vitória sorrido aos primeiros por 2-1.
A Argentina procurava por isso uma desforra. Mas a tarefa não era fácil, já que pela frente tinha a melhor selecção do Mundo daquela época. Para chegar à grande final argentinos e uruguaios derrotaram por igual score (6-1) os Estados Unidos da América e a Jugoslávia, respectivamente. Nos dias que antecederam a final as cidades de Montevidéu e Buenos Aires viviam, pensavam e respiravam futebol. Na capital argentina milhares de adeptos levaram a cabo um autêntico motim exigindo mais barcos para atravessar o Rio da Prata (river plate) até Montevidéu para assistir à decisão das decisões. E nesta última cidade a confusão era ainda maior. Hotéis lotados, bilhetes na mão de candongueiros, discussões e até cenas de pancadaria surgiam aqui e ali. Tudo por um lugar nas bancadas do então recém construído Estádio Centenário. Recinto que no dia da final teve as suas bancadas completamente esgotadas. 80 mil pessoas presenciaram o nascimento da história dos Mundiais.
As equipas entram em campo recheadas das grandes estrelas do futebol mundial da altura. Nasazzi, Andrade, Scarone, Castro e Cea pelo lado uruguaio, Monti, Peucelle e Stabile do lado argentino eram nomes falados mundialmente pelas suas enormes qualidades futebolísticas.
O espectáculo estava garantido. Na escolha de campo os dois capitães discutiam. O uruguaio queria jogar com uma bola feita em seu país. O argentino, com uma bola feita Argentina. O árbitro belga, Langenus, decidiu: no 1º tempo joga-se com a bola argentina e no 2º com a bola uruguaia.
Com a bola argentina, os uruguaios conseguiram o primeiro golo, aos 12 minutos, marcado por Dorado. Oito minutos depois, Peucelle empatou. Aos 37 minutos, Stabile, o artilheiro do campeonato, marcou o segundo tento argentino. E a 1ª parte chegou ao fim com os argentinos a vencer por 2-1. Foi espantosa a reacção uruguaia na etapa complementar, jogando com a bola feita em casa. Aos 12 minutos, Cea empatou. Aos 23, num remate de fora da área, Iriarte pôs o Uruguai em vantagem. O país vivia momentos de sofrida espera quando, num contra-ataque. Dorado centrou da direita, pelo alto, e Castro com uma cabeçada fulminante mandou a bola para o fundo das redes. Era o quarto golo. Um minuto depois, o jogo acabava.
E o Uruguai era assim o primeiro CAMPEÃO DO MUNDO da história.
No Estádio Centenário sob a arbitragem do belga John Langenus as equipas alinharam com:
Uruguai: Ballesteros, Nasazzi, Mascheroni, Andrade, Fernandez, Gestido, Dorado, Scarone, Castro, Cea, Iriarte.
Argentina: Botasso, Della Torre, Paternoster, J.Evaristo, Monti, Suarez, Peucelle, Varallo, Stabile, Ferreira, M.Evaristo.
Marcadores: Dorado(12);Peucelle(20); Stábile(37);Cea(57);Iriarte(68);Castro(90).
Uruguai: Ballesteros, Nasazzi, Mascheroni, Andrade, Fernandez, Gestido, Dorado, Scarone, Castro, Cea, Iriarte.
Argentina: Botasso, Della Torre, Paternoster, J.Evaristo, Monti, Suarez, Peucelle, Varallo, Stabile, Ferreira, M.Evaristo.
Marcadores: Dorado(12);Peucelle(20); Stábile(37);Cea(57);Iriarte(68);Castro(90).
1- Capitães das duas equipas cumprimenta-se sob o olhar do árbitro belga Langenus
2- O "onze" uruguaio que entrou para a história...
3- A equipa da Argentina
4- Um dos golos uruguaios na grande final
5- O belo Estádio Centenário no dia da final... a arrebentar pelas costuras
Vídeo: HISTÓRICO RESUMO DA FINAL DO 1º MUNDIAL ENTRE URUGUAI E ARGENTINA
terça-feira, outubro 02, 2007
Campeonato do Mundo de Futebol Feminino - China 2007
Alemanha sagra-se bi-campeã do Mundo na China
Terminou no passado domingo na cidade chinesa de Shanghai a 5ª edição do Campeonato do Mundo de Futebol Feminino. O tão desejado troféu foi arrecadado pela selecção da Alemanha, que na grande final derrotou o Brasil por 2-0 (golos de Birgit Prinz, aos 52 minutos, e Simone Laudher, ao minuto 86). As germânicas conservaram desta forma o título conquistado em 2003 nos Estados Unidos da América. Em termos individuais o título de melhor jogadora do torneio foi entregue pela FIFA à brasileira Marta, que comprovou na China o porquê de ser considerada a melhor jogadora do planeta.